Meu nome é Leonardo Silveira Handa. Jornalista. Perdido. Achado. Amante. Radialista.

quarta-feira, março 29, 2006

O casebre dos senhores ditames

Há fogo no céu. Milhares de bombas informativas explodem em questionamentos intermináveis. Algumas pessoas se julgam tão sagazes, mas não passam de joguetes praticáveis. Nem imaginam como chegaram a tal situação. As marionetes necessitam de indivíduos para ganharem vida. Então, do alto de suas sabedorias alcançadas através de conversas de terceiros, vomitam trabalhos formidáveis. Para ingênuos, diga-se de caminhada. Um alto grau conquistado por memorandos imaginários que os jornais não noticiaram. Podem ser gravações clandestinas. Quem sabe comprometimento de lealdade. Mera desculpa de subordinados que abrem as pernas para deixar entrar qualquer conversa bem pontuada.
É assim que a comunicação vai virando profissão de risco. Prostíbulos são abertos todos os dias. Atrozes políticos têm o tino de cuspir com pontaria cirúrgica. Até os espertos se confundem em lábias agorafóbicas. O coro é descontente. Também é válido. A crueldade está no cênico: ciência do disfarce, primo-irmão do teatro e filho de fantoche. A encenação é conselho fundamental de Maquiavel. A cada quatro anos candidatos ao Oscar de Melhor Ator superam as expectativas e desenham discursos que são aprovados com gratidão. Não à toa, muitos enfrentam filas para votarem neles. Alguns suvenires são doados e ajudam na decisão. Vale tudo. Caneta, boné, camisetas, adesivos, chaveiros. Serve até fome zero.
Descabida situação decorada e iluminada com as quatro cores da bandeira brasileira. Aliás, é ano de Copa do Mundo. A febre do patriotismo contamina o coração. Assim se torna mais fácil indicar. Alguns se deixam fácil por um trocado de gratidão. Outros são mais ferrenhos e conspiram por veneno. Mas é quando o Galvão Bueno grita em anúncio televisivo um gol que o povo lembra da pátria. A comunicação se encaixa na vibração que gera a euforia. As pessoas que são joguetes acabam sendo esquecidas. O fluxo de moeda se torna lapso. A indicação vira fracasso. O berro é a resposta. O chute na rede é a razão. Neste momento, qualquer lágrima se transforma em um samba-canção.
E o casebre dos senhores ditames continua a pedir piedade por influência. O parasita comunicacional às vezes se mostra. Um outro alvo é alvejado. Provavelmente, é um inocente que não entendeu o cantar de Sérgio Sampaio e não botou o seu bloco na rua. Aliás, nem deve conhecê-lo, mas soube por um escape de falada de outros indivíduos e foi pesquisar no Google. E assim ficou por dentro. Hoje tira sarro no meio on-line, porém, não sabe ser sarcástico. Vota em quatro anos nos mesmos profissionais do jogo da comunicação viciada e comandada por assessores patentes. Ainda há fogo no céu.

Leonardo Handa – jornalista

segunda-feira, março 27, 2006

King of the road

Segue pela estrada. Sozinho. As únicas companhias são as estrelas e o rádio ligado em uma estação qualquer. O locutor parece estar travando um monólogo quando anuncia a próxima canção. "A love that will never grow old". O motorista sente uma fisgada no coração. A lágrima não demora e se joga do olho. Ele relembra o amor perdido. Continua em linha reta. Perde a direção. Estaciona o carro. Acende um cigarro.
Um frio corta o lábio e ele imagina estar envolvido em braços que perdeu. Fica mais um pouco no conforto do inverno que deixou perder o coração. Não entende o por quê de certas coisas. Procura por explicações que não existem. Não compreende. Percebe que está rodando em círculos e sente os disabores do amor. Aumenta o volume do rádio e se deixa guiar pela música. Triste.
Entra no carro. Volta a dirigir. A canção acaba. Inicia outra. Mais dolorosa, mais melancólica, mais claustrofóbica. Ele sente a falta, intensa, forte, cortante como o frio que faz na estrada. O inverno nunca foi tão severo como antes. A solidão retorce a sua essência e ele não quer desafio pior do que esse. Se desconcentra e acerta um barranco. Capota.
Fica desmaiado nos instantes que ele pensa estar em sono profundo. Sonha com o caso perdido entre fumaça e uísque. A noite estava simplesmente bela. Os dois conversavam sobre o nebuloso futuro que poderia surgir. Imaginavam os planos. Traçavam as derrotas. Ficaram bêbados.
Quando ele acorda já está em um quarto branco. Aparelhos ligados e sinais que parecem guiá-lo a um lugar nenhum. Uma enfermeira injeta algo em seu veia. Ele volta a encontrar os sonhos. Somente nos sonhos ele consegue ser feliz, pois é quando enxerga o seu amor.
Depois disso ele não acorda mais. Procura dormir sempre nos momentos de medo. Se agarra no sonho para viver em paz. Silêncio.

quinta-feira, março 23, 2006

O Bonde do Bom

Atravesse pela porta da frente, pois essa é a saída. Não quero mais mostrar os caminhos, eu não sou tão bom quanto dizem. A minha certeza é o incerto que eu sou. A característica mais forte do meu sentimento é feito de música alternativa. Não existe algo mais subjetivo do que isso. Portanto, não queira entender as minhas longas e vagas epopéias.
Já não traço mais a torcida, cansei de bancar o querido. Os bons somente se fodem. O “x” da questão eu desmembrei, transformei em duas paralelas que espero não se encontrarem no infinito. Nem no particular, nem ao meu redor. A Marisa Monte ainda tem o que dizer. Se bem que ultimamente estou curtindo outros românticos. Nem vou citá-los para não cansar a paciência.
Pois bem, inverto agora o que já fiz antes. Não esclareço mais a claridade que perdi na última fagulha que acertou o meu olho míope. Descrio a cria que embalei com lullabyes. Aproveito e pego carona na canção e tiro um ronco. Chega de bondade.

terça-feira, março 07, 2006

Uma frase para derrubar as outras

O amor é brega. Uma nojeira capaz de retardar o culto, distorcer a ópera, borrar a arte. É o sentimento mais xaroposo, gosmento e ridículo. Ele deixa a pessoa com sintomas infantilóides, fazendo qualquer um murmurar gracinhas que terminam em “inho”. Fofinho, bonitinho, abracinho, beijinho. Retrocessos diminutivos que deixam qualquer um nominado como imbecil. Ele é brega porque acaba transformando qualquer declaração em petardos românticos. O ser atingido pelo amor é capaz de soltar frases de impacto, como: você é o recheio do meu sonho. Pesaroso.
O amor é meloso. Faz com que o humano ouça beleza em canções tão díspares quanto chatas. Uma nota qualquer acaba se tornando tema de novela da vida real. Engraçado como as pessoas se identificam com os casais dos folhetins. Os telespectadores se emocionam até com o Big Brother! Um beijo em horário nobre tem mais vazão em quem possui um coração para amar. Não está vendo? O amor é de uma breguice que somente o Odair José consegue cantar. Roberto Carlos caminha pelo mesmo trilho, mas não é charmosamente brega como o Odair José. Ele é a mais perfeita tradução. Talvez o último romântico dos melodramáticos esquecidos nas prateleiras do saudosismo. Imbatível. Inquestionável. Capaz de tirar meretrizes de prostíbulos e fazê-las verdadeiras amantes sem medo. As suas músicas são frêmitos. Mulheres expostas que ouvem não tomam mais a pílula. Sensacional. Só mesmo o amor para parir um compositor jucundo.
O amor é uma jactância. Deixa a verruga peluda de um rosto qualquer em imperfeição bela, o detalhe completo para o desenho da cara. Torna a saliência lateral do pé na joanete mais linda que alguém já teve. O amor é de uma bobeira incrível. Transforma metaleiro em poeta. Poeta em best-seller. Best-seller em filme. Filme em sucesso. Sucesso em dinheiro. O amor é ópio. Alimento insalubre.
Imagine se o amor pudesse ser comprado em gôndolas de supermercados. Se pudesse ser levado em uma permuta ou comprado em uma liqüidação, à prazo, com 70% de desconto. Pense no amor servido em restaurantes self-service. Quantos gordos. Quantos calóricos. Quantos gulosos. Tudo o que é demais faz mal.Mas, basta uma frase soletrada com talento para derrubar todas as outras: eu te amo. Pronto, o mundo desaba. Os lábios se encostam. Os enamorados desafiam as leis da física e fazem dois corpos ocuparem o mesmo espaço. Fazem rimas com estrelas, mar, céu e anexam em bilhetes acompanhados de flores. O amor, realmente, é um escárnio. Terrivelmente bom.

quinta-feira, março 02, 2006

Rainhas do tempo da pedra

Poucas bandas me deixam com a real vontade de ficar batendo a cabeça e berrando escrotamente como o Queens of The Stone Age. O álbum Songs for The Deaf é um clássico do manjado stoner rock, termo quase feliz que certos críticos lembram quando se trata do grupo de Josh Homme. Aliás, guitarrista de conteúdo excelente que esbanja categoria em suas composições. Sem falar que a garganta calibrada com uísque e cigarro contribui no ápice vocal de petardos dilacerantes que são as suas músicas. No disco citado, há participações mais do especiais. Para falar a verdade, são contribuições sensacional que Mark Lannegan e Dave Grohl realizaram, verdadeira ajuda sônica que fez desse o melhor CD dos americanos.
Songs for The Deaf contava ainda com o baixista chaparral Nick Oliveri, que tocou nu no palco do Rock In Rio, em 2001. Ele foi expulso da banda devido ao consumo exacerbado de ilícitos e demais guloseimas. A atitude de tirar sons graves de seu instrumento, poucos souberam fazer tão bem. Oliveri não é nenhum expoente, mas já realizou excelentes trabalhos. Bêbado, diga-se de passagem. Drogado, também, pressumo.
O mais recente trabalho dos caras, que, por culpa das experiências, não me recordo (algo com Lullabyes), é um disco interessante, mas nem chega aos pés do que foi Músicas para Surdo. Também não dá para dizer que Josh Homme e sua cambada narcótica perdeu a direção. Ele está longe de errar como certos companheiros de sua geração perdida em putas, noitadas e aquela pó branco que insiste em estar presente na vida de "roqueiros". Vai ver ele está dando um tempo. Quem sabe Homme convida novamente Oliveri para a banda, aí sim, as Rainhas do tempo da pedra serão completas, com direito a tacapes e overdoses sonoras. Quase perfeito.