Meu nome é Leonardo Silveira Handa. Jornalista. Perdido. Achado. Amante. Radialista.

sexta-feira, agosto 26, 2005

Entre xícaras de café e cigarros

As cenas são bem parecidas com as do filme de Jim Jarmusch, “Sobre Cafés e Cigarros”. Ambiente esfumaçado, uma conversa fiada sobre o nada, sobre o tudo (sobretudo), barulhos de colheres em xícaras de porcelana. E tragadas, várias e profundas tragadas de causar orgasmos. Ela só queria uma desculpa para sair no inóspito ambiente de trabalho. Convidou sua colega e foram para uma cafeteria/bar que ficava na esquina.
Duas mulheres lindas. Ambas morenas. Decoradora e desenhista, respectivamente. O café acompanha o desenrolar de suas falas. Uma quer saber se o absorvente está marcando. A outra precisa descolar uma transa em menos de 24 horas, do contrário terá um ataque epilético. Uma incomodada e uma ninfomaníaca. Duas balzaquianas.
Eleanor e Tarsila são mulheres que hoje são vendidas como padrão. Independentes, bonitas, profissionais, bem humoradas e solteiras. Trabalham no mesmo escritório de arquitetura, localizado em uma rua qualquer de um prédio que não lembra coisa alguma.
Saíram para tomar um café. E fumar. Eleanor começa a falar sobre o novo disco do Los Hermanos, uma banda que ela gosta muito, sobretudo a canção “Horizonte Distante”. Tarsila não dá muita atenção, prefere ficar observando os braços do atendente da cafeteria/bar. Provoca um pouco de charme, deixa escapar a sensualidade e morde os lábios. Pronto. Quando uma mulher morde os lábios e te olha, isso é um sinal para algo mais. Muito mais. Eleanor percebe o desespero da colega. Sem qualquer cerimônia de missa de sétimo dia, pergunta se Tarsila não quer uma rapidinha no banheiro. Uma siririca.
Calmamente, as duas vão ao banheiro e se satisfazem. Elas são assim, independentes, bonitas, profissionais, bem humoradas e solteiras. E objetivas.Voltam ao trabalho e tudo retorna ao normal. Uma realizada e a outra com novo absorvente. Nossa.

quarta-feira, agosto 17, 2005

Cinza

O dia ainda não terminou. Um cinza meio besta esconde o azul do céu, deixando-me uma sensação de tristeza. Aquela pessoa que um dia eu amei, agora está mais longe dos meus braços. E eu que tinha a situação segura em minhas mãos, deixei escorrer pelos dedos o controle. Agora derramo lágrimas de fumaça dos meus olhos. É uma pena, pois ainda te quero, mas não a tenho.
Estou me estrepando a cada mudança do ponteiro maior. Não quero viver essa condição, prefiro os cuidados do amor que, infelizmente, você não pode me dar. Não quero ser um Jó entregue às vontades de Deus e do diabo. "Quero a sorte de um amor bandido, com pedaço de fruta mordida". Eu quero um dia de solidão com a sua presença. Um dia para organizar os meus discos na estante, uma tarde vazia com a sua mão junto a minha mão. Eu quero a esperança verdadeira do amor e não as mentiras da traição.
Ainda te quero com a ânsia eterna de te faze-la completa. Os seus beijos nunca sairão da minha boca. Eu quero o dois para sermos um e quem sabe um três. Eu quero a sua digital em minha pele e o seu cheiro impregnado em meu travesseiro. Mas, agora estou no último gole de uma cerveja barata, somente esperando você me beber, me engolir e me ter a você. Venha me salvar. Ainda vivo por você. O dia não acabou, porém, o cinza está me matando. Te amo, te amo e te amo. E isso me causa dor.

domingo, agosto 14, 2005

Os meus beijos mais sinceros

O calor está derretendo o pouco que sobrou da minha lembrança mais triste. Ainda bem que te encontrei. Foi culpa da areia do mar que soprou em meus olhos um sonho com você. Estou ficando brega, declarando exacerbadamente o amor que deixei a frente de 400 quilômetros. A canção mais melosa e irritantemente apaixonada não sai do som. É a faixa sete daquele disco, de um cantor que eu sempre gostei, assim como a subjetividade que me invade. Não importa. Eu ainda posso te ver na lembrança daquele vestido azul que rodopiava e balançava até os pederastas. Continuo dizendo: ainda bem que te encontrei.
Quando você veio me oferecendo bebida, eu não neguei. Bebi a última gota. Então, eu te olhei. Você sorriu. Eu procurei. Você também. Eu te beijei. E você seguiu. A hora mais longa ficou mais curta e devorou o destino traçado pelo acaso da sua boca de lábios rachados. Mesmo assim, belamente provocantes. Não sei se você está entendendo o sentimento confuso e ampliado, mas os insetos que me causam ânsia estão no meu estômago. Não se preocupe, não foi você que os colocou. Foi a incerteza que me causou. E agora, ainda longe te vejo perto e te procuro quando perco o olhar no vazio. Acendo um cigarro. Bebo um teco. E encontro você. Realmente, estou ficando muito, mas muito brega. Está escorrendo pela tela no computador, não está vendo? Como isso foi acontecer? Me explica!!!! E isso que somente escutei o seu canto.
No mais, gira o mundo no avesso dos meses, tento emocionar o diabo e vou matando um filme por dia. Os registros ainda são importantes. E assim mesmo eu voltei, para meu próprio desespero e para a sua incerteza. Eu vou, ainda vou contigo. Não se esqueça. Agora leia isso aqui rápido, pois já irei tirar do meu about me.
Não tento mais me descrever. É algo complicado. Quando acredito que cheguei a algum estágio evolutivo, ocorre um retrocesso e o sucesso garantido pára no fundo do copo de veneno. É claro que depois eu entorto e retorno ao desencontro do caminho. Mas, como na vida muitas coisas são dilemas, vou viver os meus. No mais, a Fiona Apple continua em sua mais bela companhia, sussurando poesia e dedilhando canções no piano. Minha amante perdida nas distâncias isoladas continua a procura pela resposta tão banal, quanto bela. Sim, eu a amo. E os livros vão tomando lugar na estante empoeirada. Proliferação de ácaros subversivos para as narinas mais sensíveis. Coisa de preguiçoso na ociosidade metafórica do dia-a-dia. Mais um ano vem chegando e devorando o tempo da desgraça. Quem sabe seja diferente, como alguma canção do Elliot Smith. Ou tenha beleza e idiossincrasia, como qualquer película do Bertolucci. Pensando no pior, pode ser a mesma coisa que continua e prossegue no ar que vai corroendo os pulmões. O Ministério da Saúde sempre adverte, mas a felicidade não se compra em lojas de conveniência. Nem é hit radiofônico. As canções sobre a tristeza vendem mais, geram mais, regam mais. É uma pena. E continua a laterna dos afogados incompreendidos nas horas mais imprecisas da precisão da incerteza. E não se esqueça, eu ainda te amo.

quinta-feira, agosto 11, 2005

Cócegas. Algumas risadas em um canto iluminado da sala. Luzes. Feixes direcionados. Vozes. Sussuros incomodam deliciosamente a paisagem. Pele. Delicadeza em seda deslizando pelas costas. Vontade. Olhos nos olhos e satisfação não imediata.
Cole Porter acompanha o momento oportuno. Fumaça preenche os espaços vazios do ambiente. Um sorriso fuzila o coração mal-tratado. Sono para completar.

Amanhece cinza no lado de fora. Garoa.

Ela desliza pelas escadas e vai trabalhar. Acompanho os seus passo pela calçada. Penso na noite que há de chegar. E como chegará.

sexta-feira, agosto 05, 2005

Descompromisso com a vida

Quinta-feira. Véspera de sexta-feira, o dia nacional da bebedeira. Nada melhor do que dar prosseguidade ao vômito que ainda espera. Um vinho quente e barato deslizando pelas paredes de carne com cerveja gelada e coração na boca. Acendo o terceiro tabaco já pensando no fim da carteira. O local? Um posto qualquer de uma cidade também qualquer. Aliás, o qualquer nesse caso pode acabar soando como um adjetivo. Deixando o subjetivismo de lado, trata-se daquele posto em frente à Grazziotin e a cidade é Pato Branco, nos confins do Sudoeste do Paraná.
O primeiro personagem da noite a fazer companhia, é um bêbado, um dos vários perdidos pela sujeira do município. O papo repetitivo e chato causa caláfrios a ponto de pensar em dar um soco na fuça do desgraçado. Mas o sentimento de pena balança e acaba caindo em perdão.
Ele mostra um relógio que deve ter roubado. O cheiro de cachaça se mistura com o bafo e cria uma verdadeira bomba de Napalm. Não agüento. Porém, os pedidos para ele ir são inofensivos. A minha amiga Luciane Koba deu um jeito. Meio estúpido para falar a verdade, entretanto, contribuiu e ele foi embora.
Conversas gritadas e música de apelo duvidoso acompanham a nossa noite que ainda nem começou. Ela só iniciou quando encontrei a minha cama e outros sonhos vieram me destruir.
Passadas algumas horas e outro ser da noite chega para nos acompanhar. Chamam ele de Caxuxa. O nome verdadeiro, acredito, nem ele deve lembrar ou deve ter bebido com cicuta. Quem sabe a Ação Social tenha jogado o nome dele fora. Bom, ninguém sabe.
O nosso querido amigo, seu Pedro, perdeu a paciência e protagonizou cenas de coragem que me deixaram sem jeito. Mas, vou para o bem da pacificidade e da boa ordem mundial que as coisas não costumam provar.
Água foi jogada em cima do cadáver vivo. Mais uma vez o sentimento de pena invadiu o meu semblante. Vários pensamentos me aterrorizaram. Porém, a chatice proporcionada pelo segundo bêbado era de proporções tão cavalares que logo esqueci da pena. Pensei em penalidade máxima mesmo, cartão vermelho, expulsão. Sem coração.
Continuamos a beber, a fumar, a gritar, a dançar, a arrotar. Um arroto azedo que lembrei enquanto eu sonhava quando em casa estava. Sonhei com os bêbados jogados no noturno dilacerante escárnio. Mas, acordei bem.

quarta-feira, agosto 03, 2005

Madrugada

É madrugada. Normalmente a insônia invade sem pedir licença e leva horas que poderiam ser sonhadoras. O comprimido não causa mais a sensação boa do relaxamento, só traz insatisfação pela não eficácia que não apresenta no rótulo. Tudo bem.
O dia foi um tédio de proporções que não caberiam nesse escrito. É muito fácil reclamar, difícil é arrumar as soluções cabíveis para melhorar esse desempenho, essa tentativa de sobreviver. O doce vai perdendo o gosto até que acaba. Desgustar aos poucos necessita de muita paciência, qualidade que foi jogada no buraco negro de ilusões. E a madrugada segue acompanhada por uma dor de cabeça leve, porém, chata.
Às vezes parece que tudo vai dar certo. Mas, é só o efeito dos primeiros segundos que o tabaco causa. Dura muito pouco a sensação. Há coisas mais fortes. O experimento, por enquanto, não será necessário. Se bem que alucinações fazem parte do não concreto. Imaginar é preciso.
Nada de areia nos olhos. Nada de sonhos perdidos e sem nexo. Nada de amores fugazes. Nada de escárnio. Só há misantropia. E madrugada.

segunda-feira, agosto 01, 2005

... E segue ...

O compositor e cantor Alvin L. certa vez cantou: "A vida pede provas e quem ama dá". Fazia tempo que uma frase não causava tanto sentido para mim. Não que a vivência esteja ruim nesse exato momento, poderia estar melhor, mas os acasos sempre provam o contrário. E assim segue.
A atualidade é de niilismo que eu quero promover, derrubando estigmas e sabotando os desejos escuros. Se bem que alguns continuarão na minha lista de afazeres. Só os vícios, esses sim, terão que dar adeus ao corpo que agora procura descanso.
Às vezes pareço aquele personagem mais sem graça de uma película hollywoodiana. De fato eu sou, mesmo com as idiossincrasias que insisto em transbordar quando encho a cara. Não estou falando de álcool, estou falando de paciência mesmo. É que a convivência não é a minha melhor qualidade, por mais acessível que eu me ache. Narcisismo.
Junto a frase do Alvin L. com a da banda portuguesa, Xutos e Pontapés: "A vida vai torta, jamais se endireita". E assim vou dizendo tchau ao descolorido que pintei acreditando ser romance. Mas era câncer.