Meu nome é Leonardo Silveira Handa. Jornalista. Perdido. Achado. Amante. Radialista.

terça-feira, agosto 25, 2020

Vale o Quanto Brilha


Alma da calma presente no corpo
Que pede abrigo em alma outrora,
Outrora física que se satisfaz
Em fazer de retrato publicável,
Publicável esse que absorve trama
Que destramada observa viril
Na viralidade de um vírus vil
Que cansado pede a cama.
Bate forte dentro do peito o leito
De leite em borda transpirando nata
De calor em adjacência pulsa
Um pulso fraco de memórias claras.
lsH

segunda-feira, agosto 24, 2020

 A garoa fina dá o tempero. Na sala, em um velho aparelho de som, uma linda canção embala o ninar das horas. Os olhos se fecham e ele pensa naquela situação que chamam de amor. Sua cabeça ainda arde memórias frias, mas a música ajuda como se fosse nicotina para um fumante.

O coração lembrou traições e pulso um gole de sangue mais intenso pelo corpo. A dissonante adentrou o tímpano e conquistou alívio. Ele queria tudo de novo, no entanto, sem a dose do sofrer. Hoje se encontra em outro plano e quer viver mais emoções ao lado de um fruto doce, que veio como salvação. No entanto, a perfeição ainda não pode se realizar, pois não pode tê-la completa.
Ele continua pensativo, confortavelmente abraçado pelo edredon, seu companheiro mais fiel. E a canção continua a acalmar sua ansiedade de pegar o telefone e realizar uma cagada. Mas a mente funciona mais do que a emoção.

 Nós clamamos por atenção. Às vezes somos tão individualistas que queremos ser o centro, assim como a Igreja recitava na época medieval que o Sol girava em torno da Terra. Galileu precisou se retratar. Com o tempo, nós, também nos retratamos, afinal, existem pessoas que giram ao nosso redor, ao invés de nós, girarmos ao redor deles. Mas quando percebemos, é tarde. Mesmo assim, mesmo com essa metáfora esclarecida até demais, queremos a atenção, seja em forma de carinho, afeto, abraço, dizeres, fraternidade e, acima de tudo, amor. Pena que não valorizamos. Pena que os outros não valorizam. Pena que não nos entregamos. Pena que só vemos quando se apaga. Pena que não giramos mutuamente, para assim, a forma ser completa como um círculo deve ser, como uma rota deve ser, como uma órbita exata para se findar, repleta de começos, recomeços e afins.

terça-feira, agosto 04, 2020

Chega esta época e bate a retrospectiva. O passado recente adentra a porta da cabeça. Nada melhor do que deixar as janelas do cérebro receberem a canção Please, please, please, let me get what i want para ajudar a relembrar. Eu nunca soube, mas a música praticamente nasceu comigo. God times for a changes.

Rabiscando alguns pensamentos em vão, o retorno ao berço satisfaz a gratidão momentânea. O sorriso se abre como flor e pétala por pétala é arrancado no presente, aguardando, enfim, um futuro bom. Enquanto isso, os mesmos clichês repetitivos em bordões televisivos invadem os cérebros dos tranqüilos. Mas são os intranquilos que dão mais vazão aos sentimentos que jogados imploram por atenção. Nem sempre são vistos com nobreza. O clichê, por si só, é uma pobreza repugnante. Porém, é nesta época que eles possuem sentido.

Implacável Relógio

Cansaço persiste em triste descaso/ O acaso em limite se faz em atraso/ Limite em verso, controverso palpite/ O sorriso existe, no caso em riste/ Palpável de fato, indelével suspiro/ Espirro o momento, acato no vento/ Percorro sem tempo, o segundo perdido/ Implacável relógio, que para invertido.

lsH

Longe, bem longe.
Estado separado.
Sinto tremendo,
Afeto meu, desespero.
Inseguro ar puro
Apurado em feto
Amputado nunca.
Queria o jeito
Daquele falado.
Bem estreito
Adentro íntimo.

Tem que ser
Com significado
Com signo
Com significância.
Sem vingança
Sem cretino
Sem certificado.
Tem que ser
No ser tendo
A serenidade obtendo.

Emprega em minha prega
O seu lamento diário.

Fraco argumento para despregá-la
Mesmo sendo eu
Uma puta sem documento.

O meu amor está em guerra
E o seu olho me fere em fera
A sua guitarra me distorce
Mas tenho o ouvido ferido.

Reclama afoito o coito
Não deixando mais do que um troco.

Desconversa em público verso
Para depois jogar o inverso
Que não entendo anexo.

O seu amor não é pagável
Inviável sentimento apresentado
Sentado me quer nua
Naquela nuance absurda e muda.

Salgado em uma poesia praiana, curtindo Acabou Chorare, imaginando um ano paralelo de encontro e satisfação com aquele frescor litorâneo. Sigo pelo caminho ainda projetado por sonhos não terminados. O sol, ao banhar o meu rosto, aquece os planos possíveis. Confesso que o meu lado niilista continua aniquilando as pré-determinações que rabiscamos naquele papel de guardanapo. O amarelo cobre hoje as frases tortas escritas com caneta Bic. Tudo mudou.
Volto ao trajeto das trilhas cobertas pelas folhas de outono, estação de aniversário e lembranças de puras sumidades. Eu queria sentir novamente aquele calor de seus braços e o toque moreno de sua pele. Um dia, como você falou, a volta trará a argúcia das tardes vadias na rede, no balanço da maré, nos passos calmos marcados na areia. Espero que o meu processo estilo A Concepção não se faça presente, afinal, a sua presença preenche os sete buracos da minha cabeça. Caetano sempre me deu razão. E vazão.
Destilo dos meus poros outra letra de maresia, mesmo com influências nada costeiras. Pego o violão para transformá-la em canção. Então, após um início, eu canso e durmo, somente para te encontrar.

Uma linda canção arrastada transformou o seu holograma em matéria, em tátil, em massa. Ainda com os olhos fechados eu procurava enxergar com as mãos, somente para descobrir cada intimidade da sua pele. A música chegou ao final. Aquela mesma e manjada nota derradeira fez tanto sentido na profundida castanha dos seus cabelos que, de fato, não vi. Após abertos, percebi como o tempo e o destino revelaram tardiamente a sua presença, "que entrou pelos sete buracos da minha cabeça", como cantou Caetano. Afinal, o baiano é a nossa satisfação sonora dividida e contemplada. Mesmo assim, me pergunto: - Por que só agora? Tínhamos de ter tido outra oportunidade. Se fosse um ano antes, o diferente se faria presente, as angústias seriam açúcar, os dizeres, coloridos, e os beijos, não clandestinos. Mas, como "os infernos são os outros", basta continuar com os olhos fechados.

Meia-luz, meia taça, meio vinho, meio assim. Meio abraço. Metades. Sejamos. O meu grito foi de fúria. Fúria de viver. Fúria de gostar. Fúria de azar. Fúria de natureza. Fúria de final. Fúria de fazer. O seu foi de desespero, de lamento, de tristeza, de pesar. Juntemos, então, cada qual em uma outra canção com apenas três notas dedilhadas que imprimiu o sentir das coisas ali expostas. Uma delicadeza noturna que os amantes da razão entendem com perfeccionismo salutar. Eu queria ter citado outro poema, mas esqueci os versos. De toda a forma, imprimiu na boca a sede metafórica das delícias sobrescritas em meu peito. Se todos os dias fossem assim, eu seria o rei de mim. Portanto, sigamos. O caminho aberto das possíveis adjacências, os textos intermináveis sobre o fel, o mel, o céu. A cicatriz descoberta e marcada em um Dia de Independência da nossa nobre nação. A dobra revelada quando caído o pano apresentou. Um sono em seu ombro, agora, continuou no meu sonho. Prometo sempre estar em sua confusão, mesmo que seja a última, a vice-campeã, a prata, o bronze e o amálgama.

lsH

um sono bipolar. seja lá o que isso queira dizer. não venha. o quê? não tenho opção. como assim? não quero mais sonhar, continuar, prolongar. não sei do que você está falando. nem queira, não faça, nem peça. mas o que há? não há, exatamente isso. todos temos problemas, eu sei, existe contorno. não! só em traços da faber castell, não quero iniciar mais uma palestra a respeito dos sentimentos. sem dúvida, nem quero ouvir. então trate de fazer como aquele pintor e corte as suas orelhas. como? chega! mas qual o motivo? que seja qualquer um, já tenho tantos que nem mais quero lembrá-los. muito complicado, viu? então não veja, fure os seus olhos com pregos enferrujados, contraia tétano, fique estrábico, rasgue a retina. nunca te percebi assim, nunca te senti tão frio. então não sinta, perca o tato, retire as digitais, queime as mãos. prefiro, agora, não ter provado o gosto. ótimo! aproveite e pegue o seu cheiro e o arremesse para bem longe daqui junto as coisas que doei, que gastei, que sofri. antes não tivesse sido. exatamente, que nem tivesse, pois nem de você estou falando. não entendo? então, eu já disse, nem queira. mas eu quero! por favor, não tente, coloque os seus cinco sentidos nessa sacola do Carrefour e veja se ela se decompõe em menos de dois anos.
lsH

Castelo Negro

seu maldito, meu coração
apostaria um novo ritmo
mas com ele, o meu ouvido
se alimenta de emoção.
não deixe o abandonar
causar um furo no tímpano
que vaza lamentos
e agradece sortimentos.

seu maldito, o seu passado
é melhor do que
qualquer presente.
Mesmo ausente
confio a ti o seu ensinamento.