Meu nome é Leonardo Silveira Handa. Jornalista. Perdido. Achado. Amante. Radialista.

domingo, novembro 26, 2017

Talvez eu precisasse de um beijo. Talvez não. Talvez seja carência. Ou seria abstinência? De repente eu precisasse de um apoio. Melhor seria um abrigo. Mas talvez um abraço fosse o suficiente, caso você não estivesse ausente. Talvez seja ironia do destino. Talvez não. Ou seria sagacidade do destino? De repente isso é para ser assim. Sei lá. Talvez eu quisesse o contrário. Talvez eu esteja sendo otário. Gostar assim é feio? Talvez não. Talvez sim. Talvez eu realmente precisasse de um beijo. Ou de sexo. Ou de um sexo. Ou dos dois. Três. Quatro. Cinco. Yeah! Yeah! Yeah! Talvez eu precisasse ser menos caótico. Eu deveria ser menos neurórico. Eu precisava ser. Apenas ser. Talvez seja isso. Ou talvez não. Talvez eu precisasse de um sinal. Um dizer. Uma frase. Um carinho. Talvez eu precisasse de um café. Ou de uma garrafa de Jack Daniels. Quem sabe, duas. Talvez eu precisasse de menos cigarros. Não, eu sempre preciso mais. De repente eu coma um chocolate. Ou uma caixa inteira. Talvez eu precisasse apenas ouvir uma canção. Aquela de matar. Find The River. Talvez eu queira de mais. Ou de menos. Ou seria demais? Junto? Sim, juntos. Bem juntos. Isso. Juntos.
Os tempos atuais nos deixam desesperados. Somos capazes de sacrificar as horas por momentos completamente desnecessários. Estamos fadados a um consumismo hiperbólico de futilidades que nos preenche com falsas alegrias. Batalhamos em trabalhos que acreditamos ser corretos, mas que se disfarçam em alegorias gratuitas de motivos para pagarmos as contas no final do mês. E, no fim, descobrimos que o final do mês é como o final do mundo.
Sobretudo para essa alcunha que foi designada como Geração Y. Por que ela se perdeu no discurso e hoje se alimenta de rivotril, fluoxetina e ritalina? A tecnocracia, a burocracia e a busca desenfreada pelo melhor, quiçá, sejam as respostas.
O fato é que a ansiedade e a depressão são amigas inseparáveis nessa mistura desenfreada que engrossa a sobrevivência. No entanto, sempre é preciso provar. Provar que somos o melhor filho, o melhor estudante, o melhor desenhista, o melhor namorado, o melhor marido, o melhor músico, o melhor sexo. Enfim, uma cansativa e desnecessária busca que se perde, pois há falta de concentração, falta de interpretação, falta de referências, falta de qualidade, falta de leitura, falta de boas músicas, falta de vontade e, acima de tudo, o exagero em reclames. Todos amam reclamar, mas não mostram nem demonstram atitudes para reverter.
Porém, ainda existem pessoas que ressaltam clareza de raciocínio e, sobretudo, que farejam e seguem a vida como deve ser. Vários arquétipos poderiam ser citados, mas a desenvoltura e perspicácia simples de José “Pepe” Mujica, um senhor de 79 anos, é de uma valia incrivelmente bela. Cito a idade do personagem somente para relembrar que o tempo é amigo da salvação, mas de acordo com a ideologia desenhada. Afinal, cada qual tem a ideologia que merece.
“Nós queremos achar um outro caminho. Se você quer mudar, não pode seguir fazendo a mesma coisa, tem que buscar outra maneira. Eu não sei porque o mundo não vê o que está acontecendo, parece que colocamos uma venda sobre os olhos”. É isso.
lsh - 26 de novembro de 2015.

sexta-feira, novembro 24, 2017

Grande Chico
Perdi o sono. Ele estava comigo até agora pouco, mas fugiu de uma maneira que nem consegui acompanhá-lo. Aproveitei para fazer um dever de casa que estava atrasado há mais de um mês: ler a entrevista do Chico publicada na Rolling Stone.
Para acompanhar a leitura, tirei da poeira alguns discos desse grande mestre e pus na vitrolinha. Confesso que me atrapalho um pouco quando leio ouvindo música, pois fico prestando atenção na melodia, não necessariamente na letra, mas no jeito como ela é cantada. No momento em que o Chico estava falando de política, deixei a mente penetrar (ou seria o contrário) no cantar de "O Meu Amor", do disco "Chico Buarque", de 1978, interpretada por Marieta Severo e Elba Ramalho, originalmente feita para a peça "Ópera do Malandro". O diálogo entre as personagens Teresinha e Lúcia, sobre o mesmo homem, é engraçadíssimo. Ao menos interpreto dessa forma, apesar da traição não ser nada engraçada. Adoro a parte "O meu amor tem um jeito manso que é só seu, de me deixar maluca quando me roça a nuca e quase me machuca com a barba malfeita e de pousar as coxas entre as minhas coxas quando se deita". Pensei em várias coisas que aconteceram neste ano, mais precisamente, no início de 2011.
Mas o que me atrapalhou totalmente a leitura da entrevista foi no momento em que troquei de disco e mergulhei por inteiro em "Meus Caros Amigos", de 1976. Ali tem uma música chamada "Olhos nos Olhos" que me trouxe flashbacks tratorizantes. "Quando você me deixou, meu bem, me disse pra ser feliz e passar bem. Quis morrer de ciúme, quase enlouqueci, mas depois, como era de costume, obedeci. Quando você me quiser rever, já vai me encontrar refeita, pode crer. Olhos nos olhos, quero ver o que você faz, ao sentir que sem você eu passo bem demais. E que venho até remoçando, me pego cantando sem mais nem porquê. E tantas águas rolaram, quantos homens me amaram bem mais e melhor que você. Quando talvez precisar de mim, cê sabe que a casa é sempre sua, venha sim. Olhos nos olhos, quero ver o que você diz, quero ver como suporta me ver tão feliz". A letra manifestou outro significado para mim, muito estrondoso. Passado e futuro em eterna confusão, como é atualmente. Somente o Chico desperta isso.
Enfim, depois de apreciar todo o álbum, retomei a leitura e consegui terminar a dita entrevista, cuja chamada de capa dizia que era definitiva. Não me enganei. No entanto, ao final, não sei o porquê, lembrei que definitivo mesmo foi o que um ex-amigo me disse: orgulho mesmo seria saber que a minha esposa me traiu com o Chico Buarque!
Música de fossa, minha nossa. Sim, por que não? Pois sinto um frio em sua navalha palavreada. Um mandar de beijo em brejo, um tejo sem meio rio, meio inteiro, meio vazio, meio calafrio. E eu, ao contrário da melodia, quero gastar o meu batom, seja em boca inteira, no corpo todo, na sobrancelha repleta, no lábio fino, no rosto bom, na pele agora. Embora sem riso perceba outrora, aurora fluorescente emano do olho. Não importa se castanho é, pois o lado mais bonito de fato é esse.
O sorriso torto esboço enquanto a canção desliza em meu ouvido, como bailarino em crise de compasso fino, não importando se é tango argentino, tango paraguaio, uruguaio ou salafrário. Fecho os cílios e permaneço ao avesso, contemplando o desespero contido do momento, ao relento, junto ao vento, ao lado do tento e tentando o tentar. Enquanto isso, vou me perdendo e também me achando, analisando a vida sem esquecê-la a sua beleza que fode o coração. Portanto, fico aqui, com a minha nossa fossa, por que não?
Portanto, bom dia
Seja você de família
Ou não.
Bom dia se tem filho
E também àqueles 
que optaram por não.
Bom dia sobrinha,
menino e tiozão.
Bom dia ao avó
E também àqueles que
Jogam como pivôs.
Bom dia guria, piá e abestado.
Bom dia aos circuncidados
E também aos capados.
Bom dia à donzela virgem,
Bom dia à você, seu viado.
Bom dia senhor tarado.
Bom dia criatura.
Bom dia senhor Miyagi.
Bom dia católicos, evangélicos e ateus.
Bom dia croatas e judeus.
Bom dia aos seus e aos meus.
Espelho
Nesses olhos, vejo areias que fazem dunas de cansaço.
A pele se encontra com a umidade do ar abaixo dos 13%
E os lábios formam erosão profunda.
Há ressecamento na testa. E, olhando perdidamente a seca,
Um oásis se materializa nas têmporas.
A escassez da água é semelhante ao confim nordestino,
Tão igual quanto às represas paulistanas.
Pedaços de epiderme caem sobre as sobrancelhas
E os sinais da idade se destacam drasticamente.
Uma balada triste
abala os olhos
Que bailam
Por águas afoitas.
A letra torta
Embora morta
Reconquista o feito
Do passado a limpo.
Estou no meu lugar
Que é cativo sempre
Enquanto meu ventre
É verso sem semente.
O atroz canta
Uma veloz frase
Que aqui corta
Um sorriso que aborta.
O pedaço da metade
Dos dedos sangrentos
Agora transparece
O que não esquece.

quarta-feira, novembro 15, 2017

Aos litros
Infinito verso
Presente no instinto
E bebido
Com vinho tinto.
Levante esse corpo
Que quer rodopiar bonito
Para se livrar aflito
Como uma voz
Que vomita um grito.
Infinita frase
Crie catarse
Em olhos finos
De pequenos mitos.
Em prosa à prova
Torne a palavra um rito
Que em ritmo
Seja bebido aos litros.
lsH

segunda-feira, outubro 16, 2017

Nossa Senhora da Refação, dai-me tranquilidade, pois se me der coragem, eu rasgo o lay-out na frente do cliente. Iluminai a mente da pessoa que reprovou a arte e inspiração ao criativo que precisará ser fantástico para fazer um jornal mural. Namastê, digo, amém.

quarta-feira, outubro 11, 2017

O amor no anoitecer, estremecendo o lábio que vazando assobia: vamos partir. O sorriso nasce como um sol que anuncia renascimento-morto. O povo ignora o sofrimento de um término, mas esquece que da dor uma força bruta, brota. E o pôr-de-algo vem surgindo rabiscando o céu com tintas laranjas. O reflexo no olhar enaltece o gostar. O lábio agora se abre e no outro se fecha, com o astro rei se despedindo e avisando: amanhã, novamente, eu brilho.
Trago aqui os olhos
Que admiraram
Sua feição em instante.
Quero hoje
Aquilo de ontem
E constante.

O volátil amor baseado na cibernética


Para que serve essa porra de amor? Eita sentimento mais complexo que irrita. Agita o cérebro, emburrece. Na primeira manhã, café, doces, cigarros e beijinhos. No primeiro mês, ainda. No segundo mês, também. Depois, desgaste. Café, doces, cigarros e beijinhos misturados e jogados no chão. O líquido preto, amargo. O chocolate, meio-amargo. Os cigarros, amassados. E os beijinhos podem ficar enjoados. O que um não quer, dois não sentem.
Quando se tenta colocar ambos os corpos no mesmo espaço, nem sempre é fácil se ajeitar. Afinal, são duas cabeças e personalidades na divisão do local. Ainda no início, óbvio, o encaixe é perfeição. Abraços apertados, mãos entrelaçadas, pernas encostadas, olhares compenetrados e lábios encaixados. Depois, corpos meio tortos, mãos nada firmes, pernas amolecidas, olhares míopes e bocas rachadas.
Frescor na linha de partida. O dado é jogado, algumas casas são avançadas, a novidade é linda de morrer e o coração o órgão pulsante que vai levando harmoniosamente o sangue para as partes baixas. Lógico. O amor também bate na coxa. Como se bate. Mas, o músculo se cansa, leva o vermelho devagar que, enquanto descansa, não resiste e não levanta. O resto, óbvio. Aí não adianta, o jeito é rir ou encarar e entender: o amor cansa quando um acha que se basta.
Vento horizontal em obtuso caso
Perfurando leve o pensamento sujo.
O lençol molhado em cama seca
E a tez deitada esperando agrado.
Caráter esfacelando em combustão
E olho em sal um tanto maltratado.
Vento horizontal levante em grau
E um pouco de veneno com cal
Enquanto avalia o desejo pensado
Enfraquecendo-o na segunda base.
As pálpebras desistem de lutar
E permitem um doce madrugar.
lsH

quarta-feira, outubro 04, 2017

Deixe-se, mar
Aprofundar aqui
Amar lá
E agora.
Deixe-se, flor
Permita a pétala
Propor
O querer.
Deixe-se, sol.
O sal do gosto
Do oposto
Caos.
Deixe-se, enfim.
Em mim
Seu corpo
Cheiro de jasmim.
lsH
um gole de derrota nesse asco. 
um casco entre as unhas, colabora.
o copo quebrado acumula pó
e o nó na garganta é charme.
a calma quer explodir em caos
para um fundo em furo
se enfurecer na poética dissonante
de um crescente anoitecer.
mencionado antes, agora exposto
"o mundo está duas doses abaixo"
por mais que às vezes, acima,
recria o oposto da colocação.
então, não tenha medo
hora ou cedo o coração padece
e merece um aproveitar
que tenha como fim o sorrir.
(mas não acontece).
lsH.
Estava eu, contente, ouvindo Roberta Campos no iPod. Estava eu, distraído, passeando pelo calçadão de Pato Branco, pensando nos versos. Estava eu, sorrindo sozinho, imaginando a letra cantada por você junto ao meu ouvido. Estava eu, olhando a Igreja Matriz e vendo a estátua de São Pedro rindo para mim. Estava eu, olhando o céu e cansado de usar esses gerúndios fajutos. Estava eu, totalmente perdido, pedindo por um abrigo. Estava eu, em mente, solicitando um abraço seu. A chuva começou naquele momento, como se estivesse lavando a minha dor por amar demais. A minha dor por ser mártir demais. A minha dor por acreditar demais. A minha dor por te querer demais.
Estava eu, caminhando, dando razão à Roberta Campos. A música acabou e meu pensamento voou.

domingo, outubro 01, 2017

Agora quero sentir outra vez as ondas acertarem as minhas pernas. Quero de novo o sol fuzilando os meus olhos. Quero um sentimento dilacerando a minha alma. Quero me sentir livre no local de felicidade. Não quero lembrar das canções ruins. Não quero ler os textos de perdição. "Quero um amor com pedaço de fruta mordida".
Sinto que o retrocesso não é a ocasião.
Não procuro em nada a perfeição, já que a imperfeição sempre me chamou mais a atenção. Gosto do cheiro dos perdedores, da fumaça desgraçada que se espalha pela maresia. Adoro descer no trapiche das memórias poéticas e livres. Encontrar nos rostos dos admiradores da ilha uma verdade que volta a ser virgem devido ao lugar que emana descontração. Pessoas que antes tímidas descobrem um sopro de alegria de pura combustão. Uma liberdade não alcançada entre os fios de conexão.
Quero aquilo que nunca deveria ter saído. Visualizar o novo que ainda não foi criado. Descobrir um capricho não revelado. Desfrutar da carne não abatida. Beber um gole de novidade antes de entrar na madrugada querida. E depois de aproveitar os minutos que desvelam, quero lembrar o passado sofrido, os momentos ressuscitados e os casos contados. Tudo ao som de The Coral ou outra bandinha de som delicado.

Amores daltônicos


Ah, esses amores
Que não enxergam
As cores
Enquanto aqui
Vislumbramos
Diversos sabores.
Ah, esses casos
Que desidratados
Nos tragam
Em muitos acasos.
Ah, esse sentimento
Meio vesgo
Que sem querer
Interrompe o momento.
Ah, essas paixões
Que causam
Machucados
E deturpações.
Ah, minha amiga
Somos dois cegos
Que não praticam
Desapegos.
lsH

segunda-feira, setembro 25, 2017

Não há busca
Em troca de algo
Nem calor, nem amor.
É de sorriso que se abre
Um agradecimento.
De fato lógico
Um rompimento
Por hora chegou.
O cataclisma de sentimento
agora vazou.
Não foi culpa dos dois:
Um outro sempre surge (depois).
Dorme. Silêncio. Respiração. Observação. Dois. Lençóis. Janela. Cortina. Vento. Tranqüilo. Sereno. Olhos. Vela. Incenso. Corpos. Meia luz. Abajur. Cinza. Preto. Branco. Levanta. Banheiro. Urina. Desce. Cozinha. Água. Geladeira. Vodca. Caminha. Sala. Cinzeiro. Isqueiro. Cigarro. Acende. Traga. Esvai. Puxa. Solta. Vai. Fumaça. Coça. Levanta. Estante. Livro. Bucowski. Bebe. Traga. Esvai. Puxa. Solta. Vai. Abre. Página. Lê. Sorri. Espirra. Olha. Letras. Frases. Vogais. Consoantes. Achado. Perfeito. Triste. Alegre. Contente. Pára. Fecha. Boceja. Volta. Escadas. Cama. Deita. Olha. Corpo. Respiração. Carinho. Acorda. Sorri. Encara. Beijo. Toque. Começa. Pernas. Pele. Transpiração. Ação. Respiração. Beija. Língua. Pega. Solta. Agarra. Geme. Sussura. Transpira. Entra. Sai. Penetra. Volta. Desencaixa. Retorna. Confunde. Prazer. Vira. Posições. Carinho. Selvagem. Força. Recomeça. Abre. Fecha. Sai. Entra. Desliza. Acha. Chupa. Encara. Respiração. Suor. Lambe. Beija. Deixa. Quase. Interrompe. Beija. Recomeça. Mexe. Deixa. Fica. Mais. Vai. Segura. Pouco. Mais. Vem. Segura. Agarra. Continua. Forte. Cretina. Puta. Xinga. Vai. Agora. Vai. Vai. Vai. Vai. Ah!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! Deita. Vira. Fecha. Olhos. Dorme. Silêncio. Respiração.

segunda-feira, setembro 18, 2017

Às vezes precisamos de doses de loucura, de noites insones, de silêncio em meio a tanta porcaria que nos invade os olhos e ouvidos. É preciso sentir essa maluquice que bebemos e arrotamos em vida, porque nada levamos a não ser cada impressão digital na pele, cada história compartilhada, cada beijo alucinadamente dado. É necessário saber se ouvir, mesmo com tanto remédio controlado na mente. 
É obrigatório saber amar desenfreadamente, sem dosar as consequências, mergulhando de piruetas em pedras que nem sabemos se de fato são duras. É preciso sentimento real e muita coragem para estufar o peito e dizer tranquilamente: eu te amo. Às vezes não é preciso nem dizer com palavras, apenas transmitir em gestos simples, leves, carinhosos, generosos e deliciosos.
Não é afoito sentir vergonha. É lindo quando se pode encontrar alguém e olhar nos olhos e repassar docemente o sentimento através da pupila, da íris, das pálpebras, do piscar, do brilhar. E, para tanto, é sim necessário uma boa dose de loucura, pois a normalidade é careta e vizinha amiga da idiotice de não saber aproveitar o momento.
Meu escárnio escarrado
Na carne cortada
Que jorra sangue
De álcool acumulado.
O porco ali jogado
É pútrido e carente
De uma mente alucinada
De uma época passada.
Agora o bicho é outro
E o processo necessário
Pois eu quero novo gozo
Sem memória maltrata.

quinta-feira, agosto 24, 2017

A música

A garoa fina dá o tempero. Na sala, em um velho aparelho de som, uma linda canção embala o ninar das horas. Os olhos se fecham e ele pensa naquela situação que chamam de amor. Sua cabeça ainda arde memórias frias, mas a música ajuda como se fosse nicotina para um fumante.
O coração lembrou traições e pulsou um gole de sangue mais intenso pelo corpo. A dissonante adentrou o tímpano e conquistou alívio. Ele queria tudo de novo, no entanto, sem a dose do sofrer. Hoje se encontra em outro plano e quer viver mais emoções ao lado de um fruto doce, que veio como salvação. Mas, a perfeição ainda não pode se realizar, pois não a teve completa.
Ele continua pensativo, confortavelmente abraçando o seu edredon, seu companheiro mais fiel. E a canção continua a acalmar sua ansiedade de pegar o telefone e realizar uma cagada. Mas a mente funciona mais do que a emoção.

domingo, agosto 06, 2017

Os nossos pés

Numa simples frase, que me acompanha como carma, pensei: um dia haverá de passar. Vai desfilar pela passarela da memória, iluminada por um holofote, até ele se apagar. Ou entrará como um trem em um túnel e lá irá ficar. Quem sabe será como aquele disco que riscou e que nunca mais tocará. Ou como aquele velho a navegar, que no mar entrou e com seu barco naufragou.
Porém, já foram tantas as tentativas do querer, daquele de se borrar a mente, simplesmente para parecer uma obra de arte abstrata. Mas sempre quando passo o pincel, acabo desenhando um realismo. E ele é fantástico.
Não se trata de algo bom, eu sei.
Hoje lembrei de quando assistíamos a um filme na sala e deitávamos espremidos no sofá. Antes da película começar, eu ficava olhando para os nossos pés, fazendo comparativos e analisando como eles eram tão diferentes. Na simples frase não mencionada no primeiro parágrafo deste lamentar, relembrei daqueles momentos, quando eu sempre refletia antes de me deitar junto a você: não sei a respeito do futuro, mas, every thing will be fine. Não ficou.
Com o mesmo título, na locadora que fui visitar depois de muito tempo, um trabalho do Wim Wenders me despertou a atenção. Não titubeei, Aluguei. Fiquei decepcionado ao chegar ao final do filme, primeiro, porque seus pés não estavam aqui; segundo, o diretor errou a mão; terceiro, nem sei mais.
Agora, depois de tantas aventuras sentimentais, começo a esquecer da frase que outrora era um carma. Contudo, antes de esquecê-la, quero entoá-la como um mantra.

segunda-feira, julho 24, 2017

Lua


O instante
Da carência
Na lágrima
Que escorre
Do céu
Lembrando
Do que passou
E um dia voltou
Mas o presente
É vivo
E acabou.
A solidão
No instante
E a carência
Está.
Na lágrima
Que escorreu
E no dia seguinte
Morreu.
l.s.H

quinta-feira, julho 20, 2017

Você se lembra o dia em que nos encontramos pela primeira vez? Provavelmente eu estava bêbado. Com certeza estava. Mas eu recordo a minha primeira frase. Na realidade, foi uma pergunta: tem fogo? A noite estava fria e em frente àquela boate indie, dividimos o cigarro. Cigarro mentolado, que eu odeio. Era o que tinha. Só o aturei por causa da conversa, que estava agradável e porque você usava uma camiseta do Bikini Kill.
Claro que eu recordo. Sim, você estava bebaço. Enrolava cada sílaba, que eu completava com "arrams", "tá certo" e "concordo contigo". Eu também odiava cigarros mentolados. Não foi aquela noite que você vomitou na fila para sair? Depois de ter beijado um menino que a Roberta queria? Foi sim, tenho certeza, pois eu estava sóbrio.
Verdade, tenho um fragmento de lembrança, mas acho que foi.
Cara, que DJ ruim tocou aquele dia. Cheguei cedo com a minha galera e estava tocando The Killers. Porra, era uma boate indie. Eu esperava algo meio Ecosmith, Portugal, The Man ou The New Pornographers. Só tocou coisa manjada.
Disso não lembro, não mesmo. Mas recordo que depois do cigarro você abandonou tua turma e foi comigo comer um cachorro-quente, que eu devo ter vomitado quando pisei em casa.
Aí você pediu meu celular e salvou no seu, que ficou todo melecado de maionese. Nem tinha 3G naquela época. Como é que vivíamos? E eu fodia mais naquele tempo, sem Tinder, sem nada. Crush não passava de um nome de chocolate.
Eu não fodo nem nos dias atuais, quem diria naquele tempo.
Pare! Não minta. É cheio dos contatinhos, que eu sei.
Enfim, desde então nos tornarmos amigos.
E agora estamos aqui, conversando pelo Messenger. Desgraça de vida que, por vezes, afasta mais do que aproxima.
É... Sinto sua falta.
Eu também. Saudades de dividir contigo um cachorro-quente.
Te amo, Feliz Dia do Amigo.
lsH, 20 de julho, de um ano qualquer.

sexta-feira, junho 16, 2017

Me Deixo

Hoje vejo o mundo
Como uma Mavica
Com problema no foco.
Tudo está leitoso
E o céu borrado
De um azul jocoso.

As luzes dos carros
São vaga-lumes amassados
Que perdem a cada metro
O sentido de viver.

Pela estrada, não vejo
E quando percebo
Um Volvo eu encontro
E não há socorrer. 

Agora vejo o vermelho
Que escorre até o queixo
Vou fechando os olhos
E assim me deixo. 

sábado, junho 10, 2017

Creio veemente que certas pessoas confundem o significado da auto-estima. Alguns a utilizam como sinônimo de “rei na barriga”, de donos da verdade absoluta. E, claro, esses indivíduos não possuem a capacidade de dizerem: desculpe, errei. Suas respostas são agressivas e suas atitudes peculiares (para não dizer algo ofensivo). Tamanha é a dificuldade de assumir as consequências que preferem apelar para a defesa desenfreada, ressaltando suas qualidades, que podem ou não ser duvidosas, e partem para a famosa ignorância, essa vizinha da maldade (sim, a frase é daquele poeta).
Com certeza você conhece alguém que é repleto de esperança quanto ao futuro, que é admirado por uma parcela do eleitorado, porém, carrega consigo uma arrogância disfarçada de ingenuidade. Não é auto-estima, não. É mecanismo de defesa. No fundo, lá impregnado no peito, internamente, essa pessoa canta aquela música do Karnak, cujo verso diz: “eu era convencido, agora não sou não, porque cheguei à perfeição”.

quinta-feira, junho 01, 2017

Repugnante Tormento

Remete uma canção
Na dor mais antiga
Da eterna paixão
Pelo pó que levantou.
A lágrima absurda

Ecoa surda no berro
Da repugnante tradição.
Há tiros na escuridão
E silêncio na infância
Que insiste em se perder
No tempo da conclusão.
Sopra no barro um remorso
Causado pelo tempo,
Socorre ao álcool
Um pouco mais de lamento.
A lágrima absurda
Ecoa surda no grito
De repugnante tormento.

lsH
Nos segundos falecidos eu vejo a derrota
E amplio com dicotomia, pois não é a verdade.
Trato o acaso como um passado empoeirado
E reflito neste pouco que nada está atrasado.
Tudo se trata de período contido
Que poderá ser resgatado em um dia oportuno.

quarta-feira, maio 03, 2017

Let it be

Deixem que o Buzzfeed, cupcakes e seus Gifs de gatinhos te enganem, pois vivemos numa época em que o fofo e o feliz, especialmente o feliz, é alvo de rejeição cínica. Ser taxado de ranzinza, sarcástico e frio se transformou em elogio. Assim como a protagonista do filme Happy-Go-Lucky, de Mike Leigh, artistas que exalam tais qualidades como Zooey Deschanel ou Clarice Falcão são alvos imediatos de uma recusa. Isso apenas impede parte do público de perceber que, para os dias em que a depressão de um Ok Computer não é adequada, existem discos como o Volume 3.

Clássico

A febre desse amor em clima pulsante
E a sua garganta linda em minhas mãos.
O tanque de uísque pousado na mesa
E o estoque de alcatrão entre os vãos.

Giro os olhos afoitos em direção aos dedos
Enquanto seu suspiro tranquiliza o redor
E a minha tentativa de invasão se torna certeira
Conseguindo a compreensão do furor.


Observo os detalhes dos poros do seu pescoço
E o arrepio da pele morena que me fascina.
Não há nada melhor do que essa vacina
Ao menos para alguém que sentia uma carnificina.
O levantar do seu sufoco fica calmo
Enquanto a minha ânsia se torna plácida
E aquilo que eu havia segurado
Permito contigo soltar com pouco estrago.
Bem devagar eu saio e alcanço o gole
Bebido como leite pela boca úmida
E acendo meu filtro branco como se fosse o primeiro
De outros muitos que virão clássicos.

lsH

quinta-feira, abril 27, 2017

A dúvida que fica
A dúvida que passa
Há dúvida ainda
Em cada letra, relaxa.
lsH.

quarta-feira, abril 26, 2017

Eu quero a sua pele exposta em mim, agora. Quero sentir o respiro de cada poro, como pequenas explosões de satisfação. Quero te fazer gozar com a precisão mais cirúrgica que o Pitangui já proporcionou. Quero retirar do seu hálito o gosto novo inventado na minha boca. Quero proporcionar o amor mais afoito nas horas mais improváveis. Quero arrebentar em decibéis o seu tímpano, com inúmeras frases que versarão sobre o sentimento maior: o amor. Quero te chatear e te cansar com as minhas asneiras e baboseiras a respeito do gostar. Quero te encher de guloseimas sentimentais e te abusar nas madrugadas de chuva. Quero embebedar o seu olhar com os gestos mais cafonas que o romance pode enobrecer. Quero viajar em seu corpo e utilizar a minha língua em cada dobra que eu encontrar. Quero me aperfeiçoar na melhor breguice que uma canção pode ocasionar. Quero me fortalecer na fúria de seus lábios enquanto o futuro aguarda o mais belo sorriso que nenhum dentista ousará interferir. Quero a sua biologia de noite e de dia. Quero o seu cantar bem colado no meu ouvido. Eu quero a sua tez morena cada vez mais ligada à minha satisfação de te ver sorrindo.

segunda-feira, abril 24, 2017

Poderia

Lembro de lá, o lado atlântico, 
um romântico desesperado a encontrar, 
sabe-se lá o que seria: um olhar, quiça. 
Mas recordo da nitidez ao falar, 
mesmo sem entender o seu contexto. 
Era de se apaixonar. 
Tinha no semblante algo confuso. 
Dava gosto de cogitar. 
Muitas coisas a observar. 

Do escuro dos olhos ao cabelo ralo. 
O jeito de molhar os lábios para dizer, fosse qualquer coisa. 

Não trazia nada, apenas um anel no dedo. 

Dizia que significa, agora, o fim. 
Enfim, não fiquei sabendo do resto, 
pois faltou um tiquinho de coragem. 
Poderia ter sido um recomeçar.

terça-feira, abril 18, 2017

Pós-almoço
Dá um soninho
Que se torna
Dono
Desse corpinho.
Poderia ser o seu
Poderia ser o meu
Mas quis o destino
E o amorzinho, morreu.

sexta-feira, abril 14, 2017

Sexta-feira Santa

Faço algo para me distrair. 
Espantar essa coisa coisada nos olhos. 
Esse líquido de sono que escorre. 

Esse bocejo que não me socorre.
Faz tempo que penso em algo para me consumir.
Uma ira aguda na garganta. Um tiro na narina. Um barco sem marina.
Fico um bom período sem imaginar.
Mas insiste um sonho.
Um furo no peito.
Um espaço sem leito.
Frasco vazio está presente no momento.
Um moinho sem vento.
Nordeste sem sertão.
Gaúcho sem chimarrão.
Fracasso é o perceber do agora.
Comemoração sem vitória,
sonho sem dormir,
coração sem sangue,
lábios sem sorrir.

lsH

quarta-feira, abril 12, 2017

Momento

E naquela hora exata
A sua frase imposta
Me fez acreditar
Que a vida valia a pena.
Mas a minha pena
Foi confiar que você
Era o amor exato
Que completaria
A minha imperfeição.
Hoje sabemos
Que nada aconteceu
E que apenas o impulso
Nos conduziu pela estrada
Que de asfalto era pó
E o momento, ilusão.
Ainda bem que o bem
Não estava naquele instante
E que o fim foi melhor
Para o meu eu.
Às vezes é triste
Aceitar a tristeza
Como forma de certeza
Para melhor viver
Essa falta de amor.

domingo, abril 09, 2017

Basta sofrer um pouco para aprender
Naquela loucura desenfreada do sentir.
Basta querer a mais para entupir
A cabeça com as boas razões de viver.
Basta muito para bastar.
Basta tanto para amar.
Basta aqui para bolar.
Basta o extremo para sair.

Para você

Para você que flutuou os meus sonhos mais eróticos, daqueles em que o mínimo eram as roupas rasgadas, que uma engasgada não significava nada, que uma picada era o lindo em sua bunda. Para você, o amor que me torturou, que me enlouqueceu, que deixou os meus dias em calafrios com o seu não tentar. Para você, o meu pulmão de fumante, o meu corpo de alcoólatra, a minha fraqueza desesperada.
Para que você que perfurou, mesmo sem saber. Para você, os meus versos mais belos, mas nunca compostos. Para você, a minha vida com trilha sonora vinda do nórdico, dos instrumentos mais inusitados, das partituras menos clássicas. A você a minha rapsódia em si bemol para Guitar Hero.
Para você que me conquistou na primeira letra do verso nada romântico que deixou o meu sangue mais medonho. Para você que me permitiu gostar de você, em sua cama, com a minha língua em cada pedaço do seu corpo, autorizando um adentrar, um gozar e um abraçar. Para você que me ofereceu a melhor orelha para morder com a precisão que por vezes ficava demais afoita. Para você que me aqueceu com um simples olhar. Para você que me deixou amar.
Do futuro, vamos
Consequência é preciso.
Ao ouvir reprovação,
Gosto,
Pois inquietação existe.
Do fundo do poço, aposto
É preciso ter cuidado.
E quando sorrir, desculpe
Mas mostrarei meu desgosto
Só para provocar.
lsH

meia

Meia-luz, meia taça, meio vinho, meio assim. Meio abraço. Metades. Sejamos. O meu grito foi de fúria. Fúria de viver. Fúria de gostar. Fúria de azar. Fúria de natureza. Fúria de final. Fúria de fazer. O seu foi de desespero, de lamento, de tristeza, de pesar. Juntemos, então, cada qual em uma outra canção com apenas três notas dedilhadas que imprima o sentir das coisas expostas. Uma delicadeza noturna que os amantes da razão entendem com perfeccionismo salutar. Eu queria ter citado outro poema, mas esqueci os versos. De toda a forma, imprimiu na boca a sede metafórica das delícias sobrescritas em meu peito. Se todos os dias fossem assim, eu seria o rei de mim. Portanto, sigamos. O caminho aberto das possíveis adjacências, os textos intermináveis sobre o fel, o mel, o céu. A cicatriz descoberta e marcada em um Dia de Independência da nossa nobre nação. A dobra revelada quando caído o pano apresentou. Um sono em seu ombro, agora, continuou no meu sonho. Prometo sempre estar em sua confusão, mesmo que seja a última, a vice-campeã, a prata, o bronze e o amálgama.
lsH

sábado, abril 08, 2017

Compreensão

No momento do tchau
A garganta desesperada
Vai sangrar
E pedirá clemência
Para ficar.
Já prevejo aquela dor funda
Na infinitude da alma
Que parece nunca ter descanso.
O meu talento é perder
E os poucos são frascos
Que vazios ficam
Enquanto engulo
Os sentimentos oprimidos.
Sim, vai doer
E se vai passar,
Me desculpe o cantor,
Mas vá desmanchar o amor
De outra ocasião
Porque aqui neste coração
Já não resta mais pingo
De compreensão.

quarta-feira, abril 05, 2017

não padece

o esquecimento da prece, daquele dia de sol, banhado de laranja pelo rosto, como uma promessa cumprida, não sei se merece. não sei se merece ser deixada ali jogada. tantas outras se foram que essa não carece. não carece de rompimento apesar da minha não sabedoria. poria em algum pote metálico para conservar, só que não sei se um dia vai querer olhar. olhar lá no fundo, aquela minha memória mais feliz. mais feliz da vida, na prata do mar abençoado por deuses falecidos. falecidos como os sonhos que escrevíamos em postais colados em nossas paredes de memórias. memórias de dias vividos e divididos com a mistura do melhor sentimento e depois com sofreguidão. sofreguidão que eu jurava ser apenas uma fase que passaríamos como os pássaros negros que pousaram e se foram. contudo, não. o que ficou foi a tentativa de esquecimento da prece, que não padece porque te amo.

sexta-feira, março 10, 2017

E daquele som metálico saiu a canção, um tanto estranha em seu ritmo, mas admirada pelos senhores que, categóricos, diziam se tratar de um novo clássico. Ouviu-se as batidas cadenciadas em estações de rádios que vendiam o passado como luxo, mas agora tocam o luxo como no passado. E os tímpanos dos maestros achavam tudo aquilo confuso: um cão sem dono solto pelas ruas, caminhando sem direção, apenas sabendo que precisava continuar. Para onde? Sei lá. 
o riso não era contido quando a sequência sem acordes, sem melodia, apenas ritmada, atingia a manada dos foliões que agora utilizavam frases, oferecendo à composição uma nova tradução. Parecia o carnaval, mas ali tinha um outro tipo de lamento. Talvez pelas consequências do presente, esse tempo tão subestimado, mas vívido e, por vezes, coerente até demais. Ou, de repente, como se fosse um parente do distante futuro que chega sem dar aviso e, lá de longe, se torna perto e revela-se um estorvo.
Ninguém tinha uma explicação da força daquela canção. Foi então que todos acordaram em pleno século 21 e perceberam que tudo aquilo outrora fortalecido em 1968 se tornou um peidinho bem cheiroso se comparado com o novo sentido dessa nova canção.

quinta-feira, março 09, 2017

relaxa
baixa a calça
bata uma
que passa

segunda-feira, março 06, 2017

A novinha do Alt-J

Alt-J posando para a lente da verdade

Ame-os ou deixe-os. Com o Alt-J não tem essa, ou você gosta ou você odeia. Os caras anunciaram que em breve lançarão o terceiro disco, que está sendo muito aguardado pelos fãs de carteirinha, inclusive por este que vos escreve. 

O sucessor de "This Is All Yours" chegará aos ouvidos no dia 9 de junho, mas o primeiro single do novo trabalho, "3WW", já está rolando no Youtube e demais plataformas de streaming. 


             

terça-feira, fevereiro 28, 2017

Coração Selvagem

Um coração selvagem arrebenta a alma de um poeta caído. A tristeza se esvai para outras redondezas. A vida ganha um novo sopro na descoberta acidental. A pureza já perdida percorre novamente pelos poros da satisfação. Os olhos se fecham para receber o carinho. 
As mãos tocam lentamente o pulso de prazer. 
A beleza antes não era percebida. Agora há a entrega do sentir. O vazio some como se estivesse escorrendo pelos dedos. A pele se encontra com a outra e não desiste. A cabeça viaja em pensamentos recentes. Difícil acreditar que está acontecendo. Os lábios exploram o desconhecido. As outras experiências se dissipam. O caos do início vira compartilhamento. A sensação se torna troca. O carinho, perfeição.
As pernas se enroscam.
A respiração alcança o ápice. O deslize é frequente. O rápido fica lento. Os beijos, permanentes. A explosão chega logo. A luz penetra os olhos. O gemido, vocalização. E o final é um trejeito.
Logo se separam para repousar.
O explícito fica tímido. As cobertas, camuflagens. Os sons se transformam em silêncio. E a respiração, melodia. Um dedo faz audácia. O outro corresponde. Se abraçam novamente. Não começam, mas permitem. As horas se distraiem. O escuro, cambaleia. O tocar é percebido. E o amor é destravado.

domingo, fevereiro 19, 2017

Extirpe

Extirpando o desespero e concluindo o que estava certo, 
Já que eu visualizei, mas não quis acreditar. 
O sol vinga na cabeça, mesmo sendo a massa cinzenta. 
Cristo ouviu, 
Bukowski também. 
Escutei ontem aquela música que eu preferia não ter composto. 
Oposto que vomitada acabou. 
Ou nem lembrança ficou. 
Tudo bem, 
O desgosto percebido eu estou defecando.

Além disso,
Ontem bateu novamente a latejante aflição.
Procurei não ligar.
Não liguei.
Descarreguei na fúria de um roçar de coxas que explodiu em satisfação.
Ufa!
Achei que não conseguiria retornar àquele ninho.
Consegui.
Jorrei.
E agora vou extirpando.

segunda-feira, fevereiro 13, 2017

des(dia)


hoje é um daqueles dias
que sozinha não me basto
que meu peito grita teu abraço
y penso comigo que hoje não vai dar
hoje é um daqueles dias
que tudo fica cinza
y o mais leve respingo de cor
me lembra a dor de não poder
contigo compartilhar.
é aquela hora que eu penso
por que não me humilhar?
aparecer na sua porta
e te pedir para voltar.
hoje nem era para ter sido hoje
uma segunda 13 com cara de sexta
que podia ter sido só 14
só pr'eu não lembrar
que hoje é um daqueles dias
que dá uma puta saudade
de só te amar.
me dá vontade de esquecer
o caminho torto y errado
que a gente pegou
naquela encruzilhada
enquanto os nossos berros
se misturavam com um velho blues.
então me enrosco
me amarro firme nas linhas
de mais uma triste poesia
que lhe escrevo
pra de mim
te apagar.
lola f. 2017

sábado, fevereiro 11, 2017

Querer aberto


Sacrifício coração, desperdício sentimental
Fossa em catarse, vento diagonal.
Lágrima em transe, perfeição arrebentada
Crise de mentira, tira interrogada.
Versos soltos, solturas involuntárias
Velcro indefinido, beijo interrompido.
Poluição amorosa, dengosa solitude
Altitude interminável, queda paixonite.
Verborrágico cantar, cheirada afetuosa
Nariz em giz, pó destruído.
Heroína nua, pelo em corpo.
Olhos cerrados, coração em vida.
Poesia fechada, querer aberto.

terça-feira, fevereiro 07, 2017

Os Olhos

Tenho olhos que atingem
O aflito
Eles se convergem
No grito.
Nas paralelas 
O planalto é um salto
Que no infinito
Não encontra abrigo.
Tenho olhos, que vertigem,
No rito
Ela se despede
No ritmo.
Das trocas de favores
Que os senadores
Pensam
Que compreendem.

sábado, fevereiro 04, 2017

Criar

Um caso por acaso
Causou um desabar.
Fracasso em sentir
Um bom gostar.
Travado um soltar
De sentimentos
Repudiou o decepcionar.
Abriu os olhos
A falsa esperança de criar.
Hoje eu quero a calma. Quero os versos da Hilda Hilst embalados com jazz. Miles Davis e café preto. Desejo frases que me dilacerem, que me deliciem a boca como pera colhida madura, como vinho vagabundo comprado com trocados, como velho que consegue terminar a refeição. Eu quero os poemas mais absurdos do amor hiperbólico, das cantadas azedas e funcionais regadas a cerveja. Eu quero o sentimento em doses exageradas. Hoje eu quero sangrar os dedos numa corda de aço. Pegar o Sol sem Dó e concluir com Lá o seu Mi Maior. Quero dormir abraçado e quero ser ninado como o último coitado que derramou o sorrir em seu corpo. E, além de tudo, eu quero a calma em cama, com sua boa alma.

terça-feira, janeiro 31, 2017

Linha

A linha da minha
Está ligada à sua,
Mesmo quando
O asfalto é a linha
Que traça o destino.
Queira o futuro
Que na próxima
O máximo seja
Mais perto.

domingo, janeiro 29, 2017

Cansaço beira-corpo / Beira o berro / Berro oco.
O oco choca / Chocante caos / Caos do corpo.
Corpo em queda / Queda plena / Plena luz.
Luz desliga / Desliga trinca / Trinca azeda.
Azeda boca / Boca torta / Torta vida.
Vida agora / Agora sopro / Sopro afoito,
Afoito olho / Olho morto / Morto em cama.

sábado, janeiro 28, 2017

Alguém aí bateu na porta da solidão? Sabe qual é o sentimento mais fácil de ser alcançado? Quem adivinha a palavra mais generosa. "Quem sabe o que é ter e perder alguém".
A porta da solidão já foi aberta, há tempos. Se ela não existisse, o que seria do amor, o sentimento mais fácil de ser alcançado. Difícil é haver interesse mútuo. Um pode amar, mas outro pode desdenhar. Quando há encontro, aí sim, os fogos de artifícios são ouvidos de longe, muito longe. Melhor ainda acompanhado de um generoso obrigado, palavra cada vez mais esquecida por familiares, amigos, funcionários, colegas de trabalho, políticos, iconólatras e conhecidos virtuais. Como é complicado arrancar um obrigado de alguém. Pior são aqueles que criticam a falta de educação, mas não possuem educação alguma. E é assim que se tem e se perde alguém. Algo viciante. Moto-perpétuo.
Os tempos de hoje são tristes. Os olhares vazios não transmitem sentimentos. Corpos secos vagam em direções perdidas. No momento em que encontram outras pessoas, é o oco que prevalece. Por isso ainda existem os caras que insistem em bater na porta da solidão.
Calmo,
o alvo
Ao meu conselho.
Concreto
O dia em concerto
O seu conselho.
Eu queria sempre assim
Mas sei que nem sempre
Encontro o eu em mim.
Penso,
Senso em número
O útero que nasci.
Sinto,
O fruto que
Não omito.

Apenas concordar

A hipocrisia da sua boca
Cantando uma música medonha
Que toca no rádio
Me causa um asco,
Uma lástima e derruba
Uma lágrima.
Nesse balcão do bar
Eu te escrevo
Para desistir,
Mas sei que você
Embala mais ouvidos
Do que o meu
Lamento pode influenciar.
Tenho dó disso
E o que podemos
Fazer?
Apenas concordar
Que algo errado
Não causa o amar
E que a sua corda
Vocal
Vai continuar
A cantar a mediocridade
Do Ibope do país.

sábado, janeiro 21, 2017

Off price


Que a sorte me livre do mercado
e que me deixe
continuar fazendo (sem o saber)
fora de esquema
meu poema
inesperado
e que eu possa
cada vez mais desaprender
de pensar o pensado
e assim poder
reinventar o certo pelo errado.
GULLAR, Ferreira

Profeta

Nos grandes desafios dessa vida, pensar na morte deveria ser considerado algo irrelevante. Mas não é. O futuro sempre nos preocupa. Deve ser por isso que nos agarramos às coisas misteriosas, ao desconhecido e ao inexplicável. Nossa fixação por Deus e pelos deuses, por exemplo, pode ser uma simples explicação para tanto. Agora, defender isso para um islâmico, evangélico, budista ou católico, é motivo para iniciar a terceira grande Guerra Mundial.
É meio revoltante, mesmo com o apelo à comédia e ao humor negro-petróleo, quando alguém expressa sua ácida opinião às atitudes de determinadas religiões. Afinal, a maioria diz que prega o respeito, no entanto, o que pregam é um prego bem ardido na falta de consciência de que a individualidade é repleta de diferenças. Mas isso não justifica determinadas atitudes, como àquela de uma região islâmica que leiloa crianças-meninas para serem escravas sexuais. Algo real, totalmente ao contrário de uma tira ou charge de um Maomé sendo comido por um Papa. O antissemitismo não é doença e provoca revoltas, porém, certas características e costumes causam mais estranheza para olhos ocidentais.
Se esses são ou não fundamentalistas, não importa. O medo e o passado-presente acaba revelando o que eles mesmos escondem. E a entrega ao desconhecido e ao inexplicável, nesse sentido, não deve ser fixação. Nem tão pouco religioso e amoroso. Acho que um Deus digno choraria e reprovaria. Ainda mais um profeta.
lsH

Conto rápido


"Seu maior sonho vai se realizar". Dizia a sorte do dia. Mas quando e que sonho? Foi então que ela percebeu: - Não tenho sonhos. A moça não tinha metas, não almejava planos, não criava expectativas. Ela vivia de parábolas e de metáforas, porém, nunca de perspectivas futuras. 
Já tinha jogado no bicho, na Lotomania e comprado uma Telesena, mas nunca pensava no futuro. Só percebeu que faltava audácia no viver no momento em que leu: "Seu maior sonho vai se realizar". Logo ela que nem tinha sonhos, quanto mais um "maior". Rascunhou as suas vontades em um papel, percorreu as suas memórias e lembrou de um antigo pedido realizado na infância. "Quero ser cantora de cabaré". Quase conseguiu. Hoje tem emprego em uma zona onde dubla velhos sucessos da Cher.

terça-feira, janeiro 17, 2017

Continho

Perceber que aqui - só - solamente com o olho de vidro que ilumina através de várias cores, vejo que a graça está justamente nisso. Tratar de ousar está em acabar de novo o algo niilista. Nem quero pensar que o inverso do meu verso sarcástico provoque a ira, não é a intenção. Na real, a vontade é de guerra, mesmo nessa era de sorrisos falsos. Amargo é ainda saber que a claustrofobia do dia cega o causar do riso desesperado. Mas a vida tem dessas coisas do paradoxo, dos paradigmas e das manias. Nem sempre se pode ser bom. Quero arrancar o coração e fazê-lo alimento para os animais. E na tranquilidade fico no esconderijo, com incenso, vela e Jorge Drexler.
Atrasar o que nunca foi começado, agora, inicia um período de vago sentimento. O pensamento está inacabado como acabo com mais um litro. A promessa foi parar, mas fiz algo que não consegui e prossegui, até terminar. O último gole é o mais preciso e gostoso.
Deixa cá, que perceber é realmente ver a volta das características das mensagens exatamente subliminares. Se ser direto é simplista, então, desconcertar é impreciso na precisão da minha mão cega.
Me emano, mano. Saudade meu caro, o Caetano és, não me engano.

segunda-feira, janeiro 16, 2017

É Fruto e Mordida

Porque o amor é entrega e recebimento. É açoite, mas é lirismo. Não é dor no início, é alívio. Só se fores virgem. Porque amor é metade cheio e metade vazio. Porque é razão e vazão. Também é introdução, argumentação e fim. É dissertação de vestibular. É conclusão de curso, é tese de doutorado. Porque amor é bom e ruim, mas se percebe, contudo, que é explosão de sentimentos. É tarefa para bem-humorados. Não pode ser forçado. Porque amor é sinceridade, é intimidade. São besteiras compartilhadas. Um peido que escapou debaixo das cobertas, uma remela matinal no olho ou pelinhos no nariz. Amor é cuidado e descuidado. É continuado e descontinuado. Porque tem sorrisos, lágrimas, beijos e abraços. Porque é aquela música que marca um momento, de Ting Tings a Cícero. É canção brega que toca em rádio AM. É Odair José, Ariano Suassuna, E.E. Cummings, Grazi Massafera, Roberto e Erasmo Carlos, Bee Gees, Jesus Cristo, Armando Nogueira e Chicholina. Porque amor é orgasmo, é coito interrompido e brochada. Amor é ferida, é casquinha, é cicatriz, é cura e acalanto. É fruto e mordida.

domingo, janeiro 15, 2017

Sublime


O que fazer
Agora que entrou?
Não foi por pressão
A situação ajudou.
Se não há dor
Então eu continuo.
Eu sinto como prova De amor
E espero que não se arrependa,
Pois vou querer mais.

quarta-feira, janeiro 11, 2017

Toque de Verão

Nas suas costas, descobertas antes, apreciadas agora. 
Fim de dia, um beijo em vida. 
Coração em metal, aquecido junto, 
Olhando o sol, se despedindo então. 

Ainda temos a água limpa, o olhar inocente e a sobrevida. 
Não esquecerei cedo do seu toque de verão.
desde a época do sim,
o cantar do não ecoa.
há 20 anos tínhamos a coragem
agora, a sacanagem.
parecia que a sua revista
tinha mais encéfalo.
e hoje os vestibulandos
não são mais os mesmos,
nem os assessores de imprensa
outrora sagazes
e, atualmente, mortos neurológicos
em redes sociais.
fazia tempo que não lia algo seu
e apenas perdi o meu tempo.
como não louvar o passado,
se o teu presente parece burro?