Meu nome é Leonardo Silveira Handa. Jornalista. Perdido. Achado. Amante. Radialista.

sábado, dezembro 12, 2015

Já não sei mais o que pensar, nem em como agir. O fato é que para os próximos relacionamentos amorosos, se existirem, não saberei o que sentir. Não gostaria de me tornar uma daquelas pessoas que dizem: nunca mais me apaixonarei de novo. Tão clichê isso. Mas se for pensar pelo viés do se machucar, acredito que não sobreviverei a outra desilusão.
Posso dizer que tive três namoros. O primeiro, doentio. O segundo, ciumento e confuso. O terceiro, doentio, ciumento, confuso e devastador. De todos, o último, com certeza, é o que deixou feridas homéricas. Boa parcela da culpa é minha, mas percebo que faltou mais delicadeza e entendimento por parte do outro. E agora? Quero que se foda. É isso. Fim.

quarta-feira, dezembro 02, 2015

Síndrome

Quem sente síndrome do pânico sabe o quão terrível é ter os sintomas durante o trabalho. E trabalhar em rádio com essa ansiedade toda é o desespero retratado nos olhos. Nos últimos dois dias têm sido assim. Levanto bem, apresento com meus colegas o jornal matinal, repasso as notícias, faço comentários e vou me preparando para os textos do restante da manhã, além de algumas edições de áudio. Nesse momento, tudo começa a rodar. A concentração me escapa, fico mexendo toda hora na sobrancelha, como se ela fosse um botão que reiniciasse o meu cérebro. Ponho os fones de ouvido para aumentar minha percepção do que estou fazendo e sai tudo no automático. Odeio essa sensação. Tudo parece que sairá do controle. Tenho vontade de sair correndo, me bater contra uma parede, de berrar vários nomes e de arrancar minha espinha dorsal com um facão. Desde 2008 é assim. 
Começou quando sobrevivi a um relacionamento complicado. A primeira vez que ela visitou a minha cabeça, eu achei que estava enlouquecendo e, lógico, tinha a certeza de que iria morrer naquela instante. Eu trabalhava como coordenador de uma agência experimental de jornalismo de uma faculdade. Depois que minha estagiária saiu da sala, eu me encostei na parede perto da janela e não consegui mais controlar meus pensamentos. Surtei. No entanto, conseguia controlar o meu corpo e não tive nenhum acesso de desejo de querer quebrar algo. Na realidade, gostaria de ter quebrado o meu próprio crânio, pois sentia que o capeta tinha tomado conta da minha alma. O coração disparou. "Pronto, morrerei de infarto, parada cardíaca, derrame, AVC, sei lá", isso era a única coisa que conseguia pensar. E agora estou sentindo os mesmo sintomas, por isso, não continuarei esse texto. Mais tarde, quem sabe. 

sexta-feira, novembro 27, 2015

O amor é caos



O seu lado do guarda-roupa ainda está vazio. Encaro a porta todos os dias, ao acordar. O sentimento? Não sei explicar. A intenção de deixá-lo assim, menos ainda. Minhas coisas continuam atoladas nos espaços que me foram cabidos e designados. Tudo meio embolado, conforme a vida nesse momento. Mesmo assim, sei onde estão todos os objetos e roupas. Ou seja, há uma organização no caos.

Aqueles bilhetinhos de amor outrora colados no móvel não se encontram mais. Confesso que foram rasgados. Arrependo-me de tal ato. Tinham mensagens ali que eram lindas: escritas em momentos de sinceridade original. Talvez o imediatismo de apagar as memórias me levou a covardemente tomar a atitude do desapego. Porém, me pego a cada duas horas a relembrar aquelas frases que jorravam amor.

Estou dormindo do outro lado da cama que, aliás, não é a mesma. Tive que me desfazer da antiga, pois não conseguia mais repousar nela. Sentia uma angústia terrível ao me deitar e perceber que você não estava ao meu lado, roçando suas pernas às minhas, reclamando do meu hálito, implorando por uma conchinha ou roubando o meu edredom. Sinto saudades horríveis dessas vivências.

Na parede, as poesias do Cummings e do Drummond foram apagadas. No lugar, fiz um mosaico com os quadrinhos que adornam os postais e os pôsteres que compramos em Montevidéu. Recentemente, abri uma sacola onde guardamos lembranças da capital do Uruguai. Cheguei até a sentir o cheio do bairro de Pocitos e recordei cada detalhe da longa caminhada que fizemos pela orla do local. Parecia que estávamos dentro de um livro do Ricardo Piglia. O sol brilhava esplendoroso naquele dia, refletindo grandiosamente no rio (que parece mar), justificando o seu nome, Del Plata. Foram horas de paz incríveis, com observações sobre a vida, o futuro, o momento, as pessoas e as paisagens. Talvez seja a consumação de convívio mais marcante que sobrevivi contigo. Ao escrever isso, molhei o teclado do meu notebook.

Eu só queria dizer que aquela canção do Wado ainda faz sentido. Entretanto, a dor não passou. E eu continuo não gostando da Katy Perry, apesar de que quando ouço Fireworks, recordo do seu jeito bobo de dançar.

Dias atrás, acordei de um sonho desesperado. Você fugia de mim e corria ao redor de um grande cubo, o qual não lembro a cor. Quando eu consegui te alcançar, misteriosamente, uma placa apareceu em suas mãos com os dizeres: eu te amo. Abri os olhos, marejados. Levantei, fui à cozinha, bebi água com açúcar, tomei um tranquilizante e tentei voltar ao sonho. Mas não te encontrei.


Como é estranho em situações assim sermos desnudos com os nossos sentimentos. Uma clareza dos erros e dos acertos é límpida como água mineral. Quando observamos de longe temos mais visão para analisar os acontecimentos. A imaginação flui atônita. Fico desenhando em pensamentos como você está, se sente saudades, se abre sorrisos quando relembra momentos ou se gostaria de me rever um dia. Enquanto isso, sem razão para isso, seu lado do guarda-roupa continua vazio. Nem sei por que escrevo o seu lado, pois na prática, o lado agora é só meu. Na teoria, não. E o amor é prática e teoria, é direito e é esquerdo: carne e unha, alma gêmea... as metades da laranja. O amor é isso, é Fábio Júnior, é breguice e é escárnio. É caos.

quarta-feira, novembro 04, 2015

Certa manhã acordei de um sonho intranquilo. Na realidade, foi bem tranquilo, ao contrário do amigo Kafka. Na minha viagem mental, você estava lá, segurando uma placa escrita "eu te amo", correndo feito um bobo, brincando de esconde-esconde comigo. E, quando você falou a frase ali acima, eu simplesmente chorei feito uma criança repleta de esperança por dias melhores. 

Aconteceu hoje.

Ao abrir meu horóscopo, a leitura me deu um tapa. Por quê? Porque dizia isso: a lua em Leão recebe ótimos aspectos de Urano deixando você emocionalmente agitado. O momento envolve volta a um passado agradável e vontade de agilizar seu retorno. Faça o que seu coração pede e ouça sua intuição que está bastante aguçada. 

Ah, como eu queria...


sexta-feira, outubro 09, 2015

A tal da linha da vida

Algumas pessoas não possuem a ambição de viver muito. Elas são criticadas por isso. A expectativa de vida cresceu bastante nos últimos anos. Mas e a qualidade, basta? A dúvida repousa na mente como um boing em chamas entre montanhas localizadas no remoto do mundo. 
Dias atrás, numa mesa de bar, onde coisas interessantes acontecem, uma amiga metida a "ciganices" estava lendo as mãos dos meus companheiros de cerveja. Ao som de um rock pré-histórico, ela ia desvelando cada qual com uma elegância e uma sinceridade extrema. Quando chegou a minha vez, pedi um tempo para tragar um cigarro. 
No meu momento solitário com a fumaça, do lado de fora do pub, fiquei observando três meninas. Pela tez, deviam ter entre 16 e 17 anos. Não se vestiam como patricinhas, faziam mais o tipo "mulheres-antenadas-cult", com os braços expostos, revelando minúsculas tatuagens, provavelmente nunca apresentadas aos seus pais. 
Na minha terceira baforada de cigarro, uma delas me pediu o isqueiro emprestado. Ela acendeu o Free Azul Claro de uma maneira toda errada. Uma cena tosca misturada com falta de habilidade. Perguntei: - Fuma desde quando? - Só quando saio - respondeu. - E você sai com frequência? - Até que sim - falou a guria. Não contente com o nosso diálogo, resolvi comentar: 
- Por que fuma? Percebe-se que você não tem intimidade nenhuma com o cigarro. - É que não quero viver muito - me disse, tragando horrorosamente e olhando diretamente nos meus olhos. Peguei meu isqueiro de volta, sorri e me despedi.
Pensativo, segui em direção à mesa do bar, que virara uma mesa cigana de leituras de mãos. Minha amiga, que gosta muito de beber, estava mais concentrada em desvendar os detalhes da vida dos outros. Seu copo ainda estava cheio. Assim, pensei: - Bom, ela me lerá sem a inspiração alcoólica. Isso não vai ser legal.
Chegou a minha vez. Estendi a palma direta. Ela a analisou com precisão cirúrgica e já me lascou dizendo que eu viverei muito, que a minha linha da vida era extensa, que praticamente ia até o punho. - Que bosta! - esbravejei. Dizem que se você quer saber quanto tempo viverá é só comparar com a idade de falecimento do seu avô paterno. Não lembro quando ouvi essa besteira. O fato é que meu vovozinho passou das 90 primaveras. Não quero isso não. Tempo, senhor de tudo, me erre essa previsão, por favor.  
Após a afirmativa, fomos para a parte que me interessava, a tal da linha do amor. Sem cerimônias, ela me disse na cara dura, aos risos: - Léo, sua linha do amor é uma merda! Prontamente, respondi: - Ah guria, não me diga? Ao lê-la, ela frisou que eu teria cinco relacionamentos sérios. Um deles, inclusive, seria terminado e depois reatado. Mas acabaria de novo. Enquanto ela falava isso, fui repassando como num flashback os meus namoros. Não foi um exercício muito bom para o momento, pois já havia bebido uns seis copos de cerveja e, como sou fraco, sou um bêbado nissin-miojo. 
Procurei não gastar energia mental com isso, afinal, sou virginiano e consigo lembrar de todos os detalhes, inclusive, os dias e os horários dos primeiros beijos com esses amores. Respirei fundo, virei a cerveja que ficara quente e interrompi: - Não quero cinco relacionamentos, quero que pare no terceiro e que seja para a vida inteira. - Não é assim que as coisas funcionam - respondeu a amiga-cigana. 
Praticamente aos prantos, o pior ainda estava por vir com relação à maldita linha do amor. Não lembro a explicação da aspirante a quiróloga, mas na minha mão direita tem uma espécie de buraco. É um negócio minúsculo, nunca tinha reparado. Além disso, é repleta de interrupções, ou seja, não é uma linha contínua, linda e aberta como uma autoestrada que te leva ao céu. Ao saber o que isso significa, pedi mais uma garrafa. Pesquisei mais a respeito na internet. Vou por na íntegra: "Pessoas que têm a linha do amor com muitas interrupções podem ter sido traídas durante um relacionamento duradouro. Culpam muito os ex-parceiros e têm mania de perseguição". Tirando a última parte, puxa vida, é tudo verdade. Fiquei preocupado. Tipo, muito pre-o-cu-pa-do! 
A leitura da mão terminou e eu continuei a secar mais uns copos. E uns corpos também. Porém, eu estava arrasado. Não de uma maneira ruim, pois recebi aquelas informações como verdades. É engraçado isso, pois tudo o que não conseguimos responder ou ter certeza, nós apelamos para o misticismo ou religião. Por isso que acreditamos em Deus, deuses, pé de coelho, Iansã, etc. 
De toda forma, continuo com a ideia de que não quero viver por muito tempo, como a menina que acendeu o cigarro sem intimidade. Aliás, já com a álcool dando as diretrizes do momento, minha amiga, no final da noite, estava lendo justamente a mão da guria que se dizia fumante. Ela também ficou chocada, pois soube que a linha da vida dela era praticamente eterna. De repente agora a menina aprenda a fumar de fato. - Vá de Camel - gritei. 

segunda-feira, outubro 05, 2015

Meio Infinito

Eu quero dançar nessa ventania
Mas quero um bom par.
No meu jeito quadrado
Quero depois um beijar.
Dois selos em paralelos
Que podem se encontrar
Depende do ritmo
Interfere no artifício.

O destino só é conclusão
Quando a gente quer
Por isso leve a esperança
Sempre pra onde puder. 

Menina, segure a minha mão
Arraste o seu salto,
Abrace essa luz fraca
E lá do alto
Façamos um bailar
Meio desesperado,
Meio aflito,
Meio infinito. 

Léo Handa - 05 de outubro, 2015.

domingo, setembro 20, 2015

Todo dia

Todos os dias penso em você. Mas hoje foi diferente. Talvez por ser uma data muito especial. São seus 22 anos completados. Acordei porque tive um sonho contigo. Não lembro agora ao certo. Eu te beijava. Eu sei que você não era fã dos meus beijos. Isso me faz lembrar do nosso primeiro. Para mim, fantástico. Para ti, estranho e confuso. Sai do seu apartamento flutuando, louco que o dia seguinte chegasse. Aquelas borboletas no estômago, que achei que nunca sentiria novamente, haviam voltado. 
Passou apenas um dia e te convidei para um acampamento em comemoração ao aniversário de uma amiga. Atualmente, ela também é sua amiga e sente saudades de ti. Esqueci de levar o colchão de ar. Rimos da situação. Foi uma noite fria, a qual eu vi uma estrela cadente. Você também disse ter visto. Eu fiz um desejo. Infelizmente, ele não se realizou. Caso tenha feito um, espero que tenha se concretizado. 
Naquela noite, dormimos nos olhando. E abraçados por causa do clima. Dos vários climas. Do clima do momento, do clima da temperatura e do clima que estávamos entrando. Desde aquele 08 de setembro de 2013, nunca tinha vivido um amor tão carnal, tão voraz, tão belo e tão sincero. 
Dias atrás, peguei o carro do meu pai e segui em direção à Mariópolis. Quando percebi, estava naquela mesma estrada que levava ao sítio onde celebramos o aniversário da nossa amiga. Quanta maconha fumamos naquela madrugada. Foi lindo. Ao passar ao lado do local, olhei para o céu. Era dia, então, eu não veria nenhuma estrela cadente. Imaginei uma e fiz outro pedido. Se o meu desejo vai se realizar, não sei. Apenas sei que um deslize foi a razão disso tudo que estou aguentando. E continuarei, porque mereço todas as dores que lhe causei. Eu te amo. Muito. Para Sempre. 

sexta-feira, setembro 11, 2015

A pequena sala das canções ridiculamente que falam ao coração

Sentado. Nunca tinha chorado tão sinceramente com uma canção. E foi ridículo. Logo numa música do Tiago Iorc? Digo isso porque nem sou fã do cara, apesar de suas boas composições. Mas “Um Dia Após o Outro” me derrubou. Eu parecia um bobo, abraçado ao violão, no sofá, com os olhos suados. Escutei-a mais de uma vez, até tirei as notas de ouvido. Ao tentar cantar, embarguei. Algumas frases eu executava como mantras, pegando aquelas verdades para interiorizar na mente, guardadas em uma caixa frágil, pronta para você abri-la. Infelizmente, não tinha ninguém ali, ninguém com a bondade de ver o que tinha dentro dela. E você não é ninguém. É aquilo que um dia eu queria guardado em um potinho, num pensamento totalmente egocêntrico. Enfim...

Como sabe, após um vídeo do Youtube terminar, inicia outro automaticamente. O destino (que sabemos que é um conjunto de programações cibernéticas) colocou o álbum da Clarice Falcão. Pode? Novamente, como uma criança que ralou o joelho ao cair de skate, abri um berro. Quem gosta da ex-namorada do Gregório Duvivier sabe que a primeira faixa do álbum dela se chama “Eu Esqueci Você”, cuja letra é tão tolamente sincera que dói em qualquer ser que possui aquilo que, vejam só, chamamos de coração. Pois é. Eu ainda não esqueci.

Falando dele, o coração anda tão fora de moda, né? Mesmo com vários cantores/compositores que se entregam a parir belíssimas dores de cotovelo, de mãos, de nariz, de pés, de membros que precisam do sangue bombardeado por quem? Pelo coração, oras! E é um tal de Léo Fressato que espirra nos tímpanos petardos delicados de som e fúria, como em “Veranizar”, quando canta: “não vou me importar se você não lembrar do meu aniversário outra vez, nem vou mais chorar se você não ligar por mais de um mês”. Ou então uma Ana Larousse, tão linda com suas sardinhas no rosto, que nos indaga com questões românticas e existenciais. “Se você só soube aconchegar a raiva, o que é que agora eu posso te dizer?”. Maldita compositora radicada em Curitiba, cidade de um cinza que traz vários tons gris que se transformam em azuis quando olhados de cabeça para baixo. O que isso significa? Nada, além da esperança de dias melhores.

Ainda percorrendo pelas aventuras automáticas do Youtube, o choque no tímpano prosseguiu com outra surpresa que explodiu a artéria. Mallu Magalhães, futura mamãe, toda graciosa em sua falta de habilidade em falar, mas certeira em compor, me abençoa com conselhos. É isso mesmo? A cantora com seus 23 aninhos me aconselhando dentro desses 34 outonos por eu completados? Sim. Ah, e como isso me rasga. Vai Mallu, me encante: “Olha só, moreno do cabelo enroladinho, vê se olha com carinho pro nosso amor. Que eu sei que é complicado amar tão devagarinho e eu também tenho tanto medo. Eu sei que o tempo anda difícil e a vida tropeçando, mas se a gente vai juntinho, vai bem. Eu não sei se você sabe, mas eu ando aqui tentando e a gente tem o eterno amor de além”.


Dentro dessa categoria rara de novos românticos (não citarei nenhuma música do sertanejo atual porque acho que falta nele uma dor verdadeira), o cantor Silva e seus teclados etéreos, visita o pé do meu ouvido, me dando um chute nas bolas: “Deixa ser como é, tu fizeste outro mar. O oceano dessas coisas que desejo”. E assim eu fechei o notebook e fui ler um livro, “Por onde andam as pessoas interessantes”, do Daniel Bovolento. Fim. Ou recomeço? 

segunda-feira, setembro 07, 2015

Dói. Ainda.

Hoje sonhei contigo. Foi tão bom. Eu chorava de felicidade por te beijar. Sua língua dançava com a minha e eu acordei aflito, aos prantos. A saudade, ao abrir os olhos, explodiu em meu peito, como uma estaca matando um vampiro. Eu te suguei, você me sugou. Nós nos sugamos. E foi deliciosamente bom. Queria repetir cada chupada.
No início, nos deixávamos marcas maravilhosas. Eu as considerava como prêmios, só por você estar ao meu lado. Depois não deixou mais. Fiquei triste. Assim que começamos a namorar, eu fui viajar com um amigo em comum. Gay. Não sei dizer se você ficou preocupado, se ficou pensando em coisas absurdas. Carinhosamente, deixou um hematoma em meu pescoço, um carimbo que interpretei como: aqui não, esse tem dono. E eu, loucamente apaixonado, durante o show do The xx, no momento em que banda tocava “Shelter”, curiosamente, uma palavra que tenho tatuada no braço direito, eu fechei meus olhos e pensei: LMB, te amo pra cacete!

Ao acordar de um sonho muito preciso, incrivelmente senti o seu cheiro e, mesmo com as fronhas lavadas, encontrei um fio do seu cabelo enroladinho. Puta merda, como ainda dói.

terça-feira, setembro 01, 2015

O capeta cerebral

É uma noite qualquer de quinta-feira. Você sai para beber com seus amigos. Eles sabem do seu problema. Alguns entendem, outros não. A mente humana ainda é repleta de interrogações. Entre o primeiro e o segundo copo de cerveja, repentinamente, suas mãos começam a suar, seus pensamentos ficam confusos, tenta se concentrar em algo, mas apenas enxerga um demônio dizendo no seu ouvido: - chegou sua hora, você vai morrer! O coração dispara e, no peito, você sente uma pressão tremenda, como se o seu pulmão quisesse sair pelas suas narinas. A respiração descontrolada dá a impressão de que não há ar suficiente em todo o planeta Terra. Disfarça, tem palpitações e bebe um gole de cerveja. A conversa na roda de amigos continua e você se levanta, inventa alguma desculpa e sai pelas ruas desesperadamente, procurando acalmar algo que não consegue. Depois de 40 minutos, já em casa, no sofá, ouvindo Iron and Wine, você pensa: - maldita crise de pânico, de ansiedade, depressão, o diabo!
Antes de procurar uma benzedeira, consultar o horóscopo, ler livros de autoajuda, vá a um médico especialista. Terapias contribuem consideravelmente, mas o primeiro passo é compreender esses sintomas. Explicar para as pessoas próximas, que estão ao seu lado, te amando e te admirando, ajuda pacas! É claro que existirão àqueles que falarão: - não se preocupe tanto, existem outros que estão muito pior do que você. Já me disseram isso uma vez e a minha vontade era de pegar uma caneta e furar os olhos do conselheiro. Respire, o seu cérebro funciona de maneira diferente.
Uma querida amiga, que sofre dessas crises, além de medicada e de fazer terapia com psiquiatra e psicólogo, gosta muito de conversar a respeito, com um único objetivo: chorar. E ela é muito bem resolvida quanto a isso, o que acho admirável. De uma maneira que não sei explicar, não tenho a mínima competência técnica para isso, as lágrimas dela contribuem como um escape da ansiedade acumulada. Tudo termina em um abraço e a vida continua.
São nessas não banalidades que se encontram as pequenas ferramentas, que se tornam enormes, no combate e na contribuição junto ao convívio social. Sim, viver em sociedade é uma batalha terrível, ainda mais quando se tratam de pessoas que são sentimentalmente sensíveis. Graças aos bons deuses que elas existem. Mas, voltando à minha amiga, outra coisa que ela faz, que é fantástico, além de arrumar a cama todo o dia e manter uma alimentação saudável (que inveja!), é fazer listinhas. Em sua bolsa, tem um caderninho todo trabalhado com imagens da Frida Kahlo, onde se encontram detalhes da sua vida. Pode parecer algo meio ridículo, mas ela anota tudo, ou quase tudo, que fez durante o dia. Quando toma banho, anota, sempre com alguma frase complementar. Exemplo: “7h35, entrei no chuveiro, minha colega de apartamento, novamente, não tirou os fios de cabelo do ralo do box. Que merda”. Mais um exemplo? “10h34, meu chefe me chama. Disse que preciso ser mais sociável. Sociável são as minhas fezes!”. Ainda bem que, ao menos, esse sarcasmo a mantém ativa.
Se você não sente isso e não consegue entender os sintomas, primeiro, parabéns, e segundo, se conhece alguém que sofre dessa patologia, ofereça seu abraço, mesmo se estiver numa mesa de bar conversando com a guria mais linda de Pato Branco. E nada de dar conselhos do gênero: pare de sentir pena de si mesmo e faça um esforço maior. Às vezes é melhor ficar quietinho, olhar no fundo dos olhos, estender os braços e fechar seu amigo depressivo em um abraço. São esses pequenos gestos de união (alô meu Brasil, é disso que precisamos) que fazem o capeta cerebral se distanciar.


Leonardo Handa – Jornalista, redator e sofredor mental

sábado, agosto 01, 2015

Como essa saudade está demorando para passar. Fico pensando nos momentos que estaríamos aproveitando nesse sábado de sol. Seria um dia vadio, de brincadeiras, de sorrisos, de cantorias, mas também de mau humor, de sonolência e de neutralidade. Sinto falta disso tudo. Da nossa cama ruim, que doei, dos cigarros na sacada, do silêncio às vezes constrangedor, das garrafas d'água, das falas cortadas e de assistir os mesmos filmes. Eu queria tanto esquecer todas essas coisas, para conseguir seguir. Você me pediu para deixá-lo ir. E eu deixei. Uma grande mentira que carrego agora aqui comigo. Já se foram litros de cerveja, cartelas de fluoxetina, visitas ao pronto-socorro, quilos e fome de menos. Maldita situação a qual não sei conviver, cujo aprendizado já deveria ter ocorrido. E por quê? Maldito amor que vira sofrimento: essa vontade de arrancar o cérebro com um estilete, de perfurar os olhos com pregos, de cortar o coração com uma faca Ginsu. Eu apenas queria hibernar e acordar num dia que não houvesse mais amor.

segunda-feira, julho 27, 2015

A dor do término de um amor

Quando um relacionamento entre um casal que se ama chega ao fim, caso você seja 50% desse amor e esteja nessa situação, o que faz? A dor e o sofrimento parecem algo infinito. Ambos os sentimentos batem na sua cabeça assim que os olhos são abertos pela manhã, se é que houve uma noite de sono. Tudo é muito difícil.
Seus amigos tentam o impossível para te levar às alturas, aconselhando-o com frases de impacto, te tirando de casa, preparando jantares e enxugando suas lágrimas. Mas o que de fato você faz? Fica olhando os objetos que ele deixou na sua casa, cada um com uma história que na sua mente parece algo fantástico. Até uma simples meia se torna a coisa mais fabulosa para se admirar. Ao invés de apagar as mensagens dele do seu celular, repassa uma por uma para lembrar-se dos momentos lindos que passaram juntos. Aí bate aquela vontade de ligar, de escrever pelo WhatsApp, Facebook, Messenger, Google Talk, sinal de fumaça, telegrama, Sedex 10 e o escambau. Sim, eu sei muito bem, como é difícil se controlar, sobretudo quando se trata de uma pessoa que sofre de síndrome de ansiedade.
Em tempos de pessoas cada vez mais conectadas no meio on-line, o relacionamento só fica sério mesmo no momento em que o status é atualizado. E é sinistro como a gente se pauta pelos acontecimentos das mídias sociais. É o fim dos tempos quando o seu ex-namorado exclui uma foto sua de um álbum, ainda mais se o título é “Amor da Minha Vida”. Você fica perseguindo-o todo o dia pelo Facebook, procurando algum vestígio de que ele seguiu em frente sem a sua presença. Tudo vira motivo para te tirar do sério. E eu pergunto novamente, o que você faz? Bebe. Bebe vodca pura, bebe vinho com melancia, bebe água com açúcar, bebe Maracugina, toma comprimidos e, no fim, toma bem naquele lugar.
Aquela angustia em moto-perpétuo chega ao coração, que dispara como um atleta disputando uma prova final de Olimpíada. Não adianta yoga, reiki e incenso de camomila, tão pouco um desabafo sincero com a sua mãe e até com a sua ex-cunhada. Então, você se desespera e apela para a lista de telefone do seu celular, desejando que alguma pessoa lhe console. Mesmo querendo apenas sexo, no fim o seu desejo é por um abraço que substitua aquele que foi perdido. No entanto, todos os seus contatos estão namorando ou estão enroscados com outros indivíduos e você perdeu de vez a chance ao lado deles. Essa situação de se rastejar em direção à ex-ficantes te deixa mais triste, primeiro, porque não conseguiu nada, segundo, por ficar com a consciência pesada e, terceiro, não menos importante, você se sente a pessoa mais podre do universo.
O mais incrível disso é a transformação da sua libido. De uma hora para outra você sente vontade de agarrar qualquer um. Mas aí se lembra de que, para isso, é preciso flertar. Como faz muito tempo que não exerce a arte de chegar em alguém, tenta todas as suas velhas cantadas. Suas mãos suam, sua voz sai trêmula e você fica parecendo um comediante da “A Praça É Nossa”. E, de repente, depois de muitos nãos, está completamente bêbado e retorna para casa sozinho, pega o telefone, liga para o amado de madrugada e é atendido pela Caixa de Mensagem. E o que você faz? Desespera-se e pergunta-se: por que o celular dele está desligado? Resultado? Não consegue dormir e põe aquele disco da Adele para tocar, aquele que tem uma música com a frase: “as cicatrizes do teu amor me fazem lembrar de nós”.
Com o tempo, você até se torna um pouco cínico e toda manifestação de amor que vê na rua te causa repugnância. Porém, você sabe que essa pessoa não é você, e sim, um indivíduo totalmente confuso. E é justamente ele, o tal do tempo, que curará sua dor e o fará perceber que tudo não foi em vão, pois veio o aprendizado, veio a experiência e vieram as respostas. Se não era para ser com ela, será com outra pessoa. A paciência é o caminho do êxito, mesmo que isso não seja possível nos meses recentes pós-término. Quem sabe (afinal, o destino sempre nos prega peças) vocês possam se acertar num futuro, transformando todo aquele passado em um esboço mal feito e, assim, redesenhar uma nova vida, ou, num ciclo-vicioso de amor, alegria, felicidade e, acima de tudo: confiança. 

quarta-feira, julho 22, 2015

Monossilábico

Término. Lembranças. Carinho. Amor. Ódio. Conversa. Beijos. Brigas. Desentendimentos. Traição. Carências. Discussões. Sexo. Silêncios. Medo. Insegurança. Vontades. Abraços. Viagens. Sorrisos. Memórias. Fim. Dor. Turbulência. Casal. Dois. Comparsas. Companheiros. Cama. Mesa. Banho. Café. Uruguai. Preconceito. Facebook. Sentimentos. Tristeza. Músicas. Poemas. Livros. Falta. Sinceridade. Covardia. Danças. Família. Cidades. Estudos. Acampamento. Shows. Amigos. Pobreza. Dinheiro. Emprego. Estágios. Festas. Álcool. Drogas. Lágrimas. Cansaço. Flatulência. Sono. Preguiça. Recomeço. Angústia. Irmãos. Calos. Caos. Reconhecimento. Admiração. Intriga. Cigarros. Sofá. Cobertor. Pão. Leite. Mercado. Compras. Divisão. Louça. Roupas. Prateleira. Vinil. Energia. Sobrinhas. Olhares. Alianças. Pulseiras. Coturnos. Bombons. Príncipe. Raposa. Planeta. Estrelas. Sol. Lua. Fotografias. Cachoeira. Procura. Loucura. Afago. Braveza. Inveja. Contradição. Idiossincrasia. Caminhos. Praia. Carnaval. Barraca. Cerveja. Água. Bicicleta. Filmes. Vinhos. Salgadinhos. Chocolates. Sorvetes. Gostos. Locais. Apartamento. Quarto. Mudanças. Lubrificante. Gozadas. Brochadas. Sabonete. Limpeza. Safadeza. Arrogância. Pertinência. Camisas. Camisetas. Bonés. Tocas. Jaquetas. Calças. Divisão. Pulseiras. Horas. Sofrimento. Recolhimento. Solidão. Confiança. Isqueiro. Maconha. Almoço. Despedidas. Rodoviária. Fim.

domingo, julho 19, 2015

No dia 11 passado, completaríamos um ano e 10 meses. Aprendi muita coisa, mas ainda não aprendi a parar de chorar. Aprendi o desespero da sua falta e como serei uma pessoa diferente quando você se for de fato. Serei uma pessoa mais triste. Eu sei que a vida continua, ridícula eu não pensar assim. Contudo, sei também que ela acaba se a gente quiser de fato. 

sexta-feira, julho 10, 2015

Juntos

Início da manhã. Sexta-feira. Pato Branco está em um clima Silent Hill. Parece que uma névoa adormecida por muitos anos acordou de um sono profundo. Tudo está úmido. As paredes do quarto onde estou parecem chorar. Os vidros da janela transpiram tristeza. E, no sonzinho, aquela banda que você não curte muito. A voz anasalada me conforta. Em alguns momentos, ela grita diretamente ao meu coração. Tenho tanta vontade de lacrimar, só para acompanhar a umidade do ambiente. É nesse momento que sinto uma saudade absurda, uma carência profunda e uma culpa tremenda pela semi-traição. Logo eu, um desafeto total do ato. Logo eu, um lorde do odiar dessa ação. Logo eu, que faz odes aos adeptos da vira-casaca. Maldito erro cometido em um final de semana longe do seu amor. 
Como eu queria ter as palavras certas para expressar o meu arrependimento. Eu, que mexo com elas, não sei qual usá-las. Todo o acúmulo, indicado cada qual por você, não pode se tornar cúmulos. É claro que entendo suas indignações. Mas tenha um pouco de dó. De fá, de sol e de lá. Ainda quero construir novas canções ao seu lado. Como eu quero dividir mais momentos. Como eu quero ser conforto para seus sofrimentos. Não seja tão terrível, não calcule o seu ódio com as somas dos nossos equívocos. Acredito que podemos superar tudo. Juntos.

quarta-feira, julho 08, 2015

O que eu quero dizer

O que eu quero dizer, não sei.
Não sei que argumento usar
E nem sei se quero argumentar.
Queria o entendimento pleno do seu momento
Mas se nem você consegue, lamento.
O que eu quero dizer é que te amo
E por um tanto foi único.
Eu tenho minhas culpas
E acabo recuando diante das suas.
Só assim sou mais passivo.

Eu desejo a proximidade
A vantagem de um beijo sem pudor
Sem as controvérsias do momento
Você falava em se entregar
Principalmente em certos ambientes
E sequer me beija na sala de estar.
O que incomoda é o bafo.
Eu acho que o sentimento suporta os ascos. 
Como também necessita de higiene. 

Enfim, o que quero dizer
É que te perdoo por tudo
E não me perdoo por algo:
A minha contradição.

quarta-feira, junho 10, 2015

Passagem #1

Creio veemente que certas pessoas confundem o significado da auto-estima. Alguns a utilizam como sinônimo de “rei na barriga”, de donos da verdade absoluta. E, claro, esses indivíduos não possuem a capacidade de dizerem: desculpe, errei. Suas respostas são agressivas e suas atitudes peculiares (para não dizer algo ofensivo).  Tamanha é a dificuldade de assumir as consequências que preferem apelar para a defesa desenfreada, ressaltando suas qualidades, que podem ou não ser duvidosas, e partem para a famosa ignorância, essa vizinha da maldade (sim, a frase é daquele poeta).


Com certeza você conhece alguém que é repleto de esperança quanto ao futuro, que é admirado por uma parcela do eleitorado, porém, carrega consigo uma arrogância disfarçada de ingenuidade. Não é auto-estima, não. É mecanismo de defesa. No fundo, lá impregnado no peito, internamente, essa pessoa canta aquela música do Karnak, cujo verso diz: “eu era convencido, agora não sou não, porque cheguei à perfeição”.

segunda-feira, junho 01, 2015

Mistura-saudade-mistura-saudade

Hoje acordei com uma saudade curitibana. Algo meio corrosivo, confesso. Mas que causa um sentimentalismo nervoso, sobretudo quando imaginado pela Manoel Ribas.

A noite, os faróis, os meninos e as meninas, o cigarro e a cerveja mais barata da esquina. Alguns sorrisos tortos, algumas conversas bobas, outras profundas, com direito a citações de poetas que nunca li e, provavelmente, nunca lerei. E depois de tudo, o sono em algum colchão inflável.

Pela manhã, o gosto do fel, a cabeça levemente girando e um cheiro de café Iguaçu no ar, dançando feito bailarino do Guairá. Um domingo entre amigos, com análises estilosas dos passantes e seus cachorros. Até consigo imaginar qual seria a trilha sonora, uma daquelas bandas indies do fio do cabelo até o tênis propositalmente sujo. E claro, um friozinho-capital batendo na barba.

Uma recordação antes do conhecimento de todos, do esparramo sincero das lágrimas derrubadas, das situações cabulosas e do ódio-geral-da-nação. Quando havia pingos de aventura ao invés desse conforto infalível em que me meti. De tempos em tempos, sentir essas guloseimas de outrora, traz o cidadão inconformado que fui a tona, um cara que não deveria ter deixado morrer, mas que a depressão conseguiu vencer.


Gosto de colocar essas ideias todas misturadas, narrando o sonho com a saudade, as lembranças com as confissões, os sons com os gostos. Traz a ideia exata da vivência dessa saudade, quando era tudo ao mesmo tempo e agora.

domingo, maio 10, 2015

Dois

Do dicionário informal, a palavra "frustante" significa enganar a expectativa, ou seja, uma decepção. Apesar de ter sido uma delícia, no final, você resumiu com o adjetivo o ato. Também fiquei frustado. Mas de uma maneira diferente que a sua. 

Como eu queria te satisfazer, não sentir o incômodo que me provocar reação perceptíveis que te deixam como uma lente sem foco, perdido à procura de uma imagem bela. O que eu posso dizer? Perdão. Continuarei conforme a vara for cutucando, até chegar a um acordo. Se você estará até lá comigo, isso não sei dizer.

Acendi um cigarro para refletir a respeito, na sacada, admirando a chuva que caia. Pensei seriamente em dar um basta, cada qual cavalgando por estradas diferentes. Será que vale a pena? Sinto a presença do amor. Espero que eu não esteja errado quanto a isso, mesmo com os vários sinais que outrora você imprimiu. Enfim, vamos tentando ser dois. 

terça-feira, março 24, 2015

Relaxado, aguardo um afago seu. Pixies me conforta após uma aliviada. 
Espero por ti, em meio a pensamentos preguiçosos.
Quero uma noite aquém, sem o desespero de outrora.
Estou tranquilo com relação ao tudo, mesmo não estando.

Vou ali acender um cigarro e olhar para o céu.
Não quero mais respostas, apenas soluções.

E eu te amo. 

segunda-feira, março 16, 2015

A Primeira Vez a Gente Nunca Esquece

Ela não estava perdida na vida, apesar de acreditar que sim. Sua entranha, recém violentada, ardia de saudade de um passado romântico. Enquanto voltava para casa, com gosto de abacaxi na boca, pensava na cidadezinha em que morava antes de se aventurar pelas ruas úmidas da metrópole. A cena mentalmente visualizada era a de um pé de ameixinha, a qual ficava trepada durante 30 minutos diários, se lambuzando com as frutas frescas e abençoadas pela chuva constante. O doce sabor da adolescência. 
Ao chegar em seu apartamento, foi até a cozinha procurar por algo que tirasse aquele azedume de sua língua. Optou pelo conhaque, mesmo com o apetitoso bolo de chocolate que estava deliciosamente provocante sob a mesa de quatro lugares e tampo de granito falso. Calmamente, bocejou um pouco de álcool, como se fosse um antisséptico bucal. Caminhou até a janela e ficou observando os viciados em crack, alucinados, afoitos e sedentos por mais uma pedrinha para jogar amarelinha-viajante. Tomou um gole caprichado e cuspiu, acertando a cabeça de um dos zumbis que estava na calçada. Rapidamente se escondeu para que ninguém visse a sua travessura. Sentiu uma pontada entre as pernas e levantou a saia para verificar. Estava toda assada. A pele havia sido maltratada. Os grandes lábios pareciam a Angelina Jolie. 
Olhou a lua, amarela como um queijo fresquinho. Sentiu cheiro de buceta em seus dedos. Para ela, um odor familiar que era sinônimo de dinheiro. A ardência que a fez remeter saudades foi causada por um pastor evangélico, avantajado como uma Coca-Cola de 2,5 litros. Ao menos pagou com bonificação. 
Sua primeira vez, aos 13, no meio do mato, entre uma pequena cachoeira e um estábulo, foi com Roberto, um menino de 16 anos e pau de jumento. Ao ver pela primeira vez um caralho, não tinha ideia do tamanho normal de um. Ao percebê-lo excitado, teve uma única certeza: essa coisa não vai entrar em mim. Mas Roberto, que já era experiente com cabras, realizou um trabalho repleto de delicadeza. No entanto, socou bem no fundinho, o que causou nela uma dor de três dias, fazendo-a a perceber que de fato possuía uma bexiga, a qual agradeceu por não ter estourado. 
Quando ela saia com o pastor, era sempre essa saudade que sentia: do pinto do Roberto. Então, ela encheu mais um copo de conhaque, entortou num só gole, pegou um caderninho e começou a escreveu um poema, cujo título recebeu uma frase clichê: a primeira vez a gente nunca esquece. 

segunda-feira, fevereiro 23, 2015

O que será?

O que aprendemos no capítulo de hoje nesta parábola que chamamos de Vida? Que o buzz marketing é uma ferramenta incrível. Além de criar expectativas, gera desespero e lucratividade. Graças às incríveis forças sobrenaturais do Whats Up e Facebook e, lógico, à greve dos profissionais da estrada, que não são as prostitutas, tão pouco os vendedores de uva, criou-se um pavor exacerbado à procura de combustíveis. E olha que tinha gente com meio tanque ainda para rodar, mas como pato-branquense ama uma fila, acabou entrando nela só para ver no que ia dar. 

O encéfalo coletivo está sofrendo um retrocesso tremendo, o que causa damos sobretudo no raciocínio lógico. Há quem diga que até uma simples conta, como 1 mais 1, gera dificuldades para ser resolvida. Como seria lindo se todo esse pandemônio fosse por causa de uma edição perdida de um livro do Gabo. Pense que lindo seria: vamos todos para rua porque são poquíssimas edições e precisamos dela para aumentar a sagacidade e a maneira de pensar. Ou se fosse um discurso, impresso, um manifesto a favor do livre-comércio, redigido pelo Jose Pepe Mujica. "Cara, acabei de receber no Whats Up: é o último texto do cara e não vai chegar nunca mais em nossa cidade por causa da greve!". Nunca você receberá algo assim pelo celular. Agora, se for para causar o terror, sobretudo o alheio, é outra história.

Mas é lindo saber que a ignorância é vizinha do desespero e que os ensinamentos de Marx não foram em vão. Melhor ainda é perceber que a publicidade, mesmo em sua forma quase sem querer, arranca a procura por bens, independente de governo e credo. E que Maquiavel falou isso há tanto tempo e ninguém prestou atenção. 

É, meus caros, estamos em um período mais negro do que os barris da Petrobrás que, infelizmente, nem aos brasileiros beneficiam. Já dizia Arnaldo Antunes, "tire a mão e ponha o corpo todo no corpo da consciência, ponha ouvido, orelha, língua, boca na cara da consciência". Chegamos num momento em que é preciso pensar, no sentido literal, total e fraternal. E é por isso que a publicidade dá certo.

quarta-feira, janeiro 28, 2015

A vida repleta de clichês tem o seu doce eterno.

A vida repleta de clichês tem o seu doce eterno.

Digo de corpo inteiro, de coração transbordando de amor, de olhos voltados para o futuro, mas sempre fixos no presente: quando temos alguém para se dividir os momentos, tudo é mais gostoso. É chama que não se apaga, é voz que não se cala, é fruto mordido com vontade.
E o que seriam dos dias, das horas, dos minutos e dos segundos sem um sorriso para iluminar esse caminho que por vezes se mostra tão escuro... O que seria da sobrevivência e da vivência sem o seu abraço moreno?

Eu quero todos os lugares-comuns, as hipérboles, os chavões e os ditados populares contigo. Quero contar as estrelas e multiplicá-las com as gotas do oceano só para tentar encontrar a equação do sentimento que sinto por ti. Quero continuar a melosidade do amor, mesmo na depressão, mesmo no desemprego, mesmo na tristeza, mesmo na falta de percepção. Quero te carregar com generosidade devido ao seu riso, à sua inteligência, à sua beleza e ao seu companheirismo.

Eu quero, sim, a clicheria dessa vida.

quarta-feira, janeiro 21, 2015

Nos grandes desafios dessa vida, pensar na morte deveria ser considerado algo irrelevante. Mas não é. O futuro sempre nos preocupa. Deve ser por isso que nos agarramos às coisas misteriosas, ao desconhecido e ao inexplicável. Nossa fixação por Deus e pelos deuses, por exemplo, pode ser uma simples explicação para tanto. Agora, defender isso para um islâmico, evangélico, budista ou católico, é motivo para iniciar a terceira grande Guerra Mundial. 
É meio revoltante, mesmo com o apelo à comédia e ao humor negro-petróleo, quando alguém expressa sua ácida opinião às atitudes de determinadas religiões. Afinal, a maioria diz que prega o respeito, no entanto, o que pregam é um prego bem ardido na falta de consciência de que a individualidade é repleta de diferenças. Mas isso não justifica determinadas atitudes, como àquela de uma região islâmica que leiloa crianças-meninas para serem escravas sexuais. Algo real, totalmente ao contrário de uma tira ou charge de um Maomé sendo comido por um Papa. O antissemitismo não é doença e provoca revoltas, porém, certas características e costumes causam mais estranheza para olhos ocidentais. 
Se esses são ou não fundamentalistas, não importa. O medo e o passado-presente acaba revelando o que eles mesmos escondem. E a entrega ao desconhecido e ao inexplicável, nesse sentido, não deve ser fixação. Nem tão pouco religioso e amoroso. Acho que um Deus digno choraria e reprovaria. Ainda mais um profeta.