Meu nome é Leonardo Silveira Handa. Jornalista. Perdido. Achado. Amante. Radialista.

segunda-feira, dezembro 29, 2008

Estou meio off. Mas logo as coisas voltarão ao normal. Quero aproveitar para desejar a todos um feliz ano novo. Que 2009 venha com toda aquela força, paz, alegria e grana que merecemos. Quando eu me recuperar do show da Madonna, o blog também voltará ao normal.

Beijos e Abraços a todos.

Léo

quarta-feira, dezembro 10, 2008

A vela


Acende-se uma vela. Caminha até a sala para encher de coragem até a borda mais uma taça de vinho. Coragem líquida. Seus lábios alinhados perdem a geometria quando inicia a fala. Mas cala. O outro agradece pelo jantar extraordinário e começa um nefasto monólogo. Logo pára. Os dois se distraem no olhar que atravessa a vela. Uma troca revela:

- Sim, desculpe, não aguentei, deslizei, me perdi. A boca, agora, branquela:

- Imaginei, percebi, aceitei. Monossilábicos, então, esquadreja:

- Só isso, nada mais? A gravidade foi muito mais do que um triz. Eu fiz. Fui atrás, persegui, cantei, abracei, paguei. Eu pequei. Não me arrependo, nem um pouco. Fiquei feliz, sem ressentimentos. E sabe de uma coisa, acho que nunca te quis.

Um vento entra pela janela e balança a luz da vela:

- Ok, a melhor coisa que já ouvi de você. A melhor interpretação de sinceridade que consegui, que ouvi, que adorei.

- Já não ia bem, eu tentei o além. E agora, ficamos aquém?

A vela, finalmente, se apaga.

sexta-feira, dezembro 05, 2008

Interlúdio
Meus braços em paixão. Não lembro a situação causada. Um corpo na cama. Boca aberta. Peito arrebentado. Recordo do ato, mas não do fato. Fluídos.

Uma dificuldade de armazenar memórias recentes. Estava em um bar. Vodca com mate leão. Eu sou muito distraído. Chega perto. Senta-se. Puxa uma conversa.
Dresden Dolls? Sim, eles são bem performáticos. Garçom, traga mais uma. Duas, por favor. Faz o quê? Escrevo. Sobre o quê? Sabe quando você vaga pelas ruas da cidade, sozinho, é madrugada, o risco de ser assaltado ou morto é enorme, contudo, você está cagando para as coisas, quer continuar caminhando e refletindo sobre a vida, mais ou menos sobre isso. A subjetividade é repleta de meandros. Exatamente. Um brinde, então, aos caminhos sinuosos. "Embriaguez sagrada, nós te afirmamos método". Bonito isso. É de um filme. Eu sei, um filme brasileiro. Isso, você gosta? Claro. Qual a sua personalidade de hoje? Predador. Alguma vítima? Sim. Tenho até medo de perguntar. Os meus olhos já miraram. Ok, me rendo. Assim é muito fácil. Você quer que eu corra? Se preferir. Não vou fazer isso, se quiser, vai ter que usar outras armas. Eu tenhos as palavras. Maldito, essas me derrubam facilmente. Mas hoje só quero usar as mãos. E a cintura? Você é quem está sugerindo. Não sugiro, eu faço. Percebo uma inversão de papéis agora. Também gosto de caçar. Esqueça, você será a presa. Ah é? "Um dedo desliza junto ao ouvido, perigo quando a garganta solta um gemido, aproximo o lábio como o santuário do peregrino". Isso era para ser erótico? Não, de maneira alguma, apenas um disfarce para dar o bote. Que bote? Que você tem cócegas no pescoço. Impressionante. Obrigado. Sugiro então a caça. E eu, o caçador. Nossa, isso ficou muito brega. Culpa do Fábio Júnior. Deveras.

Prenúncio
Seria paixão?

segunda-feira, dezembro 01, 2008

Sejamos o caos


Livre, leve, corra. Não temos escolha. A vida tem dessas coisas. Basta um não para encontrar vários "sim". Filosofia de bar. Deveria tomar outras para entender. Desespero e ansiedade não trarão respostas. O fluxo segue. A menstruação desce. O caralho enrijece. O corpo evacua. O pulso acelera. A cabeça se perde. Os nomes são esquecidos no ato quando o fato acontece. O orgasmo aparece. Mas acaba, não é para sempre. Então, basta procurar outros rumos. Um não quer, dois não sentem. "Tudo certo", um diz. "Tudo nada", contradiz. Lido com a liga conforme a velocidade permitida cerebral. Quando extrapolo, vira depressão, síndrome, pânico. Não opto mais pela conclusão, agora viajo o subjetivo. Meu adjetivo, pegue, jogue no lixo. Minhas palavras merecem o garbage. Minha voz encontra o vazio. Faça. Voe. Atemporal é infinito enquanto o relógio ainda bate corda. Contudo, parou.

Extravase o vaso vazio. Siga novos conselhos, ajude os prejudicados pelas chuvas catarinense. Procure outra razão. O doce amargo ficou podre, perdeu o conteúdo, a descência. Cuspa o esporro. Ame a novidade, o desconhecido. Abrace a situação, sofra, coma esgoto. Depois levante, limpe os olhos. Faça como eu faço, mas não igual. Seja mais original. Sejamos o caos.

quarta-feira, novembro 26, 2008

6h28 e 23 segundos

5h da manhã. Ainda estou aqui. Não sei mais o que fazer. Um pequeno desespero desce seco pelo olho. Seria emo se eu seguisse o movimento. Aliás, se trata de um?
- Não precisamos saber, só quero entender se chegaremos vivos até a próxima estação. Um estágio pulamos, dois obstáculos passamos...
- E agora você retrata a mesma conversa das 4h. Não é necessário explicações, outras ilusões já apareceram. Eu entendo o seu monólogo, a sua concepção. Basta sorrir, então.
6h15. Qual a conclusão? A fome está incomodando. Cadê aquele pedaço de bolo de aniversário? Eu lembro de tê-lo deixado atrás da manteiga. O refrigerante perdeu o gás? O leite azedou? De fato, sem a minha presença as coisas estragam.
6h20. Está louco? Agora fará metáforas da daquilo que ingerimos? Muito te pus para dentro. Confesso, já tive indigestão. Não acredita? Eu repito e amplio, em certas, senti repulsão. Não preciso provar.
6h25. Que merda! Até então estávamos conseguindo manter um padrão descente. Você sempre optou pela baixeza para conseguir me irritar, me confundir, me agredir. Nunca conseguiu ter classe o suficiente para ridicularizar as coisas, as situações. Também, nunca leu Kerouac.
6h27. Você e as suas manias beats de sarcófago.
6h27. Ao menos não me escondo em Simone Beauvoir!
6h28. Estúpido!
6h28, 23 segundos. Fim.

quinta-feira, novembro 20, 2008

Que clima tão gostosinho

quarta-feira, novembro 19, 2008

Décimo Segundo Ato: Concepção

Sísmico símio saltitante derrubando nações. Sem sentido algum quero retratar. Falo por falar, já que coerência está sem aderência. Nem tente entender, a minha confusão cerebral é pura síndrome. Retrato com subjetividade a idade do céu. Calado, então, sigo ao fim do mundo. Raspo o fundo com a língua de veneno a qual alimentei. Não tenho culpa do regresso, só que sempre fico perdido no passado, no presente e no futuro. Tenho minha parcela de culpa na interpretação dos verbos.
Foice voraz em velocidade máxima permitida, cortando mais do que as veias da América Latina, destroçando o coração mais inocente da nação. A criança nua percorre o forte ácido do sobreviver. O suco gástrico é bebido pelo bode da compreensão. A digestão interrompida plácida em um campo de trigo vomitado. Não queira a bulimia exacerbada das letras cerebrais. Não há sentido para retratar. O aviso é somente para lembrar, pois mensagens estão a calhar. Portanto, vá passear, comer algo diferente, visualizar outra paisagem, desfrutar de mais canções regionais.
Chilena crise setentista, de "Machuca" a "Michele Bachelet", de "Pinochet" a "Santiago". Não importa. Eu ainda gosto

quinta-feira, novembro 13, 2008

Poesia Praiana

Salgado em uma poesia praiana, curtindo Acabou Chorare, imaginando um ano paralelo de encontro e satisfação com aquele frescor litorâneo. Sigo pelo caminho ainda projetado por sonhos não terminados. O sol, ao banhar o meu rosto, aquece os planos possíveis. Confesso que o meu lado niilista continua aniquilando as pré-determinações que rabiscamos naquele papel de guardanapo. O amarelo cobre hoje as frases tortas escritas com caneta Bic. Tudo mudou.
Volto ao trajeto das trilhas cobertas pelas folhas de outono, estação de aniversário e lembranças de puras sumidades. Eu queria sentir novamente aquele calor de seus braços e o toque moreno de sua pele. Um dia, como você falou, a volta trará a argúcia das tardes vadias na rede, no balanço da maré, nos passos calmos marcados na areia. Espero que o meu processo estilo A Concepção não se faça presente, afinal, a sua presença preenche os sete buracos da minha cabeça. Caetano sempre me deu razão. E vazão.
Destilo dos meus poros outra letra de maresia, mesmo com influências nada costeiras. Pego o violão para transformá-la em canção. Então, após um início, eu canso e durmo, somente para te encontrar.

sexta-feira, outubro 24, 2008

Pânico

Tudo perdido entre os dedos tortos que nada mais seguram.
O que era alívio hoje causa arrepios no córtex que aos poucos apodrece.
Um constante movimento gera aflição nos olhos que reviram procurando solução.
Artifício constrangido de face esprimida que outrora abria um sorriso devastador de alegria.
Derruba uma água do binóculo natural o qual foi concebido sem a perfeição.
Justifica os atos violentos em sangrentos copos de líquido transparente.
Não quero outra volta, nem inocente, nem inconseqüente.
Desejo o tranqüilo daquilo que um dia eu vi
Mas perdi em pó a vida.
Espero sem noção a porção
Aquela que tira os pecados do mundo
Somente para rasgá-la em vezes inacreditáveis
E reescrevê-la da maneira adequada aos dias atuais,
De pólvora, carvão, foice, facão, terra, engrenagem e capitais.
O corpo sagrado consumido com razão desce ao fóssil quase cancerígeno
Uma última benção de cálice e justiça à injustiça situação do pânico que estabelece
Uma força sem vontade de continuar na trilha da crucificação beata dos seus celibatos.
Nunca desejei tamanho sacrífico de aguentar a situação do desespero que, espero, termine.

segunda-feira, outubro 20, 2008

Não Vou Lá, Não Estou lá

Não vou lá
Me cansei
O seu cantar
É de matar
E a minha tristeza
É igual.

Não vou entender
Nem reverter
Eu quero um afastar
Que cause dor.

Não vou lá
Já me cansei
Hoje eu fico
Ao lado do fim
Um início de tudo
Contudo, assim.
Explode em meu peito um absurdo inexplicável. Um surto psicótico, uma angústia profunda, um desespero sem narração. Algo terrível como uma canção sertaneja, um filme iraniano, um livro de auto-ajuda. Nenhuma explicação cabe, nenhuma música alivia, nenhum conselho adianta, somente o calmante facilita.

Segunda-feira, 20 de outubro, 2008 - horário de verão

terça-feira, outubro 14, 2008

Los Alamos - Back Seat

Los Alamos é uma banda argentina que faz um pop/rock com influências de bluegrass, spacerock, folk e country. Infelizmente não cantam em espanhol, mas o sotaque em inglês fica bem evidenciado em suas canções. Vale a pena.

sexta-feira, outubro 10, 2008

Bloody Paper

Sangrando em páginas
Rabiscando o desejo
Aproveitando o momento
Curtindo o sofrimento.
Vendo o tempo
Apreciando o vento
Lambendo o rosto
Jogando palavras
Destacando o argumento.
Sangrando em linhas
Desfilando o sentimento
Olhando a foto
Observando o tratamento.
Sangrando em frases
Justificando pensamentos
Rasbicando gerúndios
Desligando sortimentos.

Leonardo Handa - 10 de outubro - primavera

terça-feira, outubro 07, 2008

Por uma vida mais ordinária


Na calmaria das coisas um caos manifestado. Difícil relatar os acontecimentos, queria mais relaxar em nosso apartamento e comentar os fatos do dia-a-dia. Colocar Tori Amos na vitrola e divagar o afeto. Mas sempre vem o contrário, as contas a pagar, o carro para lavar, o cachorro para alimentar, a poeira dos móveis para tirar, a louça para guardar, o guarda-roupa para arrumar. Está ficando difícil. Quando foi a última vez em que fomos ao cinema? Aquele do Woody Allen ainda era um lançamento. Quando foi a última vez em que abrimos uma boa garrafa de uísque? Aquela que compramos já está completando 12 anos. Acho que agora é a hora.

Não era isso que eu imaginava. Na adolescência, eu pensava que conforme fossemos crescendo os tempos seriam mais proveitosos. Estão sendo criminosos. Crime por não aproveitarmos o salário para gastar com cerveja, crime não por não podermos gozar a rotina, crime de falta de tempo. Eu queria ser um outro tipo de criminoso, um hiperbólico das vontades prazerosas, da leitura de Bukowski aos solos de Miles Davis, dos goles à beira-mar ao caminhar noturno em Caiobá. Aliás, aquele verão ainda estamos deixando para mais tarde, como aquela canção do Amarante. Hora de mudar. E depois de tudo, descansar em paz, sem aquela culpa de que poderíamos ter visitado a família, ter ligado para os amigos, ter marcado compromisso do ofício. Sem ressentimentos, sem argumentos, sem explicação. Simplesmente fechar os olhos e dormir, de preferência, acompanhados de Manu Chao, Jarvis Cocker e Lauryn Hill, a sua preferida.

Agora estamos aqui, definindo quem vai amanhã ao banco, quem comprará o gás, quem pagará a luz, quem procurará veterinário para o totó, quem mandará instalar a internet, quem levantará cedo para atender o cara que vai arrumar a geladeira e quem buscará a roupa na lavanderia. Que coisa, hein? Quero uma vidinha um pouco mais ordinária... Como aquela canção do Neil Young.

quarta-feira, outubro 01, 2008

Fica a Saudade

Hoje lembrei, ao acordar, de escrever uma carta.
Coloquei a água para ferver e preparei o meu café.
Lembrei das noites mal dormidas, dos dias sofridos.
Dos cigarros derrubados no chão, do cinzeiro transbordando.
O sol perfurou a janela e o raio entrou sem pedir licença.
Não sou observador, confesso, muito menos sentimental,
Mas a cena me pareceu um sinal. Lembrei você.
Iniciei os agradecimentos, os olás, o tudo bem.
A fumaça do café se misturava com a do cigarro.
Contei um pouco da rotina que ainda acabará me matando,
Dos estranhos que acabo entregando intimidades,
Da moça da panificadora, do chuveiro estragado,
Ainda tenho que arrumá-lo. Tenho preguiça.
E do roteiro que ainda insisto em não terminar.
Percebi que faz um ano. Como foi estranho.
O seu perfume adocicado já não mais está presente,
Seus discos de new wave eu já doei,
O anel, penhorei.
Não quero apavorar a sua paciência
No entanto, ainda recebo as suas revistas femininas.
Se possível, cancele a assinatura.
Se não me quer passar o seu endereço, tudo bem,
Mas não desperdice mais dinheiro.
Nunca sei quando estou sendo melodramático, pior que novela.
Não se incomode, só queria dizer que ainda vivo.
Ainda tenho uma recordação sua: aquela foto.
Noite escura, boteco e cerveja. Lembra?
Foi a última. Agora fica saudade.

segunda-feira, setembro 29, 2008

José Dirceu estava errado

Vivemos em uma época de urgência. Já sabemos o sabor antes de experimentar e criticamos antes de analisar. Estamos perdidos na depressão da falta de tempo, uma doenças sem receita para adquirir. Poucos ainda conhecem o prazer da observação: da frase inspiradora ao solo de piano.

Os românticos, de fato, encontraram o vaso sanitário e desceram até o esgoto da conformidade. Nossos acadêmicos não têm mais ideais. A própria faculdade está moldando mentes com atitudes de butique e conceitos pré-fabricados e viciados. Os velhos mestres morreram em suas próprias sombras. Os conselhos são verdadeiros tratados que enaltecem o poder capital. Os sentimentos são instantâneos. Nossos jovens desconhecem Jean-Luc Godard, não transam Caetano fase 1960-1970 e nem sabem da Brigidet Bardot.

Como cobrar de uma classe se nem mesmo os docentes têm referências. Nossos professores se encontram em um estado de inércia que chega a arder os olhos em desânimo. Onde estão os agentes do ensino-aprendizagem de verdade? Talvez tenham morrido durante a Ditadura.

Passamos dias tão tristes. Se a alienação presente for fruto do passado, isso comprova que, realmente, José Dirceu estava errado. Que futuro viveremos? Complicado.

A administração só reduz os nosso sonhos, poda sem piedade as garantias prometidas na graduação. Não tomamos nenhum cuidado com as mentiras, todas soltas como pássaros livres de razão. As promessas não são cumpridas pelos velhos coronéis. O período de aprendizagem se torna um mercado livre, um comércio de cursos que as instituições confessam terem fins lucrativos. Mas, de quem é a culpa? De todos. É falta de leitura, é falta de vontade. É falta pela busca de coisas novas, de referências que auxiliem, mesmo que a utopia esteja presente em certos artigos. Só não deixem os conteúdos românticos do passado inundarem com covardia a batalha que foi travada na Ditadura Militar. Não permitam que a poesia continue sozinha acumulando a poeira que esconde a beleza do viver.

terça-feira, setembro 23, 2008


Eu deixo você entrar
Desde que acompanhada
Do artigo que chamamos amar.

Não precisamos de muito além
Certas coisas, encontramos por aí
Um pedaço de pão, um álcool lá
Uma cigarrilha outrora
Embora eu perceba acolá
Já que a tosse chega bem
Mas levamos conforme vem.

Os dias podem ser iguais
Bastam aos olhos os seus presentes
Sei que não pedimos muito
O resto o imposto já levou
Tenhamos um pouco de ausentes
Afinal queremos a solidão
Somente para que os períodos
Venham mais carentes
Então possamos matá-los
Com aquele gosto forte
Que encontramos no avante norte.

Não precisamos de muito quem
O nosso qual é o suficiente
Aliás, sempre com
Seguimos mais constante.
Não duvidamos dos poréns
Eles pairam no dia-a-dia
Todavia diluídos vão
Desde que tenham a nossa companhia.


Leonardo Handa - 23 de setembro, 2008 - inverno

sexta-feira, setembro 19, 2008

poema rápido

uma pequena alegria me abriu o sorriso
atmosférico rir não constrangido
dedilhei um toque por dizer
percebi que não foi interrompido.
seus olhos abstratos perceberam
retornaram em um piscar estremecido
aos poucos de fato entenderam
liberei outro verso acontecido.

leveza em pálida constante anoitecer
o céu percebi que fosse padecer
mas não era hora de despedir
sua mão envolveu a minha outra
não tive como enaltecer
Retribui um ávido encostar
sentido na pele revelada
um som lindo de acompanhar
entreguei a sinceridade

quarta-feira, setembro 17, 2008

Amálgama


Uma linda canção arrastada transformou o seu holograma em matéria, em tátil, em massa. Ainda com os olhos fechados eu procurava enxergar com as mãos, somente para descobrir cada intimidade da sua pele. A música chegou ao final. Aquela mesma e manjada nota derradeira fez tanto sentido na profundida castanha dos seus cabelos que, de fato, não vi. Após abertos, percebi como o tempo e o destino revelaram tardiamente a sua presença, "que entrou pelos sete buracos da minha cabeça", como cantou Caetano. Afinal, o baiano é a nossa satisfação sonora dividida e contemplada. Mesmo assim, me pergunto: - Por que só agora? Tínhamos de ter tido outra oportunidade. Se fosse um ano antes, o diferente se faria presente, as angústias seriam açúcar, os dizeres, coloridos, e os beijos, não clandestinos. Mas, como "os infernos são os outros", basta continuar com os olhos fechados.

Meia-luz, meia taça, meio vinho, meio assim. Meio abraço. Metades. Sejamos. O meu grito foi de fúria. Fúria de viver. Fúria de gostar. Fúria de azar. Fúria de natureza. Fúria de final. Fúria de fazer. O seu foi de desespero, de lamento, de tristeza, de pesar. Juntemos, então, cada qual em uma outra canção com apenas três notas dedilhadas que imprimiu o sentir das coisas ali expostas. Uma delicadeza noturna que os amantes da razão entendem com perfeccionismo salutar. Eu queria ter citado outro poema, mas esqueci os versos. De toda a forma, imprimiu na boca a sede metafórica das delícias sobrescritas em meu peito. Se todos os dias fossem assim, eu seria o rei de mim. Portanto, sigamos. O caminho aberto das possíveis adjacências, os textos intermináveis sobre o fel, o mel, o céu. A cicatriz descoberta e marcada em um Dia de Independência da nossa nobre nação. A dobra revelada quando caído o pano apresentou. Um sono em seu ombro, agora, continuou no meu sonho. Prometo sempre estar em sua confusão, mesmo que seja a última, a vice-campeã, a prata, o bronze e o amálgama.

quinta-feira, setembro 11, 2008

Oi, Leozinho! Escrevi esse texto pra falar um pouco do que já falamos, do que eu leio de você no que você escreve e de certo modo para celebrar nossa amizade literária. Um Feliz aniversário, atrasadíssimo, mas cheio de lembranças de muitos momentos marcantes e da certeza de que vamos ser sempre amigos!!! Um super beijo, Adri.
Segue o texto:
Eu ia cantar um mantra, um dia
Pra realizar aquela sua fantasia
Você lembra?

Tanta coisa na vida eu deixo assim
Livre das urgências, longe de emergências
Sou uma antítese da pressa
Escuto e sussurro coisas
Faço dias dos fragmentos de tempo
Como quem monta um quebra-cabeça

Eu vivo num jogo de paciência

Mas fala comigo a tua letra avessa
Meu ritmo cardíaco errante
Entende o compasso do teu verbo
E essa tua percussão tão precisa

Eu falo quase na quietude da simplicidade
Sobre a tua complexidade berrante
Espero que a conversa sempre avance

De um lado, que a tua pressa grite
Poderosa, adjetiva, exagerada
Vivamente escrita

Enquanto por aqui
Vou escrevendo
Como quem canta
O Mantra.

sexta-feira, setembro 05, 2008


Deitado. Ben Folds Five na vitrola. O pensamento corre livre no dedilhar do piano. Narcolepsy. A voz massageia os tímpanos. Algumas imagens se formam. Um campo verde e apenas uma árvore solitária na paisagem. Um céu com poucas nuvens cinzas aparecem. O vento balança as folhas. Uma se joga em queda livre encontrando o chão. Os olhos se abrem. Observo a luz vermelha. Um aviso pessoal grita: dez minutos. Não levantado.

As canções continuam a me fazer companhia, a mais fiel, a mais perfeita, a mais deliciosa, a mais voraz. Sempre fico nervoso antes de enfrentar o público. Mesmo com os anos de experiência, entreter o eleitorado me dá gelo no estomâgo. Acendo um cigarro, olho o roteiro. Hoje vai ter palhaço, leão e picadeiro. Panis et Circense. Sem motivo, relembro aquele discurso do Caetano em um festival quando ele foi vaiado no momento que cantava palavras de ordem. Como eu gostaria de estar lá. Não para engrossar o caldo do coro dos descontentes, mas para vivenciar um período tão importante na história da música brasileira. As vaias me chamam a atenção. Até João Gilberto recebeu. Então, a gente pensa: como é difícil o público do país. Alguns são tão contraditórios que arrepiam a espinha.

10 segundos. Subo no palco, minha alma cheira talco, parafraseando a canção do Gil, e desejo uma boa noite. E boa sorte. Para a minha pessoa. Claro. Apresento as atrações da noite, faço minhas micagens, um tanto sem graça, observo os minutos passarem, vejo os comerciais passarem, analiso o público e encerro. Pelo corredor, retornando ao camarim, lembro daquela imagem que eu estava formando anteriormente. A árvore continua lá, solitária, mas agora as nuvens estão em companhia de outras mais escuras. Uma chuva inicia. Acendo outro cigarro. Fico viajando. O pensamento livre novamente. Encontro o sofá. Ligo o som. Ben Folds Five. Desligo-me do mundo. Nada faz sentido. Uma outra folha cai da árvore. Molhada. Como o desespero dos meus olhos que agora vazam a insatisfação. Tudo bem, sou apenas um personagem. Não sou feito de razão, sou feito de letras e bytes. Porém, demonstro uma situação.

terça-feira, setembro 02, 2008

Quero mais rápido do que preparar um Nissin Miojo

Eu quero a urgência de uma das canções do Doolittle. Qualquer uma do álbum. The Pixies sempre me trouxe alívio. Eu quero ser afoito neste momento de armageddon. Quero explodir em um momento único. Quero o imediato. Quero mais rápido do que preparar um Nissin Miojo. Quero cru, quero vivo, quero só. Eu quero o artificial dos lábios da Pamela Anderson, quero as almofadas de falar da Angelina Jolie. Quero dormir com você e acordar com a Cat Power. Eu quero um grito no vácuo. Eu quero um surdo no berro. Eu quero a alma em migalhas. Eu quero o coração do pássaro mais raro, do felino mais extinto, da pedra preciosa não descoberta. Eu quero a sua melhor canção não composta. Eu quero a calma em raiva. Eu quero um beijo roubado. Eu quero um acorde quebrado. "O mundo é pequeno pra caramba, tem alemão, italiano, italiana... O mundo é uma salada russa, tem nego da Pérsia, tem nego da Prussia". Eu quero o desespero. Tudo bem, eu não espero, por isso quero agora, quero embora, quero porém, quero contudo, quero senão. Quero todos os poréns, as todavias. Eu quero o plural e o singular. Eu quero presença, eu quero a tua no meu, a minha no teu. Eu quero o arrependimento, o alimento, o sortimento, o fomento. Eu quero outra vez compor um poema igual ao já musicado. Não se lembra, então, eu relembro:
"Carregue daqui os meus sonhos, leve-me junto também/ Disarme os meus planos, leve-me muito mais além/ Desfaça o que eu fiz, eu ando na beira por um triz/ Coloco em risco a vida, mas quero me ver feliz/ Por isso, me tire daqui/ Faça Por isso, me tire daqui/ Cole a minha foto em sua lembrança/ Rasgue o pessimismo que eu fiz/ Só não me deixe mais aqui/ Faça-me, quando preciso/ Mas deixe-me cair na vodca como alívio./ Você sabe que eu complico/ Mesmo assim eu suplico/ Eu sei que tenho chance/ Pois você está ao meu alcance/ Ajuda-me a descolar o sofrimento/ Traga novamente o sortimento/ Tudo isso eu quero, porque eu te amo/ Exalo fumaça quando eu te vejo/ Traga os meus pensamentos até você./ E quando eu choro é porque eu sofro/ Reconstrua o meu desejo/ E desfaça o meu sorriso".
Eu quero a urgência do desespero...
Citação: "O Mundo" - Paulinho Moska

Samba de Emoção

Vai, coração.
Exploda no último acorde
Bem no fim da canção.
Jogue da artéria a última gota
O derradeiro sentimento
O caos do ressentimento
A primeira emoção.

Uma nota dissonante
Uma vida errante
Um cemitério de elefantes
Uma antologia de escritos
Um álbum não ouvido
Um amor não vivido.

Vai, coração.
Entre em auto-combustão
No próximo solo
Regado a alcatrão.
Deixe a fumaça vazar da aorta
Ficando aos poucos morta
Em uma partitura outrora.

Em um beijo perdido
Em um olho de vidro
Em um castelo de pó
Em um desejo aberto
Em um brinquedo de Lego
Em um sorriso de plástico
Em um Cristo de nó
Em um poema fechado
Em uma clave de sol.

Vai, coração.
Perceba o sustenido
Com um descalibrado ouvido
Que não sintoniza o sim
Só justifica o não
No dedilhar moribundo
De um belo e triste
Samba de emoção.

quinta-feira, agosto 28, 2008

A Culpa


Tantos janeiros

Presos nesse corpo

Que muito torto

Pede água.


A vida deu razão

Mas perdeu

Antes da comunhão

Um outro ato

Que se foi no fato.


Agora fica o dia da derrota

Da boca aberta por palavras,

Sangue traição.

Ficam as noites de estrelas

Não cadentes pousando

Na cama suja de outros amores.

Mas não foi culpa do ódio

A culpa foi da paixão.
Bate uma balada certeira no aberto e inocente coração. A nota sustenida furou a artéria, entrou na circulação e maltratou o cérebro. A confusão presente se instalou no lado esquerdo. Os pólos da massa cinzenta tentaram um diálogo, mas foi um monólogo que se apresentou aos olhos. Eles aplaudiram com as pálpebras, deixando a lágrima traçar um caminho obtuso. A imagem da felicidade em solidão emocionou até a cerne.
Nunca é fácil perder a sanidade. Um dia, escrito em um e-mail, as razões foram recobradas. "Roubar idéias de uma pessoa é plágio. Roubar de várias é monografia". E a balada continuou a perfurar o órgão que pulsa.

segunda-feira, agosto 25, 2008

Escárnio

Recria o rosto
Na frente do espelho
E pinta o olho
Com precisão torta.
Ela sorri confusa
Vendo a imagem
Que alterada
Faz-se em lágrima.
Mas, mesmo assim,
Ela se apronta
E afronta
A sua derrota.
A porta a convida
Para uma dança
Muito inesperada
Que ignorada
Percebe-se louca
Em uma hora
Pós-terminada.
Encontra a rua
E tropeça no orgulho
Pensando no final
Que não aconteceu.
O escárnio
Da sua lembrança
Ficou ingênuo
Como uma criança.
E ela subiu
escada adentro
Para novamente
Chorar o seu amor.

domingo, agosto 24, 2008

Não sei até quando vai durar. O coração não suporto mais os desafios. A cabeça não acompanha o raciocínio. Os olhos não mais enxergam o fim. Mais uma crise. Não estou falando de amor, estou falando da vida. Da minha. Não tenho mais a esperança de dias melhores. Não sinto mais o sabor das belas manhãs. Confundo a dor de agora com taquicardia. Não foi. O exame apresentou outro resultado que, aliás, eu já sabia. Angústia. Ansiedade. Tristeza. Eu, que nunca acreditei nas doenças psíquicas, agora sofro junto. Difícil perceber que acabei entrando nessa. A modernidade vista no passado me causava outros sentimentos. Percepções logicamente erradas. Enfim, bem-vinda depressão, seja lá o que você queira. Sempre achei que somente os fracos de razão pudessem sentí-la e permití-la adentrar o corpo. Nunca imaginei o quão forte a sua manifestação poderia causar. Basta engolir os comprimidos.
Não sei até quando vai durar, mas agora entendo melhor aquele conto do palhaço que, depois das piadas, tira aos prantos a sua maquiagem nos bastidores.

terça-feira, agosto 19, 2008

Cosmopolitan

Fortes características de um deja vú se formam em um momento de frio. Penso se a imagem não é apenas mais uma presenciada em um passado perfeito, mas não, os detalhes são novos e ricos no exagero do novo. A fumaça sobe de um cigarro preso no cinzeiro que descansa no balcão do bar. Um jazz carregado de paixão e ódio escapa das caixas de som. Miles Davis. A dona ao meu lado veste um longo azul escuro com uma abertura nas costas que revela uma bela tatuagem de dragão. Diria que ficou meio vulgar, porém, com presença e destaque. Um martini é entortado pela boca de finos lábios cobertos de batom claro. Esboço uma tentativa de sorriso disfarçado de charme e arranco um gesto de gratidão. Ela deve ter pensado: um outro otário perdedor se afogando em álcool para esquecer a realidade.

O ambiente é bem eclético. Vários tipos se arrastam enquanto outros voam. Um rapaz jovial não consegue parar em um único lugar. Com uma jaqueta da Gap procura a melhor opção para uma foda. Pelo jeito não está apenas procurando mulheres. Miles Davis dá licença e Beth Gibbons invade os ouvidos dos que admiram o Portishead. Agridoce com eletrônico. Sempre achei "Strangers" uma das melhores canções já compostas no mundinho criativo da década de 1990. E o meu cigarro continua morrendo no cinzeiro. Preciso parar de fumar. Meu médico que aconselhou. Como sempre tive meu lado Bukowski, renego o diagnóstico.

Olho novamente para o bailar de dedos que a moça insiste em dançar pela borda do copo calibrado de martini. Imagino como seria feliz ser engolido pelos tais. Devagar. Voraz. Tenaz. Deliciosamente liso, raspando um pouco pelas laterais das almofadas pintadas. Batom que contém chumbo na composição dá cancêr, li certa vez em uma dessas revistas femininas. Marie Claire? Não lembro. Entretanto, parece que era apenas um boato, uma lenda urbana. Informação fútil só para descontrair. Se chumbo tiver, deve ser nas entranhas da dona. Muitas mostram pelo olhar a ardência do contato, da pele. Mudo o pensamento e me concentro na Beth Gibbons. Pelo jeito preferiram deixar rolando o Roseland NYC Live na íntegra. Estamos agora em "All Mine". Digo, acabou. Segue com "Mysterons".

Depois de muito admirar, não o álbum dos britânicos, mas as características fortes do deja vú ao meu lado, ameaço uma retirada sem nada mencionar. Levanto. Meu cigarro já está morto. Deixo a gorjeta. Coloco a carteira no bolso. E ouço:

- Já vai? Encarou tanto que cheguei a pensar que poderia passar um pouco de câncer por meio dos lábios. Sabia que batom com chumbo dá câncer?

- Você leu na Marie Claire? - Pergunto.

- Não, na Cosmopolitan.

segunda-feira, agosto 18, 2008


Beijo de fogo. Olhos fechados. Olhos virados. Olhos vidrados. A cada minuto a imagem fica ainda mais forte. Um ego foi levantado, um ferimento foi fechado, um novo sentido agora é desenhado. Perceber as coisas complexas e fazê-las fáceis aliviou o temperamento. Nunca será como antes. Será melhor. Entre partidas e reencontros, o importante é o pacto cravado em peito aberto, sem angústia, sem modéstia. Tudo exagerado, como o planejado. Beijo de fogo, jogo de acertos, concertos aprovados. Consertos resolvidos. Sinfonias ao vento, grama como cama. Resoluções firmadas, contratos rasgados. Olhos fechados. Olhos vidrados. Virados. Dois achados, dois perdidos. Um no centro, outro no canto. Não importa. A porta aberta metafórica dá acesso ao céu. Meu rabisco, seu esboço. Arte final assinada por ambos. Nunca será como antes. Será perfeito. Desde que sonhos continuem. Vão!

Beijo de sorte, beijo de sós, beijo de nós. Céu azul. Across The Universe. Ela caiu como lágrima olímpica, como colírio de vitória. Composição não terminada, coração quase completo. Basta tempo. Tempo para chegar, tempo para partir, tempo para olhar, tempo para amar. Basta esperar. Basta torcer.

Um abraço eternizado, um selar concretizado. Interior marcado, central tratado. Um risco nas costas, outro beijo nos lábios. Não digo o resto. Basta imaginar. Resoluções firmadas, contratos rasgados. Futuro no bolso, guardado em segredo. Futuro ao lado, guardado sem medo. Futuro conjugado.

terça-feira, agosto 12, 2008

Meio Mês em Meio aos Outros

Uma meia foda ao meio dia
Meio estranho
Equilíbrio em cama
Uma meia alma
Em meio à rua
Me chama de paixão,
Uma cidade e meia
Escuta a declaração
Que às 6h30
Volta para casa.

Um meio abraço
De um amigo
Me traz conforto
A minha mulher amada
Desaparece
Em meio à estrada.

Noite e meia
Em metade a mim
Em meu quarto
Escrevo amores
Reflito dores
E ouço todas.

Uma foto e meia
Me lembra saudades
Relembro idades,
Construo castelos
E escuto ecos.
Um meio amor
Me deixou assim
Meio confuso.

Nota: Meio Mês em Meio aos Outros é uma canção. Sou meio desastrado em compor músicas. Na verdade, não tenho o mínimo talento para tal arte, mas gosto de brincar junto ao violão. Ela faz parte de uma série de composições que venho esboçando desde 2003. Nunca serão registradas, eu espero. Só uma pessoa escutou esta canção. Ficou surda. Brincadeira. Seria muita maldade para os ouvidos dos terceiros. De toda a forma, fica aqui a letra sobre um cara que encontrou o amor que, por sua vez, precisou ir embora e o deixou só. Não é triste, é apenas uma história.

sexta-feira, agosto 08, 2008

Sonhares

Um mais seguro viajo em horrores. Abstrato assim mesmo um retrato recém fotografado. A figura iconoclasta jorra frêmitos de ascos. Um turvo céu de gaivotas retraídas pousa no mar azul do litoral sul. Afunda em secos sentimentos prováveis de gratidão e solidez. O atroz pensamento de polvos captura os sonhos vazios que vagam perdidos em fumaça de cigarro. Ela não me fala, ela não opina. Só abro os olhos quando realmente quero acordar.
Então, em castos suspiros analiso o plural das coisas sinônimas que antônimas apresentam os sentidos. Piso no fogo que a água não matou, bebo fluido de isqueiro para sentir o meu estômago queimar. Minha boca já proferiu tamanhas asneiras capazes de elevar a altura da Grande Muralha até a lua. Sim, ainda durmo.Passado o desespero dos momentos sem nexo, após uma pausa branca, analiso em anexo a carta recebida. Gosto da caligrafia, ela revela os segredos. Gosto do conteúdo, ele mostra inteligência. Mas acordo quando não quero. Bebo um pouco de água, deito novamente. Fecho os olhos. O dormir sempre me trouxe dúvidas. Respostas nós encontramos no Google.

Ter Amado


Entre café e cigarros, o que sinto é o seu sabor. Brendan Benson na vitrola, o sol pela janela e o vento do inverno levantando a cortina. Um livro no meu colo, uma carta ao meu lado, uma poesia a tiracolo. Paisagens bucólicas de tão lindas, melancólicas, revertem o pensamento em conseqüência imediata na memória. Pinto um sorriso no rosto e esboço um reencontrar. Entre café e cigarros, o que percebo é o seu gosto. Leituras astrais, músicas latinas e referências cubanas. Conversas hippies, falas amorosas, planos sem compromisso.

Recordo uma outra história. Uma viagem para o Chile. Santiago. Lembro dos seus olhos. Brilhantes como as embalagens do Boticário no final de ano. Doçura na voz, forte na atitude, pele morena de praia. Os lábios como almofadas, os ouvidos como radares. Continuo a gostar, continuo a desejar, não apenas os detalhes, mas o completo.

Procuro a agenda. Encontro o seu nome. Disco. O número não existe mais. Do livro no meu colo voa uma foto. Tinha até esquecido. A mesma paisagem bucólica revelada com nós dois à frente. Entre café e cigarros, agora o que sinto é felicidade. Felicidade por um dia ter te conhecido, ter te amado.

sexta-feira, agosto 01, 2008


Misteriosos contatos

Nos lábios de giz

Que descrevem

Uma história falsa.


A visão é nublada

Mas o amor está lá

Com as suas frases prontas

E pontas soltas.


Segredos de plástico

Guardados em memórias

Artificialmente analógicas

Escondendo o belo sentir

De um cáustico amar.


Vaza tristeza dos olhos

Amarelos de trabalhar

A saudade é proeza

Dos que sabem lembrar.

quinta-feira, julho 31, 2008

O Passado


Trago no bolso um falso suspiro anexado em um conto. Reviro o estorvo e absorvo no ato um novo trago de cigarro barato. Tropeço no orgulho e não caio em seus braços. Caminho um pouco e acabo encontrando um eu abstrato. Fóssil de outros em caixas cronológicas compactadas em sentimentos concretos, antes quebrados pela falta de contato. Não posso negar, o importante nasceu no passado. Abortamos um fruto para não vivermos futuros. Presentes agora fechados foram mandados. Um novo endereço encontrou a cadência.

Não culpo o clima nem muito o sistema. Respostas vazias sempre me fazem. Justifico os meios achando mensagens. O grito do meio é a mensagem. O ruído percebido furou o meu ouvido. Hoje não mais suporto a sua semiótica. Um tanto neurótica berra pesadelos. Relacionamentos acontecidos não podem ser razões. Mas se é assim, não sou eu que culparei o fim. Levanto a face e sigo em frente, contudo, não tente me olhar sorridente.

terça-feira, julho 29, 2008

Os Fracos de Vontade


Meu deserto coração preenchido de cactus petrificados
Por elementos que insisto chamar de compaixão.
Mas o que de fato eu quero viaja longe em céus desesperados
E enquanto isso vou perdendo o tato do dom de acreditar.
Um doce iludir eu beijo em face imaginária
A contradição do gosto não é efêmera,
Antes fosse uma ligeira canção de forasteiro
Como o último verso do bardo bandoleiro
Perdido sem razão, mas ainda com paixão
Pela condição andarilha que os fracos de vontade
Nunca entendem como a perfeita emoção.
Então a minha fraqueza eu perco na borda do vidro,
No gole sofrido do fel interrompido
Graças ao sono que me comove.
No entanto, no descanso invade
Um sonho contigo por assim concebido
Acordo em um grito quase sustenido
E percebo que não consigo arrancar
O seu olhar baixo de sofrido.

sexta-feira, julho 25, 2008

sentidos

um sono bipolar. seja lá o que isso queira dizer. não venha. o quê? não tenho opção. como assim? não quero mais sonhar, continuar, prolongar. não sei do que você está falando. nem queira, não faça, nem peça. mas o que há? não há, exatamente isso. todos temos problemas, eu sei, existe contorno. não! só em traços da faber castell, não quero iniciar mais uma palestra a respeito dos sentimentos. sem dúvida, nem quero ouvir. então trate de fazer como aquele pintor e corte as suas orelhas. como? chega! mas qual o motivo? que seja qualquer um, já tenho tantos que nem mais quero lembrá-los. muito complicado, viu? então não veja, fure os seus olhos com pregos enferrujados, contraia tétano, fique estrábico, rasgue a retina. nunca te percebi assim, nunca te senti tão frio. então não sinta, perca o tato, retire as digitais, queime as mãos. prefiro, agora, não ter provado o gosto. ótimo! aproveite o pegue o seu cheiro e o arremesse para bem longe daqui junto as coisas que doei, que gastei, que sofri. antes não tivesse sido. exatamente, que nem tivesse, pois nem de você estou falando. não entendo? então, eu já disse, nem queira. mas eu quero! por favor, não tente, coloque os seus cinco sentidos nessa sacola do Carrefur e veja se ela se decompõe em menos de dois anos.

quinta-feira, julho 24, 2008

Pra Nos Lembrar

O mundo lá fora acabando e eu aqui pensando em você. "Mate-me Sarah. Mate-me de novo, com amor. Vai ser um dia glorioso". Só consigo cantar estes versos enquanto vejo a chuva se suicidar no vidro da janela. "A ferrugem nunca dorme". As músicas não são as mesmas, mas as citações são bem-vindas. Tudo vai se reciclando e o meu pulso aberto ainda se movimenta pelo novo. "Mas passado e presente são um só e eu também sou". Mais uma canção.

Tento achar conclusão na imprecisão dessas horas que chatas vão me tirando um pouco a cada segundo. Bailo entre os ponteiros um dançar torto. Agora surge um novo acorde para me acompanhar. Fecho os olhos e sigo junto. "Eu conheço todos os seus medos. Parece que são meus. Deve ser como ter dois pés esquerdos e falar com Deus. Nem tudo vai passar. Alguma coisa sempre sobra. Nem tudo vai mudar. Alguma coisa sempre fica. Pra nos lembrar. Você fez de mim um samba-enredo, com livros que não leu. Enxugo lágrimas de gelo e encaro seu adeus. Eu esqueço todos os seus erros. Finjo que não doeu. Ponho um band-aid no meu dedo. E saio no apogeu". Sorrio no último verso. Deito e durmo. Só isso posso agora fazer.


terça-feira, julho 22, 2008

Canção Adolescente

A poesia lateja na noite solitária que absorve as palavras de fortes razões. O alcatrão tempera uma boca que já soltou muitos impropérios sofisticados. Uma meia-luz ilumina metade do quarto que abriga apenas uma pessoa e meia. A outra metade seguiu o rumo dos covardes que se desintegram em discussões mais elaboradas. Ela desenhou três pontos de fuga em uma perspectiva torta e atravessou a porta que apresenta a rua.
Negras nuvens cobrem o céu outrora preenchido com pontos celestiais. É quarta-feira de um mês qualquer. A vontade é arrancar pela boca o órgão que pulsa um sentimento agora quebrado. Tudo parece tão simples, mas dizem que na adolescência os hormônios entram em tamanho conflito que tudo se torna o apocalipse. Now!
Todos os doces colhidos da paixão ficaram agridoces em apenas uma frase. Eu a culpo pelo sabor que sinto entre os meus lábios, um gosto tão forte de ressentimento que não desejo nem ao assassino mais sanguinário do amor. Só quero lembrar que você esqueceu de pegar o seu jeans Ellus, suas maquiagens Natura e sua edição de Paris: Maio de 68. Consuma-os para nunca mais voltar.
Eu já imaginava que o certo arquitetado seria um erro futuro. Muitos haviam me alertado, mas a minha miopia sentimental sempre distorcia a verdade. Em alguns casos os relacionamentos entre pessoas com idades díspares selam uma felicidade talvez só sentida por Romeu e Julieta. Aliás, essa coisa de amor deve ter sido inventada por Shakespeare. Já o sexo foi a Madonna. Agora quero aqui ficar ouvindo os lamentos pop de uma banda indie enquanto bebo mais uma térmica cafeinada. Mulheres mais experientes só em capas de revistas, penso, eu. Não mais razão aos hormônios vão me vazar. Vou procurar uma outra com All Star.

quarta-feira, julho 16, 2008

Ficando por aí

Não mais um romântico procurando elementos de sinestesia relaxantes. A inexistência poética da situação está transformando o calor em longas cartas escritas para ninguém. O achado agora fica perdido entre ruas úmidas de uma madrugada abstrata. O tratado concebido foi rasgado e jogado em uma correnteza pútrida. O instinto mascarado não sincroniza mais os espaços do coração. Não há solução exata nessa conta de multiplicação. A divisão floresce e brota jorrando aos muitos na calculadora metafórica da autocombustão.
O sentido dos escritos escorre pelo olho em forma de sílabas sem explicação. Nada mais envolve em presente esse sentimento dedilhado em acordes dissonantes em uma velha guitarra. O sangue outrora bebido com louvor no momento está no futuro do seu rosário. Peça então com mais entusiasmo a finalização sem contração de uma gestação acidental. O experimental viver sempre esteve constante no instante soluçar. Um gosto de sal explode no lábio. A negação ainda é o melhor artifício nesse ofício repleto de horas extras.Apenas uma noite para lembrar. O gritar abafado pelos dedos solitários. Talvez um dia a mais. Não faça novamente. Vai ficando por aí, não mais romântico, nem mais sinestésico.

terça-feira, julho 15, 2008

Não vou lá
Me cansei.
O seu cantar
É de matar
E a minha
Tristeza é igual.

Não vou entender
Nem reverter.
Eu quero um afastar
Que cause a dor.

Não vou lá
Já me acabei
Hoje eu fico
Ao lado do fim
Um início de tudo
Contudo, assim.

segunda-feira, julho 14, 2008

sexta-feira, julho 11, 2008


quarta-feira, julho 09, 2008


Um compêndio não compreendido da insana vida que trata de aparecer.

Turbulentas doses de alcantrão em uma ficção que pode acabar.

Quem sou para dizer que sim. Quem sou eu para afirmar o não.

Quem agora eu vejo não interessa o coração.

O todo sobrevivido é quase um gelo de esquimóide.

Até o momento o latejar freqüenta a poesia.

Aguardo o dia que virá anunciando boas novas.

Enquanto isso, retorço o esquálido traçado do sentimento,

O torpe, o macilento, o sórdido.

Se disseram que a esperança é a última que padece,

Então não acredito e penso ainda mais.

Se falassem de uma forma menos afoita,

Capaz de ver um horizonte alinhado de gostosos presságios.

No entanto, não se trata de pessimismo, e sim, realidade.

O pulso continua a palpitar uma crença sincera.

Basta um sinal, portanto, a fim de prosseguir,

Na faca cega, no olho agudo, na combustão do gostar.

segunda-feira, julho 07, 2008


Trata um caos com água benta. Não a mesma saciada no Vaticano. Um pouco mais batizada, quem sabe, em solo americano. Duas doses aproveitadas com louvor. Outras mais em respeito à dor. Quando tonto, o fruto vira amor. Mas não esquece o aquecimento. Tudo se funde no calor.
Depois de um tanto, um outro embebido. Claustrofobia no copo concebido. Gira o rosto e cospe um santo. Olha o céu um novo amante. Um oposto ao lado agora. Vira o olho e segue embora. Percorre portanto a trilha clara. Mas tropeça no lado escuro. Engole puro o suco gástrico. Destila um ser sarcástico. Alcança o ápice no meio-fio. Trava um risco, espirra o frio.
Tudo sob controle sabotado. Não imagina a cena, nem doravante. Bebe um outro desodorante e vai constante. Troca um toque, fala escroque. Voa simples e pousa forte. Observa sul, mas quer o norte.
Um oposto ao lado agora. Duas doses aproveitadas com louvor. Tudo se funde no calor. Gira o rosto e cospe um santo. Um pouco mais batizada, quem sabe, em solo americano. Quando tonto, o fruto vira amor. Olha o céu um novo amante. Não imagina a cena, nem doravante. Um oposto ao lado agora. Destila um ser sarcástico. Engole puro o suco gástrico. Trava um risco, espirra o frio. Voa simples, pousa forte. Mas tropeça no lado escuro.

sexta-feira, julho 04, 2008

Das coisas que não entendo e não me permito compreender.
Das verdades que não insisto, já que mentiras eu continuo.
Dos frutos mordidos, não tentados, que pedaços eu vivi.
Das palavras que não bebo, não mais me embriagado.
Dos casos retratados, recortados em meu mural.
Da casa que não vivo, apenas durmo sentado.
Da escada que não subo, só desço.
Do olho que não vejo, percebo.
Do lábio entreaberto.
Do corpo, nu.
Do rosto.
Só.
Do gosto.
Da função, apenas.
Do triste que não sinto.
Da solicitação que não permito.
Da noite que respiro, caminhando perdido.
Da lua que admito, contemplo estrategicamente
Da gota que confesso, perfura cristalina pela retina.
Do pensamento que viajo, outrora sem metas estabelecidas.
Do sonhar bastardo que um dia escrevo ouvindo algum bardo.
Do gostar desesperado perdido entre prédios altos e desesperados.
Das coisas que não entendo e não me permito compreender de inacabadas.

quinta-feira, julho 03, 2008

mas a vida é repleta de decepções, as atitudes nem sempre são as que queremos seguir. às vezes o apanhado da hora e as situações corriqueiras nos fazem tomar outras decisões, assim, rompendo compromissos.


tudo bem que por vezes alguns são omissos, mas são esses pequenos detalhes que fazem a graça nos momentos incertos. Certos acreditam que isso é falta de interesse, mas, não é sempre assim.

quarta-feira, julho 02, 2008

Uma tristeza absurda bate oca no peito aberto. Não há lágrimas. O silêncio alcança um nível estratosférico. A solução se perde em caos de aflição. A maresia agora vira odor nuclear, cortesia da tempestade de palavras em mar adentro. Um rasgo se abre na pele. Um líquido se apresenta no dedo. Uma morbidez se faz presente no canto do olho. A vontade pura se desmancha em horas terríveis que se arrastam pedindo clemência. O todo exagerado transpira das axilas nervosas que também querem descanso. Mas não há lágrimas. Antes houvessem.

A vida sempre provou que calmaria precede turbulência. Um tiro passou raspando pela testa. O período nunca foi tão corrosivo. Uma ferrugem quase deu passagem aos pulsos. O sobreviver aos poucos se perde, como as vontades suicidas que tentaram voar. Uma corda ficou bamba não conseguindo envolver o pescoço. E as lágrimas não se matam.

Não existe mais razão. As soluções estão tão distantes quanto os portos que trouxeram outros navegantes, os mesmos que clamavam tempos prósperos. A cor está ficando cinza. A luz está ficando pálida. A nuvem está ficando negra. O sol está ficando escuro. O quarto está ficando branco. A visão está ficando turva. O movimento está ficando lento. O som está ficando fraco. A força está ficando desestimulada. O pulso está ficando avulso.

terça-feira, julho 01, 2008

Embarcadiço

Percorro o mesmo caminho. Ouço agora Bloc Party. Cadê os sonhos mais estranhos? Sinto ainda o cheiro do seu cabelo castanho. Olho para o pôr-do-sol. Reflito dores. Penso nas ações. Digo adeus às vontades. Necessidades contempladas na música, mas o sentimento sincero ainda se encontra em meus dedos. Sento na areia. Continuo a admirar o bailar das gaivotas em sincronia com a brisa marítima. Lembro da sua mão a deslizar nas minhas costas. Quero voltar. Presente momento de passado. Relembro. Não quero ficar. Futuro de encontro com o tonto desafio do sobreviver. Novamente, quero ver. Quero sentir. Abra os seus braços e me feche em um abraço para que eu possa amar.
Continuo a imaginar se o diferente mergulhasse de cabeça em um destino de possibilidades uniformes. Penso que se eu tivesse sacrificado um tanto do orgulho, as formas do esboço que chamamos "entrelaçar" alcançaria uma arte final de degustar. Se o meu erro foi sinistro, apenas conquistei uma parte do que gostaria de alimentar. O sentimento eu deixei escorrer entre seus lábios. Perdi.
O ar, no momento, reflete um dia de cansaço satisfatório. O mar calmo parece não ter levado outros humanos. As embarcações simplórias balançam em uma singela coreografia natural. O dia se despede perfeitamente dolorido. Ainda aqui bate um oco precipitado. Quero ficar, mas quero voltar. Irresoluto. Eu sei, confesso. Por isso, talvez, eu tenha perdido. Você.

segunda-feira, junho 30, 2008

O Assassinato


Verso falso

Mentira exata

Amor carente

Tiro no escuro

Sonhos quebrados

Noite perdida

Resposta exata

Poesia suja

Situação engraçada

Dizeres escondidos.


Letra torta

Precisa decisão

Tremor noturno

Ouvido aberto

Imprecisa conclusão

Música triste

Crime passional

Sangue inocente.

quarta-feira, junho 25, 2008

Bobeiras trocadas pelo MSN

Bruno diz:
mas faz parte
Leonardo Handa - un, dos, tres, toca la pared diz:
mas tudo passa, até uva passa
Bruno diz:
até o ferro passa

Leonardo Handa - un, dos, tres, toca la pared diz:
isso mesmo
Leonardo Handa - un, dos, tres, toca la pared diz:
menos o Rubinho da Fórmula 1, este não passa
Bruno diz:
uahuahauuahuaha
Leonardo Handa - un, dos, tres, toca la pared diz:
mas o Felipe, este sim, é Massa
Bruno diz:

nossa Léo
Bruno diz:
coloca no teu blog essa
Leonardo Handa - un, dos, tres, toca la pared diz:
ihahiahiaihaihaihaihaihiahihaiha

Leonardo Handa - un, dos, tres, toca la pared diz:
ok, vou pôr
Bruno diz:
até o tempo passa
Leonardo Handa - un, dos, tres, toca la pared diz:
he he he he