Meu nome é Leonardo Silveira Handa. Jornalista. Perdido. Achado. Amante. Radialista.

sexta-feira, janeiro 30, 2009

Chuva de verão

Cá estou, sozinho. Pensei novamente em descrever alguma passagem em terceira pessoa, mas a primeira me pegou bacana. Confesso: me entreguei. Há muito tempo não tinha uma sensação tão quente e fugaz, como uma canção da Aretha Franklin. De fato o momento se pareceu mais com uma narrativa niilista do Dylan. Tudo ao seu tempo.
A fumaça do cigarro entrando no olho, a pequena lágrima em instante, um olhar embaçado, um lenço, uma ajuda, um tudo bem. Um sorriso. O toque leve no rosto arrepiou os pensamentos mais íntimos, até os desconhecidos. Nunca um trago tinha me ajudado tanto. Afinal, descobri a sua pele. Não lembro a hora, não lembro o dia, mas lembro a marca da cerveja, o nome do bar, o início da consequência. Inclusive, ainda usávamos trema.
Os trejeitos com as mãos, a ênfase quando necessária, a defesa veemente das idéias, a paixão pelo Kerouac, os discursos drummondianos e a respiração calma nas conclusões das sínteses. A primeira conversa foi praticamente um estudo de caso sobre o acaso que, através do destino, ou não, iniciou pelo olho. E não há sensação mais incômoda ao ser humano do que sentir um microscópico cisco no globo ocular. Ok, um chute no escroto é 10.000 vezes pior. Foi apenas uma mera figura de linguagem para metaforizar um encontro pelo olhar, mesmo que um terceiro objetivo estivesse a incomodar, mas que aproximou a situação. Só faltou você ser oftalmologista.
Agora, cá estou, já sabendo que seria passageiro nessa viagem de férias curtas, relembrando os dias de paz, o tranquilo do abraço, o não compromisso dos verbos. Te vejo pelo ônibus, um tchau lento de conhecimento, consideração e conformação saliente. Encontros e despedidas. Existe o MSN, existem as ligações. Só não há mais a sua mão próxima ao meu resto permitindo um toque de satisfação.

terça-feira, janeiro 27, 2009

Madrugar, evaporar. Passar.


Madrugar. Afogo as minhas últimas angústias em um copo de café. Pela janela do apartamento vazio analiso o movimento preguiçoso dos corpos. Mais animados estão os clientes. Um grande som invade o cômodo e, principalmente, os meus tímpanos que já não mais apreciam o silêncio. Como eu queria você naquele momento. O seu riso calmo era como um disparo de Guilherme Tell, um riff de Richards ou um blues de James. Pequei pelo excesso, retrocesso e refestança. Errei.

Evaporar. A água vai embora. Mais um bule contendo café. Deixei você escorregar entre os meus dedos. Perdi. Deixei cair. Não consegui, não peguei. Não reconquistei. Chegaram a falar que éramos como irmãos, o que me deixava furioso. Faltava algo? O quê? Uma pena que não deu tempo de lhe perguntar. O retrato na geladeira vai continuar, eternizando um momento pacificador de uma tarde vazia. Já não ia bem, mas você aguentava.

Passar. Sabemos que somos fortes o suficiente para segurar as pontas, nem que sejam nos escritos e nos surtos psicóticos, nas letras das canções favoritas e nos livros prediletos. Alguns continuam aqui, não se esqueça. E sei que os seus cinco melhores CDs serão resgatados, para a minha não consolação. "Parachutes", do Coldplay, "Gran Turismo", do Cardigans, "Expresso 2222", do Gil, "Transa", do Caetano, e "Mais", da Marisa. Pop e MPB. O resto ficará comigo, mas deixo você ficar com o Neruda que nunca leu, parafraseando e lembrando o grande Chico.

segunda-feira, janeiro 19, 2009

Retornado. As férias foram tão boas que a vontade de continuar neste período por mais uns dois meses arrebentaria em sorrisos a minha boca faminta de não trabalhar. Como nem tudo são flores, vamos aproveitando os últimos momentos que ainda restam.
Confesso que nunca fui muito adepto do ócio, mas estou consumindo-o em doses cavalares. O que mais me chateia é saber que tenho várias novas regrinhas a aprender por causa da reforma (?) da língua portuguesa. Ossos do ofício, fazer o quê? Se dependesse da minha pessoa continuaria tudo da mesma forma, afinal, adorava a trema, não queria o seu homicídio. Pobrezinha. Ao menos que tenha um enterro honrado, bonito e pontuado. Entendeu? P-O-N-T-U-A-D-O.

* * *

Não vou aqui escrever como fazem os alunos do ensino fundamental quando voltam das férias: escrever uma redação. Mas tenho que confessar que elas foram exacerbadas, com períodos tranquilos (ah, cadê a trema? Opa, "cadê" também não leva mais acento, né? Putz, fiquei confuso agora), passeios, caminhadas, literatura, música, poesia, conversas, reencontros, amores, sexo, bebidas e cigarros, não necessariamente nesta ordem.
Enfim, só passei para comunicar que estou voltando e logo postarei mais textos, contos, artigos e poemas neste espaço, proposta a qual, de fato, ele foi criado. Espero que ainda encontre alguém para lê-los. Namastê a todos.