Meu nome é Leonardo Silveira Handa. Jornalista. Perdido. Achado. Amante. Radialista.

segunda-feira, julho 25, 2005

Tanto assim

"A saudade é um revés de um parto/ A saudade é arrumar o quarto do filho que já morreu". A maioria dos pensantes sabe que Chico Buarque fere com a palavra os corações mais sensíveis. As suas letras tem a capacidade de derrubar "mamutes" em qualquer período histórico, sem falar das melodias que rasgam com louvor os tímpanos dos atentos. Na frase citada, trecho da canção "Pedaço de Mim", esse carioca destroça, arranca lágrimas até de cachorro domesticado. E a saudade é muito mais que a música em questão, porém, serve de extensão para sofrer mais quando ouvida em momentos apropriados. Não que a saudade seja algo apropriado, longe disso. Mas, por fim, as lembranças, as saudades, as memórias são as únicas coisas que sobram. Lágrimas.
É ruim a despedida. Resta a saudade. O tempo passa e a canção fica, assim como as fotos e os diálogos de impacto. Os dias de inverno já não são mais os mesmos, nem o conhaque que agora envelhece na prateleira repleta de poeira e de discos dos anos 1970. Construção. Acabou Chorare. Expresso 2222. Blue.
Chega de saudade, viva algumas mentiras.

sexta-feira, julho 22, 2005

Choro, retorno, volto

Mais um dia chuvoso. Chega a causar resignação em almas mais sofríveis. A claustrofobia metafórica invade o coração mais covarde, da pessoa mais doentia, do humano mais depressivo, dos olhos mais cegos e do sentimento mais repreendido. Alguns julgam de extremista, mas as causas não foram apuradas. Enquanto isso, permite-se não segurar e derrama uma gota pelo canal. Seria lindo se não fosse a conseqüência.
E a chuva continua. Há vento também soprando na janela poesia noturna nunca encontrada. Bares, putas, cadáveres, drogados, bêbados e normais. Litros e mais litros tomados destilados em copos sujos de vidro trabalhado. Garotas sorrindo um pouco de louvor para tentar arrecadar o vício do amanhã. E os velhos analisando as coxas salientes da madame de vermelho desbotado. O nojo escorre pela boca do drogado que procura um doce para saciar a fome de viver, mas os melhores açucares estão longe daqui.
A umidade transtorna o personagem da noite mais escondido. A normalidade repudia qualquer ser noturno. Pelo menos chama a atenção. É aí que entra o suicida que saiu de casa, devido à claustrofobia metafórica que corroia a lembrança mais infeliz, que ele quer guardar na eterna caixa das saudades.
Dormir é algo que ele não consegue mais. Amigos foram transformados em bonecos de barro, que agora enfeitam a sua estante de depressão. A cidade engoliu o que ele tinha de melhor: alegria. E agora o suicídio é o caminho mais óbvio.
Corre através da chuva procurando um lugar, não um abrigo, algo mais próximo de um cenário de filme almodovariano. Cores fortes. Mas não encontra. Volta para casa, antes é assaltado e tudo retorna ao normal.