Meu nome é Leonardo Silveira Handa. Jornalista. Perdido. Achado. Amante. Radialista.

quinta-feira, agosto 30, 2007

Thom Yorke - The Clock



Esse cara é complicado. Quando surgiu no cenário musical com a sua banda, uma tal de Radiohead, anunciou aos quatro ventos que era um verme (Creep). Depois, lançaram um dos discos mais legais da década de 1990, The Bends. A canção Fake Plastic Trees arrancava da cerne o sentimento mais bonito, mesmo sendo triste. Em 1997, a banda colocou no mercado o álbum Ok Computer, uma beleza sônica com linhas de guitarras que até hoje estão marcadas nos corações dos aflitos. O futuro nunca foi tão controvérsio e discutido, graças ao Thom.
Eis então que a banda entra em um hiato e após alguns anos lança Kid A, deixando todo mundo confuso. As canções do álbum, extremamente difíceis, colocaram em dúvida os fãs da banda. Mas, é só ouvir o disco mais de três vezes seguidas que dá para perceber o conceito da obra, totalmente diferente do que, até então, o Radhiohead vinha seguindo. Na seqüência vem Amnensiac e Hail Of The Thief, discos menores se comparado com Ok Computer e, propriamente, o Kid A. Em breve a banda estará lançando novo trabalho. Parece que sai ainda neste ano.
Entre uma composição e outra, o Thom Yorke lançou o seu primeiro álbum solo, chamado The Eraser. Repleto de intervenções eletrônicas e com aquelas mesmas linhas vocais que estamos acostumados a sofrer de tão boas, parece um chute no saco a sensação que se tem ao ouvir pela primeira vez. Caso você, mulher, que está lendo esse texto, imagine uma grande cólica menstrual ao invés do chute no saco.
Deixo uma música dele, sem elementos eletrônicos. Um adendo, no original, The Clock possui mais ruídos do que aquele velho vinil do Balão Mágico.

sábado, agosto 25, 2007

The Kooks

quarta-feira, agosto 22, 2007

abraçado ao corpo


Estou no quarto, deitado na cama, olhando para o nada. Estou em "dois a rodar". Acabei ficando tonto e despenquei do sétimo andar. Desmaiei no travesseiro de folhas secas. Olhei para o lado e imaginei a vida. Acordei com a boca repleta de sabão. Foi então que eu avistei ao lado uma tristeza em forma humana. Abri um sorriso. Lancei algumas falas de bolhas de sabão. A cada bolha que explodia, minha voz entrava no ouvido alheio. Aos poucos consegui tirar o desânimo dos olhos castanhos. Abri outro sorriso. Fechei em um beijo, longo, suave e molhado.

Enxergo de longe, com os olhos fechados, a neblina gelada da madrugada do litoral. Os peixes celestiais transitam no ar fugindo dos gatos noturnos. Admiro o carrossel de caranguejos enquanto filo um cigarro. Cuspo no céu uma supernova. Ela viaja e adentra no corpo de Afrodite. Carinhosamente ela me manda um beijo. Agarro no ato e fico estático.

Desempenho uma função ímpar de trocas interplanetárias, condensando o universo em um copo de café. Tropeço nos cacos de vidros de vodca. Cheiro à fumaça. Fecho os tímpanos para não ouvir a canção. Mas não adianta. Obedeço e sigo com o dia, abraçado ao corpo. Silêncio. Mortal. E absoluto.

terça-feira, agosto 21, 2007

Tocando o Terror


Esse escrito é dedicado e feito em homenagem à Stella, a mulher mais foda do mundo mundial.


Levanta o corpo
Da horta sonora
Embora as plantas
Estejam mortas.

Joga no rosto
Um pouco de sal
E sinta o caos
De puro gosto.

Balance o colo
Na pista de dança
E lance um passo
De compasso fácil.

Acenda o cigarro
E aspire o veneno,
Faça um gargalo
Espirrando o azedo.

sexta-feira, agosto 17, 2007

Deserto de Sal


Algumas letras batem no ouvido, descem ao coração e atingem o cérebro de uma maneira tão certeira e fulgaz que são capazes de levantar os sentimentos, seja lá os quais forem: ódio, amor, tristeza ou alegria.
Eu nunca gosto de comentar sobre a banda Wado e o Realismo Fantástico por puro egoísmo, pois quero a banda somente para mim, não quero que os outros comecem a gostar também. Tenho tantas outras bandas que conheço e não revelo nem aos amigos. É claro que outras muitas pessoas já as conhecem, porém, os próximos ainda não. Portanto, deixo estar. Tenho um lado egocêntrico bem aflorado.
Não tinha como deixar a oportunidade passar e não mencionar o Wado e o Realismo Fantástico dessa vez. Eles atingiram uma perfeição no terceiro álbum, A Farsa do Samba Nublado, que levantaria até o Noel Rosa do túmulo - Deus o tenha, amém. O Wado, após os dois primeiros álbuns, também bons, desenvolve letras simples e espertas, proporcionando um sobro no coração, no sentimento cavocado, na alma mais aberta.
A miscelânea sônica do trabalho é muito bem dosada, com reggaes, melodias pops, rocks, sambas e gêneros musicais do folclore alagoano. Não vejo a hora do quarto disco.
Segue a letra de Deserto de Sal, de autoria do Wado e do Alvinho.


Se a tristeza fosse tanta que permanecesse muda:
Então seria pior
Ainda há esperança no chorar soluçante,
No cantar gritando.

Nos ombros, como papagaios, carregava corvos
E dentro dos lábios o silêncio mudo
No peito um cemitério de ex-amigos mortos
E enterrar os mortos, desapegar os ossos
Confirmava a vida o que é bom: desprendimento
Ainda há vontade de andar: o que é bom
E embotado nos olhos,
O negrume vazava de dentro da carne.

No peito um cemitério de velhos sonhos mortos
Nenhum plano vagava no deserto de sal
E num dado momento parecia até que o sol ia nascer
E era mais uma estrela decadente
No deserto de sal.

quarta-feira, agosto 15, 2007

A vida não vale um Fiat 147


A vida não vale um Fiat 147
Não serve no aluguel
Não comporta a cesta básica
Não enche o tanque de gasolina
Não vale o maço de cigarro
Não suporta o Jornal Nacional
Não sustenta o vício
Não cabe no saco de farinha
Não absorve o sangue
Não entende o Plínio Marcos
Não entende o terrorista
Não entende o Hunter Thompson.

A vida não vale um Fusca 68
Não enche a barriga da criança
Não cabe no litro de cachaça
Não preenche o livro do poeta
Não fecha o baseado
Não entra na vagina da puta
Não compreende o vagabundo.

A vida não vale um pneu furado.

quinta-feira, agosto 09, 2007

Pessoa Perdida Procura – Capítulo Dois – Dummy


O sol estava se despedindo. Um bonito fim de tarde em Guaratuba. Eu aceitei a carona da Gisele e entramos em seu Golf vermelho sangue. Ela disse que tinha a impressão de ter me conhecido no Porto Pier 3, um local que deve comportar umas 90 pessoas, tem dois pavimentos com bar e lanchonete. O lugar era bem agradável. Vagamente eu recordava que já tinha passado por lá. Só não lembrava ainda como tinha parado na estrada entre Coroados e Guaratuba.
- Aliás, qual é o seu nome? – Perguntou a farmacêutica de lindos olhos negros.
- Eu não tenho certeza quanto a isso, mas acho que me chamo Israel. – Foi naquele momento que me dei conta que estava sem a minha carteira. Enquanto Gisele dirigia em direção ao posto de saúde e ouvíamos no som do carro um disco do Portishead, se não me engano era o Dummy, vasculhei a minha mochila. Não encontrei porra nenhuma de carteira. Mas, entre os CDs soltos e a edição do Misto-quente, do Bucowski, estava a minha agenda. Abri. Foi quando caiu minha carteira de motorista (ainda bem, eu sabia dirigir), minha identidade, um cartão de um motel, uns papéis de seda, uma foto, um cartão magnético do Banco do Brasil e cerca de 2.500 reais em dinheiro vivo. Fiquei mais confuso. Não tinha idéia sobre aquele dinheiro.
- Acho melhor você guardar esse dinheiro, você não tem carteira? – Disse Gisele ao som de Glory Box. Eu poderia estar confuso quanto à minha identidade e ao meu passado, mas nunca esqueceria a voz de Beth Gibbons.
- Não sei Gisele. Eu acho que tinha uma carteira. Talvez eu tenha sido roubado. – Comentei a ela. Àquela altura da situação eu já tinha contado a ela a minha saga de um rapaz com pouca memória recente que tinha acordado em uma estrada, sem lembrança alguma de como eu tinha chegado lá.
- Eu tenho certeza. Eu te vi na noite de ontem no Porto Pier. Você estava com uma turma, digamos, alegre. Se não me engano vocês estavam em cinco pessoas. – No momento em que Gisele começou a me falar aquilo, alguns flashbacks foram surgindo.
- Tinha um rapaz com cabelo moicano. Ele vestia uma camiseta do Art Brut. Eu fiquei intrigada, pois ninguém por aqui conhece o Art Brut. Eu até puxei conversa com ele para saber onde ele tinha comprado a camiseta. Aí ele disse que um amigo dele tinha mandado de Chicago para ele. E aí voltei a beber com as minhas amigas. – Disse uma empolgada Gisele que não parava de balançar a cabeça no ritmo de Glory Box.
Chegamos, enfim, no posto de saúde. No momento em que Gisele estava manobrando o seu Golf vermelho sangue, escutamos um barulho. E não era da música do Portishead. Um outro carro tinha acabado de bater na gente.
Puta que o pariu filha da grande vadia universal. Apenas pensei, não disse em voz alta.
- Puta merda! – Sim, foi a Gisele que disse isso.

(A história continua nos próximos posts).

quinta-feira, agosto 02, 2007

Pessoa perdida procura - Capítulo 1


Não lembro ao certo como aconteceu. Eu estava perdido em uma estrada que ligava Coroados a Guaratuba. O problema era que eu nunca recordava como tinha chegado àquele lugar. Era como se eu estivesse dormido na minha cama e acordado na estrada. O pior era que eu não tinha nenhuma pista de como eu havia chegado lá. Eu tinha apenas um relógio de pulso de cor cinza com o ponteiro dos segundos quebrado e uma mochila com alguns CDs, um disk-man, uma garrafa de Jack Daniels, uns maços de cigarro, uma edição do "Misto-quente", do Charles Bucowski e uma agenda. Eu estava usando uma calça jeans azul clara, tênis Adidas, uma camiseta rasgada com os dizeres "Lover Loser" logo abaixo de um desenho do Presto, um dos personagens da Caverna do Dragão. Se não me engano eu estava com um colar de sementes de alguma coisa e uma forte dor na coxa direita, o que me fazia mancar.
Caminhei por alguns quilômetros - dois, para ser exato - e encontrei uma sombra para descansar. Eu estava com uma sede absurda. Minha língua fervia devido ao calor do dia. Sim, me lembro de mais um detalhe, era dia e o meu relógio de cor cinza marcava 16h32. Encostei-me em uma dessas placas que mostram o limite de velocidade de uma rodovia. A estrada estava com o movimento fraco, pouquissímos carros tinham passado por mim. Talvez fosse período de baixa temporada. Não lembro. Tenho a impressão de que era inverno, mesmo eu não estando com frio.
Depois de alguns momentos tentando me ajeitar sentado no chão coberto por uma fina vegetação seca, abro minha mochila e pego o litro de Jack, meu melhor amigo naquela situação. Depois de três goles virados, exploro um pouco mais a companheira bolsa fabricada com um material sintético que não consegui descobrir qual era. A segunda coisa que a minha mão alcançou foi um CD. Eu lembro que adorava aquele som. A foto da capa mostrava uma mulher, na beira da estrada, com o vestido um pouco esvoaçante. Seus cabelos eram ruivos ou algo parecido com isso. Tori Amos era o nome da artista, compositora jucunda de lindos traços labiais, de voz afiada que cortava qualquer coração corrompido. Minha faixa predileta deveria ser a número 7. Adoro as faixas com esse número de qualquer álbum, mesmo que as canções sejam ruins. Eu lembro que no álbum do Los Hermanos, aquele em tom opaco, a faixa 7 se chama "Sentimental", adoração absoluta de qualquer fã hermanico. Já a faixa 7 do disco "V", da Legião Urbana é "Vento no Litoral", minha favorita. Sem falar do ótimo "Siamese Dream", do Smashing Pumpkins. A faixa 7 é "Soma". Perfeita.
Fiquei admirando por alguns minutos aquela capa, imaginando como a foto foi tirada, como era a cara do fotógrafo que registrou o momento e como a Tori Amos estava considerando aquela sessão fotográfica. Muitos artistas do mundo pop não suportam esses momentos de pós-produção de um trabalho fonográfico. Vários abandonaram sessões fotográficas e foram encher a cara no bar mais próximo. Mas, também existem aqueles que amam fazer isso, acompanhar o processo de pós-produção, dar palpite na composição gráfica do encarte, administrar a carreira de perto. A Marisa Monte faz isso muito bem. Naquele momento, com aquele sol queimando o meu rosto, me causando mais sede, eu apenas pensava que a Tori Amos deveria estar adorando aquele momento. Eu poderia estar errado. Ela poderia estar apenas se fazendo, interpretando, mostrando uma das várias personagens presentes em suas canções. Eu só conseguia ficar pensando nisso, tragando um cigarro e bebendo o Jack.
Parei de pensar na Tori quando uma fisgada na coxa direita interrompeu o meu momento de imaginação profunda. Não conseguia lembrar como eu estava naquela estrada, com a coxa fodida e apenas alguns objetos na mochila. Respirei fundo e olhei novamente o meu rélógio. 17h05. Fazia 43 minutos que eu estava naquela situação. Parecia que eu tinha acabado de nascer e completava 43 minutos de vida. Parecia que eu tinha nascido grande, com uns 20 anos já, com um conhecimento musical interessante, fumante, bebum e com a coxa machucada. Não recordava o passado.
Levantei do chão e resolvi continuar a caminhada rumo ao lugar nenhum. Aos poucos as lembranças foram surgindo em forma de flashbacks. Eu sabia que estava entre Coroados e Guaratuba, litoral do Paraná. De certa forma, eu não estava perdido. Segui em direção à Guaratuba, com a coxa doendo cada vez mais. Tentei várias vezes uma carona, mas fui ignorado em todas as tentativas. E olha que eu não estava com um aspecto sujo, não estava com cara de bêbado, não estava fedendo e nem parecia um mendigo. As pessoas de hoje não confiam em mais ninguém.
Após cerca de 50 minutos de caminhada inundada por pensamentos que procuravam pela memória recordações ou pistas para que eu pudesse tomar alguma atitude, chego em Guaratuba. Ao longe eu ouvia as ondas morrendo na praia. Fui recebido pela brisa marítima que jogou um pouco de vontade no corpo. E a coxa incomodando. Dores e pontadas constantes. Minha coxa não apresentava nenhum sinal de pancada e sangramento. A olhos nus estava perfeita. Mas doía muito.
Segui quase me arrastando. Avistei uma farmácia e consegui com esforço estratosférico chegar até ela. Um rapaz moreno de pele queimada, olhos castanhos, cabelo curto e cílios grandes me atendeu. Tinha uma cara de nativo e surfista de final de expediente. Rogério era o nome dele, estava no crachá. Expliquei a ele a minha situação, porém, o moço não se mostrou nem um pouco comovido e disse que iria me encaminhar à farmacêutica para ver se ela poderia me ajudar quanto às dores na coxa.
Entrei na sala da farmacêutica e um par de lindas bolas negras me receberam. Rogério me apresentou à Gisele, responsável pelo lugar. Não pude conter a minha admiração. Os olhos da mulher eram misteriosos, profundos, encantadores, perfeitos e hipnotizantes. Após alguns segundos encarando-os, escuto uma voz vinda de longe:
- Você está bem? - Percebi que o assunto era comigo e balancei a cabeça afirmando que sim. Em seguida veio outra pergunta:
- Tem certeza? Então por que você está aqui? - Na verdade foram duas perguntas dentro de uma ou seria uma dentro de duas? Tanto faz. Foi aí que eu expliquei sobre a minha dor na coxa direita que estava simplesmente tomando conta de toda a minha perna. Gisele, sem fazer cerimônias, pede para que eu tire a calça. Eu me fiz de desentendido e exclamei:
- O quê?
- Oras, tudo bem que não sou ortopedista, mas tenho um mínimo de conhecimento para saber o que você tem na coxa, além de carne, músculos, sangue e ossos. Mas, para que eu possa verificar ao certo, preciso examinar a sua coxa, portanto, tire a calça. - Soltei um lindo sorriso amarelo e percebi que o tal do Rogério ainda estava na porta da sala da farmacêutica. Olhei para ele com cara de descontente. Ele saiu.
Abaixei a calça jeans sem marca definida. Percebi que estava sem a cueca. E escuto:
- Você prefere deixar o bicho solto pelo jeito. - Putz! Penso eu. Mas como eu iria me lembrar daquele detalhe se nem sabia como tinha parado ali. Tudo bem, totalmente sem jeito expliquei onde era a dor.
- Muito estranho, você não tem nenhum sinal de hematoma, nem ferida, nem sangramento. De repente você pode estar alguma distensão muscular. Vou passar um medicamento para você e sugiro que você procure algum posto de saúde. Tem um bem aqui perto, se quiser posso levá-lo. - Adorei ouvir aquilo, uma pessoa querendo me ajudar. Foi então que ela disse:
- Desculpe, isso vai parecer muito clichê, mas tenho a impressão de que já vi você em algum lugar. -


(A história continua nos próximos posts).


quarta-feira, agosto 01, 2007


Doce necessidade de vazar. Vejo com as mãos, mas sou cego dos dedos. Procuro com a língua, mesmo ela sendo surda. Ouço, então, pelos olhos que um pouco escutam. Confundo o céu da boca com o fim do mundo que muito próximo saiu em câncer do meu pulmão. Por isso, agora, eu quero vazar antes que eu volte a confundir.