Meu nome é Leonardo Silveira Handa. Jornalista. Perdido. Achado. Amante. Radialista.

domingo, agosto 28, 2016

O amor é repleto de cagadas. Fétidas. O amor não cega, arranca as córneas. E os cornos. O amor é alimento de impropérios, de consequências desnecessárias. De dores. O amor é um estado imaginário que, quando acordado, se revela um abismo. O amor, do início ao fim, é chagas. É merda. O amor causa arrependimento. Se isso matasse, como diz o dito popular, muitos estariam vivos. Ou seja, óbvio, mata sim. Não disseram que o amor é cólera? É também sarampo, catapora, dengue, varicela, caxumba e hepatite. O amor é doença. Qual a razão de ficar sofrendo por ele? Qual o valor moral que isso causa no desempenho de viver? Qual o fruto que pode ser colhido? A maçã? Que se foda. O verdeiro amor é coisa morta, é Romeu e Julieta. O amor é podre.
lsH.

segunda-feira, agosto 22, 2016

Terça-feira. 21h39. Meu radinho toca uma canção do Nick Drake, o que me faz pensar naquele amor que deixei no litoral, num dia cinza de setembro, todo molhado pela lágrima de um São Pedro traído. Os barcos voltavam sem peixes e os rostos dos pescadores eram de tamanho descontentamento que até Hitler ficaria com pena. Lembro de ter olhado no fundo de sua pupila e lido um sentimento de desespero, mas com um resquício de esperança adocicada pela bala que você mordia.
O vento do mar levantava o seu cabelo castanho e você passava a língua nos lábios, como se estivesse sentindo o gosto do sal que era transportado pela brisa. Aos poucos os pescadores amarravam as suas embarcações. Assim que terminava mais um dia, o sorriso ia retornando às faces, cada qual contentes por ter a certeza de que uma morena estaria esperando na porta de casa, com o jantar pronto e todo o carinho possível para oferecer. Eu tinha comentado exatamente isso enquanto a nuvem mais pesada foi se diluindo no céu, dando lugar à primeira estrela a surgir. Aquela cena dos pescadores indo embora, não sei porque, chamou a sua atenção. Presenciei uma lágrima. Cheguei mais perto e te abracei com todo o calor que pude proporcionar. Você retribuiu.
O feriado estava acabando e o meu retorno era necessário. Lembro de ter te deixado naquela praia. Foi a última vez que te vi. No ano seguinte a maldita doença levou a sua presença e o que sobrou eu ouço todos os dias: essa canção do Nick Drake que não sai do meu radinho. Agora o pescador sou eu, retornando de um mar sem peixe e sem uma morena para dar o carinho necessário. Mas, no fim das contas, sabemos que é preciso fases de tristeza para termos períodos de felicidade. Um é complemento do outro. Um pro outro.

domingo, agosto 21, 2016

Toda zona de conforto tem saída. Por isso a importância de se reinventar a cada semana, nem que seja simples escapadas, como mudar a rota de chegar ao trabalho, uma salada diferente no almoço, uma carne moída a menos, um suco a mais, um beijo mais caloroso, um abraço mais intenso ou um olhar menos mórbido. Nem que seja filosofia barata.

quinta-feira, agosto 18, 2016

O carisma escorrendo pelo rosto como se fosse uma maquiagem vagabunda. A lua lamuriando um abandono desnecessário. E os gerúndios correndo soltos no amanhecer. O fruto do amor comido pelos dentes fortes. O abraço interrompido como uma virgem estuprada. O caos ao sal com sabor forte de vodca falsificada. A voz do Sérgio Sampaio narrando a figura e o coração explodindo sangue contaminado pela Hepatite. O dilema do cantar desafinado querendo a atenção necessária, mas o vácuo da memória implantou cifres esplêndidos. O primeiro raio de sol rebatendo na face, enquanto a penúltima lágrima suicida desaba do carisma escorrido do rosto, como se fosse uma maquiagem vagabunda comprada em catálogo on-line.
Sei lá. Bateu uma saudade. Ao mesmo tempo, aqueles pensamentos de que poderia ter sido diferente. De repente, minha atitude menos afoita, menos virginiana, mais reticente. Confesso e admito: os erros, que eu acreditava acertos, foram manifestações hiperbólicas de algo sobrevivido, mas que não deviam ter sido aplicadas. Nem contigo. Nem com ninguém. De toda a forma, ficou aqui, ardido, algo que eu poderia ter dito, contudo, repito, não me permito. Apenas digo: bateu uma saudade. Não daquilo, nem disto. Uma saudade do que foi vivido.

domingo, agosto 14, 2016

Eu sinto saudades. E tenho dito. Não é muito legal ficar longe de quem amamos, de quem queremos um carinho neste momento. Não é preciso sentir vergonha em chorar a distância. É preciso vergonha de não dizer o que sente a quem você ama. É um clichê lazarento que não é aplicado pela maioria. Aí ficamos pelos cantos, como coitados que precisam do quê? De expressão.
Eu sou do tempo em que a gente se telefonava, já dizia a cantora Bluebell. E como é bacana receber ligações, mesmo que tarde da noite, de amigos queridos. Apesar dos anos, a ferrugem nunca descansa. Ok, tentei parafrasear o Neil Young e não ficou muito bom. Mas são esses pequenos momentos da vida que nos fazem abrir um sorrisão. Te amo cara! O legal é a dor no ouvido, depois de ficar 1h52 ao telefone para colocar o papo em dia. Minutos que foram insuficientes, no fim das contas. Tive que desligar. Não ia cagar falando contigo no telefone, né? Um mínimo de respeito, apesar da amizade.
Bang Bang Tatuquara
Um novo corpo delatado pelo cheiro
Que exalou entre árvores cinzas
Nascidas do concreto interminável
Que cobre o renascimento de outros.
O frio da bala queimando o quente
Fez os olhos brilharem agonia
Quando o mesmo tiro de alegria
Adentrou narinas na noite e no dia.
Divida aqui não cumprida
É paga com os dentes explodidos
Com direito a capa na Tribuna
E demais sorrisos do autor.
Pode ser uma letra ao invés de um sorriso?
Você diz que estou chato
Mas não se liga.
Acredita que o errado agora sou eu
E não percebe que só quero atenção.
Faz de conta que sou segundo plano
Acha que pelas circunstâncias eu tenho que entregar
Pois fui o seu sofrer.
Justifica com o vago
E ainda quer sorriso e amor.
lsH
E a vida se fez de louca, arrancou pela boca o coração e desperdiçou inúmeros momentos de alucinação. Arrastou-me para o espelho a figura invertida, me abriu uma ferida na perna esquerda e se transpôs em clorofila. Insetos medonhos expulsam as cáries dos meus dentes enquanto a canção que toca na hora errada é de uma lésbica apaixonada pela metáfora dos cabritos.
A faísca do retardado insiste em achar a resposta complexa do achado, mas são de idiotices que as luzes das incertezas aproveitam os vômitos dos condenados a fim de concluir burrices de absurdo. O traçado paralelo pulsa com disritmia e tropeça em um buraco que acaba com a tese. Os outros ainda procuram chamar e desistem por estarem atordoados. Mensagens cifradas cospem do retrato a poesia com sabor de asco que o asno rosna em um roçar de vocais.
O trunfo do fluxo de escárnio escorre pela boca que se esconde por ter razão da fúria do provérbio claustrofóbico. A ave em fogo sobrevoa o arquipélago dos perdidos que encontrados acenam beijos ao luar.
E a vida se fez de louca.
Não adianta,
Quando dá aquele bode
Tudo fode.
o jeito é beber uma água
Deitar na cama
E torcer para
Que ninguém
Te acorde.

segunda-feira, agosto 08, 2016

Pense que ainda existe amor.
Está na esquina, no copo do bar.
Ali embaixo do nariz, do chafariz.
Nos deslizes da mão do jogador.
Pense que ainda há.
Permanece em Bagdá
No coração do homem bomba
No olhar das pessoas de lá.
Pense que ainda existe amor
No carro que só pega no tranco
Em sua pele morena do sol
Nas ruas da cidade de Pato Branco.
Pense que ainda existe
Consiste em observar
Perto daqui, longe do mar.
No simples ato de se abraçar.
lsH.
Negras, belas
Em tabelas
De contas
A massagear:
Olhares, egos,
Nos mais
Lindos passeares.
Em lares, bares,
Cidades,
Com saias
Floridas
De pétalas norteadas
De puro
Encanto
Em todos os cantos
Que os prantos
Ousam parar
Só para vê-las
Elegantes e galantes
A cantar.
lsH

domingo, agosto 07, 2016

Ela passa desfilando ácido pelas calçadas úmidas da cidade negra. Sorri favores como se fosse uma bomba de Napalm pronta para explodir em guerras orientais. Exala fumaça do peito reformado por um estagiário do Pitangy. Sua presença nas ruas inibem os outros seres noturnos. A força do seu olhar corrompe crianças que buscam diversão. Está com meias rosas que somente são descobertas quando Onças espirram de carteiras. Seus lábios não usam qualquer batom. Seu corpo não veste qualquer pano. Ela é distraída, já causou acidentes de trânsito. Ela é perseguida, mas a polícia é sua amiga.
Às vezes vaga solitária pelos bares da cidade. Acende e fuma cigarros Marlboro. Bebe hi-fis turbinados, como se fossem urina do diabo. Não é um tipo descartável, mesmo sendo a favor da ecologia. Já usou casacos de coalas. Têm noites que fica só fazendo cena, manifestando vontade até em pederastas. Mas a maioria quer analisar as suas unhas.
Certo mês quase caçou um deputado. Mas ele não entendeu a sua profissão. De tanto amor, ele acabou tirando a vida. A própria. Ela derruba corações, estraçalha casamentos. Pura diversão. Ela é dona do seu negócio. Sabe a hora de usar, entende o poder, administra sagazmente. É figura constante em assuntos empresariais. É uma mulher de sucesso. Como a economia dinamarquesa, poucos conseguem tocá-la.

quarta-feira, agosto 03, 2016

Qual o problema em ser direto?

Tudo ia bem. Vocês nem se conheciam pessoalmente, mas começaram a conversar pelo Facebook. Depois passaram para o WhatsApp. Trocaram fotos de momentos diários, de comidas, de filmes e de seriados. Falaram sobre signos, ascendentes e sol em virgem ou sagitário. Chegaram até a trocar confidências e preferências sexuais, tudo com o intuito de saberem mais sobre si, antes de trocarem fluidos. De repente até mandaram uns nudes. Aliás, esses dias, estava conversando com um amigo e nos indagamos: as pessoas tem tanta pressa hoje em dia que já querem se ver nuas de cara, sem mesmo precisarem estar cara a cara. Coisas de Snapchat. E, talvez, por causa dessa urgência, depois que acontece o sexo, de fato, as coisas ficam efêmeras. 
É a partir daí que tudo o que ia bem, desanda que nem maionese feita por mulher menstruada. As fotos dos momentos diários não são mais mandadas, quem dirá uma foto de algum café gelado com uma coxinha recheada com cheddar. Os signos começam a se desentender e o que era calor vira um gelo da Sibéria. Você tenta entender o sumiço repentino da pessoa, percebe que ela visualiza sua mensagem, mas nem sequer se permite a mandar um emoticom. Começa a pensar asneiras, besteiras, sandices. "Será que o sexo não foi bom?", "O que será que aconteceu?", "Não curtiu o meu papo?", "Não gostou dos meus carinhos?", "Não gostou do meu olhar", "Não gostou de eu ter dado atenção demais?". "Me mostrei apaixonado e isso causou medo?". E só para deixar claro, não era não. Era apenas interesse. Só isso. Simples. Bem simples. Não precisava dizer, numa segunda-feira, que no próximo final de semana estaria ocupado, já dando a dica para não convidá-lo a nada. Ok, a gente entende. 
Mas, o que eu quero dizer: cara, nada melhor do que ser direto. Não precisa de rodeios, não precisa de floreios, pode mostrar o desinteresse na cara. Pode magoar? Claro que sim. Contudo, melhor isso do que alimentar o pensamento, pois isso é culpa sua, e também do pensante. Porém, se você pode ajudar, sendo certeiro e, acima de tudo, sincero, ajuda bastante, não engorda, não dá espinhas e alivia a mente do outro. 

terça-feira, agosto 02, 2016

Eu quero recomeçar. Não o amor, mas a vida. Seja aqui ou acolá. Com um tiro na fonte ou numa carteira de cigarro. Quero recomeçar pela morte. As pessoas subestimam demais o niilismo. Qual o mal nisso? Nem sabemos ao certo se existe vida depois desse plano. Nunca tentei isso como reinício. Talvez esse seja o argumento do suicida. 
Já tentei reiki, espiritualidade, catolicismo, fluoxetina, meditação, Deus, deuses, umbanda, o caralho. Tentei também sexo desenfreado, limpo, sujo, rápidos, devagar, com carinho, sem carinho... Joguei-me no café, na água benta, no chocolate, nos filmes de comédia romântica, nos tratamentos holísticos, no banho com sal grosso... Nada, nada acalma. 
Já tentei na psicologia, na psiquiatria... No Jung, no Proust, no Bukowski, na puta que o pariu... Nas artes, nos exercícios físicos, na bebida, nas drogas. Só não tentei sumir de vez.