Meu nome é Leonardo Silveira Handa. Jornalista. Perdido. Achado. Amante. Radialista.

sábado, abril 27, 2019

A dúvida que fica
A dúvida que passa
Há dúvida ainda
Em cada letra, relaxa.

O acordeonista



A paz, apenas uma, no singular mesmo, simples e sincera, ele queria. Envolto na névoa, abraçado ao seu acordeom, pensava como o último ano tinha sido belo, com o amor pleno, o cantar sereno e as melodias encantadoras. Mas o acaso, primo-irmão do destino, cunhado do agora, despertou-se de um sono maluco, em que a cocaína lhe deu frenesi e vontade de acordar para causar o tumulto. O músico, que havia se acostumado com a vida do hoje, teve junto ao acaso uma briga dilacerante, onde o principal afetado foi o cérebro, que ganhou uma linda síndrome que retirou do lugar os seus pensamentos. Ele só queria seguir tranquilo pela composição perfeita a qual acreditava ter realizado. Enganou-se.
Certa vez, ao se apresentar numa comunidade do interior de uma cidade pequenina, presenciou a ladainha de um fazendeiro que tinha a sensibilidade tremenda de causar intrigas. Esse senhor, que apresentava-se honesto, tinha escondido nos olhos uma maldade voraz, como o raiar de uma segunda-feira infernal. Não se sabe ao certo, porém, dizendo-se gostar do acordeonista, o convidou para uma festa em sua propriedade. Ao chegar lá, os convidados o olharam estranhamente. Mal sabia que o senhor tinha lhe pregado uma desgraça. Espalhou para todos que o artista tinha fama de mentiroso, que enganava as pessoas porque havia nascido com a ganância no corpo e que, apesar das suas lindas músicas, não passava de um ridículo aproveitador.
Mesmo com a boca e os dedos trêmulos, pôs-se a cantar e a tocar uma canção que dizia mais ou menos assim: "Mentiras pingando da sua boca como sujeira / Mentiras em cada passo que você dá / Mentiras, sussurrou em muitos ouvidos".
Todos naquele momento perceberam que tudo estava estranho e começaram a jogar seus copos de vinho em direção ao palco. Um vidro acertou seu olho, cujo sangue tingiu sua camisa de seda, presenteada pela sua mãe. Calmamente, desplugou seu instrumento e berrou ao microfone: "O poder da influência se trata de ganância quando não há uma ferramenta sincera para se construir o belo. O entendimento de vocês, em abraçar apenas um lado, cegos pelas posses e pelo poder desse senhor fazendeiro, não dá a ninguém o direito de julgar". Mais copos foram jogados.
Hoje, ele apenas queria ser um canário do reino, mas teve sua reputação calada gratuitamente, sem entender o motivo. E, após uma época de maravilhas colhidas, enxerga nos sonhos os olhos debochados do fazendeiro que, simplesmente, sentia inveja de não ter nascido com o dom musical, tão pouco, com a voz encantadoramente rouca do acordeonista.

segunda-feira, abril 15, 2019

Para você que flutuou os meus sonhos mais eróticos,
Daqueles em que o mínimo era as roupas rasgadas,
Que uma engasgada não significava nada,
Que uma picada era o lindo em sua bunda.
Para você, o amor que me torturou, que me enlouqueceu, que deixou os meus dias em calafrios com o seu não tentar.
Para você, o meu pulmão de fumante, o meu corpo de alcoólatra, a minha fraqueza desesperada.
Para você que perfurou, mesmo sem saber.
Para você, os meus versos mais belos, mas nunca compostos.
Para você, a minha vida com trilha sonora vinda do nórdico,
Dos instrumentos mais inusitados, das partituras menos clássicas.
A você a minha rapsódia em si bemol para Guitar Hero.
Para você que me conquistou na primeira letra do verso nada romântico que deixou o meu sangue mais medonho.
Para você que me permitiu gostar de você, em sua cama, com a minha língua em cada pedaço do seu corpo,
Autorizando um adentrar, um gozar e um abraçar.
Para você que me ofereceu a melhor orelha para morder com a precisão que por vezes ficava demais afoita.
Para você que me aqueceu com um simples olhar. Para você que me deixou amar.
lsH
Do futuro, vamos
Consequência é preciso.
Ao ouvir reprovação,
Gosto,
Pois inquietação existe.
Do fundo do poço, aposto
É preciso ter cuidado.
E quando sorrir, desculpe
Mas mostrarei meu desgosto
Só para provocar.
as bases
é lindo quando
se fortalece
e reconhece
mesmo que
sem gostar
é o que
prevalece.
Faço algo para me distrair. Espantar essa coisa coisada nos olhos. Esse líquido de sono que escorre. Esse bocejo que não me socorre. 
Faz tempo que penso em algo para me consumir. Uma ira aguda na garganta. Um tiro na narina. Um barco sem marina.
Fico um bom período sem imaginar. Mas insiste um sonho. Um furo no peito. Um espaço sem leito.
Frasco vazio está presente no momento. Um moinho sem vento. Nordeste sem sertão. Gaúcho sem chimarrão.
Fracasso é o perceber do agora. Comemoração sem vitória, sonho sem dormir, coração sem sangue, lábios sem sorrir.
Vocês vão se dar mal
Defensores do bom costume
Que não se acostumem
Com suas indecisões
Pois a nossa decisão
Vai nos levar além
Algo que já aconteceu
No pior sentido
Que levou para lá
Uma mulher que não defendia
O seu bandido de estimação
São vocês que não entendem
Que direitos humanos
Não são a mesma coisa
Que assassino e ladrão
Como é difícil compreender
Algo tão simples?
O cérebro secou?
Por que piorou?
Agora se o policial morreu
Querem o mesmo pedestal?
Sugerem que os valores inverteram
Mas foram os seus que desvalorizaram.
E hoje eu estou puta
E quero inverter junto aos outros
E engrossar o coro
Porque já nos disseram:
Feminino de luto
É luta.
lsH

quarta-feira, abril 03, 2019

A vida
Ávida
à vida
a vista
Vista
Mista
Insista
Persista
A vida.