Meu nome é Leonardo Silveira Handa. Jornalista. Perdido. Achado. Amante. Radialista.

terça-feira, julho 30, 2019

Um Beijo no Marlboro

Ali de bobeira
Encostado no muro
Meu sangue quente
E o seu filtro me chamando.
Tenho em mente a maldade
A crueldade dos anos
E as consequências do agora
Mas você me satisfaz,
Muito mais que não demora.
Não demora o meu prazer
Não demora o meu fazer
Não demora o seu caráter
Não demora o seu querer.
Ali de bobeira
Deitado no capô
Vejo as estrelas adormecerem
Enquanto te beijo calmamente.
lsH

Sorriu

Minha memória me trouxe algumas saudades. 
Instantes não frequentes de encontros e realidades. 
Certas, deveras, seriam imaginações. 
Mas quis os bons astros que não. 
E é por isso que ela me relembra de coisas lindas. 
Constantes sorrisos e abraços compartidos. 
Compaixões de dias sofridos, mas alimentados com esperança. 
Hoje, crescida, a criança berra outros sortimentos. 
Os sentimentos, contudo, prosseguem mesmo que esquecidos. 
Desejou hoje que lembrasse aquele tempo, de flor na cabeça, de bata rasgada e cigarro mentolado. 
E sorriu.
lsh

segunda-feira, julho 29, 2019

Observação


Eu gosto dos olhares que se encontram na rua
Dos sorrisos tortos que se comunicam.
Eu gosto dos perdedores de face nua
Que não tem medo de mostrar a fragilidade.
Eu gosto das pessoas que frequentam boteco
Que não tem o medo de expor suas vidas
Que contam seus causos
Em forma de deliciosas mentiras.
Eu gosto dos diferentes, das mulheres
De braços tatuados e colares extravagantes.
Eu gosto daquelas que não alisam o cabelo
E deixam que a bagunça balance livremente.
Eu gosto dos barbudos, com seus braços finos
E suas camisetas de 3 números a mais.
Eu gosto das sutilezas da MPB
Das letras diretas que tremem o coração.
Eu gosto da Tiê e seus poucos acordes
Que me fazem molhar a ponta da cabeça.
Eu gosto de sentir o cheiro do seu cabelo pela manhã
E tocar o seu sexo só para incomodar.
Eu gosto das imperfeições malandramente instauradas
Nos rostos dos miseráveis que sabem sorrir.
Eu só odeio a segunda-feira, mas todas as coisas
Necessitam de um início, inclusive a observação.
lsh

sexta-feira, julho 26, 2019

Coisa desprezível


Tenho naquilo em que o meu ódio se manifesta
A mais nefasta sensação de desconforto em vida.
Carrego em mim essa loucura disfarçada de calma
Mas uma espada está cravada no meu coração.

Tudo o que eu faço parece ter o efeito inverso
Como se o universo estivesse anunciando o fim
A única forma de suspiro tranquilo é encontrado
Quando meus olhos se fecham, simulando a morte.

A confusão da sua visita junto ao meu corpo nu
Faz os meus dedos respingarem sentidos pestilentos
A mente retorce argumentos pifiamente vis
E a cabeça adentra o espiral da psicose permitida.

Cansado de me lançar aos braços da esperança
Recordo os tempos quando eu não a tinha
E é para o passado que desejo imensamente voltar
Mesmo que me feche o futuro de possibilidades.
lsh

quinta-feira, julho 25, 2019

Declínio


Para o alívio, respiração.
Mas às vezes, não é condição.
Tenho a loucura no corpo
Que me deixa um ser torto.

A cabeça é uma aflição
Que desesperadamente fala ao coração:
- Querido, chegou a hora.
No entanto, não é agora.

O olho se torna um vulcão
Que só jorra confusão.
Procuro qualquer alívio
E encontro doses de declínio.
lsh

domingo, julho 21, 2019

Iguais a nós se põe percebido

Na constante dessa hora
Vou embora do dessabor
E levo comigo o ventilador
Porque para onde eu vou
Bate um tremendo calor.
O seu sorriso
Eu levo na memória
Outrora quiséssemos algo
Que não fossem apenas lembranças.
Agora visualizamos a casa vazia
Os discos em uma caixa de papelão
E nos meus braços o Jamelão.

Um último beijo, por fim, desistimos
E seguimos cada qual um sentimento.
O ódio já foi esquecido e, estremecido
Tornou-se aquela comodidade
Que talvez, somente com a idade,
Iguais a nós se põe percebido.
lsH

sábado, julho 20, 2019

Eu Vou

Eu vou fumar todos os cigarros. 
Vou desaparecer com a fumaça. 
Vou consumir todos os remédios. 
Vou sumir com a ansiedade. 
Vou procurar todos os métodos, vou seguir nos erros. 
Vou revirar os vodus. Vou beber a macumba. 
Vou ao submundo. 
Vou morrer para ressuscitar. 
Vou beber aquele veneno. 
Vou tragar todas as derrotas. 
Vou viver a mesma situação. 
Vou amar outra pessoa. 
Vou prosseguir como estorvo. 
Vou seguir como perdido. 
Vou chorar a mesma música. 
Vou escrever um novo roteiro. 
Vou estraçalhar o meu peito. 
Vou cuspir o azedo. Vou dar um beijo seco. 
Vou chupar o amargo. 
Vou contar os segundos. 
Vou atirar nos minutos. 
Vou atropelar um coração. 
Vou sofrer o caramba. 
Vou reviver o futuro. 
Vou viver o passado. 
Vou praticar o presente. 
Vou me perder na estrada. 
Vou pedir uma carona. 
Vou viajar pelo deserto. 
Vou ser amigo da solidão. 
Vou encontrar a derrota. 
Vou cortar a cabeça. 
Vou cheirar óleo diesel. 
Vou ressecar o olho. 
Vou furar a mão com um prego. 
Vou subir uma montanha de pó. 
Vou sorrir a tristeza. 
Vou desapegar o contato. 
Vou desejar um abraço. 
Vou querer muito mais. 
Vou pensar no roçar de pele. 
Vou querer algo mais. 
Vou lembrar de você. 
Vou novamente sofrer. 
Vou correr pelas escadas. 
Vou encontrar o topo. 
Vou pular no abismo. 
Vou cair com os olhos abertos. 
Vou dormir para te achar. 
Vou sonhar para viver.
lsH