Meu nome é Leonardo Silveira Handa. Jornalista. Perdido. Achado. Amante. Radialista.

quarta-feira, dezembro 15, 2010

Amster dá

_Observo diretamente nos olhos. Algumas encaram tristes os seus destinos. Outras devem imaginar o que o dinheiro pode comprar. Elas podem ser mães. Podem ter namorados. Mas na moldura onde estão expostas, ninguém procura pensar sobre isso.
Suas peles são claras. Seus rebolados são cansados. A pouca veste vermelha de uma está desbotada. A maquiagem, borrada. E mesmo assim, se entrega. Que música estaria ouvindo mentalmente? Teria vontade de sair daquela moldura? O rapaz ao lado está de pica dura. O velho com semelhança de Sean Connery está desfalecendo. Meu amigo não tira a retina de uma morena. Eu apenas penso. Até me emociono. Não sei se foi o vinho barato ou a cannabis do coffee. De certa maneira o ambiente é poético. Imagino-me recitando Baudelaire no ouvido de uma. Na outra, um Verlaine. "No velho parque deserto e gelado / Duas formas passaram há bocado / Com os olhos mortos e os lábios moles / Mal se ouvem, a custo, as suas vozes. / No velho parque deserto e gelado / Dois espectros evocaram o passado: - Recordas-te do nosso êxtase antigo? - Por que razão acha que ainda consigo? Ela entenderia o que eu estaria dizendo? Imagino que sim. Muitas coisas das putas, o vale é a sabedoria.