Meu nome é Leonardo Silveira Handa. Jornalista. Perdido. Achado. Amante. Radialista.

quarta-feira, dezembro 20, 2006

Marginal


Meu cinzeiro está cheio até a borda. Cada cinza ali jogada é uma lembrança assassinada. O período é de reciclagem mental, limpeza a mais para armazenar outras memórias. Tantas outras já foram perdidas em copos de café com vodca. Somente os períodos felizes ficaram gravados, todos bem registrados ao som de Devendra Banhart, como se fossem um filme em pré-produção.
Aos poucos um novo roteiro surge, com fúria, música, sujeira e prosa, repleto de grotescos erros gramaticais. Por vezes a dicção também se perde, surgindo sons interessantes de pura irresponsabilidade. Novamente o lado marginal brota das entranhas um licor de saudades. Eu sei muito bem que a sua presença não quer bebê-lo. Eu insisto. Você aceita.
A noite invade o recinto vazio do meu quarto. A janela ainda está aberta. Acesso fácil aos insetos que se sentem atraídos pela luz estrambótica. Somente os distraídos caem na armadilha traiçoeira do intento. A artimanha planejada conquista o eleitorado. Não demoro e destilo o veneno guardado em meus dentes. Meu ferrão artificial é a arma menos mortal. Ainda tenhos nas palavras o mortífero golpe de piedade. Como é doce a sensação do vencer, do conquistar, do estraçalhar.
O tempo passa e todos os atos vão se transformando em cinzas. Todas acumuladas devidamente no cinzeiro, até que ele fique cheio, quase derramando pela borda. Após, as lembranças são jogadas pelo ralo. E volta o círculo vicioso hiperbólico, redundante e presunçoso. É pura maldade e marginalidade. Assim o sorriso se abre na boca rachada de pura malícia.

segunda-feira, dezembro 18, 2006

Acabei de ler no site da Folha de São Paulo:

"O deputado Antonio Carlos Magalhães Neto (PFL-BA) foi esfaqueado nesta segunda-feira quando deixava seu escritório no bairro da Pituba, em Salvador (BA), por uma mulher aparentando ter pouco mais de 30 anos.O golpe atingiu o lado direito das costas do deputado, que passa bem e está em observação no Hospital da Bahia. Ainda não se sabe se ACM Neto foi vítima de um assalto ou se o gesto foi em vigança pelo reajuste dos salários de deputados e senadores para R$ 24.500".

Puxa, que pena. Essa mulher é sem noção, não acham?

segunda-feira, dezembro 11, 2006

Jack Kerouac Songs


"O que eu tenho? Tenho 35 anos. Uma ex-mulher que me odeia e que gostaria de me ver na cadeia. Um filha que nunca vejo. Um bolso vazio. Minha própria mãe, após todos esses anos de labuta e lágrimas, ainda rala o rabo numa fábrica de sapatos. E eu não tenho um só centavo, nem para uma puta que preste. Maldito seja! Filho da puta! Às vezes penso que a única coisa que está pronta para me aceitar é a morte. Nada nesse mundo parece me querer, ou lembrar-se de mim. Sabe o que acho dessa vida desprezível? Vou abandonar essa história de romances épicos e tentar concentrar meu talento - se é que tenho algum - no que quer que não seja escrever. O que sei é que existem apenas dor e desespero aguardando por nós todos, especialmente por mim. Sou o mais solitário escritor da América, e vou lhe dizer por quê: porque escrevi seis longos romances desde março de 1951 e nenhum deles foi aceito até agora, agora, AGORA!"

O trecho acima foi escrito em uma carta que Jack Kerouac desabafou a um amigo. Ainda bem que alguns existem. Poucas semanas depois dos versos em questão, On The Road foi lançado pela editora Viking e Keroauc se tornou um dos principais escritores da geração beat e a sua obra se tornou um clássico. Há esperança.

quinta-feira, dezembro 07, 2006

Moto-perpétuo


Alguém aí bateu na porta da solidão? Sabe qual é o sentimento mais fácil de ser alcançado? Quem adivinha a palavra mais generosa. "Quem sabe o que é ter e perder alguém".

A porta da solidão já foi aberta, há tempos. Se ela não existisse, o que seria do amor, o sentimento mais fácil de ser alcançado. Difícil é haver interesse mútuo. Um pode amar, mas outro pode desdenhar. Quando há encontro, aí sim, os fogos de artifícios são ouvidos de longe, muito longe. Melhor ainda acompanhado de um generoso obrigado, palavra cada vez mais esquecida por familiares, amigos, funcionários, colegas de trabalho, políticos, iconólatras e conhecidos virtuais. Como é complicado arrancar um obrigado de alguém. Pior são aqueles que criticam a falta de educação, mas não possuem educação alguma. E é assim que se tem e se perde alguém. Algo viciante. Moto-perpétuo.

Os tempos de hoje são tristes. Os olhares vazios não transmitem sentimentos. Corpos secos vagam em direções perdidas. No momento em que encontram outras pessoas, é o oco que prevalece. Por isso ainda existem os caras que insistem em bater na porta da solidão.

segunda-feira, dezembro 04, 2006

A Carta de Pero Vaz de Caminha

Então, recentemente recebi o primeiro lugar do Prêmio Amsop de Jornalismo, na categoria Crônica Temática. Conforme prometi, coloco o texto na íntegra aqui no blog. Foi bem bacana a premiação que, a cada ano, recebe mais trabalhos de comunicadores de toda região Sudoeste do Paraná. Parabéns a todos os vencendores. Valeu.

Como são engraçadas algumas situações do cotidiano, sobretudo em momentos de definições políticas. O mais atual pilhérico em questão é a cobrança e reivindicação que os políticos solicitam aos outros políticos. Tudo em prol – é lógico – da população.
Os itens de exigências podem ser conferidos, pelo menos os da região Sudoeste do Paraná, através da Carta do Sudoeste e, recentemente, na Carta de Pato Branco. Aliás, essas “Cartas” têm se mostrado meios eficazes para apresentar os anseios da localidade, resumindo em um geral as pretensões do perímetro sudoestino. Ambas as propostas são parecidas e tentam mostrar a situação da região.
No caso da Carta do Sudoeste, o chamariz é o municipalismo e desenvolvimento regional, projeto desenvolvido pela Associação dos Municípios do Sudoeste do Paraná (Amsop). Se as situações estratosféricas de olhares sinuosos enxergassem melhor sem a costumeira miopia, não seria necessário desenvolver um artifício dessa espécie em favor da região. Óbvio que o Sudoeste é esquecido. Por muitos é considerada a mais pobre e desprovida região do Paraná. E olha que a terra produz 5,5% do Produto Interno Bruto paranaense. Mas, caso fosse vista com o real potencial que possui, a situação poderia ser mais favorável.
Qualquer setor da administração se preocupa com os detalhes para que o todo seja redondo; que o desenvolvimento seja alcançado de maneira sagaz. E são esses detalhes que ainda emperram os joguetes praticáveis. O Sudoeste não possui ramal ferroviário. As rodovias necessitam, urgentemente, de modernização estrutural. A Estrada do Colono se tornou uma novela tão melodramática que poderia servir de enredo a qualquer folhetim mexicano, com direito a par romântico a fim de chamar a atenção do eleitorado. A agricultura é tão forte que está causando problemas até nas ações das intempéries que, por puro ciúme, já prejudicou inúmeras colheitas. O produtor rural vai se perdendo nas indefinições do sol, da chuva, do vento e do granizo, além das costumeiras promessas políticas.
A Carta do Sudoeste está procurando salvar certas questões que aos poucos enfraquecem os municípios dessas plagas. Alguns ficam isolados como se fossem ilhas sem mar e sem água, já que a estiagem deste ano causou transtornos indeléveis. Ela também mostra como está a situação da região, como Pero Vaz de Caminha fez ao descrever os contornos e aspectos brasileiros ao Rei Manuel.
Em metáfora à Carta de Pero, os municípios do Sudoeste, aos poucos, realmente estão com as feições pardas, nem tão avermelhadas assim. Os rostos e narizes não estão bons no momento, mas hoje em dia existe cirurgia plástica. Alguns andam nus, por falta de verba. Nem mais fazem caso de encobrir suas vergonhas. “Acerca disso são de grande inocência”(?). Os cabelos estão corredios. Eles andam tosquiados, “de tosquia alta, mais que de sobre-pente, de boa grandura e rapados até por cima das orelhas”.
As situações do cotidiano continuam engraçadas, uma pena acontecer somente em momentos de definições políticas. Em todo caso, Pero Vaz de Caminha pode auxiliar.

Leonardo Handa - Jornalista - www.leonardohanda.blogspot.com
Chega esta época e bate a retrospectiva. O passado recente adentra a porta da cabeça. Nada melhor do que deixar as janelas do cérebro receberem a canção Please, please, please, let me get what i want para ajudar a relembrar. Eu nunca soube, mas a música praticamente nasceu comigo. God times for a changes.

Rasbicando alguns pensamentos em vão, o retorno ao berço satisfaz a gratidão momentânea. O sorriso se abre como flor e pétala por pétala é arrancado no presente, aguardando, enfim, um futuro bom. Enquanto isso, os mesmos clichês repetitivos em bordões televisivos invadem os cérebros dos tranqüilos. Mas são os intranqüilos que dão mais vazão aos sentimentos que jogados imploram por atenção. Nem sempre são vistos com nobreza. O clichê, por si só, é uma pobreza repugnante. Porém, é nesta época que eles possuem sentido.

quinta-feira, novembro 30, 2006

Caso


Atroz. Silêncio confuso
Atrás em zás não faz. Obtuso
Sexo. Uso
Sagaz anexo a mim. Gozo

Querer
Poder
Foder.

Em passo detalhe Saliências
Um atalho fulgaz Odores

Satistaz Desfaz

quinta-feira, novembro 23, 2006

Poligamia

Estou praticando muito a poligamia. Não tenho culpa, encontro muitas pessoas interessantes. Quando percebo, o amor já aconteceu. Às vezes é apenas uma transa, em outras é paixão. Nego a culpa e não considero traição, de maneira alguma. Podem me chamar de puto, galinha, cretino e demais adjetivos peçonhentos. O meu veneno é mais em baixo, confesso. O fato é que tal ato me inspira no dia-a-dia, seja através de escritos, doses homeopáticas de gratidão, na minha musicalidade, no jeito de ver as coisas, as pessoas e as leituras. Não é de boa índole, mas aconselho a poligamia a qual me refiro.
Ontem a noite a suruba foi geral. Várias posições, encaixes, diálogos e sussuros. Gemidos também, muitos. Culpa da Kim Deal. Ela é fogo. Foi a primeira. Quando percebi, os outros integrantes do Pixies estavam juntos. Quando terminamos, fui para cama com Sonic Youth e, para apimentar o papo cabeça clitoriano (!), convidamos Nietzsche. Na realidade, queríamos o casal estranho Sartre e Simone, mas os dois estavam ocupados demais com as suas putinhas. Passamos duas horas ótimas, com direito a vinho e petiscos. Não ficamos mais devido a contratempos do Sonic Youth, que insistia em ir embora. Foi nesse momento que entraram para a festa o pessoal do Cansei de Ser Sexy. Muito álcool, com sentido cool. Diversão na certa. As meninas são ótimas. Não me acanhei e convidei o Klaxons também, diretos da Europa para o meu quarto. Que transa!
Passados alguns minutos de tempo, afinal, houve prorrogação, somente para desconsertar entrou na folia a galera queer. Uma delas era duvidosa, mas a Adriana Calcanhoto sabe muito bem agradar. Ela não veio trajada de seu personagem infantil, eu desdenho a pedofilia. Angela Ro Ro, quando era Keuroac, também se juntou. Gal e Bethania não. Já a Ana Carolina só deu uma passada. Atualmente, ela está mais interessada na Madonna. Outra que passou de relance foi a Nelly Furtado, já que demonstrou interesse ambíguo nos últimos dias. Deliciosamente pop. Para engrossar o caldo, Rufus Wainwright apimentou os sabores. O doce do amargo escorreu pelo papel que tinha escrito versos de amores. Quem curtiu a idéia foi o John Frusciante, um talento que fascinou. Que o diga o falecido River Phoenix. A sacanagem foi legal.
Quando acordei, embriagado, é óbvio, outros parceiros dividiam a cama. E lá estavam Ariano Suassuna, Hunter Thompson e Nick Hornby. Ao lado, Fiona Apple, Tori Amos e Patti Smith, todos abraçados. Lindo! Não agüentei e os convidei para mais uma rodada. Orgiástico!!!!!
Tudo acabou em caos, com o Queens Of The Stone Age e um gelado café da manhã. Não houve foda, apenas uma boa conversa. Pesada, diga-se de passagem, a respeito de putas e peitinhos de silicone. Logo após, fui trabalhar. Mas eu sei que a noite vai ter mais.

quarta-feira, novembro 22, 2006

Spider Man


Um dos clássicos da bagaceira-punk-três-acordes é a regravação feita pelos Ramones ao tema de abertura do desenho do Homem Aranha. A coisa ficou deliciosamente tosca. Não há como negar e se encantar com a versão ramoneana. A atitude do gênero ainda abre sorrisos cariados. Aliás, os primeiros desenhos do cabeça de teia eram extremamente punks. Peter Parker já teve mais atitude, sobretudo, em relação aos quadrinhos.
Logo após o lançamento do primeiro filme do amigo da vizinhança, o Homem Aranha ficou high-tech. Demasiadamente. Na versão cinematográfica, retiraram o seu dispositivo romântico: o lançador de teias. Quem é fã sabe que nos quadrinhos ele não solta teia pelo punho, conforme apresenta a versão hollywoodiana. Uma das alegações para essa equivocada alteração, foi deixar os poderes de Peter Parker o mais natural possível. Mas, oras, se era para simular de acordo com o tear das aranhas, o mais espertos sabem que esses animais soltam a teia pela bunda. Não sei ao certo, porém, mais precisamente, pelo cu. Seria hilário ver Tobey Maguire (ator que interpreta o Aranha) realizando tal ato, caso seguisse o manual da biologia.
No próximo ano, será lançado no cinema a mais nova aventura do cara. A história tem como inspiração um período em que o Aranha possui junto ao uniforme a simbiose alienígena conhecida, posteriormente, por Venom. A briga será boa, principalmente porque o terceiro filme contará com outros vilões, como o Homem Areia, um dos mais legais dos quadrinhos.
Dizem que o cabeça de teia estará mais punk. É esperar para ver e crer. Uma pena que os Ramones não estarão na trilha sonora.

segunda-feira, novembro 20, 2006

Implacável Relógio


Cansaço persiste em triste descaso/ O acaso em limite se faz em atraso/ Limite em verso, controverso palpite/ O sorriso existe, no caso em riste/ Palpável de fato, indelével suspiro/ Espirro o momento, acato no vento/ Percorro sem tempo, o segundo perdido/ Implacável relógio, que pára invertido.

quarta-feira, novembro 15, 2006

Barão Vermelho

Mais de 20 anos de carreira. Repertório com canções conhecidas pelo público. Músicos talentosos e carismáticos. O Barão Vermelho não precisa provar mais nada a ninguém, já é uma banda consolidada no mercado pop/rock nacional.
A costumeira competência do show do grupo carioca pôde ser conferida na primeira noite da Expopato 2006. Em turnê pelo Brasil, divulgando o CD e o DVD MTV Ao Vivo, o Barão Vermelho agitou os presentes com os principais hits da carreira. Ao contrário de algumas apresentações, a banda iniciou o show antes do horário previsto, surpreendendo o público. Quando os cariocas começaram os acordes de “Maior Abandonado”, primeira música do set list, muitas pessoas ainda estavam visitando os estandes dos pavilhões e caminhando pela área externa do Parque de Exposições. Poucos minutos depois, a maioria desceu em debandada até o local onde fica o palco.
A apresentação do grupo, em Pato Branco, não teve muita diferença se comparada com o registro em DVD gravado no Circo Voador, no Rio de Janeiro. Uma música em especial chamou a atenção, “Codinome Beija Flor”, que, graças a recursos tecnológicos, contou com a participação de Cazuza, primeiro vocalista do Barão Vermelho falecido em 1990. “Acompanhar o Cazuza cantando de novo foi muito legal, emocionante. Escolhemos essa música porque não podia ser mais Cazuza e também por ser uma parceria com o Ezequiel. Uma maneira de prestigiar um amigo”, comenta o baterista Guto Goffi, referindo-se ao jornalista e produtor Ezequiel Neves, que descobriu a banda e está com eles até hoje.

Futuro
A atual turnê do Barão Vermelho tem previsão para terminar em janeiro de 2007. O show na Expopato 2006 pode ser considerado um dos últimos deste ano. Para o próximo ano, os integrantes da banda farão uma pausa. Eles ainda não sabem quando o grupo se reunirá novamente. Durante esse tempo, o vocalista e guitarrista, Roberto Frejat, continuará a sua bem sucedida carreira solo. Frejat já lançou dois trabalhos, “Amor Pra Recomeçar” e “Sobre Nós Dois e o Resto do Mundo”. “Em 2007, cada um deve fazer os seus projetos. Eu vou voltar ao meu projeto solo. A gente deve se dedicar a isso a partir de agora”, salienta Frejat em entrevista antes do show da Expopato 2006. Ele complementa dizendo que ainda não tem nenhuma música gravada, nem produtor definido. “É uma coisa que vou me dedicar no próximo ano”, revela o vocalista.
Os outros componentes também seguirão projetos paralelos. O guitarrista Fernando Magalhães aproveitará para investir seu tempo em um selo de música que lança bandas de rock independente no mercado, além de estar desenvolvendo um álbum de música instrumental. O baixista Rodrigo Santos e o baterista Guto Goffi têm uma banda chamada Os Britos, junto ao saxofonista do Kid Abelha, George Israel. Em 2007, eles lançarão um DVD com o show do grupo. Rodrigo também está desenvolvendo um CD solo, que deve estar pronto no final de abril. Já o percussionista do Barão Vermelho, Peninha, seguirá tocando com o seu projeto paralelo Gungala. “Vamos cair na estrada”, confessa. Ele aproveita para brincar, dizendo que quem souber de algum emprego é somente avisá-lo. “Pessoas que queiram tocar comigo, montar uma banda, é só entrar em contato. Podemos fazer de tudo um pouco, como tocar em cerimônia de enterro ou casamento gay. Tanto faz”, satiriza Peninha.

Leonardo Handa (MTB 6323-PR)

sexta-feira, novembro 10, 2006

Ah! Que pena Radiophonics

- Pai, o que você vai me dar de presente de Natal? Perguntou o menino de 12 anos de idade. O benfeitor, todo preocupado em dar uma resposta aceitável, engasgou na falada e tropeçou na dicção. Mas disse, por fim, que pretendia adquirir a bolachinha sônica da Radiophonics. Na hora, o guri esbravejou:- Dois olhos, EULÁLIA!!!!! Um sorriso se fez presente no rosto do pai.O tempo passou e o menino soube através de comentários de seu irmão mais velho que a banda tinha terminado as suas atividades. Os membros do grupo, cada qual, seguiria por estradas, talvez, paralelas. De tanto ouvir “Eulália” nas rádios, os ouvidos do guri desenvolveram aguçados sentidos. Ele sabia de cor os acordes da canção. Já tinha decorado as linhas de baixo e as precisas viradas da bateria. Inevitável a tristeza ao saber sobre o fim da Radiophonics.O pai, que tinha lido o release no site da banda, estava crente de que compraria o CD da rapaziada. Ele também ficou desapontado. Afinal, o que levaria um grupo com previsto futuro bom a se desfazer? Mais doloroso ainda era escutar os lamentos de um garoto de 12 anos a respeito do fim da Radiophonics. Difícil uma criança sentir tanta ficção por uma banda que, até então, tinha lançado apenas uma música na rádio.O Natal foi chegando e o pai não tinha comprado nada para o seu filho. As opções eram várias, mas apenas o CD vinha à cabeça. “Putz, que desgraçada banda que resolve parar assim, de uma hora para outra”, pensava o homem. Em uma dessas loucuras de se querer satisfazer acima de tudo o ente amado, o pai, que tinha lá os seus dotes musicais junto ao violão, entrou na paranóia deliciosa de gravar algumas canções da Radiophonics para o seu filho. Ele adentrou em um capenga estúdio de música, com um produtor repleto de lordoses musicais e gravou três músicas da banda. Duas, aliás, que não haviam sido gravadas. O resultado ficou amador, mas chamou a atenção.Eis que o Natal chegou e o pai, todo risonho, entrega o pacotinho ao filho com o CD quase artesanal, com as três canções e os dizeres: “Tributo a Radiophonics, by Nestor Padilha”. O garoto adorou! Divulgou para toda a vizinhança, que começou pedir as músicas nas rádios, que, por sua vez, colocou no Emule, que era baixada até pela galera do Japão, que lançou uma versão pirata em Tóquio, onde um produtor brasileiro (pura coincidência) ouviu e decidiu convidar o pai do garoto para gravar um single com “Eulália”. Que, por fim, estourou no Brasil e virou tema de novela: “Eulália, a feia sem boa dicção”. Leonardo Handa - Jornalista

quinta-feira, novembro 09, 2006

Um sentimento de fossa na boca que saliva desgosto. O mês de agosto é sempre um desespero cavalar. Ainda bem que já passou. Porém, as marcas de ferradura ficaram no peito. O arquivo morto é ressucitado pelo cérebro eletrônico. As vozes de lamento são trazidas pelo vento sulista desconfortante. Um raio desaba no pé causando impossibilidade de caminhar. A dor atinge o olho esquerdo danificado pela miopia. Enxergar objetos é complicado.O sentimento de fossa aumenta. A saliva desgostosa agora escorre pela boca e encontra o chão. O som de um trovão estremece nos ouvidos que abertos queriam escutar Tori Amos. Se bem que o desespero iria aumentar. Mas a música seria mais agradável. O som de um trovão possui a fúria de uma música.Fim aberto.

segunda-feira, outubro 30, 2006

Que pena


O calor está derretendo os tímpanos. Aos poucos, a surdez precisa do verão vai aparecendo na costumeira temperatura que incomoda. E isso assola os sentimentos. Infelizmente, como naquela canção, não tem como deixá-lo para mais tarde. Se uma praia se fizesse presente, aí sim, não precisaria atrasá-lo.

É muito suor em pouco empenho.

Mas, o lado bom são as costumeiras curvas que aparecem deliciosamente em retratos de cerveja. Ou seja, cerveja. Tanto faz, pode ser no bar da boa, na eterna e dolorida questão de não realizar os desejos ou no namoro com algum garoto propaganda, onde uma atriz sela o pacto da paixão. O certo é o calor causando furor na imperfeição bela da estação. "E ninguém dirá que é tarde demais, que é tão diferente assim, o nosso amor, a gente é quem sabe, pequena". A citação não se refere ao deixar o verão, ficamos então, para o último romance.

A temperatura encrava na pele um desgosto ambíguo, de felicidade e tristeza. Por vezes impera a moleza da pressão baixa que volta a subir quando chega a noite com a sua brisa morna. Dormir se torna um perene, um desafio, uma claustrofobia. Não há como embeber. Embebido pano com água gelada. Embebido coração em fiapos de carne ao molho de sangue de touro. Embebidos lábios de loiras geladas e plastificadas. Embebida solução cibernética de alento casual, seja lá o que isso queira dizer. O calor afeta o cérebro. O calor congela e trava o cérebro. É o desgosto ambíguo encravado na pele, mais precisamente, no couro cabeludo sem proteção devida.

"Se dessa vez, ela é senhora desse amor, pois vá embora, por favor/ E não demora pra essa dor, sangrar".

A surdez está terrível. A solução é criar um banco de sons na memória enquanto posso ouvir. Começo, então, por Los Hermanos.

Já que não posso deixar o verão para mais tarde. Que pena. Ou seria, pequena?

quinta-feira, outubro 26, 2006

Coragem

Coragem. Difícil em metáforas. Complicado nas derrotas. Grandioso em vitórias. Coragem. Terrível quando falta. Medíocre na facilidade. Detestável nas perdas. Coragem. Como falta coragem. Que corragem, o quê? PORRA.

Coragem no amor que desanda, coragem na guerra vencida e, também, perdida. Coragem na intenção de não assumir compromisso. Coragem de terminar algo iniciado.

Coragem...

terça-feira, outubro 17, 2006

Palavra bonita

Existem tantas pesquisas desnecessárias realizadas pelo mundo afora que muitas beiram o enfadonho. As perguntas também são tão idiotas quanto o assunto pesquisado. Distorcendo as frases em questão aqui apresentadas, certa vez, na Inglaterra, foi realizada uma pesquisa com os ingleses a respeito da palavra mais bonita do país. Os indivíduos daquele país elegeram "mother" como a vencedora. Na ocasião, mais de 40 mil pessoas foram entrevistadas.
De acordo com a pesquisa, além de "mother" (mãe), os súditos da rainha Elizabeth também apontaram "passion" (paixão), "smile" (sorriso), "love" (amor) e "eternity" (eternidade) como palavras bonitas. Curiosamente, "father" (pai) nem sequer foi mencionada. Ela deu lugar a outras mais peculiares, como "peekaboo" (esconde-esconde), "flabbergasted" (espantado) e "hen night" (despedida de solteiro, detalhe, somente para mulheres).
Aqui no Brasil, pelo menos até o que consta na pesquisa minusiosa realizada pelo Google, nenhuma pesquisa dessa espécie foi organizada. Até porque, poucos são os tupiniquins que realmente conhecem as palavras mais bonitas do próprio idioma. A certeza mais certa (desculpe a redundância) na indicação da TOP 10 seria B-U-N-D-A. Ou então, em épocas políticas, sanguessuga, vampiro, dossiê e "eu não sabia" seriam as que se destacassem. Tudo bem, o último exemplo é uma frase, mas, no atual contexto, poderia se encaixar como palavra.
De todas, na minha humilde opinião de jornalista perdido na selva dos profissionais descolados, acredito muito na sonoridade de "arquétipo". Esta palavra é tão composta, forte e sônica. Como é lindo ler em algum lugar coisas do tipo: "arquétipos de Jung", "arquétipos de Nietzsche", "arquétipos de uma mão de quatro dedos". Simples, claro, dissonante. E, para quem não sabe, arquétipo quer dizer: modelo, padrão.
Voltando à pesquisa inglesa, "mother" é um arquétipo. Quem não idolatra a sua mãe como um padrão inquestionável de saber, amor, paixão, sorriso e eternidade? Até as mães alcóolatras possuem as suas qualidades. O Lula saiu de uma mulher, com certeza. E, que por sua vez, é claro, era uma mulher. Se bem que alguns acham que ele é filho de uma jumenta. Mas isso é maldade demais. Antes um ser aquático do que um vegetal. Chuchu é um vegetal, né? Espero que sim. E, espero, que não seja um arquétipo. São Paulo já sofreu demais.

Leonardo Handa - jornalista

sábado, outubro 14, 2006

Nada muito além para colher no meio dos cactus. Por horas sobe um inseto que incomoda. Nada que um inseticida não resolva. O caminho das pedras está bem presente. Pobre dos pés descalços que sangram em passos lentos de esperteza. Arranca da cerne a última gota de esforço, enquanto desce o sol do último ponto de fuga visível a olho nú. O resto do corpo também desnuda. Paira em calma um agudo furo de reportagem não publicada. A época do bico calado nunca foi tão admirada. E retardado é aquele que ainda procura sentido no indelével questionamento persuasivo de mistério e poder. Os tempos são outros. O dinheiro também.Retorno ao encontro do santo recém batizado na Igreja Católica, no exato momento da cerimônia de lava-pés. O sangue da sola isola o ato de perdão. Sofre quem controla a população.

segunda-feira, outubro 09, 2006

A Carta de Pero Vaz de Caminha

Como são engraçadas algumas situações do cotidiano, sobretudo em momentos de definições políticas. O mais atual pilhérico em questão é a cobrança e reivindicação que os políticos solicitam aos outros políticos. Tudo em prol – é lógico – da população.
Os itens de exigências podem ser conferidos, pelo menos os da região Sudoeste do Paraná, através da Carta do Sudoeste e, recentemente, na Carta de Pato Branco. Aliás, essas “Cartas” têm se mostrado meios eficazes para apresentar os anseios da localidade, resumindo em um geral as pretensões do perímetro sudoestino. Ambas as propostas são parecidas e tentam mostrar a situação da região.
No caso da Carta do Sudoeste, o chamariz é o municipalismo e desenvolvimento regional, projeto desenvolvido pela Associação dos Municípios do Sudoeste do Paraná (Amsop). Se as situações estratosféricas de olhares sinuosos enxergassem melhor sem a costumeira miopia, não seria necessário desenvolver um artifício dessa espécie em favor da região. Óbvio que o Sudoeste é esquecido. Por muitos é considerada a mais pobre e desprovida região do Paraná. E olha que a terra produz 5,5% do Produto Interno Bruto paranaense. Mas, caso fosse vista com o real potencial que possui, a situação poderia ser mais favorável.
Qualquer setor da administração se preocupa com os detalhes para que o todo seja redondo; que o desenvolvimento seja alcançado de maneira sagaz. E são esses detalhes que ainda emperram os joguetes praticáveis. O Sudoeste não possui ramal ferroviário. As rodovias necessitam, urgentemente, de modernização estrutural. A Estrada do Colono se tornou uma novela tão melodramática que poderia servir de enredo a qualquer folhetim mexicano, com direito a par romântico a fim de chamar a atenção do eleitorado. A agricultura é tão forte que está causando problemas até nas ações das intempéries que, por puro ciúme, já prejudicou inúmeras colheitas. O produtor rural vai se perdendo nas indefinições do sol, da chuva, do vento e do granizo, além das costumeiras promessas políticas.
A Carta do Sudoeste está procurando salvar certas questões que aos poucos enfraquecem os municípios dessas plagas. Alguns ficam isolados como se fossem ilhas sem mar e sem água, já que a estiagem deste ano causou transtornos indeléveis. Ela também mostra como está a situação da região, como Pero Vaz de Caminha fez ao descrever os contornos e aspectos brasileiros ao Rei Manuel.
Em metáfora à Carta de Pero, os municípios do Sudoeste, aos poucos, realmente estão com as feições pardas, nem tão avermelhadas assim. Os rostos e narizes não estão bons no momento, mas hoje em dia existe cirurgia plástica. Alguns andam nus, por falta de verba. Nem mais fazem caso de encobrir suas vergonhas. “Acerca disso são de grande inocência”(?). Os cabelos estão corredios. Eles andam tosquiados, “de tosquia alta, mais que de sobre-pente, de boa grandura e rapados até por cima das orelhas”.
As situações do cotidiano continuam engraçadas, uma pena acontecer somente em momentos de definições políticas. Em todo caso, Pero Vaz de Caminha pode auxiliar.
Leonardo Handa - Jornalista

quinta-feira, outubro 05, 2006

Acertos Maus

Contato ausente
Em pele quente
Que arde dor
De passado beijo
Desfeito antes
Recriado oposto
Delicado gosto.

Mentira exposta
Na boca torta
De beleza oca
E fala morta
Que acabou
O amor incerto
De brigas boas,
Acertos maus
Vontades outras
Saudades poucas.

Ainda há bem
Outrora ruim
Um desejo em mim
De tragar o fim
Engolindo gim.

segunda-feira, outubro 02, 2006

Apenas sentia

Era de alegria que a face se abria em cinza. Era de sorriso que a boca sem dentes vazava a consideração. Era de felicidade que os olhos úmidos ameaçavam derrubar lágrimas.

A visão constante de desastre evaporava no momento que a notícia foi alvejada com tiros de prata e pólvora. Foi no seco que a bala engolida desceu. A ânsia veio em seguida, mas bastou um cálice de gasolina para o vômito não surgir.

Era de alívio que a morte apareceu com seu costumeiro ar de tranqüilidade. Difícil imaginar qual a real sensação de falecer, sobretudo quando um ferro penetra na carne ainda viva. Qual a dor? Pior que parto? Pior que transplante de rim? Pior que a perda de um amor ativo em pleno pôr-do-sol litorâneo... Ou melhor que rúcula com agrião ao molho tártaro de culinária equivocada?

As questões surgiram no exato e inoportuno doce de levar um tiro. Era de alegria, pois não precisaria mais dormir na lápide dura que ele chamava de calçada. Era sem dentes a boca cultivada a sobras, a lixo industrializado por seres muito mais limpos do que ele. E era de felicidade porque não agüentava mais ser escória de uma civilização que nada pôde e nada fez por ele. Era de rua que se vazia vivo. E foi de rua o tiro perdido por uma armada que apontava na cabeça de um empresário recém assaltado. A bala que tinha como endereço a cabeça do empresário, acabou na cabeça do mendigo.

Logo após, ele não questionou mais qual o tipo de dor que sentia. Apenas sentia.

quarta-feira, setembro 27, 2006

O Vento

Um sorriso estranho, demonstrando alegria. Não se cansa de ouvir O Vento para deixar escapar a felicidade de admirar a canção. A adoração à frase "não dizer o que eu penso, já é pensar em dizer" reverbera inúmeras vezes nos ouvidos abertos. O fantástico se faz em brilho nos olhos que continuam a acreditar na sorte, mesmo não confiando no destino. De qualquer, "é de lágrima" que derrama a alegria. O viver tem os seus desatinos, mas "o olhar que não enxerga mais" pede a luz, "neste momento menor", "a gente quer ver... horizonte distante". Porém, mesmo fazendo citações de uma outra canção hermaniana, é com O Vento que vem a demonstração de contentamento.
Difícil explicar as inúmeras sensações e interpretações que a canção causa na cerne, disposta a receber o amor que insiste em permanecer calado. Nada realiza para alterar a situação. O discreto danifica certas exposições. Mas o coração, que é tão vagabundo, ainda quer o pulsar. "Doces deletérios", afinal, "sonho não se dá... o sabor de fel é cortar... é doce te amar, o amargo é quererte pra mim". Tudo bem, novamente outra canção invadiu, mas foi necessário expor.
De qualquer forma, fica expressa a alegria, "alguma coisa a gente tem que amar... mas o quê? Eu não sei mais". Então, "os dias que eu me vejo, só são dias que não encontro mais..."

terça-feira, setembro 26, 2006

Alcanço puto, assassino puta

Faça um ponto de fuga estratégico. Ele terá que ser bem planejado, pode ter a certeza. Caso não for, então corra, pois você vai querer se matar. Se não quiser, relaxe, eu mesmo te matarei. Não uma questão de desapego, eu simplesmente mudo. Mas também falo e escuto. Eu certamente fico, desfaço e crio novamente. Então, arquitete a fuga, o ponto pode estar na sua testa.
Cause um espanto. Destrua um tanto. Estarei, enquanto, olhando para o santo. Não acredito, portanto, aguardo em um canto. Distorça a rima a procure um pouco, o algo ficará em desencanto. Falta coragem? Que seja covarde, acalanto.

A solução não existe. Ainda não foi recriado o impossível. Seja sincera, serena.

Enquanto me canso da canção, reflito o mal-dizer. O meu bem já se foi. De muito penar, morreu. O cálculo errado se fez culpado, gerando a vida que destruiu. Ela se refez, ficou em contradizer. Como eu. Como tu. Devorastes toda.

Foda.

quarta-feira, setembro 20, 2006

Wado e Realismo Fantástico

Tem uma banda que está causando sérios danos em meus tímpanos. Trata-se do Wado e Realismo Fantástico, mais precisamente, o álbum A Farsa do Samba Nublado. Os dois primeiros Cds, Manifesto da Arte Periférica e Cinema Auditivo, são ótimos. Porém, contudo, senão, o terceiro é essencial. Não me arrisco em dizer que é um dos melhores lançamentos dos últimos cinco anos.
Misture poesia com sacadas musicais de quilates ímpares, acrescente efeitos eletrônicos, ritmos brasileiros e referências pop. Uma belezura. Deixo no post a letra de Deserto de Sal, do disco A Farsa do Samba Nublado. Coisa rica.

Deserto de Sal (Wado/Alvinho)

Se a tristeza fosse tanta que permanecesse muda: então seria pior
Ainda há esperança no chorar soluçante, no cantar gritando
Nos ombros, como papagaios, carregava corvos
E dentro dos lábios o silêncio mudo
No peito um cemitério de ex-amigos mortos

E enterrar os mortos, desapegar dos ossos
Confirmava a vida o que é bom: desprendimento

Ainda há vontade de andar: o que é bom
E embotado nos olhos, o negrume vazava de dentro da carne

No peito um cemitério de velhos sonhos mortos
Nenhum plano vagava no deserto de sal
E num dado momento parecia até que o sol ia nascer
E era mais uma estrela decadente
No deserto de sal

terça-feira, setembro 19, 2006

Gozada


Uma outra noite em fé de sono que não chega. A companhia dessa vez é o café, a fumaça e The Editors. A referência joydivisiana ecoa, tanto nas linhas de guitarra como no vocal quase chorado. Ela pouco conhece a banda, apenas sabe que lhe faz bem. A canção que mais entoa no ouvido é Lights. Apesar do título, quase nada a ilumina. Somente a luz do poste e a brasa do cigarro.
A noite não foi de trabalho. Resolveu tirar folga de si mesma. Deitou em seu sofá, ligou o som e se deixou transportar pelo calor/frio das músicas. Acabara de baixar a bolachinha The Back Room, um título bem apropriado para o momento pelo qual estava passando. Acendeu uma bituca e viajou. O barulho infernal dos carros na rua não mais a incomodavam. O fone de ouvido era muito bom. Importado. Gentileza de seu vizinho contrabandista.

Quando iniciou os primeiros acordes de Camera, ela se transportou imediatamente à infância. Se imaginou sendo balançada pelo seu pai, depois brincando com seu meio-irmão e logo após levando uma bronca de sua mãe. Chorou. Bebeu um gole de café e tragou suavemente. A canção continuou e outras lembranças acertaram o tímpano. Não teve como não recordar do Echo and The Bunnymen, sobretudo daquele show em São Paulo, quando ainda era adolescente.
A noite que era para ser de tranqüilidade acabou remetendo ao saudosismo que escondia em um fundo bem fechado do cérebro. Alguns costumam chamar esse lugar de sub-consciente.

Mas o momento apoteótico chegou ao ouvir Bullets. Não teve dúvida, nem tempo, a adolescência era vivida de novo em linhas de pensamentos despedaçados. Fechou os olhos. Viu o primeiro beijo. A primeira transa. O segundo amor. O primeiro não tinha sido tão bom. Gozou no lençol. Derramou café. Esqueceu o cigarro. Olhou para a vela acesa no criado-mudo. Sonhou acordada. Finalmente conseguiu relaxar. E a fé do sono chegou. Rezou e dormiu. Tranqüila. E gozada.

segunda-feira, setembro 18, 2006

Minha viagem do fim de semana...

Tudo começou tranqüilo. Eram 6h da madrugada. A viagem prometia doses homeopáticas de risadas. Não só prometeu como as gargalhadas realmente vieram. O ônibus chegou atrasado, mas chegou. As pessoas interessadas em conhecer alguns meios de comunicação adentraram no veículo e se mandaram para o Oeste de Santa Catarina. Os outros que queriam diversão também foram pelo conhecimento, porém, tinha que ser divertido.
Cada qual se ajeitou em um lugar. O fundo ficou reservado aos sagazes, que iniciaram o processo de truco, seis, nove, doze. A ida foi muito calma, conforme o combinado. Alguém que dormiu quase a viagem toda, ficou curtindo um som super bacana do Wado e o Realismo Fantástico. Os Pixies também tiveram a vez. Pois bem, rápida parada para um café da manhã e logo os primeiros arrotos foram esbravajados em plena luz do dia. Não que seja proibido o arroto na manhã, é que a noite eles fazem mais sentido.
A programação iniciou em um jornal diário, depois vieram as TVs e as rádios. Todas de extrema importância curricular, os atentos fizeram as suas anotações e os espertos registraram em seus HDs fresquinhos. Um ou outro arroto vazava, seguido de risadinhas safadas.
Mas, foi no retorno que as coisas começaram. O repertório de canções esgraçadinhas foram surgindo como que em instantes, de repente, sem pausas. Um medley das melhores recordações infantis, com direito a períodos adolescentes de músicas duvidosas. Foi então que uma sessão extraordinária de retratos começaram, com direito a vídeos dignos de entrarem no You Tube. Uma de nossas colegas iniciou um esboço de dançarina profissional, relembrando os tempos da finada É O Tchan. A coreografia ficou tão boa, com direito a rebolados e balanços para frente e para trás com o tronco, que, desde já, está eleita a melhor coreografia já realizada em um ônibus. Não foi coisa comum, os passos realmente de catarse, espécie rica de momentos de pura alegria. Porém, contudo, todavia, antes, os intrépidos companheiros resolveram marcar a prosperidade com um retrato fétido em um banheiro ambulante. O aperto presente recheado de arrotos e risos transbordou o corredor dos afoitos que, lógico, estavam loucos para descansar. Mas, os alérgicos a monotonia queriam apavorar com o trajeto que era de volta. Provavelmente serão tachados de chatos e hipérboles. O que conta, com certeza, foi a diversão.
Chegado ao destino, com litros e litros de histórias para lembrar, somente sobra o grito eternizado por gargantas adjacentes que desbravaram o achado: uma brincadeira faz-me-rir. E é claro, um arrrooooooooouuuuuuutttttttttttttttttttttttttttt pôs o fim em mais uma aventura. Os participantes que comemorem. Afinal, não é sempre que se pode revelar uma dançarina, uma cantora lírica de arroto, um nipônico calvo, uma Heloísa Helena revoltada, uma menina Smallville, um cara que sai com caras confusas nas fotos e um outro de All Star embebido em um paletó. A diversão é assim mesma: feita de idiossincracia.

quinta-feira, setembro 14, 2006

F-I-A-S-C-O

Existem tantas coisas para chamarmos de fiasco. Aliás, que palavra lírica, não acham? Acho o conjunto de sons que "fiasco" forma tão melodioso. Algumas sílabas parecem tão perfeitamente encaixadas, sônicas, perfeitas. Tenho a impressão de que "fiasco" foi arquitetada na precisão mais estratosférica que o seu sentido quer significar. Detalhe por detalhe, encaixe por encaixe. Certeiramente sutil, mas com força extrema em seus sons. Ótima em ocasiões de fúria perversa ou em rebaixamentos de escalões exacerbados. "A vida é um fiasco". "O ser humano é um fiasco". Que poder que a palavra exerce, não concordam?
F-I-A-S-C-O: simples, três vogais, três consoantes. A sílaba tônica passa despercebida se você analisar com ouvidos desafinados. Mas, mesmo assim, ela é capaz de estourar tímpanos, dependendo da maneira como é profanada. Pode causar lágrimas, términos de relacionamentos, catarse coletiva, vinganças premeditadas. Ferimentos expostos na tônica dominamente que muitas vezes nem analisamos. Afinal, poucos são os sagazes que percebem as nuances gramaticais e sônicas dos escritos, sobretudo, das palavras. Elas ficam ao vento, às vezes. Não no sentido de não prestar a devida atenção ao enunciado, mas sim, em seus constantes subjetivos ativados. Um enunciado pode ter vários significados. Assim como um fiasco pode significar. De repente, fiasco para um não é o mesmo para o outro. Então, se a crítica mais atroz ferir no cerne um sentimento de repúdio, trate de analisar melhor o enunciado. Contudo, como esbravejou Frank Jorge, "um pouco de talento não faz mal a ninguém".

quarta-feira, setembro 13, 2006

Amor Amigo

Existem tantos tipos de amores que não caberiam nos pêlos da virilha. Assim como a penugem, alguns sentimentos amorosos ficam escondidos em um canto estrategicamente planejado. Tanto faz o local, quanto mais oculto melhor, dependendo do gênero de amor, é claro. Mas, de todos os joguetes e estilos, o amor amigo é um dos mais sinceros e viscerais. Quem ama prova. Às vezes demora. Quando vem, é seguido de um dilúvio de palavras e carinhos, com direito a contradições em verbetes necessários se o acaso solicitar.
As conversas ficam mais deliciosas, com pausas que por vezes se tornam silêncios importantes para as reflexões sobre o assunto discutido. Em outros amores, as pausas entre as frases se transformam em desconforto imediato. Já no amor amigo, o silêncio não é desagradável, chega até ser refrescante, como aquela cerveja gelada degustada em um dia intenso de verão em um bar a beira-mar onde a brisa marítima bate calmamente no rosto.
O compromisso pré-estabelecido no início do amor que, com absoluta certeza, iniciou de um beijo faiscante e prolongado, quem sabe sinuoso, repleto de toques e deslizes no pescoço, sem direito de evitar a paixão. Aquela coisa de momento perfeito e contato labial. Nada daquelas falácias de amor à primeira vista. Pois bem, a idéia inicial do parágrafo acabou escapando pelos dedos, mas a continuação é a seguinte: o compromisso pré-estabelecido no início do amor chega a causar náuseas nos mais intimidados, que necessitam do amor, porém, fogem da aventura por temer as outras manifestações do sentimento, seja amor chiclete, amor carnal, amor fétido, amor meloso, amor infantil, amor sadomasoquista... E por aí em diante. No amor amigo, não precisa se preocupar com as suas ramificações, elas inexistem. Caso existam, é o amor amigo que não existe e, sim, outro tipo do sentimento que tanto gerou poesias, contos, músicas, filmes, peças de teatro, esculturas e pinturas.
Não se trata de uma exacerbação ao amor amigo, mas sim, um manifesto sincero de e sobre a amizade. Tantas pessoas queridas passam tão corridas por nossas vivências que, infelizmente, algumas viram apenas uma fotografia de lembrança colocada em álbuns de recordações. Elas são tão raras. Essas sim, caberiam e sobrariam nos pêlos da virilha. Até nas depiladas.

segunda-feira, setembro 04, 2006

David Bowie e Neil Young

O velho David Bowie me traz algumas razões nesta noite fria. Como já disse o bom vinho que é o Neil Young, "rust never sleep" (a ferrugem nunca dorme). A citação a esses dois ícones da música é por uma boa razão. A sensação sonora que ambos proporcionam é de rachar o ouvido mais gélido. Difícil achar o significado mestre a respeito de Bowie e de Young. O certo se torna incerto, o correto se transforma em incorreto e o ambíguo vira amigo, conforto em música que esses roqueiros adicionam em temperaturas baixíssimas como as da região sulista do país. Se fosse na Inglaterra ou nos Estados Unidos os sentimentos seriam mais soberbos. Mas, como cabe aqui a contradição, por essas plagas os sentidos são os mesmos, afinal, a música deles é universal.
Interessante é ouvi-los em um mesmo dia, devorando os dizeres que cada qual reverbera em canções emblemáticas. Os tempos de ouro deles já se foram, por vezes vomitam obras ainda alimentícias. Porém, também erraram na carreira que levaram no concebível exagero aceitável. Lembrando novamente Neil Young, "rock'n roll cant never die". Amém.
Recordo que Bowie foi o meu primeiro grande ídolo, quando ainda eu tinha cinco anos, tudo por causa do filme infanto-juvenil, Labirinto. As músicas do "senhor do poço do fedor eterno" causaram tamanho estrago nesse que vós escreve, a ponto de eu achar que era filho legítimo dele. Minha imaginação naquela época era muito fértil, graças à minha mãe que não tinha rédeas no açúcar. Eu degustava muito qualquer espécies de doces. Não à toa, meus dentes de leite eram todos cariados. Meus dentes eram de leite doce. Desculpe o trocadilho, confesso, realmente ficou enfadonho. Pois bem, voltando, Labirinto rompeu minha infância, foi como se minha virgindade enfim tivesse sido arrancada do meu âmago. Em plena infancia, que se fez muito doce, devido ao açúcar, meus primeiros sonhos eróticos foram com a Jennifer Connely, a protagonista do filme. Eu sempre a amei. Meu pinto era todo dela. Bronhas e bronhas tiveram dedicação exclusiva a ela, somente a ela. E foi assim que eu perdi a infância, da maneira, pelo menos para mim, mais doce, já que o açúcar continuava a adocicar os meus sonhos mais cariados. Contudo ao som do Bowie. Orgiástico!!!!! E olhe que eu ainda nem tinha porra. Eu não era porra alguma!!!! Puxa vida, peço inúmeras desculpas novamente pelo trocadilho, mas esse eu não podia deixar passar.
Escrevi tanto a respeito de Bowie que acabei esquecendo do Young. Vale ressaltar que o segundo salvou a minha adolescência, que, confesso, nunca enferrujou. Ainda está por aí, às vezes escondida nas mesmas canções do Young. "Harvest" influenciou até demais os meus poucos apurados tímpanos. Eu ainda continuo tentando. Assim como Young, Bowie e outros heróis que romperam as fases da vida. Ave à música.

sexta-feira, setembro 01, 2006

Envelhecer é se deixar estar

É difícil aceitar que o envelhecimento é algo inevitável. Em algumas pessoas esse fato se torna doença. Hoje em dia existem vários processos para tentar retardar as gravidades da idade. Tanto faz se é botóx, lipoaspiração, massagens estéticas, geléias no rosto, banho de argila importada da Tasmânia e demais opções que às vezes soam como burlesca. Melhor ainda é se deixar levar pelas ações das intempéries da condição humana. Envelhecer com dignidade é a conseqüência mais aceitável, menos aos hipérboles e suas manias de juventude acima de tudo. Aquele ditado que "quanto mais velho melhor" poderia ser levado mais a sério. É legal observar os corajosos que aceitam os seus cabelos brancos, as suas rugas de experiência, a queda desenfreada de cabelo, a falta de colágeno na pele. Não se trata de vaidade, o negócio aqui é saber se por no lugar. Não é porque a velhice chega que algumas pessoas vão se privar de certos prazeres. Para quase tudo há a quase solução. Só não existe quase velhice.
Determinados indivíduos conseguem acompanhar o processo de mais um outono com a cabeça erguida, olhando para o avente em um horizonte distante que somente os românticos possuem a perspicácia de aprovar, encarar, se jogar, amar e aceitar. Os Rolling Stones sabem o que isso quer dizer, mas a Sophia Loren não.
A vida é repleta de obstáculos. E os da idade também devem ser levados em questão, sobretudo. Eternamente jovem já era, devia ter ficado nas mesas do Ivo Pitangui. Se bem que um seio farto de silicone é belíssimo, mas os naturais não causam mal. O artificial tem as suas peculiaridades, por vezes, fatais.
Imagine se todos resolvem nunca mais envelhecer, que triste seria não ter a imagem de avó que sempre temos, com aqueles vestidos floridos, cheiro de talco, cabelos branquinhos como se flocos de neve tivessem acabado de cair. Ou então, aquele avô engraçado brincando com seu neto em um dia qualquer de sol, em um parque coberto por folhas do outono. Como é engraçado ver o avô na velha poltrona, roncando um sono delicioso devido a programação chatolóide da televisão. E ao lado dele, a avó desenhando com o tricô mais um suéter para o neto que acabou de se formar. Não consigo imaginar avós em mesas de cirurgia plástica. Até mesmo porque, isso deve ser muito triste.

terça-feira, agosto 29, 2006

João Fracisco dos Santos em Amor ao Dinheiro Queimado em 1965

Bálsamo em abraço/Te quero exato em crise aberta/ De triste sorriso ao sangue em face.

Te cheiro navalha em madeira cortada/ De perfumado dedo sujo ao tanto/ De encanto refúgio no banheiro aberto/ O acesso é livre.

Na Constituição agora desencanto/ Um traçado torpe de linhas correstas/ Com fumaça no rosto e um beijo com gosto de sexo lendo ao puro oposto.

sexta-feira, agosto 25, 2006

E agora, como será a vida dos habitantes de Plutão?

Na última quinta-feira, 24 de agosto de 2006, em um lugar qualquer do planeta Terra, alguns cientistas malucos se reuniram e decidiram - sem direito a voto popular - que o mais longínquo dos planetas do Sistema Solar, Plutão, não é mais um planeta. Ele foi rebaixo para a infeliz categoria de "planeta anão".
O mais gélido dos corpos, durante muitos e muitos anos achando ser importante, agora é quase um ser perdido. A nossa constelação nunca mais será a mesma. Nem os livros. Muito menos os estudos. Sorte da criançada de hoje que agora não precisa decorar mais nove e sim, oito planetas. Pobre Plutão. A vida dos plutanianos nunca mais será a mesma. Até mesmo porque eles devem estar congelados.
O deus das águas, Netuno, passa a ser, a partir de agora, o último habitante do nosso sistema. Aliás, um sistema muito confuso. Não é a toa que quando a situação do planeta vai escorrendo pelo barranco, as pessoas põem a culpa justamente no sistema. Tudo é culpa dele. Sorte de Plutão, que agora não faz mais parte dessa corja. Mas a felicidade é dos plutanianos que não vão precisar agüentar mais as diretrizes equivocadas que regem as decisões. Eles ainda podem respirar tranqüilos.
Enquanto isso, no planeta Terra, que, aliás, é absolutamente errôneo, já que apenas um terço do terceiro planeta do Sistema Solar é composto por terra, o resto é pura água, vai ditando as regras por essas plagas. Ou melhor, determina também os catamênios de outros sistemas do imenso universo. Os humanos se acham tão especiais. É tudo culpa do sistema mesmo, esse que continua parindo governantes sádicos de pensamentos nucleares. Armas químicas estão espalhadas em todos os lugares. Até em Plutão. A explicação agora é óbvia a respeito de seu rebaixamento. Lógico! Os Estados Unidos ficaram sabendo do perigo iminente que o, até então, último planeta, estava planejando e trataram logo de excluí-lo. O governo americano já fez isso outras vezes, vide Cuba. Afinal, eles são assim mesmos: mascarados. Primeiro dizem que são contra o rebaixamento, depois abaixam as calças dos coitados e resolvem mudar a opinião.
Ainda bem que nos dias atuais existe e-mail e outras formas de comunicação on-line. Dessa forma os plutanianos não vão se sentir tão isolados. Pelo menos agora eles estão fora do sistema. Em breve, ao invés de "planeta anão", de repente, viram uma comunidade hippie, com todo o saudosismo "paz e amor" que se tem direito. Já a astrologia vai ter que desenhar outro regente aos escorpianos. Esses sim, estão ferrados.

quarta-feira, agosto 23, 2006

Casal briga e mulher sofre acidente

Pífio. Sono. Sarcástico. Olhos. Fechados. Vozes. Silêncio. Fumaça. Término. Lágrimas.

Desce pela escada o corpo estremecido. Pela janela do apartamento a outra alma acompanha o adeus. O fim tem dessas coisas. Procura o ponto de táxi mais próximo. Entra no carro. Pede para ir o mais longe possível do lugar que acabou de sair. Enquanto isso, deitado no sofá, continua a tragar o último suspiro do Malboro. Relembra o início de namoro e compara com o término. É nesse momento que o táxi bate em uma encruzilhada. A moça arrebenta a cabeça no banco e sangra. O erro não foi do motorista. Uma pontada é sentida no último trago. Fecha os olhos e sente a dor. O sangue continua a escorrer. Vai até a janela para olhar a mesma rua pela qual ela foi embora. A ambulância demora a chegar. Um sentimento incomoda. Os para-médicos fazem o que podem. Ele liga para o celular dela. Ainda perto dali, o celular não é atendido. A bolsa ficou no carro. Um múrmurio é ouvido. Ela é carregada em uma maca. A ambulância voa. O coração sente. Desliga o telefone. Tranca o apartamento e desliza pela escada. Encontra a rua. Procura desesperadamente por ela. Alcança a encruzilhada. Enxerga um táxi destroçado. Tenta não pensar na possibilidade. Chega perto do carro. Vê a bolsa dela. Entra em desespero. Implora por informações. Elas confirmam o que ele já sabia. Sente-se culpado. Caminha sem direção. Chora. Tropeça em uma pessoa. A pessoa pergunta se ele quer ajuda. Ele responde que sim. Ela o leva até o hospital. No balcão ele pede informação. A secretária diz que está tudo bem. Ledo engano. Ela está morta. As pessoas foram confundidas. Ele espera. Não agüenta. Espera mais um pouco. Nem sabe da notícia. Ninguém o atende com informações corretas. Se fosse rico, ele poderia comprar alguma informação. Deita no sofá. A pessoa que o ajudou já foi embora. Chega a madrugada e nada. Mais um vez o desespero adentra os olhos quando o médico de plantão traz as últimas informações. Ela não morreu. Ele tem mais uma chance. Fica aliviado. Pronto. Ela nem estraçalhou a cabeça no banco do táxi. Isso aconteceu com a outra pessoa que estava no mesmo táxi que ela pegou. Muita confusão. Muita confusão mesmo. E eu não acredito que você leu até aqui para saber se ela tinha morrido ou não. Que perda de tempo. Ela está bem, ok? Pode voltar para o MSN. Ponto.

quinta-feira, agosto 17, 2006

Incendiário, soy yo!

Bang, bang, bang, meu bem. Já sente o gosto do sangue escorrer pela garganta? Bang, então, mais uma vez. E agora, enxerga o escuro que se faz presente? Desejo que sim, pois não tenho mais balas para acertá-la, nem mais calibre para suportar. Diga que a dor está adentrando o âmago delicado da sua ausência. Confesse o sarcasmo que me deixou em repúdio, encolhido no canto escuro dos prazeres indesejados. Revele logo as tripas do sufoco para que um sorriso se abra para que eu me feche em você. Tudo bem que eu suporto o deslize do sacríficio impiedoso dos meus erros caústicos. Afinal, eu quero atirar a primeira, a segunda, a terceira e a quarta pedra. Mas, de qualquer forma, saliente que acertei a semente esbaforida da sua lembrança. Ou então me faça ao contrário do inverso estendido, ampliado na pele áspera que, agora, se rende esbaforida.
O meu ego estapafúrdio devaneia por caprichos indeléveis. Muitas vezes o espelho já foi quebrado. Quero agora somente um berro de angústia. Mais uma vez, diga que sente, nem me faça arrancar os olhos. Admiro o meu lado sádico, porém, não libere o serial killer que você ainda não viu. Portanto, pergunto, o gosto do sangue na garganta é delicioso como um Cocha Y Toro? DIGA QUE É!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
É tão lindo, meu bem. Meu tirano eu é tão frívolo, mas acaba impressionando os mais germecidas. Às vezes sou tão incendiário!!!! Contudo, mais uma vez, diga que o escuro e que o sangue chegaram... chegaram? Não!!! BANG!!!! Eu menti sobre a última bala. (risos maquiavélicos).

sexta-feira, agosto 11, 2006

A Felicidade aos Poucos

Até quando a vontade fica
Aos braços do constante destino que recicla
Os outros questionamentos em vão.

O revés de sentir amor de leve escorre da minha mão
E o controle da alegria se acidenta na falta de harmonia.

Para tudo há um pouco
De solução dissolvida no amargo, que processa o sentimento
No talvez de viver nas incertezas do rever
Traçado na precisão do apontamento
Que aos poucos faz sofrer.

É de dor que revelo a lágrima
Na característica do existir que não me deixa progredir.
É a vontade dos outros que acaba a discernir

A felicidade aos poucos.
A felicidade aos poucos.
A felicidade aos poucos.

terça-feira, agosto 08, 2006

Deprimido

Não costumo utilizar este espaço para falar sobre a minha pessoa, muito menos a respeito da minha intimidade. Procuro apenas escrever a respeito das minhas opiniões, sobretudo as musicais. Mas hoje vou fugir desse, digamos, estigma.
Pois bem, estou deprimido. O saudosismo me atingiu hoje de uma maneira tão cavalar que chegou a descolar a retina. O cérebro processou algumas lembranças tão significativas que causou transtornos indeléveis. Tudo por causa de uma história em quadrinhos. Contudo, como a minha personalidade é uma montanha-russa, basta fumar um cigarro para as coisas melhorem. Ou piorarem. Sobe e desce, desce e sobe. Por vezes pára.
Quando situações assim insistem em me visitar, recorro a algumas canções. Perco a concentração, rasgo a tripa, vomito desejos cabíveis em páginas e páginas de observações. Afinal, a letra salva, o escrito propicia reflexões, o momento traz as soluções. Porém, "quando se é sério a respeito de se divertir, nunca é muito divertido", já disse Bill Watterson, criador das tiras do Calvin e Haroldo, repletas de filosofias puras, inocentes, sustentáveis. Foram exatamente essas histórias que me deixaram deprimido, irrequieto. Céus!
A outra volta do parafuso realiza a sua ação e novamente, com esta frase, volto a ser o subjetivo que pratico. Algo que o Calvin e o Haroldo conseguiam por vezes, mas por horas eram objetivamente demais. Glória!!!!!

sexta-feira, agosto 04, 2006

Devaneio

Cabe-me ao contrário o disposto gosto do ameno. Traga-me a alegria inglória do passado que eu esqueci. Seja sincero, camarada. Seja o acaso do reencontro involuntário naquelas manhãs de conversas arquitetadas pela adolescência vivida. Às vezes o atroz batia na porta, mas sempre tínhamos uma maneira de fingir que não estávamos. É uma tristeza saber que a distância separa uma amizade legal, que foi degustada com sagacidade e gratidão. Afinal, quando um pedia auxilio, sempre estávamos no mesmo lugar. E agora? O momento está difícil no seu lado e não posso abrigar os seus dissabores.
Ainda há cumplicidade, pode ter certeza. Torço por você na turbulenta vida que você assumiu, regada aos cuidados fraternos e ao alcoolismo exacerbado por sentimentos paternos, engolidos todo santo dia de religião. Não há nada que eu possa fazer, apenas pensar no seu melhor.

***

Lembra daquelas caminhadas noturnas em companhia do vento gelado e daquela garota linda que parecia uma boneca de porcelana? Como era sensacional as angustiantes prosas que inventávamos, ao sabor do vinho vagabundo que sempre vomitávamos. Relatando assim, parece azedume, porém, era amizade. Não lembro como éramos conhecidos, Los tres? O interior nunca mais foi o mesmo depois das nossas partidas. Cada qual em seu canto, cada qual tentando a sobrevivência, cada qual em uma área, cada qual se reinventando. Por vezes, quase sempre, assim mesmo, dicotômico, o saudosismo atravessa a via de tráfego do pensamento. Quase sempre um sorriso se manifesta. Aliás, quero aquelas fotos das madrugadas de devaneios. E eu que era tão apaixonado. E você que era tão caco. E ela que era tão falante, com as suas duas almofadas labiais que encantavam até os pederastas. Foram tantos momentos que ainda hoje são eternos na lembrança mais embriagada. Cara, demais.

***

Fique com a sorte e com o azar. Só não se esqueça de mandar notícias, meu amigo. O que eu puder fazer, eu farei. Ainda tenho a fita dos momentos que ficaram, lembra. A boneca de porcelana fez uma cópia e levou junto à ela, quando me despedi das gratas presenças que ela nos realizou. Se cuide.

quarta-feira, agosto 02, 2006

Pullovers + 1932

Como é incrível bandas surgirem do além na vida tão banalizada que vamos levando aos tropeços. Pullovers é uma delas. O grupo aterrissou sem licença alguma no terreno árido desse que agora escreve. Eu já tinha ouvido algo sobre eles, mas não dei muita importância, afinal, eu tinha como fã outros indies. Certo dia, procurando novidades sonoras no mundo on-line, resolvi dar uma chance aos Pullovers. PUTZ!!!! Como eu fui ignorá-los na primeira vez? Me arrependo até os último pêlos do saco. Eles são demais. E outra, eu não sabia que eles tinham músicas em português, pois até então, eu sabia que a banda tocava apenas no idioma do Bush.
A canção que mais executo em meu detonado aparelho de som é justamente uma na língua dos brasileiros. Intitulada 1932, me fascina a cada audição. Melodia ultra-pop de causar inveja a medalhões que insistem em compor "pérolas radiofônicas". Diverta.
Para provar a minha falta de informação, ainda fiquei sabendo que eles gravaram um disco com Geanine Marques, que desde já é a minha cantora predileta. Adoro "Do It All Wrong".
De qualquer forma, antes tarde do que nunca. Odeio esse ditado popular, mas nesse caso, cabe como uma luva. Também detesto esse outro ditado. Mas, antes só do que mal acompanhado, né? Musicalmente falando.

terça-feira, agosto 01, 2006

Extinção

Um conto calmo em relação à alma. Merda. Não tinha nada que ser assim. Foda. Mas em comparação ao resto, até que está tudo bem. Putz! Agora estou dando risada. He he. Até que tentei considerar as outras alternativas. Eca. Fiquei por aí, vagando, reclamando, cuspindo dizeres sem nexo. Jerkinsonianosiamentecapto. Foi-se o caos da liberdade gratuita em vasos sanitários de material nobre. Novamente, merda. Trata-se das definições do cotidiano que reclamo através dos 0800 da vida. Alô? Quem fala? Como assim, quem fala? Sou eu, o consumidor, quero fazer uma reclamação. E gravíssima! O mundo está dando tantas voltas estranhas que a natureza, minha vizinha, reclama a cada dia na ineficácia dos homens. Tá entendendo? Não quis ligar pro Greenpeace não, minha senhora. Vocês é que são os culpados pela desvastação das riquezas naturais, da poluição do ar, da falta de água, da falta de vida. Entendeu agora? O quê? No speaking english, no hablo español. No "sabo" portuguese. Quer saber! Vá se ferrar. Nossa. E isso que era para ser calmo, sobretudo em relação à alma. Não tinha nada que ser assim. Mas em comparação ao resto, até que está tudo bem. Putz! Agora estou dando risada. Até que tentei considerar as outras alternativas, mas fiquei por aí, vagando, reclamando, cuspindo dizeres sem nexo. Foi-se o caos da liberdade gratuita. A natureza vai devolvendo as porcarias que os aspectos repugnantes que as qualidade humanas não oferecem. Elas estão em extinção.

sexta-feira, julho 21, 2006

Claustrofobia

Uma preguiça exacerbada incomoda o fim de tarde. Ela se arrasta pela avenida das vontades que estão sendo retiradas e proibidas de sentir. As forças ocultas vão ditando a mesma fórmula insistentemente aplicada. Os valores a algumas tecnologias não são reconhecidos pelos ditosos apóstolos do retroativo pensamento. É tanta falácia, tantos dizeres a respeito do avançar, mas que acabam dicotômico quando as atitudes da blasfêmia surgem através de mensagens on-line. Então que seja proibida qualquer maneira de expressão, de passatempo nos períodos ociosos, afinal, se foi o tempo da escravidão incorporada pelas corporações modernistas. Com tanta contradição, o jeito é burlar o acesso.
Não há como evitar. E no momento em que as classes voltarem, como será? Será que anotações e observações de corretas exigências estarão em negrito em seus históricos, anotadas em cores diferenciadas? O funcionalismo também move a máquina oleosa da vivência natural que é imposta no cibernético.
O sol está se pondo. Se pondo também está a vontade. O proibido proibir dos franceses ainda não chegou nas plagas que reverberam a insatisfação. É tanta apelação que não se enxerga o real trabalho que está sendo mostrado. São apenas os reclames que chegam aos ouvidos dos claustrofóbicos.

Que coisa, hein?

quinta-feira, julho 20, 2006

Escrito sem pensar - instinto no extinto


Um punhado de apanhado pelo chão, juntando as palavras ali jogadas sem fixação, atrás de rimas idiotas em extinção. Nada de desenhar projetos com frases milimetricamente desenhadas. Sem escalas, sem presepadas. Pressuposto o tosco sentido da ação. Santo Deus!!! Quantas baboseiras de ficção.
E vai pelo lado instinto da contradição, vomitando fezes de satisfação, cagando coisas sem qualquer significação. É tanto "ão" que está causando infecção. Deixamos para lá a situação e retorcemos a massa, procurando outra sugestão. Desistimos e seguimos pelo "ar", então.
De tanto pesquisar não consegui solucionar, nem redirecionar. Culpa dicionário que realmente me deixa optar, ao contrário do cansaço de odiar. E o ódio faz capotar, em pleno madrugar sem direito a luar. É muita exaustão. Ops, retornamos sem querer ao "ão". Não foi de propósito, o premeditado se permite pensar, principalmente na definição. Mas qual é o perguntar? Que loucura cavalar, que nojo de tradição. E segue a ação sem finalização. Afinal, foi tudo sem pensar. Era para ser sobre instinto e a sua extinção, porém, acabou sendo um verbo rajado de limitação. Ah, nem queira achar a solução, resuma apenas como um passatempo a respeito do "ar" e do "ão".

quarta-feira, julho 19, 2006

Bom dia, sono. Às vezes fica extremamente difícil acordar. Hoje está sendo assim. A remela cibernética ainda não saiu do canto dos olhos. Nem óleo diesel ajuda a retirá-la. É o formol que impera na conservação do bocejo. Uma estratosférica preguiça que embala o período matutino. Como uma canção do Damien Rice, com aqueles dedilhados de violão e melodia pegajosa e arrastada, perfeitos para degustar um café da manhã com torradas e manteiga. Aliás, as canções do Damien Rice são exatamente redondas junto ao desejum matinal. As composições são ótimas para acordar. Deve ser por isso que ainda esteja com sono, pois não ouvi nenhuma música dele no momento em que levantava. Mas, digo de passagem, lavar o rosto com uma música do Damien é um bom experimento, sobretudo com a canção Cannonball. Com certeza absoluta, ressalvo em gratidão, acordar ao som do cara é dia bom no alvo. A simplicidade sônica tem dessas coisas.
No momento em que escrevo este post, o sono até que está indo embora. Confesso que é culpa dos acordes damienriceanos. Amplio os predicados e aproveito para sugerir também o acompanhamento de Jamie Cullum, pop/jazz na medida exata em qualquer refeição do dia. E, para esquentar, não há como esquecer os Pixies, banda de Boston que está no meu playlist contínuo de possibidades risonhas.

Ah, como é bom ouvir música...

segunda-feira, julho 17, 2006

Divertimento para uma noite de sexta-feira

De preferência, sozinho, coloque na vitrola qualquer som do Pixies. Caso tiver, opte por uma coletânea ou pelo lado b da banda. Tente cantar junto enquanto estiver dançando, mas tem que se remexer de um jeito bem esquisito.
Permita que a voz do Black Francis (ou seja lá como ele esteja assinando o seu nome no momento) penetre os seus tímpanos. Deixe que o vocal cause estragos no cérebro. E quando o vocal de Kim Deal (a baixista do Pixies) entrar sem pedir licença, faça a mesma coisa, responda com o seu vocal contra o aparelho de som.
Faça com que os seus vizinhos ouçam a esquizofrenia sônica. Não da banda, e sim, os seus sons. Vale palmas, berros e grunhidos. Só não vale peidar. Se na bolacha tiver “Broken Face”, melhor, será o seu apogeu solitário. Abra um vinho, acenda um cigarro, vomite a canção.
É óbvio que no conjunto das canções, “Here Comes Your Man” terá presença obrigatória. Opte pela versão oficial. Mesma na obviedade, solte as sensações mais estranhas que desejar. Logo após, seria legal que tocasse “Gigantic”. Daí é só correr para o abraço e sorrir ao espelho uma boca suja de vinho.

quarta-feira, julho 05, 2006

Para Alberto e Amanda em algum lugar do pacífico artificial onde se encontram as cores das flores

Iluminando o canto escuro com os sons daquelas notas musicais que recheiam os movimentos rápidos dos olhos. Algo fantástico para se ouvir em uma noite nebulosa. Aquela do "todo mundo se machuca". Espero que você entenda.
Vai lá e traga algo para a satisfação. Traga duas, uma carnal e outra de espírito. Roube lá do céu um pedaço de devaneio frívolo que faça a diferença. Pode ser um asteróide de sentimentos líquidos que possam ser bebidos com chocolate. Meio amargo, é bom ressaltar. E deixe por aí aquele olhar fechado, quase cego que retorce o pensamento mais fiel.
Deixe-se alegrar o triunfo da discordância que sacia o âmago claustrofóbico. Leia-se em voz alta para escutar a beleza do poema composto ao sangue de misericórdia. Caia na folia disléxia do antropofágico cálculo renal das aquisições amorosas. Faça-se em lágrima de água benta aprovada pela inquisição mais autoritária das suas razões que me alegram. Ilumine ainda este canto que suplica conseqüências sinceras, como um parto ao contrário, injetando vida para ser recriada. E me espirre as bobagens viciantes que não me canso de passar através do ar. Maldito vírus que não se cansa de contaminar. É um fato mesmo essa adolescência adulta com tantas conversas sagazes que beiram a depressão. Um cansaço, uma estafa, uma balbúrdia com refrão pesado de guitarras dissonantes. Ao contrário da canção antes cantada em forma de parábola que você infectou o meu coração. Então agora eu rasgo lentamente enquanto espero o pedaço ou o algo que me traga lá de cima, do azul, do negro, do amarelo, do ciano, do grotesco infinito possivelmente desenhado. As minhas mãos estão ao alcance do entrelaço que revigora o privilegiado atroz esperançoso, pintado em gotas de tintas frescas. Vários tons ainda desafinam a beleza do retrato, para tudo, a leveza da melodia vai me causando pegajosos arrepios. Há vida no canto escuro iluminado com meu isqueiro de frivolidade. Pegue logo, o fluído está acabando.

segunda-feira, junho 26, 2006

Em uma constante...

... loucura. Os pensamentos não são mais ordenados. As coisas fluem de maneira psicodélica. Uma carência cafona amplifica a situação. E a destreza sacode a vontade de lutar.
A vida ainda existe, mas o coração se fecha no momento em que deveria se abrir. A imaginação voa e perfura o céu das possibilidades. O arrependimento se faz presente. Então, a cautela é mantida. É tão bom escrever subjetivamente. Um verdadeiro exercício para a escrita.

Os lamentos melodramáticos de futuros auxílios se parecem com meninas perdendo a virgindade. Por vezes aparece o prazer, por horas a dor. Mas quando é liberada a torneira dos fluídos, complicado é fechar o vazamento da sede carnal.

Não há como escrever, tem que fazer. E o subjetivo segue comendo o couro que sobrou da noite passada. Aliás, o momento foi registrado com os lábios, ficou marcado nas costas, no pescoço e no queixo. A cicatriz do sentimento antigo ainda sangra uma vontade carinhosa. O desenterro do cadáver comido pelos vermes do amor marcou o presente vivido. O caos garantido está retorcendo o futuro pálido da vida.

sexta-feira, junho 02, 2006


... E a noite chegou novamente. A puta começou a se preparar para sair, em busca do dinheiro do aluguel, do vício, da bebida e dos salgadinhos que comprava na mercearia do senhor Augusto. O beijo ainda insistia em permanecer na memória.
Desculpe não apresentá-la antes, mas ela se chamava Fabrícia Albuquerque. Com o passar do tempo, desistiu do nome. Começou a atender pela alcunha de Miss Loveface após ter ganhado um concurso de rainha gay, promovido pela Associação dos Amigos das Marias Madalenas, coordenada pela dona Clara, mãe de um traficante que largou uma boca de fumo para virar palhaço de rua. Mesmo assim, nas horas vagas ele ainda praticava o comércio ilegal dos ilícitos, porém, sem negócio próprio. Isso é outra história. Voltemos à Miss Loveface.
19h34. Marcava o relógio comprado em um camelô. A prostituta colocou no micro sistem um CD gravado por um amigo jornalista que ela acabou conhecendo em uma cobertura jornalística sobre meninas que abandonaram as famílias para se tornarem mulheres da vida. É lógico que a reportagem terminou em um boteco, em companhia de cerveja gelada e cigarros mentolados. A primeira canção do CD-R era “Blackjack Illywhack”, do The Raconteurs, banda formada por Jack White – guitarrista e vocalista do White Stripes – e por Brendan Benson, figurinha carimbada da cena alternativa americana. A puta adorava música. Sobretudo novidades.
A música iniciou e seus olhos brilharam. Pegou o lápis preto e desenhou com gosto os olhos. Passou cuidadosamente o batom, borrifou um perfume e arrotou com uma vontade tamanha um sabor de vodca, seu desjejum preferido. A levada meio jazz inspirou-a. Ela não estava com muita vontade de dar naquela noite, entretanto, a canção empolgou de maneira certeira que ela prometeu a si mesma que iria gozar. Algo que quase nunca acontecia quando atendia algum de seus clientes.
Desceu aos tropeços pelas escadas do prédio em que morava. E o beijo ainda invadia os seus pensamentos mais saudáveis. Ao chegar à rua, uma moça a esperava do outro lado, com um sorriso desconcertante de lábios rachados. Não enxergou o último degrau. Caiu. Um carro passou pela rua e atrapalhou a sua visão. Quando olhou novamente, a garota tinha sumido...

Continua...

segunda-feira, maio 29, 2006

Ela quer a continuação do beijo

Um retorno garantido pela parte financeira que lhe propôs. Nada mau para uma noite de quinta-feira, geralmente subestimada devida à véspera que ela herda. Trata-se da sexta-feira, dia mais lucrativo para as garotas que exibem as suas qualidades em pedaços sumários de panos.
Quando ela retornou ao seu ponto, não conseguiu esquecer o beijo. O sabor destacado do batom ainda invadia com satisfação a lembrança. Procurou a outra entre as ruas escuras do bairro. Não sabia o seu nome, nem recordou como tudo aconteceu. Apenas desejava mais um toque labial.
Percorreu por horas as calçadas irregulares, muitas com corpos narcóticos jogados como se tivessem sido abandonados por suas almas. Em algumas vezes, ela tropeçava neles com seu salto 15-momentos-de-altura-garantida-que-já-matou-um-nefasto-homem-que-fodeu-e-não-quis-pagar. Ela ficou muito puta e cravou a ponta agulha na cabeça do infeliz. A meretriz perdeu as cadeiras. Logo após o acontecido, se sentiu orgulhosa. Afinal, ela nunca tinha matado um cliente. As outras colegas de trabalho já haviam conquistado esse prazer.
A madrugada já tinha passado e ela não conseguiu encontrá-la. Voltou ao seu apartamento vagabundo e decidiu que quando a noite chegasse, ela iria procurá-la novamente. Enquanto o momento não chegava, se jogou na cama impregnada por algum perfume da Avon e procurou o sono que perdeu. Mas, logo a noite chegou... To Be Continued.

sexta-feira, maio 26, 2006

Beijo


Um beijo confuso. Molhado. Quente. Ardente. Propositalmente acontecido, acompanhado de um roçar lento de narizes. Situação orgástica. O lábio deslizava pelo queixo e o rosto áspero procurava o carinho da mão. Os olhos úmidos cruzavam visões com ângulos fechados. Os dedos tinham cheiro de fumaça, de uísque, de grama cortada, de sangue. As unhas borradas eram escárnios, de uma rudeza completamente bela. A maquiagem torta estava apanhada. Havia uma escuridão nos cílios que causava uma vontade doentia de iluminá-los. A boca era de um desenho estranho, quase cubista, mas que se encaixava perfeitamente. O toque lento por vezes ficava afoito. A respiração lenta acertava os póros que rebatiam novamente o ar. A pele morena ganhava proporções de pintura perfeita enquanto as luzes dos carros refletiam na tez.
Após o beijo que pareceu um canto dissonante de elfos clamando alegria, o mundo começou a ser um lugar bonito. A brisa da noite tinha aroma de baunilha. O silêncio se fez presente. Apenas um murmúrio singelo quebrou e acompanhou a sinfonia de motores de carros, buzinas, tiros, crianças gritando, putas no cio, rapazes expostos, policiais observando, meninas cheirando, garotos morrendo e cachorros fodendo.
Um cigarro foi aceso. A fumaça penetrou no ar denso. A outra mão procurou consolo e foi aceita pela ulterior que vazia também pedia aconchego. Novamente um outro beijo aconteceu. Ainda mais tenso, mais abstruso. Difícil entender. As bocas pareciam ímãs. Um sabor cáustico era sentido e os corpos encostaram-se ao poste da esquina, fetidamente perfeito. O local era de uma sujeira bem articulada, com traços embriagados e decoração pesadamente negra, como uma película de Marcelo Piñeyro.
Amantes torpes se deixaram entregar em um momento. Não foi efêmero, nem trivial. Havia constância. Cada qual atravessou a rua, sem palavras, sem despedida. Seguiram os seus caminhos, este sim, planejado pelo horário e pelos clientes que esperavam. Ela entrou em um carro cinza. A outra ficou utilizando o poste como apoio. Ambas sumiram quando a névoa subiu, mas o beijo se tornou eterno nos instantes que as solitárias sentiram uma razão de existência.

L.S. Handa

terça-feira, maio 23, 2006

Falas Cortadas


Um triste
Olhar
Enquanto o sono
Vadio
Vinha buscar
A atenção vazia
Do seu amar.
Conversa em crise
Em calados momentos
Mortos em gritos
De exatos tormentos
Recriados ao lado
Do puro jogado
Desejo obsceno
Não realizado.
Vontades
Contadas
Em sono
Ausente
Que agora se esvai
Em profundo soluço
Sentido presente
Nas falas cortadas.
L.S. Handa

segunda-feira, maio 22, 2006

Repugnante Tormento


Remete uma canção
Na dor mais antiga
Da eterna paixão
Pelo pó que levantou.

A lágrima absurda
Ecoa surda no berro
Da repugnante tradição.

Há tiros na escuridão
E silêncio na infância
Que insiste em se perder
No tempo da conclusão.

Sopra no barro um remorso
Causado pelo tempo.
Socorre ao álcool
Um pouco mais de lamento.

A lágrima absurda
Ecoa surda no grito
De repugnante tormento.
L.S. Handa

sexta-feira, maio 19, 2006

Pirotecnia acertando os olhos cor de jambo, enquanto o último raio solar acerta o coágulo de pensamento que evapora com o álcool. Passa pelo lado errôneo da superficial vida que ela entrega em sorriso. Deixa-se bela em uma imagem guardada em um porta-retrato comprado em liqüidação. Evapora em meio a neblina que cega a visão sedenta por coragem. Mas desiste quando uma canção estraçalha a vontade de ganhar. Ainda corre através do tempo um sentimento antigo com desejos camuflados. A pele demonstra a situação e a boca sela os segredos oportunos que não serão vomitados. Uma perfeita contradição explode junto ao peito que emite um ruído quase agudo, que até os surdos entenderiam. Mas aqueles que não preferem ouvir ficam mesmo na discrepância. Afeto por afeto, ela se satisfaz em solidão.Carrega em si um desafio tosco, enfeitado pela publicidade que fere a imaginação deturpada. Fala de felicidade alheia e esquece a sua. Perde-se na memória, tornando-se mártir esquecido. Isso é a vida.

Um Outro a Voltar

Venha vazar
O desejo
Junto ao veneno
Que ameno
Escorre pela boca

Alcance o sentimento
Do momento
Que desconcerta
Quando programado

Esqueça o amanhã
Se o agora
É o que importa

Revolte o avesso
Em compasso
Que se abre
E permite o encaixe

Deixe por enquanto
O acontecer se formar
Quem sabe depois
Volte a repetir.

L.S. Handa

Presente

Cometemos erros (grotescos)
Cometemos excessos
Alimentamos fracassos.

Praticamos deslizes
Dedicamos fiascos
Rompemos acasos
Fizemos sucesso/ Alimentamos angustias.

Dizimamos o amor/ Cometemos o ódio/ Comentamos o descanso.

LEMOS TORTURAS/ AJOELHAMOS NO ALTAR

Praticamos pecados
Ignoramos recados
Mastigamos hóstias
Fizemos a doçura.

COMEMOS O AMARGO/ RASGAMOS MANDAMENTOS
MATAMOS ILUSÕES/ SORRIMOS A TRISTEZA

tOCAMOS o FIM
vomiTAMOS A PUreza.

L.S. Handa

terça-feira, maio 16, 2006

De leve

De leve um sono bate. Leve em termos corretos. Levemente aflito, também. Levando em conta o horário que mais tarde fica. Além do mais, leve em consideração o transtorno do momento. Um tic tac feroz arrebenta com o tímpano. Ele sangra. Jorra o líquido vital pelas veias rompidas. O carro ainda está em exposição: destroçado.
O tempo passa. Novamente, tic tac, tic tac, tic tac. O relógio na parede da sala de espera não se cansa. O pensamento amigo não cria verdades positivas. A angústia aumenta. O tormento bate. Tic tac, tic tac. O coração aflito bate freqüente. Mais tic tac. Uma vontade de dar um tiro certeiro no relógio. Procura um sofá. Recolhe o rosto. Pensa no pior. Um médico chega. Notícias ruins. Notícias terríveis. Lágrimas em instantes.
O sono se perde no leve passar das horas que agora parecem não existir. A existência em um adeus, seco, pálido, triste. Procura o telefone para a ligação mortífera. Chora. Deixa-se em desespero. Sofre. Escorre pela parede o corpo que ele encostou. E dorme.

segunda-feira, maio 15, 2006

EMO, nada de CORE, apenas EMO

Está difícil. A cada filme, um novo tombo. Imagens certeiras que cegam, derrubam, estraçalham a córnea. O corpo se ergue no respiro, no momento da pausa. Tudo em vão. O mais recente chute no saco – sem direito a auto-defesa – foi “Punch-Drunk Love”, do idiossincrático Paul Thomas Anderson, esposo de outra estranheza conhecida pela alcunha de Fiona Apple (cantora e compositora). Ambos, talvez, formem um dos casais com mais influências mancebas idealistas que já se formaram na Terra. Por mais que as conseqüências veteranas estejam presentes na vida artísticas dos dois. Somente para reforçar, sim, eles são casados.
Tanto Paul quanto Fiona já deixaram registrados seus clássicos, em suas devidas áreas de atuações. O primeiro realizou um dos filmes mais admirados na recente história do cinema. “Magnólia”, com Tom Cruise e Juliane Moore, conquistou os cinéfilos de plantão com um emaranhado conjunto de histórias que se desdobram no final. Por dizer de Fiona, a moça debutou no mercado musical com o álbum “Tidal”, em uma época em que compositoras como Alanis Morissette ditavam as regras. Sub-produtos influenciados por Joni Mitchell e Tori Amos, mas com resquícios de consistência aptos a encorpar o saboroso caldo do mundo pop alternativo. “Criminal” foi a canção carro-chefe que levou Fiona a outra audiência. Logo após, pariu o elevado “When the Pawn...” (o resto do título não poderá ser fornecido, do contrário este texto ficará ligeiramente longo: demasiado).
O álbum apresenta em grande inspiração a compositora desbravando letras com apelos extra-sentimentais, onde a primeira pessoa, o “eu”, aparece em muitos inícios, meios e finais de frases. “Minha linda boca vai emoldurar as frases que irão contestar a sua fé no homem”, destila Fiona em determinada parte do álbum, que é melhor ficar assim mesmo, subtendida.
Retornando ao chute no saco, “Punch-Drunk Love” derruba, desconcerta, destrói. Do início ao fim. É um daqueles filmes que te prende pela necessidade de se transportar no personagem principal, sem fundamento algum. A pretensão existe, de fato, mas desnorteia até o momento em que os caracteres sobem. Você não entende, se esforça para buscar a mensagem, fica perdido. Mas no fim das contas, se emociona. E é assim que acontece quando se ouve Fiona Apple, qualquer álbum dos três que ela lançou. Algo também parecido com o que acontece nos adolescentes, sempre com problemas nem sempre entendidos, sem razão real de fundamento que acabam emocionando, por vezes, o eleitorado.
A cada novo filme descoberto na prateleira da locadora, excluindo os blockbusters que chegam aos pacotes, um tombo freqüente acontece. As referências estão ficando cada vez mais complicadas, perdendo o caminho. Nada importa, a perdição sempre se fez presente mesmo. Difícil é entender, como Paul e Fiona. Mas emociona.

sexta-feira, maio 12, 2006

Sleep tonight

No revés de um ato mal calculado, levanta em claves de sol um disparo afoito de lágrimas. Ecoa no momento surdo que não acalma, com os olhos repletos de remela carbonizada pelo fogo do cigarro. Empunha a guitarra e tenta buscar acordes dissonantes não existentes. Na realidade, desconcerta apenas o sono que não chega. Desiste. Passa, então, a buscar a companhia dos heróis encartados em Cds.

Um pouco de Mophine é capaz de ajudar. “The Night” e “Cure of Pain”, clássicos injetados no tímpano para auxiliar na reflexão sincera sobre as conseqüências do viver. O sax barítono presente no decorrer dos dois álbuns amortece o sentimento. Coisa fina.
Para desandar mais ainda na melancolia, “UP”, do R.E.M. Depressão eletrônica de primeira estirpe. Agora lágrimas molham o travesseiro.

O sono esboça um início. Nada chega, apenas rabiscos traçados tortos com precisão de bêbado. Um outro som vem a calhar. “The Man Who”, segundo e definitivo trabalho dos escoceses do Travis. A faixa 5 remete a uma calma tão particular que é impossível não abrir um sorriso solitário. E a moça que está com insônia sorri, boba, feliz, sozinha, em plena madrugada, deitada em sua cama. Esquece o álcool e dorme. “Sleep tonight”.

segunda-feira, maio 01, 2006

Ciao

22h58. Não dá para acreditar, mas um canção da Courtney Love me emociona. "Never Gonna be The Same". Particularmente incrível a sensibilidade da canção. É claro que nem todos vão ter esse mesmo sentimento. Ainda bem. Eu sou muito egocêntrico por certas coisas. E abro o peito para levar tiro. Quem quiser disparar que faça o favor de acertar. De mira errada já basta os trabalhadores dos casebres, verdadeiros caolhos ou míopes de razão.
23h02. Sandman está jogando areia em meus olhos. Eles agüentam mais um pouco. Só mais uma canção. Afinal, o feriado prolongado está acabando. Mais uma tragada em respeito ao gosto de ressaca que permitirá manter-se no decorrer dos dias que passarão arrastados, como aqueles que se entregaram às ideologias paradas. Alías, muitas compradas em comunidades pelo Orkut. O efêmero é arma de munições consideráveis. Chega a dar nojo de alguns seres.
23h05. Persiste. Uma mosca passa em frente ao monitor. Ela também está com sono, está bem zonza. Pronto. Agora ela caiu. Assim como vários outros alvos fáceis. Isso está começando a ficar enjoado.
23h06. A última canção acabou. O último cigarro eu matei. O sono nasce e me domina. Entrego-me. Cursor no iniciar. Desligar. Ciao.

sexta-feira, abril 21, 2006

Tem que saber

Fantasiando um amor com papel crepom e lã. Viajando em um pensamento utópico, acompanhado pela delicadeza ácida dos Delgados. A canção ideal para divagar é No Danger, do segundo álbum dos escoceses. Doces melodias que precisam ser degustadas solitariamente. Alguns não dão valor aos momentos individuais. São poucos os que sabem se sentir bem assim. Correto está Rubem Alves em admirá-los. De qualquer forma, Delgados é a companhia ideal para essas oportunidades. Adore, do Smashing Pumpkins, também é boa indicação. Em mais quem versos como "love is good and love is kind, love is drunk and love is blind" fariam tanto sentido? Nos solitários essas frases são líricas, poesia refinada de sabor incomparável.

segunda-feira, abril 17, 2006

Semana passada

Bate a insônia no corpo estremecido pelo abalo sísmico que ainda nem surgiu. Um prelúdio inexistente de paixão e derrota. O sentimento asco impregnado na memória desconcertada de esquecimentos garantidos. Um bocejo alcança proporções homéricas enquanto um som desconhecido corrompe o tímpano. O órgão ilustre do ouvido não agüenta e sangra. O arroto sônico explodiu em catarse os outros componentes da audição. O corpo se deixa vencer pelo sono.
Viaja pela escala musical das peripécias radiofônicas que cospem porcarias nojentas de verborragia e escárnio. Um catarro se esvazia em um momento de pretensão estratosférica. O espirro sonoro é ouvido a dezesseis quadras dali. Trata-se de um sonho ridículo de sucesso fabricado por industriais capitalistas que vendem materiais descartáveis. Realmente, a adolescência não passa de uma jogada publicitária. O enlatado da próxima semana estará no SBT, avaliado por produtores engraçados com sotaques díspares.
É o inferno previsto e estudado por Adorno. Como os intelectuais não evitaram isso? Nem poderiam, eles só opinam, não agem. Sartre pode ter comido algumas acadêmicas, mas era Bevouir quem realizava o intermédio. O lesbianismo tem suas razões. De qualquer forma ele pode se encontrar agora, no homossexualismo planfetário que alguns procuram vender. Os mais espertos ignoram o produto. A música extrapola certas barreiras contestadoras que devem cair do abismo da repreensão.
Mesmo assim o ouvido ainda está escancarado em feridas que dificilmente irão cicatrizar. O mercúrio cromo das possibilidades saudáveis foi proibido em uma reunião que contou com a participação de jornalistas e políticos corrompidos. Agora eles vendem matérias sensacionalistas aos meios alvejados pela crítica. Os intelectuais não passam de criaturas medonhas que sobreviveram a maior parte de suas vidas no pó. O ópio também era presente.Chegada a secreção involuntária que agora se forma ao redor da entrada do ouvido, um grito agudo acorda o corpo estremecido pelo abalo sísmico que ainda não surgiu. O sonho é interrompido por atrozes desvaneios característicos de folhetins. A vida real é ainda mais idiota do que a semana passada.

Cigarettes, alcohol and chocolate

Passado o feriado prolongado, o fígado e o estômago começaram a protestar. Uma sensação asco de ressentimento que agora se faz presente, ampliada, exagerada e deturpada. O caos fisiológico é repugnante, principalmente em uma segunda-feira de ressaca. No rosto uma nova espinha surge a cada hora. O sangue está precisando de oxigênio e de limpeza. Está sedento por purificação. Mas é a fumaça costumeira do tabaco que adentra as primeiras horas do início da semana. A água também marca contribuição pela garganta, porém, quando chega no esôfago, começa a evaporar pelos póros.
Mesmo assim, de todas as condições alcóolicas e doces vividas, os dias de sossego em companhia de pessoas especiais foram satisfatórios. O único empecilho é o retorno. Despedida. Não curto a sensação de tchau temporário que insiste em permanecer sempre em períodos de reecontro. É ruim ficar longe, apenas trocar curtos e objetivos telefonemas, mandar e-mails e recados pelo Orkut. A necessária constante física é essencial. Prefiro sentir os transtornos do fígado e do estômago a que ficar o resto do ano longe da pessoa que eu mais amo. É triste.