Meu nome é Leonardo Silveira Handa. Jornalista. Perdido. Achado. Amante. Radialista.

sexta-feira, novembro 10, 2006

Ah! Que pena Radiophonics

- Pai, o que você vai me dar de presente de Natal? Perguntou o menino de 12 anos de idade. O benfeitor, todo preocupado em dar uma resposta aceitável, engasgou na falada e tropeçou na dicção. Mas disse, por fim, que pretendia adquirir a bolachinha sônica da Radiophonics. Na hora, o guri esbravejou:- Dois olhos, EULÁLIA!!!!! Um sorriso se fez presente no rosto do pai.O tempo passou e o menino soube através de comentários de seu irmão mais velho que a banda tinha terminado as suas atividades. Os membros do grupo, cada qual, seguiria por estradas, talvez, paralelas. De tanto ouvir “Eulália” nas rádios, os ouvidos do guri desenvolveram aguçados sentidos. Ele sabia de cor os acordes da canção. Já tinha decorado as linhas de baixo e as precisas viradas da bateria. Inevitável a tristeza ao saber sobre o fim da Radiophonics.O pai, que tinha lido o release no site da banda, estava crente de que compraria o CD da rapaziada. Ele também ficou desapontado. Afinal, o que levaria um grupo com previsto futuro bom a se desfazer? Mais doloroso ainda era escutar os lamentos de um garoto de 12 anos a respeito do fim da Radiophonics. Difícil uma criança sentir tanta ficção por uma banda que, até então, tinha lançado apenas uma música na rádio.O Natal foi chegando e o pai não tinha comprado nada para o seu filho. As opções eram várias, mas apenas o CD vinha à cabeça. “Putz, que desgraçada banda que resolve parar assim, de uma hora para outra”, pensava o homem. Em uma dessas loucuras de se querer satisfazer acima de tudo o ente amado, o pai, que tinha lá os seus dotes musicais junto ao violão, entrou na paranóia deliciosa de gravar algumas canções da Radiophonics para o seu filho. Ele adentrou em um capenga estúdio de música, com um produtor repleto de lordoses musicais e gravou três músicas da banda. Duas, aliás, que não haviam sido gravadas. O resultado ficou amador, mas chamou a atenção.Eis que o Natal chegou e o pai, todo risonho, entrega o pacotinho ao filho com o CD quase artesanal, com as três canções e os dizeres: “Tributo a Radiophonics, by Nestor Padilha”. O garoto adorou! Divulgou para toda a vizinhança, que começou pedir as músicas nas rádios, que, por sua vez, colocou no Emule, que era baixada até pela galera do Japão, que lançou uma versão pirata em Tóquio, onde um produtor brasileiro (pura coincidência) ouviu e decidiu convidar o pai do garoto para gravar um single com “Eulália”. Que, por fim, estourou no Brasil e virou tema de novela: “Eulália, a feia sem boa dicção”. Leonardo Handa - Jornalista