Meu nome é Leonardo Silveira Handa. Jornalista. Perdido. Achado. Amante. Radialista.

segunda-feira, junho 26, 2006

Em uma constante...

... loucura. Os pensamentos não são mais ordenados. As coisas fluem de maneira psicodélica. Uma carência cafona amplifica a situação. E a destreza sacode a vontade de lutar.
A vida ainda existe, mas o coração se fecha no momento em que deveria se abrir. A imaginação voa e perfura o céu das possibilidades. O arrependimento se faz presente. Então, a cautela é mantida. É tão bom escrever subjetivamente. Um verdadeiro exercício para a escrita.

Os lamentos melodramáticos de futuros auxílios se parecem com meninas perdendo a virgindade. Por vezes aparece o prazer, por horas a dor. Mas quando é liberada a torneira dos fluídos, complicado é fechar o vazamento da sede carnal.

Não há como escrever, tem que fazer. E o subjetivo segue comendo o couro que sobrou da noite passada. Aliás, o momento foi registrado com os lábios, ficou marcado nas costas, no pescoço e no queixo. A cicatriz do sentimento antigo ainda sangra uma vontade carinhosa. O desenterro do cadáver comido pelos vermes do amor marcou o presente vivido. O caos garantido está retorcendo o futuro pálido da vida.

sexta-feira, junho 02, 2006


... E a noite chegou novamente. A puta começou a se preparar para sair, em busca do dinheiro do aluguel, do vício, da bebida e dos salgadinhos que comprava na mercearia do senhor Augusto. O beijo ainda insistia em permanecer na memória.
Desculpe não apresentá-la antes, mas ela se chamava Fabrícia Albuquerque. Com o passar do tempo, desistiu do nome. Começou a atender pela alcunha de Miss Loveface após ter ganhado um concurso de rainha gay, promovido pela Associação dos Amigos das Marias Madalenas, coordenada pela dona Clara, mãe de um traficante que largou uma boca de fumo para virar palhaço de rua. Mesmo assim, nas horas vagas ele ainda praticava o comércio ilegal dos ilícitos, porém, sem negócio próprio. Isso é outra história. Voltemos à Miss Loveface.
19h34. Marcava o relógio comprado em um camelô. A prostituta colocou no micro sistem um CD gravado por um amigo jornalista que ela acabou conhecendo em uma cobertura jornalística sobre meninas que abandonaram as famílias para se tornarem mulheres da vida. É lógico que a reportagem terminou em um boteco, em companhia de cerveja gelada e cigarros mentolados. A primeira canção do CD-R era “Blackjack Illywhack”, do The Raconteurs, banda formada por Jack White – guitarrista e vocalista do White Stripes – e por Brendan Benson, figurinha carimbada da cena alternativa americana. A puta adorava música. Sobretudo novidades.
A música iniciou e seus olhos brilharam. Pegou o lápis preto e desenhou com gosto os olhos. Passou cuidadosamente o batom, borrifou um perfume e arrotou com uma vontade tamanha um sabor de vodca, seu desjejum preferido. A levada meio jazz inspirou-a. Ela não estava com muita vontade de dar naquela noite, entretanto, a canção empolgou de maneira certeira que ela prometeu a si mesma que iria gozar. Algo que quase nunca acontecia quando atendia algum de seus clientes.
Desceu aos tropeços pelas escadas do prédio em que morava. E o beijo ainda invadia os seus pensamentos mais saudáveis. Ao chegar à rua, uma moça a esperava do outro lado, com um sorriso desconcertante de lábios rachados. Não enxergou o último degrau. Caiu. Um carro passou pela rua e atrapalhou a sua visão. Quando olhou novamente, a garota tinha sumido...

Continua...