Meu nome é Leonardo Silveira Handa. Jornalista. Perdido. Achado. Amante. Radialista.

quinta-feira, novembro 05, 2020

 Hoje lembrei, ao acordar, de escrever uma carta.

Coloquei a água para ferver e preparei o meu café.
Lembrei das noites mal dormidas, dos dias sofridos.
Dos cigarros derrubados no chão, do cinzeiro transbordando.
O sol perfurou a janela e o raio entrou sem pedir licença.
Não sou observador, confesso, muito menos sentimental,
Mas a cena me pareceu um sinal. Lembrei você.
Iniciei os agradecimentos, os olás, o tudo bem.
A fumaça do café se misturava com a do cigarro.
Contei um pouco da rotina que ainda acabará me matando,
Dos estranhos que acabo entregando intimidades,
Da moça da panificadora, do chuveiro estragado,
Ainda tenho que arrumá-lo. Tenho preguiça.
E do roteiro que ainda insisto em não terminar.
Percebi que faz um ano. Como foi estranho.
O seu perfume adocicado já não mais está presente,
Seus discos de new wave eu já doei,
O anel, penhorei.
Não quero apavorar a sua paciência
No entanto, ainda recebo as suas revistas femininas.
Se possível, cancele a assinatura.
Se não me quer passar o seu endereço, tudo bem,
Mas não desperdice mais dinheiro.
Nunca sei quando estou sendo melodramático, pior que novela.
Não se incomode, só queria dizer que ainda vivo.
Ainda tenho uma recordação sua: aquela foto.
Noite escura, boteco e cerveja. Lembra?
Foi a última. Agora fica saudade.

iPod

 Uma canção de beijos desesperados rola no iPod. Meia luz escura no apartamento. Ela, deitada no sofá, olha a foto mais feliz: lábios em contato acompanhando a canção. A água ameaça pingar pela torneira da cozinha, mas o que desliza é a mão pelo rosto. O cantor da música dá razão aos sentimentos da moça. O tom aumenta e um falsete desesperado rasga o tímpano sofrido. O olho não segura e permite um deslize.

A lágrima encontra a almofada, que já está molhada desde o verão passado. A sequência de acordes termina e ela volta ao zero, coloca no repeat e se deixa envolver pela atmosfera subversivamente caótica da canção. Levanta-se como quem quisesse se deitar novamente, lança um olhar de desprezo na foto e grita ao primeiro corte. A canção está tocando pela terceira vez. Os joelhos encontram o chão e uma surdez mórbida invade por alguns segundos.
Ela sente deliciosamente o que pensou ser uma lâmina. O objeto fica encaixado enquanto o fluído ameaça escorrer. Desliza. Lisa. Desfaz. Delícia.
Deita-se no tapete felpudo e se deixa atingir por mais um golpe. Dessa vez não resiste e se agarra no vazio sentir do momento. E o iPod para de funcionar.
lsH

 _Nada demais em pensamentos outrora. A viagem acabou, o dinheiro também, e o sexo não foi bom. O pessoal se mandou. A sala está bagunçada, o disco está riscado. A faixa que pula é aquela que você não gosta. O disco? Aquele que você detesta.

O sol está surgindo. As preces, continuam. O embargo da voz engole a derrota, o choro, o fracasso. Mas o dia vem e apesar do tsunami nessa casa, a esperança enche novamente esse copo de vodca. Nada melhor do que a coragem líquida para embalar a situação.
_Um cigarro está aceso, alguém saiu de fino. O fino eu acendo. A viagem retorna, o dinheiro transborda e o sexo volta a ser bom. O pessoal retorna. A sala está cheia, o disco toca normalmente. A faixa é aquela que você gosta. O disco? Aquele do Traveling Wilburys.
O sol se despede. As preces, esquecidas. A voz vira grito e a derrota é bebida, o choro, vomitado, e o fracasso, foda-se. O tsunami abençoa os seus quadris, a esperança fica linda nesse copo de vodca. Nada melhor do que prosseguir com a coragem líquida para enaltecer a situação.

 O tal conceito de burocracia é amplo (o que é uma merda), mas se caracteriza por um sistema hierárquico que, dizem, é repleto de divisão de responsabilidade. Também pode ser lembrado como uma administração cheia de divisões e regras, sobretudo. Ou seja, resumidamente grotesco: totalmente desnecessária ao funcionamento de um sistema.

Ardem-me os olhos quando algo tão simples precise ser analisado por um conjunto de habilidades que, por fim, quase se tornam dogmas que todos reclamam, porém, quando ali vividas e inseridas, fazem delas aliadas.
Balzac, em sua sã-loucura, vomitou que a burocracia é um sistema gigantesco gerido por pigmeus. Melhor tradução não há caso a frase seja degustada no sentido pejorativo, sem qualquer descriminação aos pigmeus, mas sim, às pessoas de pensamento pequeno.
É lamentável, ainda mais em redes sociais, quando se menciona ou se lembra de algo semelhante. Apesar de necessário o bom senso, a audácia e a criatividade não devem ser mal-tratadas por causa dela ali em cima citada.

sexta-feira, outubro 23, 2020

Uma Canção de Natal

 Ele estava lá enquanto os fogos anunciavam

Sabe-se qual o motivo para o entusiasmo.
Seus olhos refletiam a solidão da sala
Enquanto brindes eram comemorados.
Apesar de presente, a mente se encontrava ausente
E em outro lugar seu pensamento voava.
Não tinha casa alguma que gostaria de dormir
A não ser aquela que bucólica imaginava.
Vieram abraços que eram estranhos, mas não temia
Havia sorrisos que distraídos não o atraíam.
Bebeu seu último gole de sidra azeda
E abriu a porta para uma tentativa de fuga
Queria o passado naquele momento
Quando seus pais compravam pijamas
E seus irmãos comemoravam o ato simples.
Perdido ele atravessou a rua
E na encruzilhada avistou a lua
E como milagre algo rasgou o céu
E sua falsa esperança desapareceu.
Léo Handa - 2013

domingo, outubro 11, 2020

 O amor no anoitecer, estremecendo o lábio que vazando assobia: vamos partir. O sorriso nasce como um sol que anuncia renascimento-morto. O povo ignora o sofrimento de um término, mas esquece que da dor uma força bruta, brota. E o pôr-de-algo vem surgindo rabiscando o céu com tintas laranjas. O reflexo no olhar enaltece o gostar. O lábio agora se abre e no outro se fecha, com o astro rei se despedindo e avisando: amanhã, novamente, eu brilho.

 De toda a forma, o meu entregar ao seu lado/ Minha caricatura mais animalesca refletida no espelho/ Os seus olhos a penetrar/ A sua veia a admirar/ O seu coração para despedaçar.

De todo meu, o sincero fel ao escorrer do canal/ Um trunfo para admirar/ Sua respiração a acompanhar/ Segredos trocados na saliva/ Lasciva fala pronta para narrar.
Entrego o meu e acompanho a sua/ Lua baixa pronta de sangrar/ Cálice aberto de admitir/ Troco o pulso pelo momento/ Não adianta argumento/ Perco um pouco para viver.
Rabisco meu nome na pele/ Cicatrizo a fúria na tez do rosto/ Esotérico lido nos lábios/ Letra triste mimetizo nas costas/ Significado seja outrora não compreendido/ Meu amor hoje explícito.
Formam frases por vezes/ Depende agora do ângulo/ Mas apenas um aparece/ Algum sabe, outro esquece/ De maneira certa, tudo fecha/ Meu poema escondido/ Meu sentimento declarado.

 Para que serve essa porra de amor? Eita sentimento mais complexo que irrita. Agita o cérebro, emburrece. Na primeira manhã, café, doces, cigarros e beijinhos. No primeiro mês, ainda. No segundo mês, quem sabe. Depois, desgaste. Café, doces, cigarros e beijinhos misturados e jogados no chão. O líquido preto, amargo. O chocolate, meio-amargo. Os cigarros, amassados. E os beijinhos, enjoados.

Quando se tenta colocar dois corpos no mesmo espaço, nem sempre é fácil se ajeitar. Afinal, são duas cabeças e personalidades na divisão do local. Ainda no início, óbvio, o encaixe é perfeição. Abraços apertados, mãos entrelaçadas, pernas encostadas, olhares compenetrados e lábios encaixados. Depois, corpos meio tortos, mãos nada firmes, pernas amolecidas, olhares míopes e bocas rachadas.
Frescor na linha de partida. O dado é jogado, algumas casas são avançadas, a novidade é linda de morrer e o coração o órgão pulsante que vai levando harmoniosamente o sangue para as partes baixas. Lógico. O amor também bate na coxa. Como se bate. Mas, o músculo se cansa, leva o vermelho devagar que, enquanto descansa, não resiste e não levanta. O resto, óbvio. Aí não adianta, o jeito é rir ou encarar e entender: o amor cansa.

 Trago aqui os olhos

Que admiraram
Sua feição em instante.
Quero hoje
Aquilo de ontem
E constante.

O volátil amor baseado na cibernética

 Para que serve essa porra de amor? Eita sentimento mais complexo que irrita. Agita o cérebro, emburrece. Na primeira manhã, café, doces, cigarros e beijinhos. No primeiro mês, ainda. No segundo mês, também. Depois, desgaste. Café, doces, cigarros e beijinhos misturados e jogados no chão. O líquido preto, amargo. O chocolate, meio-amargo. Os cigarros, amassados. E os beijinhos podem ficar enjoados. O que um não quer, dois não sentem.

Quando se tenta colocar ambos os corpos no mesmo espaço, nem sempre é fácil se ajeitar. Afinal, são duas cabeças e personalidades na divisão do local. Ainda no início, óbvio, o encaixe é perfeição. Abraços apertados, mãos entrelaçadas, pernas encostadas, olhares compenetrados e lábios encaixados. Depois, corpos meio tortos, mãos nada firmes, pernas amolecidas, olhares míopes e bocas rachadas.
Frescor na linha de partida. O dado é jogado, algumas casas são avançadas, a novidade é linda de morrer e o coração o órgão pulsante que vai levando harmoniosamente o sangue para as partes baixas. Lógico. O amor também bate na coxa. Como se bate. Mas, o músculo se cansa, leva o vermelho devagar que, enquanto descansa, não resiste e não levanta. O resto, óbvio. Aí não adianta, o jeito é rir ou encarar e entender: o amor cansa quando um acha que se basta.

 Vento horizontal em obtuso caso

Perfurando leve o pensamento sujo.

O lençol molhado em cama seca
E a tez deitada esperando agrado.
Caráter esfacelando em combustão
E olho em sal um tanto maltratado.
Vento horizontal levante em grau
E um pouco de veneno com cal
Enquanto avalia o desejo pensado
Enfraquecendo-o na segunda base.
As pálpebras desistem de lutar
E permitem um doce madrugar.

quinta-feira, setembro 17, 2020

 Um coração leviano invade essa cama, até então abrigo de um único corpo desnudo e maltratado. Os lençóis, agora trocados, parecem respirar em homenagem à presença que perfuma o quarto. Um sorriso agora é peça fácil nos lábios que outrora sangraram o delírio do mal-estar de várias paixões. Um brilho no olhar é presença constante em noites onde a insônia é bem-vinda.

segunda-feira, setembro 07, 2020

 Nada se compara a você.

Eu queria ter um derrame de amor,
Por ti.
Meu rádio toca a mesma canção
Meu tímpano está viciado
E o meu corpo também.
Por ti.
Respiro aquilo que te cheirei
Do peito até sua nuca.
Eu queria ter uma ferida contigo
Que continuasse aberta
Até de amor nos curar.
lsH

 Hoje eu quero ficar

Sozinho
Dar uma volta
No meu vazio
Olhar ao redor
E me deitar
Em meu ninho.
Quero o só
O dó da canção
O só lamento
O sortimento entre o vão
Quero só querer
Sem remeter
Nada de perceber
O além do ser.
lsh

terça-feira, agosto 25, 2020

Vale o Quanto Brilha


Alma da calma presente no corpo
Que pede abrigo em alma outrora,
Outrora física que se satisfaz
Em fazer de retrato publicável,
Publicável esse que absorve trama
Que destramada observa viril
Na viralidade de um vírus vil
Que cansado pede a cama.
Bate forte dentro do peito o leito
De leite em borda transpirando nata
De calor em adjacência pulsa
Um pulso fraco de memórias claras.
lsH

segunda-feira, agosto 24, 2020

 A garoa fina dá o tempero. Na sala, em um velho aparelho de som, uma linda canção embala o ninar das horas. Os olhos se fecham e ele pensa naquela situação que chamam de amor. Sua cabeça ainda arde memórias frias, mas a música ajuda como se fosse nicotina para um fumante.

O coração lembrou traições e pulso um gole de sangue mais intenso pelo corpo. A dissonante adentrou o tímpano e conquistou alívio. Ele queria tudo de novo, no entanto, sem a dose do sofrer. Hoje se encontra em outro plano e quer viver mais emoções ao lado de um fruto doce, que veio como salvação. No entanto, a perfeição ainda não pode se realizar, pois não pode tê-la completa.
Ele continua pensativo, confortavelmente abraçado pelo edredon, seu companheiro mais fiel. E a canção continua a acalmar sua ansiedade de pegar o telefone e realizar uma cagada. Mas a mente funciona mais do que a emoção.

 Nós clamamos por atenção. Às vezes somos tão individualistas que queremos ser o centro, assim como a Igreja recitava na época medieval que o Sol girava em torno da Terra. Galileu precisou se retratar. Com o tempo, nós, também nos retratamos, afinal, existem pessoas que giram ao nosso redor, ao invés de nós, girarmos ao redor deles. Mas quando percebemos, é tarde. Mesmo assim, mesmo com essa metáfora esclarecida até demais, queremos a atenção, seja em forma de carinho, afeto, abraço, dizeres, fraternidade e, acima de tudo, amor. Pena que não valorizamos. Pena que os outros não valorizam. Pena que não nos entregamos. Pena que só vemos quando se apaga. Pena que não giramos mutuamente, para assim, a forma ser completa como um círculo deve ser, como uma rota deve ser, como uma órbita exata para se findar, repleta de começos, recomeços e afins.

terça-feira, agosto 04, 2020

Chega esta época e bate a retrospectiva. O passado recente adentra a porta da cabeça. Nada melhor do que deixar as janelas do cérebro receberem a canção Please, please, please, let me get what i want para ajudar a relembrar. Eu nunca soube, mas a música praticamente nasceu comigo. God times for a changes.

Rabiscando alguns pensamentos em vão, o retorno ao berço satisfaz a gratidão momentânea. O sorriso se abre como flor e pétala por pétala é arrancado no presente, aguardando, enfim, um futuro bom. Enquanto isso, os mesmos clichês repetitivos em bordões televisivos invadem os cérebros dos tranqüilos. Mas são os intranquilos que dão mais vazão aos sentimentos que jogados imploram por atenção. Nem sempre são vistos com nobreza. O clichê, por si só, é uma pobreza repugnante. Porém, é nesta época que eles possuem sentido.

Implacável Relógio

Cansaço persiste em triste descaso/ O acaso em limite se faz em atraso/ Limite em verso, controverso palpite/ O sorriso existe, no caso em riste/ Palpável de fato, indelével suspiro/ Espirro o momento, acato no vento/ Percorro sem tempo, o segundo perdido/ Implacável relógio, que para invertido.

lsH

Longe, bem longe.
Estado separado.
Sinto tremendo,
Afeto meu, desespero.
Inseguro ar puro
Apurado em feto
Amputado nunca.
Queria o jeito
Daquele falado.
Bem estreito
Adentro íntimo.

Tem que ser
Com significado
Com signo
Com significância.
Sem vingança
Sem cretino
Sem certificado.
Tem que ser
No ser tendo
A serenidade obtendo.

Emprega em minha prega
O seu lamento diário.

Fraco argumento para despregá-la
Mesmo sendo eu
Uma puta sem documento.

O meu amor está em guerra
E o seu olho me fere em fera
A sua guitarra me distorce
Mas tenho o ouvido ferido.

Reclama afoito o coito
Não deixando mais do que um troco.

Desconversa em público verso
Para depois jogar o inverso
Que não entendo anexo.

O seu amor não é pagável
Inviável sentimento apresentado
Sentado me quer nua
Naquela nuance absurda e muda.

Salgado em uma poesia praiana, curtindo Acabou Chorare, imaginando um ano paralelo de encontro e satisfação com aquele frescor litorâneo. Sigo pelo caminho ainda projetado por sonhos não terminados. O sol, ao banhar o meu rosto, aquece os planos possíveis. Confesso que o meu lado niilista continua aniquilando as pré-determinações que rabiscamos naquele papel de guardanapo. O amarelo cobre hoje as frases tortas escritas com caneta Bic. Tudo mudou.
Volto ao trajeto das trilhas cobertas pelas folhas de outono, estação de aniversário e lembranças de puras sumidades. Eu queria sentir novamente aquele calor de seus braços e o toque moreno de sua pele. Um dia, como você falou, a volta trará a argúcia das tardes vadias na rede, no balanço da maré, nos passos calmos marcados na areia. Espero que o meu processo estilo A Concepção não se faça presente, afinal, a sua presença preenche os sete buracos da minha cabeça. Caetano sempre me deu razão. E vazão.
Destilo dos meus poros outra letra de maresia, mesmo com influências nada costeiras. Pego o violão para transformá-la em canção. Então, após um início, eu canso e durmo, somente para te encontrar.

Uma linda canção arrastada transformou o seu holograma em matéria, em tátil, em massa. Ainda com os olhos fechados eu procurava enxergar com as mãos, somente para descobrir cada intimidade da sua pele. A música chegou ao final. Aquela mesma e manjada nota derradeira fez tanto sentido na profundida castanha dos seus cabelos que, de fato, não vi. Após abertos, percebi como o tempo e o destino revelaram tardiamente a sua presença, "que entrou pelos sete buracos da minha cabeça", como cantou Caetano. Afinal, o baiano é a nossa satisfação sonora dividida e contemplada. Mesmo assim, me pergunto: - Por que só agora? Tínhamos de ter tido outra oportunidade. Se fosse um ano antes, o diferente se faria presente, as angústias seriam açúcar, os dizeres, coloridos, e os beijos, não clandestinos. Mas, como "os infernos são os outros", basta continuar com os olhos fechados.

Meia-luz, meia taça, meio vinho, meio assim. Meio abraço. Metades. Sejamos. O meu grito foi de fúria. Fúria de viver. Fúria de gostar. Fúria de azar. Fúria de natureza. Fúria de final. Fúria de fazer. O seu foi de desespero, de lamento, de tristeza, de pesar. Juntemos, então, cada qual em uma outra canção com apenas três notas dedilhadas que imprimiu o sentir das coisas ali expostas. Uma delicadeza noturna que os amantes da razão entendem com perfeccionismo salutar. Eu queria ter citado outro poema, mas esqueci os versos. De toda a forma, imprimiu na boca a sede metafórica das delícias sobrescritas em meu peito. Se todos os dias fossem assim, eu seria o rei de mim. Portanto, sigamos. O caminho aberto das possíveis adjacências, os textos intermináveis sobre o fel, o mel, o céu. A cicatriz descoberta e marcada em um Dia de Independência da nossa nobre nação. A dobra revelada quando caído o pano apresentou. Um sono em seu ombro, agora, continuou no meu sonho. Prometo sempre estar em sua confusão, mesmo que seja a última, a vice-campeã, a prata, o bronze e o amálgama.

lsH

um sono bipolar. seja lá o que isso queira dizer. não venha. o quê? não tenho opção. como assim? não quero mais sonhar, continuar, prolongar. não sei do que você está falando. nem queira, não faça, nem peça. mas o que há? não há, exatamente isso. todos temos problemas, eu sei, existe contorno. não! só em traços da faber castell, não quero iniciar mais uma palestra a respeito dos sentimentos. sem dúvida, nem quero ouvir. então trate de fazer como aquele pintor e corte as suas orelhas. como? chega! mas qual o motivo? que seja qualquer um, já tenho tantos que nem mais quero lembrá-los. muito complicado, viu? então não veja, fure os seus olhos com pregos enferrujados, contraia tétano, fique estrábico, rasgue a retina. nunca te percebi assim, nunca te senti tão frio. então não sinta, perca o tato, retire as digitais, queime as mãos. prefiro, agora, não ter provado o gosto. ótimo! aproveite e pegue o seu cheiro e o arremesse para bem longe daqui junto as coisas que doei, que gastei, que sofri. antes não tivesse sido. exatamente, que nem tivesse, pois nem de você estou falando. não entendo? então, eu já disse, nem queira. mas eu quero! por favor, não tente, coloque os seus cinco sentidos nessa sacola do Carrefour e veja se ela se decompõe em menos de dois anos.
lsH

Castelo Negro

seu maldito, meu coração
apostaria um novo ritmo
mas com ele, o meu ouvido
se alimenta de emoção.
não deixe o abandonar
causar um furo no tímpano
que vaza lamentos
e agradece sortimentos.

seu maldito, o seu passado
é melhor do que
qualquer presente.
Mesmo ausente
confio a ti o seu ensinamento.

quinta-feira, junho 25, 2020

Vou estraçalhar o meu peito. Vou cuspir o azedo. Vou dar um beijo seco. Vou chupar o amargo. Vou contar os segundos. Vou atirar nos minutos. Vou atropelar um coração. Vou sofrer o caramba. Vou reviver o futuro. Vou viver o passado. Vou praticar o presente. Vou me perder na estrada. Vou pedir uma carona. Vou viajar pelo deserto. Vou ser amigo da solidão. Vou encontrar a derrota. Vou cortar a cabeça. Vou cheirar óleo diesel. Vou ressecar o olho. Vou furar a mão com um prego. Vou subir uma montanha de pó. Vou sorrir a tristeza. Vou desapegar o contato. Vou desejar um abraço. Vou querer muito mais. Vou pensar no roçar de pele. Vou querer algo mais. Vou lembrar de você. Vou novamente sofrer. Vou correr pelas escadas. Vou encontrar o topo. Vou pular no abismo. Vou cair com os olhos abertos. Vou dormir para te achar. Vou sonhar para viver.
Melancolia minha, daquilo que vivi ontem, ou daquilo que vivo agora.
Melancolia nossa, tão ausente quanto tu.
Melancolia outrora, futuro breve, obtuso instante.
Melancolia a noite e ao dia.
Melancolia boa deste momento
Melancolia ótima para refletir
Melancolia incrível para amar
Melancolia linda ao vento.
lsH
Esse Meu Doce Matar
Quebrei a cara.
Que cara eu sigo?
Persigo o curto.
O caminho fácil.
Qual a graça?
Pergunta simples.
Sigo errado.
Pelo menos, acho.
Se acho,
Certeza
Não tenho.
Mas se tenho algo
Algo talvez
Eu sinta.
Analiso
E sintetizo
O que escapa.
Um mapa
De fragmentos
Descolados na memória
Soltos por aí
Em ilhas digitais
Sem reset
Sem delete
Sem gilete
Sem deleite.
Troco um destino
Por dois carinhos.
Mas tenho
Carência?
Só aderência
De permitir
Meu egoísmo.
Penso
Logo, resisto.
Desisto
Ao contrário
Pois sou
Bem otário
Quanto ao sentimento.
Queria o inverso
Mas serei frio?
Não entendo.
Compreendo que afasto
Todavia é meu erro?
Porém, contudo, senão?
Quem sabe você
Que me abrirá
Abrigará aqui
Uma resposta acolá.
Enquanto isso,
Vou ali
Sozinho fumar
Algo que
Pelo menos
Me faça sentir,
Nem que seja
Esse
Meu
Doce
Matar.
lsH
Até de amor nos curar
Nada se compara a você.
Eu queria ter um derrame de amor,
Por ti.
Meu rádio toca a mesma canção
Meu tímpano está viciado
E o meu corpo também.
Por ti.
Respiro aquilo que te cheirei
Do peito até sua nuca
Da tatuagem até a virilha.
Nada se compara a você
E tenho medo
Que tudo será comparado,
Nos próximos,
Nos outros,
Nos vácuos.
Eu queria ter uma ferida contigo
Que continuasse aberta
Até de amor nos curar.
lsH
Na aventura dos sentidos
O tempo resgata os perdidos
E aquele ali, que antes
Escrevia poesias marginais
Agora elabora discursos
Para os petistas.
E o calor de seus lábios
Hoje esfriam o amor
Que os direitistas, ora exacerbados
Portanto cancelam
Gritos exacerbados.
No trajeto da sua letra
Algo ecoa nesse ouvido
Porque no outro, eu duvido
Que a Marina vá profanar.
Mas na aventura dos sentidos
O tempo resgata
Até os esquecidos
E a dança cega da digitação
Far-se-á breve, por obrigação.
Vou estraçalhar o meu peito. Vou cuspir o azedo. Vou dar um beijo seco. Vou chupar o amargo. Vou contar os segundos. Vou atirar nos minutos. Vou atropelar um coração. Vou sofrer o caramba. Vou reviver o futuro. Vou viver o passado. Vou praticar o presente. Vou me perder na estrada. Vou pedir uma carona. Vou viajar pelo deserto. Vou ser amigo da solidão. Vou encontrar a derrota. Vou cortar a cabeça. Vou cheirar óleo diesel. Vou ressecar o olho. Vou furar a mão com um prego. Vou subir uma montanha de pó. Vou sorrir a tristeza. Vou desapegar o contato. Vou desejar um abraço. Vou querer muito mais. Vou pensar no roçar de pele. Vou querer algo mais. Vou lembrar de você. Vou novamente sofrer. Vou correr pelas escadas. Vou encontrar o topo. Vou pular no abismo. Vou cair com os olhos abertos. Vou dormir para te achar. Vou sonhar para viver.
Já fomos mais inteligentes
Já fomos mais sagazes
Já fomos mais felizes
Já fomos mais interessantes
Já soubemos escrever.
Já soubemos interpretar.
Já fomos mais leitores.
Já fomos mais amáveis
Já fomos mais amantes
Já fomos mais sorridentes.
Já soubemos distinguir.
Já soubemos brincar.
Já fomos mais futuro
Hoje somos saudosistas
Para o bem e para o mal
Até a morte, amém.
lsH

sábado, junho 20, 2020

Sons



O ouvido alheio
Se irrita
Na gíria que grita
De uma sala qualquer

Fica difícil relaxar
Na confusão dos sons
Que não comunicam
Na caixa que pulsa.

O convívio que cansa
Quando o ruído alcança
A distração do fato.

Cansei de ignorar
Essa repulsa que dança
O meu desesperar.

lsH - 20 de junho - 20h45

terça-feira, junho 16, 2020

Bloody Paper


Sangrando em páginas
Rabiscando o desejo
Aproveitando o momento
Curtindo o sofrimento.
Vendo o tempo
Apreciando o vento
Lambendo o rosto
Jogando palavras
Destacando o argumento.
Sangrando em linhas
Desfilando o sentimento
Olhando a foto
Observando o tratamento.
Sangrando em frases
Justificando pensamentos
Rabicando gerúndios
Desligando sortimentos.
lsH

domingo, abril 12, 2020

Momento


E naquela hora exata
A sua frase imposta
Me fez acreditar
Que a vida valia a pena.
Mas a minha pena
Foi confiar que você
Era o amor exato
Que completaria
A minha imperfeição.
Hoje sabemos
Que nada aconteceu
E que apenas o impulso
Nos conduziu pela estrada
Que de asfalto era pó
E o momento, ilusão.
Ainda bem que o bem
Não estava naquele instante
E que o fim foi melhor
Para o meu eu.
Às vezes é triste
Aceitar a tristeza
Como forma de certeza
Para melhor viver
Essa falta de amor.

domingo, março 29, 2020

Por que não saiu quieto, assim
Para que o alarde das flores quebradas
E o sangue pela boca.
Para que o jocoso do tímpano
O pus da alegria e a ferida de lágrima?
Por que em paz arrancou os olhos?
Os vidros na pele como poesia
O álcool na virilha, o esperma na retina,
A vida se fazendo de boa em cada esquina.
Por que não tirou o cerne no segundo ato?
Como defunto alegre que revive no saco,
que se vira na púbis, que levanta do oco,
que se satisfaz em coprofagia.
É preciso manter os dois olhos atentos, como se estivessem sedentos por sangue, por amor, pela conquista de um novo terreno, mesmo que seja árido, úmido ou magnífico. É necessário duvidar do que o mentor em sala de aula projeta, arquiteta e repassa, como se aquilo não fosse a verdade absoluta, pois existem outras maneiras de se obter as mesmas informações do que entre as quatro paredes. É mandamento, sobretudo, amar tudo o que você entende como essencial para viver e desregar o abismo incrédulo dos preconceitos, independente se você nasceu, se criou e permaneceu em solos repletos da hipérbole do tradicional, do convencional, do puritano e conservador. Mas, é fundamental interpretar.
Vocês vão se dar mal
Defensores do bom costume
Que não se acostumem
Com suas indecisões
Pois a nossa decisão
Vai nos levar além
Algo que já aconteceu
No pior sentido
Que levou para lá
Uma mulher que não defendia
O seu bandido de estimação
São vocês que não entendem
Que direitos humanos
Não são a mesma coisa
Que assassino e ladrão
Como é difícil compreender
Algo tão simples?
O cérebro secou?
Por que piorou?
Agora se o policial morreu
Querem o mesmo pedestal?
Sugerem que os valores inverteram
Mas foram os seus que desvalorizaram.
E hoje eu estou puta
E quero inverter junto aos outros
E engrossar o coro
Porque já nos disseram:
Feminino de luto
É luta.
lsH