Meu nome é Leonardo Silveira Handa. Jornalista. Perdido. Achado. Amante. Radialista.

segunda-feira, dezembro 24, 2012

Cicatrizes

Quando as cicatrizes coçam é chuva? Só se for aquela que remete às lembranças, somente para recordá-lo de como conquistou cada uma. Aliado ao álcool, tenho a impressão que elas ficam vivas, se mexendo na pele, atiçando o cérebro. 
Já são algumas. Não importa quantas. Cada qual com um significado nos dias atuais. Nesta época do ano, elas são revividas. Na cabeça, eu diria que são os cornos. Muitos. Sem mencionar os que virão. Sou quase como peste. Um dia sempre sou traído. Nas costas, resquícios de noites. Muitas. Pior que lembro de todas. Unhas, dentes e até canivete. Tem também um sinal feito por uma tesoura. Foi bem violento. Na mão, um acidente. Eu diria de trabalho. Não vem ao caso. Nos joelhos, o radicalismo, a vontade momentânea de praticar esportes radicais. Sempre me fodo. Nos pés, as voltinhas pelas pedras das praias. Essas eu tenho com orgulho. Volta e meia coçam para valer, principalmente quando imagino a areia, o sol, o vento, as pessoas lindas e bronzeadas, o sal, o mar e a alegria. Algo bobo, mas que alimento. 
E, agora, particularmente uma coça para caralho, despertando uma semi-ira. Aquela que ficou bem localizada, ao centro do peito. Essa me lembra o Natal. 

terça-feira, dezembro 18, 2012

Eu deveria ter parado.
Eu deveria.
Eu deveria ter impedido.
Eu deveria.
Eu deveria ter negado.
Eu deveria.
Eu deveria ter ligado
Eu deveria.
Eu deveria ter relegado. 
Eu deveria.
Eu deveria ter aproveitado.
Eu deveria.
Eu deveria ter me calado
Eu deveria.
Eu deveria ter abortado.
Eu deveria.

Mas o que eu deveria
Era não ter esquecido.
E esqueci.
Não deveria.

lsH

quarta-feira, dezembro 12, 2012

Minha solidão não compartilhada, aliada à condição que agora, acompanhada, dedilha o dedo junto ao violão. Não insisto companhia, minha via hoje é única, sem túnica, sem trilhos, sem descoberta. Coberta a minha vontade eu não reclamo nada, nem um beijo, nem um abraço, nem um calor. A boca está seca, mas de cantar. O lábio seco entorpece em um vinho, daqueles vagabundos, que pintam a pele de tinta e álcool, de satisfação e conclusão: para gostos não refinados, nada vale um rótulo acima de R$ 50,00. 

Eu poderia estar jantando, degustando o oriente, mas a minha vontade permanente era de estar exatamente aqui, sem planos para a quarta, sem oitavas para as notas, sem tons para o acaso, sem 50 tipos para qualquer coisa. A melhor pedida, hoje, nada tem a ver com o reclame. Também não se trata de autoajuda. Acuda, quiça, outro dia. Nessa noite, quero o pingo, a fumaça dançando solitária, uma risada bem elaborada, um programa lazarento e um admirar contra o vento. 

Novamente, ressalto, não é melancolia. O escrito pode parecer triste nesse dia. Mas é o contrário. É meio otário, como o verso que escuto no rádio, sem presságio para o presente, para o ausente, para o passado, para o futuro, para o obtuso. É como comercial que provoca um riso, no entanto, não cria a vontade de consumismo. Algo neutro, como o detergente escorrendo pela pia, como cão sem a sua guia, como doença sem penicilina. 

Hoje, adoro a chuva, cada gotinha que morre em minha janela. Hoje, quero chuva, cada água pequena evaporando sem paralela, sem rodeio, sem devaneio. Hoje, quero duas, seja chuva, seja água, seja gota. Quero bem assim, calma, devagar, como sexo sem pressa, explorado sem a preocupação do gozo, alcançado progressivamente, a cada passo, a cada sussurro, sem murro, sem esporro, algo mais puro. Hoje, quero assim, para amanhã, não saber o que querer.

domingo, dezembro 09, 2012

Obtendo

Longe, bem longe.
Estado separado.
Sinto tremendo,
Afeto meu, desespero. 
Inseguro ar puro
Apurado em feto
Amputado nunca.
Queria o jeito
Daquele falado.
Bem estreito
Adentro íntimo. 

Tem que ser
Com significado
Com signo
Com significância.
Sem vingança
Sem cretino
Sem certificado.
Tem que ser
No ser tendo
A serenidade obtendo. 

lsH

sexta-feira, dezembro 07, 2012

Sentirei sim. Quase como um martírio, seja como for. Os dias mórbidos serão embebidos com vodca. A mesma que esqueci. Queria a leveza dos traços brasilienses, daquele que morreu. Sorte que temos os outros, os perdidos da cidade que procuram abrigo, o dizer tatuado neste braço. De toda maneira, continuarei a sentir. Sou bem carnavalesco. Rodopio, esbravejo, giro aflito, beijo e grito. Tudo interno, tudo em silêncio. Só que não.
Passarei os dias como verbos no gerúndio, vamos continuando, prosseguindo, amando. E nem é um tchau, longe disso, ainda. O meu lado é exagero, sempre fui. Nada comparado com o Cazuza, lógico. Normal. Enquanto isso, fico de boca fechada, de coração apertado, de oração corrompida, de turno alterado, de profundo dissonante, de cortante atmosfera, de esfera fora do ângulo, de rota não planejada só para a melancolia adentrar. Resumindo, sem resumir: sentirei sim.