Meu nome é Leonardo Silveira Handa. Jornalista. Perdido. Achado. Amante. Radialista.

sábado, dezembro 04, 2021

Eu em Mim

Calmo,
o alvo
Ao meu conselho.
Concreto
O dia em concerto
O seu conselho.
Eu queria sempre assim
Mas sei que nem sempre
Encontro o eu em mim.
Penso,
Senso em número
O útero que nasci.
Sinto,
O fruto que
Não omito. 
Sou Virgem com ascendente em alcatrão.
Meu elemento é a terra, com doses de cocaína,
E a minha lua natal faz conjuntura com a fluoxetina.
Meu mapa astral é repleto de fumaça
E o meu signo vaga solto na sua saliva
Que é ainda mais virginiana
Do que todas teorias freudianas.
Antes um ascendente em touro me cravou
Uma agulha de veneno que me derrubou.
Mas o horóscopo diário quis o contrário
E a minha lua natal se revelou esclarecida.
Sou Virgem com ascendente em vodca.
Minha cor é púrpura, mas o que se vê é fogo,
E o meu sol poente adormece em cinza
Da ponta do meu cigarro interligado à boca
Que em conjuntura com o açoite
Adormece o meu corpo com o boa noite.  
Eu quero ser o Mefisto para te satanizar.
Quero beber o seu chorume para me santificar.
Eu quero ser o seu Verlaine a disparar
E vê-lo como Rimbaud aos poucos se fechar.
Eu quero ser o Bucowski para te marginalizar.
Quero ser a Julieta com o veneno a tomar.
Eu quero ser o Catulo para em obra te eternizar.
Quero como Polifemo em prados a chorar.
Eu quero como Castela o seu corpo velar.
Eu quero como Garcilaso em poemas te amar.
Quero ser o São Francisco de Borja a abandonar
Não assumindo a corte para se apaixonar.
Eu quero me dar um tiro na têmpora
Como Werther quando com Carlota
Em nenhum momento pensou em se casar.
Quero ser como Ana Karenina a abandonar
O próprio filho para um dia se matar.
Eu quero ser como Sandokan a lutar
Pela pérola de Labuan a se entregar.
Quero como Lancelot a se sacrificar
Traindo o seu mentor para se casar.
Quero como Robin Hood a raptar
Para um dia com Lady Marian copular.
Eu quero ser a Beatriz a resgatar
O Dante que no purgatório ia se esfacelar.
Eu quero como o Marco Antonio
Que por Cleópatra não quis mais governar.
Mas eu também quero como eu
Em nome próprio poder te exaltar.

quinta-feira, novembro 25, 2021

Para encontrar
Não precisa muito
Mas o prosseguir
Precisa tanto. 
A vida é tão simples.
A gente que complica.
E por causa do acúmulo,
Temos problemas mentais.

terça-feira, novembro 02, 2021

 Eu quero a sua pele exposta em mim, agora. Quero sentir o respiro de cada poro, como pequenas explosões de satisfação. Quero te fazer gozar com a precisão mais cirúrgica que o Pitangui já proporcionou. Quero retirar do seu hálito o gosto novo inventado na minha boca. Quero proporcionar o amor mais afoito nas horas mais improváveis. Quero arrebentar em decibéis o seu tímpano, com inúmeras frases que versarão sobre o sentimento maior: o amor. Quero te chatear e te cansar com as minhas asneiras e baboseiras a respeito do gostar. Quero te encher de guloseimas sentimentais e te abusar nas madrugadas de chuva. Quero embebedar o seu olhar com os gestos mais cafonas que o romance pode enobrecer. Quero viajar em seu corpo e utilizar a minha língua em cada dobra que eu encontrar. Quero me aperfeiçoar na melhor breguice que uma canção pode ocasionar. Quero me fortalecer na fúria de seus lábios enquanto o futuro aguarda o mais belo sorriso que nenhum dentista ousará em interferir. Quero a sua biologia de noite e de dia. Quero o seu cantar bem colado no meu ouvido. Eu quero a sua tez morena cada vez mais ligada à minha satisfação de te ver feliz.

Finada

Uma canção de beijos desesperados rola no iPod. Meia luz no apartamento. Ela, deitada no sofá, olha a foto mais feliz: lábios em contato acompanhando a canção. A água ameaça pingar da torneira da cozinha, mas o que desliza é a mão pelo rosto. O cantor da música dá razão aos sentimentos da moça. O tom aumenta e um falsete desesperado rasga o seu tímpano sofrido. O olho não segura e permite um deslize.
A lágrima encontra a almofada, que está molhada desde o verão passado. A sequência de acordes termina e ela volta ao zero, coloca no repeat e se deixa envolver pela atmosfera subversivamente caótica da música.
Levanta-se como quem quisesse se deitar novamente, lança um olhar de desprezo para a foto e grita ao primeiro corte. A canção está tocando pela terceira vez. Os joelhos encontram o chão e uma surdez mórbida a invade por alguns segundos.
Ela sente deliciosamente o que pensou ser uma dádiva. O objeto fica encaixado enquanto o fluído começa escorrer. Desliza. Lisa. Desfaz. Delícia.
Deita-se no tapete felpudo e se deixa atingir por mais um golpe. Dessa vez não resiste e se agarra no vazio sentir do momento. E o iPod para de funcionar.

segunda-feira, outubro 11, 2021

 Para que serve essa porra de amor? Eita sentimento mais complexo que irrita. Agita o cérebro, emburrece. Na primeira manhã, café, doces, cigarros e beijinhos. No primeiro mês, ainda. No segundo mês, quem sabe. Depois, desgaste. Café, doces, cigarros e beijinhos misturados e jogados no chão. O líquido preto, amargo. O chocolate, meio-amargo. Os cigarros, amassados. E os beijinhos, enjoados.
Quando se tenta colocar dois corpos no mesmo espaço, nem sempre é fácil se ajeitar. Afinal, são duas cabeças e personalidades na divisão do local. Ainda no início, óbvio, o encaixe é perfeição. Abraços apertados, mãos entrelaçadas, pernas encostadas, olhares compenetrados e lábios encaixados. Depois, corpos meio tortos, mãos nada firmes, pernas amolecidas, olhares míopes e bocas rachadas.
Frescor na linha de partida. O dado é jogado, algumas casas são avançadas, a novidade é linda de morrer e o coração o órgão pulsante que vai levando harmoniosamente o sangue para as partes baixas. Lógico. O amor também bate na coxa. Como se bate. Mas, o músculo se cansa, leva o vermelho devagar que, enquanto descansa, não resiste e não levanta. O resto, óbvio. Aí não adianta, o jeito é rir ou encarar e entender: o amor cansa.
no caminho do sempre quis
tanto foi que fiz
na estrada do tanto faz
percorremos para trás

 Vento horizontal em obtuso caso
Perfurando leve o pensamento sujo.
O lençol molhado em cama seca
E a tez deitada esperando agrado.
Caráter esfacelando em combustão
E olho em sal um tanto maltratado.
Vento horizontal levante em grau
E um pouco de veneno com cal
Enquanto avalia o desejo pensado
Enfraquecendo-o na segunda base.
As pálpebras desistem de lutar
E permitem um doce madrugar.

quarta-feira, outubro 06, 2021

Um caso por acaso
Causou um desabar.
Fracasso em sentir
Um bom gostar.
Travado um soltar
De sentimentos
Repudiou o decepcionar.
Abriu os olhos
A falsa esperança de criar. 

Minha e Meu

minha febre adorada
meu porre de vodca
minha doce angústia
meu dia nascendo
minha alma desencarnada
meu filho não ejaculado
minha casa mobiliada
meu povo faminto
minha droga injetada
meu amigo confidente
minha letra inconsistente
meu verso corrompido
minha poesia dilacerada
meu motel preferido
minha amante titular
meu eu acróstico
minha vida não temperada.
Um coração selvagem arrebenta a alma de um poeta caído. A tristeza se esvai para outras redondezas. A vida ganha um novo sopro na descoberta acidental. A pureza já perdida percorre novamente pelos poros da satisfação. Os olhos se fecham para receber o carinho.
As mãos tocam lentamente o pulso de prazer.
A beleza antes não era percebida. Agora há a entrega do sentir. O vazio some como se estivesse escorrendo pelos dedos. A pele se encontra com a outra e não desiste. A cabeça viaja em pensamentos recentes. Difícil acreditar no que está acontecendo. Os lábios exploram o desconhecido. As outras experiências se dissipam. O caos do início vira compartilhamento. A sensação se torna troca. O carinho, perfeição.
As pernas se enroscam.
A respiração alcança o ápice. O deslize é frequente. O rápido fica lento. Os beijos, permanentes. A explosão chega logo. A luz penetra os olhos. O gemido, vocalização. E o final é um trejeito.
Logo se separam para repousar.
O explícito fica tímido. As cobertas, camuflagens. Os sons se transformam em silêncio. E a respiração, melodia. Um dedo faz audácia. O outro corresponde. Se abraçam novamente. Não começam, mas permitem. As horas se distraem. O escuro, cambaleia. O tocar é percebido. E o amor é destravado.

quinta-feira, setembro 30, 2021

Agora quero sentir outra vez as ondas acertarem as minhas pernas. Quero de novo o sol fuzilando os meus olhos. Quero um sentimento dilacerando a minha alma. Quero me sentir livre no local de felicidade. Não quero lembrar das canções ruins. Não quero ler os textos de perdição. "Quero um amor com pedaço de fruta mordida".
Sinto que o retrocesso não é a ocasião.
Não procuro em nada a perfeição, já que a imperfeição sempre me chamou mais a atenção. Gosto do cheiro dos perdedores, da fumaça desgraçada que se espalha pela maresia. Adoro descer no trapiche das memórias poéticas e livres. Encontrar nos rostos dos admiradores da ilha uma verdade que volta a ser virgem devido ao lugar que emana descontração. Pessoas que antes tímidas descobrem um sopro de alegria de pura combustão. Uma liberdade não alcançada entre os fios de conexão.
Quero aquilo que nunca deveria ter saído. Visualizar o novo que ainda não foi criado. Descobrir um capricho não revelado. Desfrutar da carne não abatida. Beber um gole de novidade antes de entrar na madrugada querida. E depois de aproveitar os minutos que desvelam, quero lembrar o passado sofrido, os momentos ressuscitados e os casos contados. Tudo ao som de The Coral ou outra bandinha de som delicado.
Ele não pensou que poderia magoar tanto uma pessoa. Mas o fez. Repensou tantas coisas na confusão que é a sua cabeça doente. Tentou se levantar da cama, enxugando as lágrimas. Deu tontura. Entre o tchau e o fechar da porta, deixou em arrependimento o outro partir. Talvez nunca mais tenha tanto amor canalizado ou sentido assim.
Ele queria dizer mais, conversar, esclarecer, porém, não conseguiu se expressar. Logo ele, que mexe com as palavras, ou achava até então que mexia. Diversas ficaram entaladas na garganta e agora explodem numa dor silenciosa e dilacerante.
O amor é algo confuso, às vezes. Quando você o tem demais, os níveis de dopamina no cérebro são quase equivalentes à primeira carreira de cocaína. É uma euforia. E vira uma gangorra de sentimentos misturados. Com o tempo, alguns querem mais, outros, menos. Esses últimos, por sua vez, não mensuram que podem acabar ferindo os que são mais afoitos. Aí vem a dor, ainda mais quando acompanhada de um rompimento.
E ele nunca pensou que poderia magoar tanto, em sua vida, uma pessoa. Ele sempre era o magoado e acabou desenhando em um papel a imagem de um vilão que está prestes a viver nos próximos capítulos.

domingo, setembro 26, 2021

 Frio da Sibéria faz visita. Aflita ela grita: é setembro. Mais precisamente, final. O tempo, que não é bobo, replica: fica na tua. Toda nua ela deseja dormir, mas se veste porque não possui pelo. Elo, talvez, ela quisesse. Com o gelo, no caso. Mas a sua profissão necessita do despir. O que basta? Apenas rir. Por mais que ame o frio, ficar de cinta-liga no semáforo com o vento calejando a Zona Sul não lhe agrada. Por isso, ela grita: é setembro!

entranhas estranhas

 Ela não acreditou quando lhe mostraram o mundo refletido em olhos de elefantes. Não desejou nenhum bem, mas não deu vazão ao mal. Apenas sorriu um favor pela realidade. Justificou em estrelas cadentes, que acabavam de morrer, seu pouco amor. Caiu do alto do andar que enroscava distraído em um céu de mármore ardido. Pensou estar sonhando com deuses mitológicos em uma banheira de cristais. Pavimentou o caminho com pequenas gotas de chocolate e se entregou nua ao destino traçado por uma caneta Bic vermelha. Abriu a rosa de metal líquido que logo escorreu entre as entranhas estranhas. Fechou a boca para que a borboleta atômica não adentrasse o seu canal mais sincero. Congelou em sentimentos agrupados por besouros azuis que queriam denunciar a carnificina. Se viu magoada em um cálice de pólvora que explodiu alegrias adjacentes. Queria um pouco mais de tempo para continuar a sina do viver. Mas ela não sabia do sentimento, um ferro gravado em seu crânio de isopor. Tentou outras alternativas, como roubar um coração de pedra de algum cavaleiro medieval.

sábado, setembro 25, 2021

Trato ao contrário/ Para fingir o certo que omito
E destranco em sorrisos ensaiados que fojem
Dos meus lábios.
É cediço, mas ignoro/
Frêmito a negação/ Em meu coração
Mesmo batendo oco um desejo verdadeiro.
Grimpo por delgados deletérios/
E faço de suas páginas dobraduras que perduram
Em minha memória salutar.
Não é salobro o meu sentimento/
Prefiro não deixar por aí, espalhado em ares
Que não posso respirar.

 Culpa dos dizeres ingratos que fizeram você me ver, tragando tabaco perfumado com o cansaço da dor. Eu não sei o sofrimento que te traduziu simples. Nem lembro da causa amplificada em ódio repassado com urgência.

SÓ FUI PERCEBER A FALÊNCIA
QUANDO AS PÁLPEBRAS SE FECHARAM.
Tristemente alegre o seu silêncio me calou
Da traição surgiu o amor que aos poucos evaporou.
NADA FEZ A LEMBRANÇA SUPERAR AS HORAS QUE AFOGUEI
EM COPOS DE GIM COM GUARANÁ
ACOMPANHADO DO MEU DISCO PREDILETO.
Se a outra te faz mais bem, quem sou o eu que irá discordar?
Siga o natural que foi criado. A OPÇÃO FOI FEITA PARA ESCOLHER, assim mesma, simples de se explicar EM UMA CANÇÃO DOCE DE MATAR.

Despedaçando a tristeza em acordes dissonantes para aumentar a dose amplificada da dor. Assassina mais uma garrafa de vodca, enquanto relembra memórias de afeto. Era um garoto tão contente, escapando simpatia pelos alinhados dentes. Mas eis que chegou a confusão desandada fora do equilíbrio. Um estranho sentimento que foi ganhando corda, despertando desejos e destilando vontades.

Os chegados ficaram desconfiados, mas o aceito veio pelos lábios dos mesmos. O comportamento opcional contornou feliz em um abraço de aprovação. Toda a alegria do início parecia eterna nas frases levantadas em mastros de caneta tinteiro. O amor, enfim, chegou. E foi embora rápido pela freeway dos desavisados.
Não demorou e a lágrima fugiu do olho e se suicidou em queda livre. Retornou à tristeza sem saber o local em que ela saiu. O vento desgostoso bateu no rosto traçado por feições amarguradas. Ele pensou em desistir, porém, o contrário mostrou o lado certo e ele se libertou. Bêbado.
É madrugada. Normalmente a insônia invade sem pedir licença e leva horas que poderiam ser sonhadoras. O comprimido não causa mais a sensação boa do relaxamento, só traz insatisfação pela não eficácia que não apresenta no rótulo. Tudo bem.
O dia foi um tédio de proporções que não caberiam nesse escrito. É muito fácil reclamar, difícil é arrumar as soluções cabíveis para melhorar esse desempenho, essa tentativa de sobreviver. O doce vai perdendo o gosto até que acaba. Desgustar aos poucos necessita de muita paciência, qualidade que foi jogada no buraco negro de ilusões. E a madrugada segue acompanhada por uma dor de cabeça leve, porém, chata.
Às vezes parece que tudo vai dar certo. Mas, é só o efeito dos primeiros segundos que o tabaco causa. Dura muito pouco a sensação. Há coisas mais fortes. O experimento, por enquanto, não será necessário. Se bem que alucinações fazem parte do não concreto. Imaginar é preciso.
Nada de areia nos olhos. Nada de sonhos perdidos e sem nexo. Nada de amores fugazes. Nada de escárnio. Só há misantropia. E madrugada.
Segue pela estrada. Sozinho. As únicas companhias são as estrelas e o rádio ligado em uma estação qualquer. O locutor parece estar travando um monólogo quando anuncia a próxima canção. "A love that will never grow old". O motorista sente uma fisgada no coração. A lágrima não demora e se joga do olho. Ele relembra o amor perdido. Continua em linha reta. Perde a direção. Estaciona o carro. Acende um cigarro.
Um frio corta o lábio e ele imagina estar envolvido em braços que perdeu. Fica mais um pouco no conforto do inverno que deixou perder o coração. Não entende o por quê de certas coisas. Procura por explicações que não existem. Não compreende. Percebe que está rodando em círculos e sente os disabores do amor. Aumenta o volume do rádio e se deixa guiar pela música. Triste.
Entra no carro. Volta a dirigir. A canção acaba. Inicia outra. Mais dolorosa, mais melancólica, mais claustrofóbica. Ele sente a falta, intensa, forte, cortante como o frio que faz na estrada. O inverno nunca foi tão severo como antes. A solidão retorce a sua essência e ele não quer desafio pior do que esse. Se desconcentra e acerta um barranco. Capota.
Fica desmaiado nos instantes que ele pensa estar em sono profundo. Sonha com o caso perdido entre fumaça e uísque. A noite estava simplesmente bela. Os dois conversavam sobre o nebuloso futuro que poderia surgir. Imaginavam os planos. Traçavam as derrotas. Ficaram bêbados.
Quando ele acorda já está em um quarto branco. Aparelhos ligados e sinais que parecem guiá-lo a lugar nenhum. Uma enfermeira injeta algo em sua veia. Ele volta a encontrar os sonhos. Somente nos sonhos ele consegue ser feliz, pois é quando enxerga o seu amor.
Depois disso ele não acorda mais. Procura dormir sempre nos momentos de medo. Se agarra no sonho para viver em paz. Silêncio.
Bálsamo em abraço/Te quero exato em crise aberta/ De triste sorriso ao sangue em face.
Te cheiro navalha em madeira cortada/ De perfumado dedo sujo ao tanto/ De encanto refúgio no banheiro aberto/ O acesso é livre.
Na Constituição agora desencanto/ Um traçado torpe de linhas correstas/ Com fumaça no rosto e um beijo com gosto de sexo lendo ao puro oposto.
Perceber que aqui - só - solamente com o olho de vidro que ilumina através de várias cores, vejo que a graça está justamente nisso. Tratar de ousar está em acabar de novo o algo niilista. Nem quero pensar que o inverso do meu verso sarcástico provoque ira, não é a intenção. Na real, a vontade é de guerra, mesmo nessa era de sorrisos falsos. Amargo é ainda saber que a claustrofobia do dia cega o causar do riso desesperado. Mas a vida tem dessas coisas do paradoxo, dos paradigmas e das manias. Nem sempre se pode ser bom. Quero arrancar o coração e fazê-lo alimento para os animais. E na tranquilidade fico no esconderijo, com incenso, vela e Jorge Drexler.
Atrasar o que nunca foi começado, agora, inicia um período de vago sentimento. O pensamento está inacabado como acabo com mais um litro. A promessa foi parar, mas fiz algo. Não consegui e prossegui, até terminar. O último gole é o mais preciso e gostoso.
Deixa cá, que perceber é realmente ver a volta das características das mensagens exatamente subliminares. Se ser direto é simplista, então, desconcertar é impreciso na precisão da minha mão cega.
Me emano, mano. Saudade meu caro, o Caetano és, não me engano.
Não há busca
Em troca de algo
Nem calor, nem amor.
É de sorriso que se abre
Um agradecimento.
De fato lógico
Um rompimento
Por hora chegou.
O cataclisma de sentimento
agora vazou.
Não foi culpa dos dois:
Um outro sempre surge (depois).
Atmosférico. Viagem sinistra pelo pensamento audacioso. Remorso inconstante em ação. O teto gira como catavento, mas nada pega, nem relento. Os olhos vidrados trincam no claro. Truques do destino, faro-fino do saber. Entendimento nulo, obtuso retrato de deglutir. Exercício de saber, sem contas a fazer. Poesia riscada, letra quebrada, canção dilacerada. Frase rabiscada da cintura para cima. Frescura de sentir, dor de agoniar. Amor em vão, alegria em grão. Tropeço do acaso, caso do sossego. Leituras apagadas, sentimentos invertebrados. Páginas estupradas, canetas abertas. Vaginas lagrimosas, pênis com rinite. Atmosférico. Hiberbólico sonido de substância lícita, na leitosa vulva que oferece carinho. Pus de felicidade brotando dos lábios, que doloridos sorriem torto. Mas morto um desejo FRANCO, mesmo não conhecendo o significar. Do contrário, honraria o batizado. Atmosférico. Periférica entrada conhecida. Fálico gostar de satisfação. Faça-se honesto, pelo menos no agora. Embora outrora a aurora, flora de sangrar lá fora. Atmosférico. Fake de Coca-Cola com sabor de Pepsi, colorido artificialmente com Suvinil. Falsificação de M.Officer em boutique luxuosa nos Jardins. Atmosférico. Fere até viver.

ÁGATHA

Uma bala perdida
Encontra o corpo aquém
Que além tinha sonhos
E agora deixa a saudade
Na alma de alguém.
Deixa a marca triste
Da infinita lágrima
Que vai em riste
Cortar os olhos
De pura lástima.
Vai permanecer em vida
Na eterna lembrança
De uma criança
Que transpirava alegre
Alguma esperança.
Vai seguir em conflito
Num grito incontrolável
Que pedirá o fim
Da mazela ridícula
Que é apresentável.

sábado, setembro 18, 2021

Aguenta minhas bobagens, minhas asneiras, minhas tolices. Além, suporta os meus dedos, a minha boca e o roçar dos meus lábios. Empresta-me para filtrar a minha voz estriquinada, tratorizante e verbolatente. É desenhada exatamente à face. Nem mais, nem menos. A cantada breguíssima, como o profanador, foi sincera. Curti o riso, compartilhei o humor.
Tem um algo a mais. Possui a característica certa. Arrepia-se. Não sei do que, não sei de que, não sei por quê. De desgraça, talvez. De aguentar. Enxergo errado. Sou míope. Meio surdo, também.
A melhor orelha.
Às vezes precisamos de doses de loucura,
De noites insones,
De silêncio em meio a tanta porcaria que nos invade os olhos e ouvidos.
É preciso sentir essa maluquice
Que bebemos e arrotamos em vida,
Porque nada levamos, a não ser cada impressão digital na pele,
Cada história compartilhada,
Cada beijo alucinadamente dado.
É necessário saber se ouvir,
Mesmo com tanto remédio controlado na mente.
É obrigatório saber amar desenfreadamente,
Sem dosar as consequências,
Mergulhando de piruetas em pedras que nem sabemos se estão fundas.
É preciso sentimento real e muita coragem para estufar o peito e dizer tranquilamente: eu te amo.
Às vezes não é preciso nem dizer com palavras,
Apenas transmitir em gestos simples,
Leves,
Carinhosos,
Generosos e deliciosos.
Não é afoito sentir vergonha.
É lindo quando se pode encontrar alguém
E olhar nos olhos
E repassar docemente o sentimento através da pupila,
Da íris,
Das pálpebras,
Do piscar,
Do brilhar.
E, para tanto, é sim necessária
Uma boa dose de loucura,
Pois a normalidade é careta
E vizinha amiga da idiotice
De não saber aproveitar o momento.

quarta-feira, setembro 15, 2021

_abuso_

os pés descalços
no vidro
ouvido
no fundo
infinito.
calor de mão
no fogão
dedo
dentro
do umbigo.
gemido de criança
sem crença
e nos olhos
o choro
sem bença.  

Millôr Fernardes, colabore

Deixe-o expressar o ódio
Mesmo que em entrelinhas
Nessas linhas vorazes
Que faz ferver os olhares.
Deixe que uns tiros
Tirem a vida alheia
De um cidadão de bem
Que passeava no sábado.
Millôr Fernandes, eles tinham razão
O que fazem de melhor é por opção.
Deixe que a boa pessoa
Prossiga a sua ira
Enquanto isso mais uma família
Vai velando alguém para o além.
Deixe que a vida
Aponte o que perderemos
Pois daqui para o futuro
Será lembrado o que sofremos.
Millôr Fernandes, você sempre avisou a prole
"Certas coisas só são amargas se a gente as engole".  

terça-feira, agosto 24, 2021

Nós clamamos por atenção. Às vezes somos tão individualistas que queremos ser o centro, assim como a Igreja recitava na época medieval que o Sol girava em torno da Terra. Galileu precisou se retratar.

Com o tempo, nós, também nos retratamos, afinal, existem pessoas que giram ao nosso redor, ao invés de nós, girarmos ao redor deles. Mas quando percebemos, é tarde. Mesmo assim, mesmo com essa metáfora esclarecida até demais, queremos a atenção, seja em forma de carinho, afeto, abraço, dizeres, fraternidade e, acima de tudo, amor.
Pena que não valorizamos. Pena que os outros não valorizam. Pena que não nos entregamos. Pena que só vemos quando se apaga. Pena que não giramos mutuamente, para assim, a forma ser completa como um círculo deve ser, como uma rota deve ser, como uma órbita a conter o giro exato para se findar, repleto de começos, recomeços e afins.

domingo, agosto 22, 2021

Terça-feira. 21h39. Meu radinho toca uma canção do Nick Drake, o que me faz pensar naquele amor que deixei no litoral, num dia cinza de setembro, todo molhado pela lágrima de um São Pedro traído. Os barcos voltavam sem peixes e os rostos dos pescadores eram de tamanho descontentamento que até Hitler ficaria com pena. Lembro de ter olhado no fundo de sua pupila e lido um sentimento de desespero, mas com um resquício de esperança adocicada pela bala que você mordia.

O vento do mar levantava o seu cabelo castanho e você passava a língua nos lábios, como se estivesse sentindo o gosto do sal que era transportado pela brisa. Aos poucos os pescadores amarravam as suas embarcações. Assim que terminava mais um dia, o sorriso ia retornando às faces, cada qual contentes por ter a certeza de que uma morena estaria esperando na porta de casa, com o jantar pronto e todo o carinho possível para oferecer. Eu tinha comentado exatamente isso enquanto a nuvem mais pesada foi se diluindo no céu, dando lugar à primeira estrela a surgir. Aquela cena dos pescadores indo embora, não sei porque, chamou a sua atenção. Presenciei uma lágrima. Cheguei mais perto e te abracei com todo o calor que pude proporcionar. Você retribuiu.
O feriado estava acabando e o meu retorno era necessário. Lembro de ter te deixado naquela praia. Foi a última vez que te vi. No ano seguinte a maldita doença levou a sua presença e o que sobrou eu ouço todos os dias: essa canção do Nick Drake que não sai do meu radinho. Agora o pescador sou eu, retornando de um mar sem peixe e sem uma morena para dar o carinho necessário. Mas, no fim das contas, sabemos que é preciso fases de tristeza para termos períodos de felicidade. Um é complemento do outro. Um pro outro.

Vai doer

Derrame essa lágrima em sua taça de conhaque. Beba pelo amor que deixou escorrer pelos dedos, pelas entranhas, pelas castanhas em sua boca, pelo medonho que te acompanha nas madrugadas. Faça tudo lentamente, nem tente apagar rapidamente, que a criatura da dor será mais persistente.
O momento trará a carência, tenha certeza. Pegue na mão dela e vá passear. Abrace-a e durma de conchinha. Apesar de gelada, é necessária. E, quando novamente a lágrima cair, misture ao café e deguste.
Ao entrar no Facebook e vê-lo com seu o status de relacionamento alterado, vai doer. Com certeza você vai olhar o Mural dele. Vai doer. Lógico que olhará novamente suas fotos. Vai doer. Não terá remédio que ajude, nem o Rivotril para te ajudar a pegar no sono. Pegue seu pijama, faça um chá e vá dormir.
Ao caminhar na rua, com seu vestido dado de presente e, caso encontrá-lo com seu grupo de amigos, respire. Caso tenha força, encare. Caso não, fuja. Sua casa tem um sofá confortável e uma coleção de comédias românticas que ajudarão no sofrimento do momento. E, claro, vai doer.

Depois de alguns meses, talvez passe. Leva muito tempo para superar uma traição. Mas passa, No entanto, vai doer.


sexta-feira, agosto 20, 2021

Inferno Astral

 Vou bailando torto

Pelo corpo
Que me aguenta.
Vou cantando morto
Pela boca
Que me arrebenta.
Vou chorando louco
Pelo olho
Que me afugenta.
Vou catando oco
Pelo coração
Que me ensanguenta.
Vou fingindo bobo
Pelo sentimento
Que me sustenta.
Vou sofrendo doido
Pela cabeça
Que me desorienta.
lsh
20 de agosto, 2019.

terça-feira, agosto 10, 2021

Penso que o amor inconsequente é o amor absoluto. O tema, já descascado por vários, ainda rende muita renda para novos panos. E, quando tratado por um diretor jucundo como Wes Anderson, o bicho pega. "Moonrise Kingdom" possui e revela destreza que o sentimento, quando fugaz e sincero, emana na junção de dois corpos que se permitem em ser únicos.

O retrato figurado em arquétipos infantis, não obstante de atitudes da fase já conhecida, é cheio de lirismo e hiperbolismo que não ferem, só aguçam os olhos daqueles que se permitem gostar. Não por acaso, o amor é considerado o centro e, percebo, por isso a escolha do diretor em trabalhar uma fotografia e uma cenografia baseada em elementos centralizados dentro do seu quadro (câmera). O resultado é unicamente belo e delicado, como a aventura que o amor é: expresso nas ressalvas dos personagens principais. Por isso que somente ele constrói, como frisavam determinados poetas.

A arte da violência

Violência feliz em versos de pura exacerbação fantástica. Como um vídeo da Björk. A cada palavra, uma facada no olho. A cada sílaba, um corte na narina. A cada frase, um rasgo no rosto. E assim vai dilacerando as outras partes do corpo.

O sangue segue escorrendo calmamente, lindamente e sagazmente.
Violência feliz em conversas que agridem através de verborragias certeiras. Um tiro no cu de dor e pólvora. Uma metralhadora sonora continua a estraçalhar o sexo mais virginal de mocinhas inocentes e carentes. Muitas já levaram uma dedada dos seus pais. Mas é o texto marginal que as consolam. E arranca lágrimas de carnificina gratuita.
O sangue segue escorrendo calmamente, lindamente e sagazmente.
Violência feliz como um filme do Lars Von Trier que em sua depressão recolhe as ideias mais infelizes da tradição de agredir o ouvido. Um ataque parecido com o do Guy Ritchie em Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes. Ou pior, como as películas de Park Chan-Wook, aquele que dirigiu os socos no estômago que são Old Boy e Lady Vingança. A Coréia do Sul nunca mais foi a mesma após esses dois desbundes. Verdadeiros deslocamentos de úteros realizados por uma pica de elefante.
O sangue segue escorrendo calmamente, lindamente e sagazmente.
Violência feliz nas melodias de Michael Stipe. Claustrofobia infantil de criança recém estuprada, abusada e gozada. Característica de agressão nos versos de Tori Amos e sua insistente ousadia de mostrar as marcas da violência sexual em sua vagina entre-aberta. A voz e o piano tiveram mais significado depois que ela surgiu no mundo musical. Ampliação lírica no estraçalho não puritano de Fiona Apple. Entranhas agora deixam que os vermes saiam comendo vulvas, grandes lábios e pentelhos. Mesmo assim...
... o sangue segue escorrendo calmamente, lindamente e sagazmente.

Existem coisas que não são explicáveis e, mesmo assim, são aplicáveis. A dicotomia do inexplicável pode ser relativa, mas a obtenção da solução é loucamente procurada. Alguns não dormem, outros levam a situação com tamanho desapego que a interferência não causa sequer cócegas. De toda a maneira, os mistérios da carne podem ser belamente consumados quando aquele sentimento forte é a verdade. Eis a tal resposta, mesmo que efêmera em determinadas circunstâncias. O que vale, portanto, é o aproveitamento do momento, enquanto dure, perdure, perfure, ature e dilui.

Incrível como certos não evaporam. E deve ser isso que chamam amor.

Qual é mesma aquela frase do Wilde? Aquela citada no início de um clipe do Smashing Pumpkins? "O mistério do amor é maior que o mistério da morte"? Cabe aqui, contudo, outra do autor: "viver é a coisa mais rara do mundo. A maioria das pessoas apenas existe". Quando a gente se encaixa nesse gênero, surge aquilo que denominam tristeza. Ou não? Não sei.
A gente vai, admirando covardes, perdendo ligações, não dizendo sentimentos e perdendo argumentos. A gente vai, com vontade de chamar e não chamando, esperando iniciativas e não agindo, aguardando sinais e ignorando outros. E a gente vai, com dias e adeus.

domingo, agosto 08, 2021

Belas

Negras, belas
Em tabelas
De contas
A massagear:
Olhares, egos,
Nos mais
Lindos passeares.
Em lares, bares,
Cidades,
Com saias
Floridas
De pétalas norteadas
De puro
Encanto
Em todos os cantos
Que os prantos
Ousam parar
Só para vê-las
Elegantes e galantes
A cantar.