Meu nome é Leonardo Silveira Handa. Jornalista. Perdido. Achado. Amante. Radialista.

terça-feira, dezembro 27, 2005

Enterrando na areia

Um dos hits do momento é a poesia hilariante de "Tô Ficando Atoladinha", da sensação carioca Tati Quebra Barraco. Eu, que estou aqui na praia de Pontal do Paraná, ouço essa música a cada carro que passa com garotos e garotas de faixa etária menor. É divertido, mas eu me queixo. Mas, como é verão, praia, bebedeira, cigarros e gente bonita, então o negócio é relaxar e curtir. Já estou me sentindo o Bola de Fogo da canção. Ou melhor, não podemos chamar isso de canção e, sim, de arroto.
Porém, é bom salientar e admirar esse ritmo que chamam de funk carioca, como ele vira febre nesta época do ano. Sem falar que ele explode no carnaval, onde muitos artistas desconhecidos da grande massa vão aparecer diretamente em rádio e televisão. Todos eles estarão acompanhados de meninas com seus vestidos pocket, deixando mostrar a etiqueta, pra não dizer outra coisa. É tão legal.
As letras são casos a parte. São tão herméticas e sagazes, demonstram criatividade. Estou sendo irônico, ok? Os textos dessas músicas deixam claro que as mulheres funkeiras se sobressaem sobre os homens. Elas são muito mais talentosas, com suas caras e bundas. Lindas.
O legal é curtir, sem preconceito, por mais que ele esteja presente. Eu, particularmente, não quero ficar atoladinho, mas quero enterrar na areia. Ainda bem que trouxe meus discos do R.E.M, do Los Hermanos, do Los Bacilos, da Aimee Mann e do Ben Harper. É claro que nesta lista entra o Bob Marley, do contrário, praia teria sabor de esgoto. Mas o funk carioca precisa ser respeitado. Prometo que no próximo post explico melhor. Vou curtir a praia, mesmo com garoa. Bom 2006.

sexta-feira, dezembro 16, 2005

Bilhete a uma amiga

Tudo bem Sonara, como estão as coisas? Eu continuo aqui com o meu boné, que você tanto abobinava. Depois de passada todas as etapas, as apresentações de monografia e projetos, sinto-me mais leve, um sentimento sem culpa de ter realizado um trabalho interessante nesses quatro anos de labuta e dedicação. Foram tantas coisas acontecidas e outras que espero veemente que aconteçam. Não foi um ano fácil, há de concordar. Mas, de qualquer forma, não posso dizer que foi ruim, afinal, "a vida tem sido generosa comigo". O que mais sinto é estar distante de duas pessoas que tanta falta fazem: você e a Aleta. Às vezes estou em casa sozinho e no final de semana não tenho mais a escapatória de invadir o recinto de vocês, já que longe agora se encontram. Minha consolação é colocar no som o álbum Eco do Jorge Drexler, acender um cigarro e ficar curtindo solitariamente um café frio, diga-se de passagem. É nesse momento que relembro quando ia na casa de vocês e ficava jogando conversa fora, não no lixo metafórico e, sim, na massa encefálica mais feliz. Momentos simples, eficazes, gostosos e eternos, registrados carinhosamente pelos olhos nipônicos que a genética me deu. "Todo se transforma", já cantou o uruguaio que amamos. Aproveitando o momento citação, destaco Alvin L: "A vida pede provas e quem ama dá". Não pude oferecer todas as provas, mas saliento que o amor amigo ainda existe e existirá, para sempre, sobretudo. Um dia ainda nos veremos e as risadas também estarão presentes. E eu continuarei com o mesmo boné.

Obrigado por tudo.

Beijos e abraços

Léo

segunda-feira, dezembro 12, 2005

OCULTO

Trato ao contrário/ Para fingir o certo que omito
E destranco em sorrisos ensaiados que fojem
Dos meus lábios.

É cediço, mas ignoro/
Frêmito a negação/ Em meu coração
Mesmo batendo oco um desejo verdadeiro.

Grimpo por delgados deletérios/
E faço de suas páginas dobraduras que perduram
Em minha memória salutar.

Não é salobro o meu sentimento/
Prefiro não deixar por aí, espalhado em ares
Que não posso respirar.

Abra-me em um abraço que me fecha em você

Tenha-me à pele
SEM PUDOR
E não traga dor
QUANDO UM BEIJO
me causar a vontade de voltar.

FAÇA-ME do avesso, pois
o seu endereço
É meu lábio superior
QUE ENCONTRA a estrada
Do seu inferior.

Destaca-me do seu ser
Revertendo o fluxo
Do contrário saber
Em momentos arbitrários
De silêncio e fazer.

Abra-me em um abraço
Que me fecha em você.

E em um momento eu sinto o seu compasso
Que acelera a cada passo
Que te faço.

Feche-me em um beijo
Que me abre em você.

Bucólico

Será que ela quer o meu drama?
Não entendo quando os seus olhos
Me fuzilam graçolamente

Eu sou por vezes misantropo. Ignoro quando pessoas me procuram
Para palavras trocarem.
Descarto a conversa
Para não desfazer o meu traçado.

Por horas me deito e nada olho
Aguardo uma extrema-unção, mas até difícil é perder
Mesmo que alguém possa tirar.

Será que ela quer o meu drama?

Faço manha de revolta
E fico na porta aguardando o amanhã
Que não trará novo, nem velho amor.

Delinqüir pensamentos
A cada passo tropeçado.
Levanto a cabeça para novamente baixar
E me deixo escorrer pelo beco bucólico
Que descarrega no mar.

Doce Matar

Culpa dos dizeres ingratos que fizeram você me ver, tragando tabaco perfumado com o cansaço da dor. Eu não sei o sofrimento que te traduziu simples. Nem lembro da causa amplificada em ódio repassado com urgência.

SÓ FUI PERCEBER A FALÊNCIA
QUANDO AS PÁLPEBRAS SE FECHARAM.

Tristemente alegre o seu silêncio me calou
Da traição surgiu o amor que aos poucos evaporou.

NADA FEZ A LEMBRANÇA SUPERAR AS HORAS QUE AFOGUEI
EM COPOS DE GIM COM GUARANÁ
ACOMPANHADO DO MEU DISCO PREDILETO.

Se a outra te faz mais bem, quem sou o eu que irá discordar?
Siga o natural que foi criado. A OPÇÃO FOI FEITA PARA ESCOLHER, assim mesma, simples de se explicar EM UMA CANÇÃO DOCE DE MATAR.

quinta-feira, dezembro 01, 2005

Deslocando-se pelo lado certamente errado

A tarde vai invadindo o coração ensolarado de uma certa guria. Ela está caminhando pela rua XV da capital paranaense, ouvindo em seu IPod uma canção do Elliott Smith. Um vocalize foge de suas cordas vocais, quase alcançando o tom real da música. Um pássaro voa rasante em seu teto de carne, mas ela nem percebe e continua deslizando pela calçada. Passa em frente ao McDonalds e compra um sorvete de baunilha. Sai Elliott Smith e entra Paul McCarthney, por acaso, "Vanilla Sky". A guria sorri uma felicidade sem razão e respira fundo.
Não há nada em especial, nenhum novo amor, nenhum aumento salarial, nenhuma transa gostosa, nenhum amigo que ligou somente por saudades. Simplesmente ela está feliz, acompanhada do sorvete do McDonald e do IPod. Muitos criticariam esses dois 'objetos', como símbolos do consumo de massa, ingredientes que movem a máquina da indústria cultural, do capital selvagem, da influência descontrolada da publicidade, uma arma mortal que atinge os corpos mais frágeis de pessoas que raciocinam. Não importa. Há felicidade no consumo da guria, que chega ao cine Ritz para ver a nova comédia romântica estrelada pela Cameron Diaz.
Ela coloca o IPod em sua bolsa Gucci, tira o dinheiro da carteira Mormaii, compra o ingresso e vai feliz entre as inúmeras pessoas (des)classificadas do consumo.

terça-feira, novembro 29, 2005

O Alcóolatra Amoroso

Despedaçando a tristeza em acordes dissonantes para aumentar a dose amplificada da dor. Assassina mais uma garrafa de vodca, enquanto relembra memórias de afeto. Era um garoto tão contente, escapando simpatia pelos alinhados dentes. Mas eis que chegou a confusão desandada fora do equilíbrio. Um estranho sentimento que foi ganhando corda, despertando desejos e destilando vontades.

Os chegados ficaram desconfiados, mas o aceito veio pelos lábios dos mesmos. O comportamento opcional contornou feliz em um abraço de aprovação. Toda a alegria do início parecia eterna nas frases levantadas em mastros de caneta tinteiro. O amor, enfim, chegou. E foi embora rápido pela freeway dos desavisados.

Não demorou e a lágrima fugiu do olho e se suicidou em queda livre. Retornou à tristeza sem saber o local em que ela saiu. O vento desgostoso bateu no rosto traçado por feições amarguradas. Ele pensou em desistir, porém, o contrário mostrou o lado certo e ele se libertou. Bêbado.

sábado, novembro 26, 2005

Um Novo Ano

Estava terminando. Algumas sofreram aborto. Outros caminhavam por um traço torto. Mas ainda havia alegria.

O escrito de angústia se fez em tinta impressa em papel. Dores ampliadas ecoavam nos olhos que não enxergavam a distração do sono. Os reflexos eram rapidamente lentos e o grito surdo do despertador anunciava uma manhã inglória.
Os covardes se esconderam dos raios solares, enquanto as putas davam bom dia aos gatos que ainda tinham cabaços a perder. Tudo parecia tão poético, mas era verborrágico a ponto de causar bocejos em padres pederastas.
Era o velho ano berrando um adeus tão soturno quanto intimista. O novo dia amanhecia castanho e a felicidade vinha acompanhada com água e aspirina.

Tudo de novo.

quarta-feira, novembro 16, 2005

Chaparral

O feriadão foi do caralho! Desculpe pelo termo, mas como já disse Luiz Fernando Veríssimo, às vezes, a utilização de um palavrão abreviava o sentido que queremos dar para determinado momento. E esse termo sintetiza o feriado estendido em comemoração ao Dia da República.
As situações agradáveis com os amigos próximos começaram no sábado, quando fomos em uma rave. A música eletrônica arrebentava os tímpanos, a essa altura, contentes com a freqüência do ritmo. Não tinha como ficar parado. Os entorpecidos dançavam. Os bêbados também. Entretanto, o mais legal era que pessoas queridas se faziam presentes compartilhando sorrisos de exaltação. Exageros a parte, mas sincera acima, com certeza e cerveja. Em especial lembrança, Thais e Dieli remexendo como se fossem brinquedos abastecidos com pilhas Duracel. Matheus caçando algum corpo e enchendo-se de líquido que só a cevada pode nos proporcionar. E é claro, dançando. Gabi e Marcelo esboçando alguns passos. A agitação tava mais presente na Gabi, o Marcelo é mais discreto. E eu, convulsivo que sou, parecia uma daquelas pessoas que dançam tendo um ataque epilético. Resumo: pré-disposição para aguentar ainda o sossego de uma fumaça ao luar pato-branquense. Uma praia seria melhor, mas o mar ainda não chegou aqui. Como somos sensíveis, sentimos a maresia e até os barulhos das ondas.
Domingueira de ressaca.
Segunda chaparral no aeroporto com a companhia da lua, do violão, do gim e do guaraná. Sem falar do licor de amendoas. E os vômitos de um ser que não aguentou o tranco.
Terça total ao sol, areia e volei no clube. Mais ensinamentos básicos sobre o truco para o Matheus, que sempre queria retrucar, um termo que a gente desconhece. Para nós é SEIS mesmo.
Considerações finais: com amigos verdadeiros, os momentos ficam mais marcantes e coisas simples se tornam eternas na lembrança em qualquer estação. Somos o que somos.

quinta-feira, novembro 10, 2005

Quatro minutos

Tenho quatro minutos para escrever esse texto. Então, pode ser que saia uma merda. É que preciso sair, bater o ponto, pegar meu pai no trabalho e ir almoçar. Nem sei porque estou escrevendo essas asneiras. Nem merecia um post. Porém, quero que esses quatro minutos passem rápido. Seria mais fácil eu simplesmente levantar, desligar minha máquina e ir devagar até a sala do cartão. Não teria a mesma emoção. É claro. No momento também estou ouvindo Los Hermanos, "Primeiro Andar". A canção é bem típica das composições do Amarante, talvez o mais talentoso compositor da atualidade. Só quem é fã para dizer isso. "Se alguém numa curva me convidar, eu vou lá/ Que andar é reconhecer... Eu preciso andar, por um caminho só/ Vou buscar alguém, que eu nem sei quem sou/Eu escrevo e te conto o que eu vi e me mostro de lá pra você/ Guarde um sonho bom pra mim". Beleza, se passaram os quatro minutos. Fui...

quarta-feira, novembro 09, 2005

Malo, malo, malo

Eu nunca tinha percebido a sagacidade da letra Malo, da cantora espanhola Bebe. Hoje de manhã percebi o quanto ela é profunda, por mais que tenha como assunto algo batido e já explorado musicalmente por outros artistas. A canção trata da violência familiar, de um homem que bate em sua mulher quando (talvez bêbado) chega em casa. A interpretação de Bebe aumenta a dramaticidade da letra, sem falar do arranjo que mistura ritmos hispânicos com riffs de guitarra que grudam nos tímpanos. Um violão esperto faz a ponte para a melancolia cantada pela cantora, uma mistura de coisa alguma com nada, pois não consigo arrumar algum referencial para classifica-la. Tarefa difícil.

domingo, novembro 06, 2005

Sem título específico

A alta madrugada consome, mesmo com o sono presente que não quer descansar. O isolamento do pensamento não adianta, porque a insônia devora os espaços ainda funcionais do cérebro. Trata-se da falta do descanso, mas o corpo ainda frenético não quer. Por pura teimosia atiça as outras partes, convidando para uma dança solitária. E as horas passam.
Os olhos se fecham e o movimento da luz corrompe a córnea ferida a golpes de sílabas tônicas, acompanhadas de ritmo eletrônico que penetram o tímpano desprotegido. A fumaça do cigarro adentra a garganta sem pedir licença alguma e atinge o pulmão já destroçado. A bebida também se faz presente enquanto os segundos vão devorando a noite. Os seres noturnos sofrem de distúrbios.
A tríade sexo, drogas e rock'n roll bate estaca nos neurônios bêbados da cabeça desvairada. Mas, o que ele sente é outra coisa. Mais uma noite mal dormida. Canta um mantra sem sentido específico e engole um cumprimento engasgado. Volta para casa tropeçando na saudade e relembra o amor diluído. E, novamente, se deita na cama vazia e abraça a insônia com vontade. É por culpa do sentimento que ele não dorme.

quarta-feira, outubro 26, 2005

Fossa nova

Hoje acordei com um gosto de fossa na boca. Não adiantou. Escovei os dentes, lavei o céu da boca e nada. O hálito podre ainda persistia em permanecer durante toda a manhã. Não é a toa que neste exato momento estou ouvindo o primeiro disco do Ryan Adams, Heartbreak.
Muitas vontades percorreram meu cerebelo. Acender um cigarro e visualizar uma daquelas paisagens que aparecia nos comerciais da Malboro. Ou então percorrer de carro todo o estado do Alabama e admirar as estrelas em uma noite de verão americano. Aquela coisa de caipira com dor de cotovelo, elevada em últimas conseqüências, que nem mesmo um outro amor pode ajudar. Uma vontade de ser outro, redescobrir as obras do acaso, os destinos cruzados, os planos furados, as travessias tortas e os sentimentos destroçados. Sentir-me em queda com o declínio do inusitado, para retornar de maneira emblemática através de uma carta escrita no século passado. Mais precisamente, na década de 1960, ao som de Johnny Cash, Bob Dylan, Crosby, Neil Young e The Band. Um saudosismo que, talvez, eu tenha sobrevivido em outra encarnação, queimando os meus pulmões com tabaco e alcatrão, amplificado com uísque 12 anos que nunca consegui comprar.
É culpa do filme. É culpa do trailer. É culpa do "comming soon". Maldita classe hollywoodiana que massagea o ponto exato da massa cinzenta, despertando sensações que somente os sábios da indústria cinematográfica conseguem fazer. Malditos americanos que sabem o que fazem para noucatear com um soco de direita meu sensível fator de identificação.
Agora fico aqui, com um gosto de fossa na boca, querendo ser John Waine sensibilizado com um pôr-do-sol no Alabama. Isso não se faz.

quinta-feira, setembro 29, 2005

Trilha Sonora

Qual a trilha sonora ideal para aquecer os ouvidos?

Não há como responder isso sem remeter ao persongem Rob Gordon, interpretado por John Cusack, em Alta Fidelidade. Levantando, então, o critério do personagem, incorporo as "cinco mais" para aquecer os ouvidos:
1 - "Automatic For The People" - do R.E.M. Mesmo que soturno, a sonoridade desse álbum serve como um ótimo cobertor de orelha.
2 - Toxicity - System of a Down. As conseqüências sônicas e vocais furiosos são de fazer escorrer suor dos tímpanos.
3 - Ventura - Los Hermanos. O frio e o calor se alternam, trazendo a temperatura ideal na cartilagem.
4 - Tanto Tempo - Bebel Gilberto. Delicada gostosura para aquecer qualquer ouvido idiossincrático.
5 - Primal Scream - Evil Heat. Porrada para terminar com as últimas células que ainda resistem bravamente. Para ficar com zunido de felicidade no ouvido.

Aos hermanos

No atraso das horas eu perco a consciência na alta madrugada que absorve. A fumaça do cigarro encobre a face suja que eu deixei em seu lençol. Antes de partir, escrevi em um guardanapo os lamentos que eu sempre sofri, sempre guardei, sempre vivi. Espero que leia até o fim. Não tenha tanta certeza quanto ao meu retorno, um pouco de suborno talvez ajude, mas a certeza nunca foi uma grande virtude do meu ser. A única certeza que eu tenho é o incerto que eu sou. Se você é mais sentimental do que eu, isso eu sei. Porém, minhas lágrimas são mais sofridas. Não tive coragem de pôr a sua casa em minha sacola e nem te levei para ver o mar. Ainda estou na fila do pão lendo jornal e tragando um cigarro. Eu sei o que é ter e perder alguém. Tanta dor eu senti e o outro alguém é meu conhecido. Eu também pequei pela vontade, mas o amor de verdade evaporou com o chá quente que você não tomou. Sair de casa é se aventurar, já que maldizeres você me causa. Não quero ficar nesse sofá. Todo carnaval tem o seu fim e a minha quarta-feira de cinzas nunca acaba. Todas continuam em um cinzeiro que conservo como relíquia. Eu deixo tudo assim mesmo, não me acanho em ver. Eu gosto do estrago. E nem se atreva a me dizer, eu não entendo do samba e você muito menos do Noel Rosa. Você deve achar que é uma grife brasileira instalada em Londres. Eu não vou mudar, eu vou ficar só. Não segure a minha mão e veja só como tudo se acabou. O barraco desabou. Tudo está assim. Meu sincero fim.

quinta-feira, setembro 22, 2005

Cinco sentidos + equilíbrio

Os cinco sentidos quando aguçados de uma boa companhia ficam mais perceptíveis. Eles nos orientam e também desorientam, causando sensações em nosso equilíbrio que passa pelo perfeito ao descontentamento. Mas quando temos uma pessoa que podemos contar ao nosso lado, os sentimentos bons invadem e alagam a alma. Caetano Veloso compôs frases certeiras brincando com os sentidos. Na canção “A Tua Presença”, ele entrega: “A tua presença entra pelos sete buracos da minha cabeça/ A tua presença/ Pelos olhos, boca, narinas e orelhas/ A tua presença paralisa meu momento em que tudo começa/ Desintegra e atualiza a minha presença/ A tua presença envolve meu tronco, meus braços e minhas pernas”.
Os sentidos se completam. Às vezes precisamos tocar para ver. Em outras situações, precisamos ver para cheirar. Sem falar do cacoete que, quando pedimos para observar melhor uma coisa, as mãos tocam o objeto para realmente termos certeza de que aquilo que estamos tocando é o que estamos vendo.
Os sentidos também são extensões das nossas lembranças. Quantas vezes passamos por uma paisagem e, por falta de uma máquina fotográfica, registramos com os olhos o momento. Ou quando passamos por alguém desconhecido que usa um perfume marcante, que remete a recordações de pessoas conhecidas que utilizam o mesmo perfume. Parece que isso encurta a distância, a falta da presença, o acaso (des)percebido. Assim como quando saboreamos um bom feijão com arroz feito pela avó. Mais lembranças invadem o encéfalo.
O legal é também quando estamos ouvindo rádio no carro e de repente toca uma música que marcou época, seja no amor, nos encontros clandestinos, nas festas da faculdade, nos encontros com os amigos. Como já disse o filósofo Nietzsche: “A vida sem a música seria um erro”. E como seria se não pudéssemos escutar as peripécias com as palavras e com as melodias que um Chico Buarque pode fazer. Ou então a invenção sonora dos Beatles, o contagio imediato dos Strokes, o desconcerto vocal da Marisa Monte, o saudosismo do Noel Rosa ou a poética dissonante do Leonard Cohen. São tantos exemplos que é até um crime citar somente essas bandas e músicos. Escolhas nem sempre são fáceis. E os cinco sentidos também nos ajudam a escolher, além de nos proporcionar equilíbrio. Sobretudo quando temos uma pessoa especial fazendo companhia, ouvindo nossos dilemas, vendo nossas expressões, sentindo nosso cheiro, abraçando nossos momentos e sentindo o nosso sabor.

domingo, setembro 18, 2005

É muita chuva para uma semana inteira!

E desaba. É muita chuva para uma semana inteira. Todos os dias. Quase 24 horas por dia. 24 dias por hora. Um tédio de proporções cavalares que corre por um campo livre de pasto verde. Estou falando dos cavalos agora. São tantos coices por hora que perdi a memória. Minha cabeça ainda dói. É um sistema em forma de câncer que vai acabando com o pensamento.
Desisto! Nem consigo explicar.

Vou engolindo umas palavras. Bebendo outras. Consumindo comprimidos. E cumprindo os dilemas. Arg!

Chega, vou dormir pra te ver em "um sonho bom". Até.

sexta-feira, setembro 09, 2005

Salve, salvas, Semana da Pátria escapando...

Semana da Pátria escapando pela larga esquina da avenida repleta de enfadonhos. A bandeira não reluz tanto mais, nem tanto menos, muito além do que não se faz. A ordem e o progresso não se encontram, apenas bordados em cor verde qualquer, que ultimamente o interesse não interessa, com todo o perdão da redundância.. A vontade é escrever vagas, já que administradores desastrados tentam provar o comprovado. Dicotomia é a arma do negócio. Contradições são extensões de interesse não público, o privado ainda possui os seus jogos.
A nossa terra é o bem amado (?). Do que interessa “Brasil, de amor eterno seja símbolo/ O lábaro que ostentas estrelado/ E diga o verde-louro dessa flâmula/ Paz no futuro e glória no passado”. Joaquim Osório Duque Estrada tem um bom texto publicitário, sobretudo acompanhado da crescente música de Francisco Manoel da Silva. Embriagados de paixões talvez os dois estivessem. Se fosse hoje, escorrendo pelos becos do desgosto pútrido os compositores estariam. Agora engarrafados foram lançados ao mar, onde muitos enganados procuram um cais. Mas é o caos que retorce em um horizonte torto de edições mal finalizadas que impera.
Pobre do Dom Pedro I, com seu nome extenso de pura vaidade planejada, às margens do Ipiranga gritando a célebre frase. Eles são bons publicitários. Antes tivesse desejado a morte. Não, mas ele foi teimoso e não quis deixar os espanhóis se multiplicarem. Talvez se os hispânicos fossem os desbravadores do “verde-louro”, muitos Pablos Nerudas tivessem nascidos nesse “berço esplêndido”. Mas o filho teu não foge a luta, e optamos pela independência pintada a golpes de canetas esferográficas fabricadas com mão-de-obra barata. E da nossa água ninguém irá roubar, só quando um louco liberar as ogivas de desespero nos acertar. Até lá, já teremos contaminado todo o rico transparente líquido que sem sabor nos sacia. Salve símbolo augusto da paz.
E o coro dos descontentes ainda ecoa. Está se transformando em objeto diluído em um pote de cultura de massa. A revolta também é publicidade, também serve para ser vendida em grandes redes de supermercados. Se duvidar, pode ser encontrada até na versão em pó. Mas, se preferir, fique com a versão refil, assim você preserva o meio ambiente. A vida segue. E a Semana da Pátria vai escapando com “os” malas a paraísos fiscais que estão muito longe de nossos anais.

terça-feira, setembro 06, 2005

Drink

Entorpecido. Estou perdendo as chaves na fechadura. Aos poucos ela vai engolindo. É muito boa essa sensação. Mal agradecido. Não digo nem um obrigado pelo trato e sigo ao meu destino colorido.

A estrada é reta, mas o meu caminho é torto. Muitos tropeços acompanhados pela cinza fumaça que vaza da minha boca. O Johnny está comigo. Ele desce pela minha garganta calmamente. O céu estrelado rodopia com as poucas nuvens que insistem em atrapalhar. Mas eu nem ligo. Quem atrapalha pelo menos está fazendo alguma coisa.

E vou seguindo. "Se ela te fala assim, com tanto rodeios, é pra te seduzir e te ver buscando o sentido daquilo que você ouviria displicentemente. Se ela te fosse direta, você a rejeitaria". Já dizia o trecho daquela canção, daquela banda carioca que eu venero. E acabo.

segunda-feira, setembro 05, 2005

Sem título específico

EM MEU QUARTO eu guardo você em um porta retrato com antiga moldura. Você está sorrindo. Não lembro bem a data, mas fazia muito frio. Os meus lábios estavam rachados. Se não me engano ouvíamos U2 dividindo o fone de ouvido que eu comprei no Paraguai. Nós matávamos o tempo com doses paralizantes de puro ócio.
Você estava vestida com aquela jaqueta vermelha que eu não te dei. Eu estava com aquela touca preta roubada de um amigo em comum. Acabei furtando também a sua melhor companheira. Nós ríamos muito sobre essa situação. SIM!!! Era U2 mesmo!!!!!!! Aquela do Achtung Baby que fala de uma maneira única.
Agora é tão estranho vê-la em imagem, antes eu podia tocá-la. Puxa vida, quanta saudade. Mas a vida tem dessas coisas, como dizia o Ritchie, aquele que engoliu a menina veneno.
Deixo-te em meu quarto (ainda). Faz frio, como naquele dia, mas eu sei que protegida em uma casa de madeira você está. Saudosismo.

sexta-feira, agosto 26, 2005

Entre xícaras de café e cigarros

As cenas são bem parecidas com as do filme de Jim Jarmusch, “Sobre Cafés e Cigarros”. Ambiente esfumaçado, uma conversa fiada sobre o nada, sobre o tudo (sobretudo), barulhos de colheres em xícaras de porcelana. E tragadas, várias e profundas tragadas de causar orgasmos. Ela só queria uma desculpa para sair no inóspito ambiente de trabalho. Convidou sua colega e foram para uma cafeteria/bar que ficava na esquina.
Duas mulheres lindas. Ambas morenas. Decoradora e desenhista, respectivamente. O café acompanha o desenrolar de suas falas. Uma quer saber se o absorvente está marcando. A outra precisa descolar uma transa em menos de 24 horas, do contrário terá um ataque epilético. Uma incomodada e uma ninfomaníaca. Duas balzaquianas.
Eleanor e Tarsila são mulheres que hoje são vendidas como padrão. Independentes, bonitas, profissionais, bem humoradas e solteiras. Trabalham no mesmo escritório de arquitetura, localizado em uma rua qualquer de um prédio que não lembra coisa alguma.
Saíram para tomar um café. E fumar. Eleanor começa a falar sobre o novo disco do Los Hermanos, uma banda que ela gosta muito, sobretudo a canção “Horizonte Distante”. Tarsila não dá muita atenção, prefere ficar observando os braços do atendente da cafeteria/bar. Provoca um pouco de charme, deixa escapar a sensualidade e morde os lábios. Pronto. Quando uma mulher morde os lábios e te olha, isso é um sinal para algo mais. Muito mais. Eleanor percebe o desespero da colega. Sem qualquer cerimônia de missa de sétimo dia, pergunta se Tarsila não quer uma rapidinha no banheiro. Uma siririca.
Calmamente, as duas vão ao banheiro e se satisfazem. Elas são assim, independentes, bonitas, profissionais, bem humoradas e solteiras. E objetivas.Voltam ao trabalho e tudo retorna ao normal. Uma realizada e a outra com novo absorvente. Nossa.

quarta-feira, agosto 17, 2005

Cinza

O dia ainda não terminou. Um cinza meio besta esconde o azul do céu, deixando-me uma sensação de tristeza. Aquela pessoa que um dia eu amei, agora está mais longe dos meus braços. E eu que tinha a situação segura em minhas mãos, deixei escorrer pelos dedos o controle. Agora derramo lágrimas de fumaça dos meus olhos. É uma pena, pois ainda te quero, mas não a tenho.
Estou me estrepando a cada mudança do ponteiro maior. Não quero viver essa condição, prefiro os cuidados do amor que, infelizmente, você não pode me dar. Não quero ser um Jó entregue às vontades de Deus e do diabo. "Quero a sorte de um amor bandido, com pedaço de fruta mordida". Eu quero um dia de solidão com a sua presença. Um dia para organizar os meus discos na estante, uma tarde vazia com a sua mão junto a minha mão. Eu quero a esperança verdadeira do amor e não as mentiras da traição.
Ainda te quero com a ânsia eterna de te faze-la completa. Os seus beijos nunca sairão da minha boca. Eu quero o dois para sermos um e quem sabe um três. Eu quero a sua digital em minha pele e o seu cheiro impregnado em meu travesseiro. Mas, agora estou no último gole de uma cerveja barata, somente esperando você me beber, me engolir e me ter a você. Venha me salvar. Ainda vivo por você. O dia não acabou, porém, o cinza está me matando. Te amo, te amo e te amo. E isso me causa dor.

domingo, agosto 14, 2005

Os meus beijos mais sinceros

O calor está derretendo o pouco que sobrou da minha lembrança mais triste. Ainda bem que te encontrei. Foi culpa da areia do mar que soprou em meus olhos um sonho com você. Estou ficando brega, declarando exacerbadamente o amor que deixei a frente de 400 quilômetros. A canção mais melosa e irritantemente apaixonada não sai do som. É a faixa sete daquele disco, de um cantor que eu sempre gostei, assim como a subjetividade que me invade. Não importa. Eu ainda posso te ver na lembrança daquele vestido azul que rodopiava e balançava até os pederastas. Continuo dizendo: ainda bem que te encontrei.
Quando você veio me oferecendo bebida, eu não neguei. Bebi a última gota. Então, eu te olhei. Você sorriu. Eu procurei. Você também. Eu te beijei. E você seguiu. A hora mais longa ficou mais curta e devorou o destino traçado pelo acaso da sua boca de lábios rachados. Mesmo assim, belamente provocantes. Não sei se você está entendendo o sentimento confuso e ampliado, mas os insetos que me causam ânsia estão no meu estômago. Não se preocupe, não foi você que os colocou. Foi a incerteza que me causou. E agora, ainda longe te vejo perto e te procuro quando perco o olhar no vazio. Acendo um cigarro. Bebo um teco. E encontro você. Realmente, estou ficando muito, mas muito brega. Está escorrendo pela tela no computador, não está vendo? Como isso foi acontecer? Me explica!!!! E isso que somente escutei o seu canto.
No mais, gira o mundo no avesso dos meses, tento emocionar o diabo e vou matando um filme por dia. Os registros ainda são importantes. E assim mesmo eu voltei, para meu próprio desespero e para a sua incerteza. Eu vou, ainda vou contigo. Não se esqueça. Agora leia isso aqui rápido, pois já irei tirar do meu about me.
Não tento mais me descrever. É algo complicado. Quando acredito que cheguei a algum estágio evolutivo, ocorre um retrocesso e o sucesso garantido pára no fundo do copo de veneno. É claro que depois eu entorto e retorno ao desencontro do caminho. Mas, como na vida muitas coisas são dilemas, vou viver os meus. No mais, a Fiona Apple continua em sua mais bela companhia, sussurando poesia e dedilhando canções no piano. Minha amante perdida nas distâncias isoladas continua a procura pela resposta tão banal, quanto bela. Sim, eu a amo. E os livros vão tomando lugar na estante empoeirada. Proliferação de ácaros subversivos para as narinas mais sensíveis. Coisa de preguiçoso na ociosidade metafórica do dia-a-dia. Mais um ano vem chegando e devorando o tempo da desgraça. Quem sabe seja diferente, como alguma canção do Elliot Smith. Ou tenha beleza e idiossincrasia, como qualquer película do Bertolucci. Pensando no pior, pode ser a mesma coisa que continua e prossegue no ar que vai corroendo os pulmões. O Ministério da Saúde sempre adverte, mas a felicidade não se compra em lojas de conveniência. Nem é hit radiofônico. As canções sobre a tristeza vendem mais, geram mais, regam mais. É uma pena. E continua a laterna dos afogados incompreendidos nas horas mais imprecisas da precisão da incerteza. E não se esqueça, eu ainda te amo.

quinta-feira, agosto 11, 2005

Cócegas. Algumas risadas em um canto iluminado da sala. Luzes. Feixes direcionados. Vozes. Sussuros incomodam deliciosamente a paisagem. Pele. Delicadeza em seda deslizando pelas costas. Vontade. Olhos nos olhos e satisfação não imediata.
Cole Porter acompanha o momento oportuno. Fumaça preenche os espaços vazios do ambiente. Um sorriso fuzila o coração mal-tratado. Sono para completar.

Amanhece cinza no lado de fora. Garoa.

Ela desliza pelas escadas e vai trabalhar. Acompanho os seus passo pela calçada. Penso na noite que há de chegar. E como chegará.

sexta-feira, agosto 05, 2005

Descompromisso com a vida

Quinta-feira. Véspera de sexta-feira, o dia nacional da bebedeira. Nada melhor do que dar prosseguidade ao vômito que ainda espera. Um vinho quente e barato deslizando pelas paredes de carne com cerveja gelada e coração na boca. Acendo o terceiro tabaco já pensando no fim da carteira. O local? Um posto qualquer de uma cidade também qualquer. Aliás, o qualquer nesse caso pode acabar soando como um adjetivo. Deixando o subjetivismo de lado, trata-se daquele posto em frente à Grazziotin e a cidade é Pato Branco, nos confins do Sudoeste do Paraná.
O primeiro personagem da noite a fazer companhia, é um bêbado, um dos vários perdidos pela sujeira do município. O papo repetitivo e chato causa caláfrios a ponto de pensar em dar um soco na fuça do desgraçado. Mas o sentimento de pena balança e acaba caindo em perdão.
Ele mostra um relógio que deve ter roubado. O cheiro de cachaça se mistura com o bafo e cria uma verdadeira bomba de Napalm. Não agüento. Porém, os pedidos para ele ir são inofensivos. A minha amiga Luciane Koba deu um jeito. Meio estúpido para falar a verdade, entretanto, contribuiu e ele foi embora.
Conversas gritadas e música de apelo duvidoso acompanham a nossa noite que ainda nem começou. Ela só iniciou quando encontrei a minha cama e outros sonhos vieram me destruir.
Passadas algumas horas e outro ser da noite chega para nos acompanhar. Chamam ele de Caxuxa. O nome verdadeiro, acredito, nem ele deve lembrar ou deve ter bebido com cicuta. Quem sabe a Ação Social tenha jogado o nome dele fora. Bom, ninguém sabe.
O nosso querido amigo, seu Pedro, perdeu a paciência e protagonizou cenas de coragem que me deixaram sem jeito. Mas, vou para o bem da pacificidade e da boa ordem mundial que as coisas não costumam provar.
Água foi jogada em cima do cadáver vivo. Mais uma vez o sentimento de pena invadiu o meu semblante. Vários pensamentos me aterrorizaram. Porém, a chatice proporcionada pelo segundo bêbado era de proporções tão cavalares que logo esqueci da pena. Pensei em penalidade máxima mesmo, cartão vermelho, expulsão. Sem coração.
Continuamos a beber, a fumar, a gritar, a dançar, a arrotar. Um arroto azedo que lembrei enquanto eu sonhava quando em casa estava. Sonhei com os bêbados jogados no noturno dilacerante escárnio. Mas, acordei bem.

quarta-feira, agosto 03, 2005

Madrugada

É madrugada. Normalmente a insônia invade sem pedir licença e leva horas que poderiam ser sonhadoras. O comprimido não causa mais a sensação boa do relaxamento, só traz insatisfação pela não eficácia que não apresenta no rótulo. Tudo bem.
O dia foi um tédio de proporções que não caberiam nesse escrito. É muito fácil reclamar, difícil é arrumar as soluções cabíveis para melhorar esse desempenho, essa tentativa de sobreviver. O doce vai perdendo o gosto até que acaba. Desgustar aos poucos necessita de muita paciência, qualidade que foi jogada no buraco negro de ilusões. E a madrugada segue acompanhada por uma dor de cabeça leve, porém, chata.
Às vezes parece que tudo vai dar certo. Mas, é só o efeito dos primeiros segundos que o tabaco causa. Dura muito pouco a sensação. Há coisas mais fortes. O experimento, por enquanto, não será necessário. Se bem que alucinações fazem parte do não concreto. Imaginar é preciso.
Nada de areia nos olhos. Nada de sonhos perdidos e sem nexo. Nada de amores fugazes. Nada de escárnio. Só há misantropia. E madrugada.

segunda-feira, agosto 01, 2005

... E segue ...

O compositor e cantor Alvin L. certa vez cantou: "A vida pede provas e quem ama dá". Fazia tempo que uma frase não causava tanto sentido para mim. Não que a vivência esteja ruim nesse exato momento, poderia estar melhor, mas os acasos sempre provam o contrário. E assim segue.
A atualidade é de niilismo que eu quero promover, derrubando estigmas e sabotando os desejos escuros. Se bem que alguns continuarão na minha lista de afazeres. Só os vícios, esses sim, terão que dar adeus ao corpo que agora procura descanso.
Às vezes pareço aquele personagem mais sem graça de uma película hollywoodiana. De fato eu sou, mesmo com as idiossincrasias que insisto em transbordar quando encho a cara. Não estou falando de álcool, estou falando de paciência mesmo. É que a convivência não é a minha melhor qualidade, por mais acessível que eu me ache. Narcisismo.
Junto a frase do Alvin L. com a da banda portuguesa, Xutos e Pontapés: "A vida vai torta, jamais se endireita". E assim vou dizendo tchau ao descolorido que pintei acreditando ser romance. Mas era câncer.

segunda-feira, julho 25, 2005

Tanto assim

"A saudade é um revés de um parto/ A saudade é arrumar o quarto do filho que já morreu". A maioria dos pensantes sabe que Chico Buarque fere com a palavra os corações mais sensíveis. As suas letras tem a capacidade de derrubar "mamutes" em qualquer período histórico, sem falar das melodias que rasgam com louvor os tímpanos dos atentos. Na frase citada, trecho da canção "Pedaço de Mim", esse carioca destroça, arranca lágrimas até de cachorro domesticado. E a saudade é muito mais que a música em questão, porém, serve de extensão para sofrer mais quando ouvida em momentos apropriados. Não que a saudade seja algo apropriado, longe disso. Mas, por fim, as lembranças, as saudades, as memórias são as únicas coisas que sobram. Lágrimas.
É ruim a despedida. Resta a saudade. O tempo passa e a canção fica, assim como as fotos e os diálogos de impacto. Os dias de inverno já não são mais os mesmos, nem o conhaque que agora envelhece na prateleira repleta de poeira e de discos dos anos 1970. Construção. Acabou Chorare. Expresso 2222. Blue.
Chega de saudade, viva algumas mentiras.

sexta-feira, julho 22, 2005

Choro, retorno, volto

Mais um dia chuvoso. Chega a causar resignação em almas mais sofríveis. A claustrofobia metafórica invade o coração mais covarde, da pessoa mais doentia, do humano mais depressivo, dos olhos mais cegos e do sentimento mais repreendido. Alguns julgam de extremista, mas as causas não foram apuradas. Enquanto isso, permite-se não segurar e derrama uma gota pelo canal. Seria lindo se não fosse a conseqüência.
E a chuva continua. Há vento também soprando na janela poesia noturna nunca encontrada. Bares, putas, cadáveres, drogados, bêbados e normais. Litros e mais litros tomados destilados em copos sujos de vidro trabalhado. Garotas sorrindo um pouco de louvor para tentar arrecadar o vício do amanhã. E os velhos analisando as coxas salientes da madame de vermelho desbotado. O nojo escorre pela boca do drogado que procura um doce para saciar a fome de viver, mas os melhores açucares estão longe daqui.
A umidade transtorna o personagem da noite mais escondido. A normalidade repudia qualquer ser noturno. Pelo menos chama a atenção. É aí que entra o suicida que saiu de casa, devido à claustrofobia metafórica que corroia a lembrança mais infeliz, que ele quer guardar na eterna caixa das saudades.
Dormir é algo que ele não consegue mais. Amigos foram transformados em bonecos de barro, que agora enfeitam a sua estante de depressão. A cidade engoliu o que ele tinha de melhor: alegria. E agora o suicídio é o caminho mais óbvio.
Corre através da chuva procurando um lugar, não um abrigo, algo mais próximo de um cenário de filme almodovariano. Cores fortes. Mas não encontra. Volta para casa, antes é assaltado e tudo retorna ao normal.