Meu nome é Leonardo Silveira Handa. Jornalista. Perdido. Achado. Amante. Radialista.

quinta-feira, dezembro 01, 2005

Deslocando-se pelo lado certamente errado

A tarde vai invadindo o coração ensolarado de uma certa guria. Ela está caminhando pela rua XV da capital paranaense, ouvindo em seu IPod uma canção do Elliott Smith. Um vocalize foge de suas cordas vocais, quase alcançando o tom real da música. Um pássaro voa rasante em seu teto de carne, mas ela nem percebe e continua deslizando pela calçada. Passa em frente ao McDonalds e compra um sorvete de baunilha. Sai Elliott Smith e entra Paul McCarthney, por acaso, "Vanilla Sky". A guria sorri uma felicidade sem razão e respira fundo.
Não há nada em especial, nenhum novo amor, nenhum aumento salarial, nenhuma transa gostosa, nenhum amigo que ligou somente por saudades. Simplesmente ela está feliz, acompanhada do sorvete do McDonald e do IPod. Muitos criticariam esses dois 'objetos', como símbolos do consumo de massa, ingredientes que movem a máquina da indústria cultural, do capital selvagem, da influência descontrolada da publicidade, uma arma mortal que atinge os corpos mais frágeis de pessoas que raciocinam. Não importa. Há felicidade no consumo da guria, que chega ao cine Ritz para ver a nova comédia romântica estrelada pela Cameron Diaz.
Ela coloca o IPod em sua bolsa Gucci, tira o dinheiro da carteira Mormaii, compra o ingresso e vai feliz entre as inúmeras pessoas (des)classificadas do consumo.