Meu nome é Leonardo Silveira Handa. Jornalista. Perdido. Achado. Amante. Radialista.

domingo, novembro 26, 2017

Talvez eu precisasse de um beijo. Talvez não. Talvez seja carência. Ou seria abstinência? De repente eu precisasse de um apoio. Melhor seria um abrigo. Mas talvez um abraço fosse o suficiente, caso você não estivesse ausente. Talvez seja ironia do destino. Talvez não. Ou seria sagacidade do destino? De repente isso é para ser assim. Sei lá. Talvez eu quisesse o contrário. Talvez eu esteja sendo otário. Gostar assim é feio? Talvez não. Talvez sim. Talvez eu realmente precisasse de um beijo. Ou de sexo. Ou de um sexo. Ou dos dois. Três. Quatro. Cinco. Yeah! Yeah! Yeah! Talvez eu precisasse ser menos caótico. Eu deveria ser menos neurórico. Eu precisava ser. Apenas ser. Talvez seja isso. Ou talvez não. Talvez eu precisasse de um sinal. Um dizer. Uma frase. Um carinho. Talvez eu precisasse de um café. Ou de uma garrafa de Jack Daniels. Quem sabe, duas. Talvez eu precisasse de menos cigarros. Não, eu sempre preciso mais. De repente eu coma um chocolate. Ou uma caixa inteira. Talvez eu precisasse apenas ouvir uma canção. Aquela de matar. Find The River. Talvez eu queira de mais. Ou de menos. Ou seria demais? Junto? Sim, juntos. Bem juntos. Isso. Juntos.
Os tempos atuais nos deixam desesperados. Somos capazes de sacrificar as horas por momentos completamente desnecessários. Estamos fadados a um consumismo hiperbólico de futilidades que nos preenche com falsas alegrias. Batalhamos em trabalhos que acreditamos ser corretos, mas que se disfarçam em alegorias gratuitas de motivos para pagarmos as contas no final do mês. E, no fim, descobrimos que o final do mês é como o final do mundo.
Sobretudo para essa alcunha que foi designada como Geração Y. Por que ela se perdeu no discurso e hoje se alimenta de rivotril, fluoxetina e ritalina? A tecnocracia, a burocracia e a busca desenfreada pelo melhor, quiçá, sejam as respostas.
O fato é que a ansiedade e a depressão são amigas inseparáveis nessa mistura desenfreada que engrossa a sobrevivência. No entanto, sempre é preciso provar. Provar que somos o melhor filho, o melhor estudante, o melhor desenhista, o melhor namorado, o melhor marido, o melhor músico, o melhor sexo. Enfim, uma cansativa e desnecessária busca que se perde, pois há falta de concentração, falta de interpretação, falta de referências, falta de qualidade, falta de leitura, falta de boas músicas, falta de vontade e, acima de tudo, o exagero em reclames. Todos amam reclamar, mas não mostram nem demonstram atitudes para reverter.
Porém, ainda existem pessoas que ressaltam clareza de raciocínio e, sobretudo, que farejam e seguem a vida como deve ser. Vários arquétipos poderiam ser citados, mas a desenvoltura e perspicácia simples de José “Pepe” Mujica, um senhor de 79 anos, é de uma valia incrivelmente bela. Cito a idade do personagem somente para relembrar que o tempo é amigo da salvação, mas de acordo com a ideologia desenhada. Afinal, cada qual tem a ideologia que merece.
“Nós queremos achar um outro caminho. Se você quer mudar, não pode seguir fazendo a mesma coisa, tem que buscar outra maneira. Eu não sei porque o mundo não vê o que está acontecendo, parece que colocamos uma venda sobre os olhos”. É isso.
lsh - 26 de novembro de 2015.

sexta-feira, novembro 24, 2017

Grande Chico
Perdi o sono. Ele estava comigo até agora pouco, mas fugiu de uma maneira que nem consegui acompanhá-lo. Aproveitei para fazer um dever de casa que estava atrasado há mais de um mês: ler a entrevista do Chico publicada na Rolling Stone.
Para acompanhar a leitura, tirei da poeira alguns discos desse grande mestre e pus na vitrolinha. Confesso que me atrapalho um pouco quando leio ouvindo música, pois fico prestando atenção na melodia, não necessariamente na letra, mas no jeito como ela é cantada. No momento em que o Chico estava falando de política, deixei a mente penetrar (ou seria o contrário) no cantar de "O Meu Amor", do disco "Chico Buarque", de 1978, interpretada por Marieta Severo e Elba Ramalho, originalmente feita para a peça "Ópera do Malandro". O diálogo entre as personagens Teresinha e Lúcia, sobre o mesmo homem, é engraçadíssimo. Ao menos interpreto dessa forma, apesar da traição não ser nada engraçada. Adoro a parte "O meu amor tem um jeito manso que é só seu, de me deixar maluca quando me roça a nuca e quase me machuca com a barba malfeita e de pousar as coxas entre as minhas coxas quando se deita". Pensei em várias coisas que aconteceram neste ano, mais precisamente, no início de 2011.
Mas o que me atrapalhou totalmente a leitura da entrevista foi no momento em que troquei de disco e mergulhei por inteiro em "Meus Caros Amigos", de 1976. Ali tem uma música chamada "Olhos nos Olhos" que me trouxe flashbacks tratorizantes. "Quando você me deixou, meu bem, me disse pra ser feliz e passar bem. Quis morrer de ciúme, quase enlouqueci, mas depois, como era de costume, obedeci. Quando você me quiser rever, já vai me encontrar refeita, pode crer. Olhos nos olhos, quero ver o que você faz, ao sentir que sem você eu passo bem demais. E que venho até remoçando, me pego cantando sem mais nem porquê. E tantas águas rolaram, quantos homens me amaram bem mais e melhor que você. Quando talvez precisar de mim, cê sabe que a casa é sempre sua, venha sim. Olhos nos olhos, quero ver o que você diz, quero ver como suporta me ver tão feliz". A letra manifestou outro significado para mim, muito estrondoso. Passado e futuro em eterna confusão, como é atualmente. Somente o Chico desperta isso.
Enfim, depois de apreciar todo o álbum, retomei a leitura e consegui terminar a dita entrevista, cuja chamada de capa dizia que era definitiva. Não me enganei. No entanto, ao final, não sei o porquê, lembrei que definitivo mesmo foi o que um ex-amigo me disse: orgulho mesmo seria saber que a minha esposa me traiu com o Chico Buarque!
Música de fossa, minha nossa. Sim, por que não? Pois sinto um frio em sua navalha palavreada. Um mandar de beijo em brejo, um tejo sem meio rio, meio inteiro, meio vazio, meio calafrio. E eu, ao contrário da melodia, quero gastar o meu batom, seja em boca inteira, no corpo todo, na sobrancelha repleta, no lábio fino, no rosto bom, na pele agora. Embora sem riso perceba outrora, aurora fluorescente emano do olho. Não importa se castanho é, pois o lado mais bonito de fato é esse.
O sorriso torto esboço enquanto a canção desliza em meu ouvido, como bailarino em crise de compasso fino, não importando se é tango argentino, tango paraguaio, uruguaio ou salafrário. Fecho os cílios e permaneço ao avesso, contemplando o desespero contido do momento, ao relento, junto ao vento, ao lado do tento e tentando o tentar. Enquanto isso, vou me perdendo e também me achando, analisando a vida sem esquecê-la a sua beleza que fode o coração. Portanto, fico aqui, com a minha nossa fossa, por que não?
Portanto, bom dia
Seja você de família
Ou não.
Bom dia se tem filho
E também àqueles 
que optaram por não.
Bom dia sobrinha,
menino e tiozão.
Bom dia ao avó
E também àqueles que
Jogam como pivôs.
Bom dia guria, piá e abestado.
Bom dia aos circuncidados
E também aos capados.
Bom dia à donzela virgem,
Bom dia à você, seu viado.
Bom dia senhor tarado.
Bom dia criatura.
Bom dia senhor Miyagi.
Bom dia católicos, evangélicos e ateus.
Bom dia croatas e judeus.
Bom dia aos seus e aos meus.
Espelho
Nesses olhos, vejo areias que fazem dunas de cansaço.
A pele se encontra com a umidade do ar abaixo dos 13%
E os lábios formam erosão profunda.
Há ressecamento na testa. E, olhando perdidamente a seca,
Um oásis se materializa nas têmporas.
A escassez da água é semelhante ao confim nordestino,
Tão igual quanto às represas paulistanas.
Pedaços de epiderme caem sobre as sobrancelhas
E os sinais da idade se destacam drasticamente.
Uma balada triste
abala os olhos
Que bailam
Por águas afoitas.
A letra torta
Embora morta
Reconquista o feito
Do passado a limpo.
Estou no meu lugar
Que é cativo sempre
Enquanto meu ventre
É verso sem semente.
O atroz canta
Uma veloz frase
Que aqui corta
Um sorriso que aborta.
O pedaço da metade
Dos dedos sangrentos
Agora transparece
O que não esquece.

quarta-feira, novembro 15, 2017

Aos litros
Infinito verso
Presente no instinto
E bebido
Com vinho tinto.
Levante esse corpo
Que quer rodopiar bonito
Para se livrar aflito
Como uma voz
Que vomita um grito.
Infinita frase
Crie catarse
Em olhos finos
De pequenos mitos.
Em prosa à prova
Torne a palavra um rito
Que em ritmo
Seja bebido aos litros.
lsH