Meu nome é Leonardo Silveira Handa. Jornalista. Perdido. Achado. Amante. Radialista.

sexta-feira, agosto 17, 2007

Deserto de Sal


Algumas letras batem no ouvido, descem ao coração e atingem o cérebro de uma maneira tão certeira e fulgaz que são capazes de levantar os sentimentos, seja lá os quais forem: ódio, amor, tristeza ou alegria.
Eu nunca gosto de comentar sobre a banda Wado e o Realismo Fantástico por puro egoísmo, pois quero a banda somente para mim, não quero que os outros comecem a gostar também. Tenho tantas outras bandas que conheço e não revelo nem aos amigos. É claro que outras muitas pessoas já as conhecem, porém, os próximos ainda não. Portanto, deixo estar. Tenho um lado egocêntrico bem aflorado.
Não tinha como deixar a oportunidade passar e não mencionar o Wado e o Realismo Fantástico dessa vez. Eles atingiram uma perfeição no terceiro álbum, A Farsa do Samba Nublado, que levantaria até o Noel Rosa do túmulo - Deus o tenha, amém. O Wado, após os dois primeiros álbuns, também bons, desenvolve letras simples e espertas, proporcionando um sobro no coração, no sentimento cavocado, na alma mais aberta.
A miscelânea sônica do trabalho é muito bem dosada, com reggaes, melodias pops, rocks, sambas e gêneros musicais do folclore alagoano. Não vejo a hora do quarto disco.
Segue a letra de Deserto de Sal, de autoria do Wado e do Alvinho.


Se a tristeza fosse tanta que permanecesse muda:
Então seria pior
Ainda há esperança no chorar soluçante,
No cantar gritando.

Nos ombros, como papagaios, carregava corvos
E dentro dos lábios o silêncio mudo
No peito um cemitério de ex-amigos mortos
E enterrar os mortos, desapegar os ossos
Confirmava a vida o que é bom: desprendimento
Ainda há vontade de andar: o que é bom
E embotado nos olhos,
O negrume vazava de dentro da carne.

No peito um cemitério de velhos sonhos mortos
Nenhum plano vagava no deserto de sal
E num dado momento parecia até que o sol ia nascer
E era mais uma estrela decadente
No deserto de sal.