Meu nome é Leonardo Silveira Handa. Jornalista. Perdido. Achado. Amante. Radialista.

sexta-feira, setembro 05, 2008


Deitado. Ben Folds Five na vitrola. O pensamento corre livre no dedilhar do piano. Narcolepsy. A voz massageia os tímpanos. Algumas imagens se formam. Um campo verde e apenas uma árvore solitária na paisagem. Um céu com poucas nuvens cinzas aparecem. O vento balança as folhas. Uma se joga em queda livre encontrando o chão. Os olhos se abrem. Observo a luz vermelha. Um aviso pessoal grita: dez minutos. Não levantado.

As canções continuam a me fazer companhia, a mais fiel, a mais perfeita, a mais deliciosa, a mais voraz. Sempre fico nervoso antes de enfrentar o público. Mesmo com os anos de experiência, entreter o eleitorado me dá gelo no estomâgo. Acendo um cigarro, olho o roteiro. Hoje vai ter palhaço, leão e picadeiro. Panis et Circense. Sem motivo, relembro aquele discurso do Caetano em um festival quando ele foi vaiado no momento que cantava palavras de ordem. Como eu gostaria de estar lá. Não para engrossar o caldo do coro dos descontentes, mas para vivenciar um período tão importante na história da música brasileira. As vaias me chamam a atenção. Até João Gilberto recebeu. Então, a gente pensa: como é difícil o público do país. Alguns são tão contraditórios que arrepiam a espinha.

10 segundos. Subo no palco, minha alma cheira talco, parafraseando a canção do Gil, e desejo uma boa noite. E boa sorte. Para a minha pessoa. Claro. Apresento as atrações da noite, faço minhas micagens, um tanto sem graça, observo os minutos passarem, vejo os comerciais passarem, analiso o público e encerro. Pelo corredor, retornando ao camarim, lembro daquela imagem que eu estava formando anteriormente. A árvore continua lá, solitária, mas agora as nuvens estão em companhia de outras mais escuras. Uma chuva inicia. Acendo outro cigarro. Fico viajando. O pensamento livre novamente. Encontro o sofá. Ligo o som. Ben Folds Five. Desligo-me do mundo. Nada faz sentido. Uma outra folha cai da árvore. Molhada. Como o desespero dos meus olhos que agora vazam a insatisfação. Tudo bem, sou apenas um personagem. Não sou feito de razão, sou feito de letras e bytes. Porém, demonstro uma situação.