Meu nome é Leonardo Silveira Handa. Jornalista. Perdido. Achado. Amante. Radialista.

quarta-feira, maio 23, 2007

Losers

Mais um dia chuvoso. Chega a causar resignação em almas mais sofríveis. A claustrofobia metafórica invade o coração mais covarde, da pessoa mais doentia, do humano mais depressivo, dos olhos mais cegos e do sentimento mais repreendido. Alguns julgam de extremista, mas as causas não foram apuradas. Enquanto isso, permite-se não segurar e derrama uma gota pelo canal. Seria lindo se não fosse a conseqüência.
E a chuva continua. Há vento também soprando na janela poesia noturna nunca encontrada. Bares, putas, cadáveres, drogados, bêbados e normais. Litros e mais litros tomados destilados em copos sujos de vidro trabalhado. Garotas sorrindo um pouco de louvor para tentar arrecadar o vício do amanhã. E os velhos analisando as coxas salientes da madame de vermelho desbotado. O nojo escorre pela boca do drogado que procura um doce para saciar a fome de viver, mas os melhores açucares estão longe dali. A umidade transtorna o personagem da noite mais escondido. A normalidade repudia qualquer ser noturno. É aí que entra o suicida que saiu de casa, devido à claustrofobia metafórica que corroia a lembrança mais infeliz, que ele quer guardar na eterna caixa das saudades. Dormir é algo que ele não consegue mais. Amigos foram transformados em bonecos de barro, que agora enfeitam a sua estante de depressão. A cidade engoliu o que ele tinha de melhor: alegria. E agora o suicídio é o caminho mais óbvio. Corre através da chuva procurando um lugar, não um abrigo, algo mais próximo de um cenário de filme almodovariano. Cores fortes. Mas não encontra. Volta para casa. Antes, é assaltado. E tudo retorna ao desprezo normal.

publicado originalmente em julho de 2005