Meu nome é Leonardo Silveira Handa. Jornalista. Perdido. Achado. Amante. Radialista.

sexta-feira, abril 20, 2007

As várias armas para fuzilarem em vendas

Existem coisas que já nasceram para serem engraçadas, mas também são trágicas. Os emos. Pior, agora diz que existe uma outra vertente desse "movimento" de garotos e garotas com lápis nos olhos, um tal de scream-emo. A revista MTV deste mês traz uma reportagem com essas pessoas que adoram bandas como Fall Out Boy, Fresno e Panic At The Disco. Tirando as duas primeiras, até que a outra tem um som interessante, com algumas intervenções criativas em suas canções "historinhas" e muita maquiagem e roupas que parecem terem saído do filme Moulin Rouge. Bom, fazendo um adendo, até que seria engraçado ver a Nicole Kidman e o Ewan McGregor como vocalistas de uma banda emo, fazendo uma versão com guitarras altas de alguma canção do Elton John.
Pois bem, cheguei até aqui somente para colocar um depoimento de um garoto que foi entrevistado pela revista que, convenhamos, ficou hilário. A tristeza tem dessas coisas. Segue o depoimento.

Ficam me xingando, dizem: "Aí, seu emocore", "Chora emo", "Emo gay", mas eu nem ligo.
- E não fica nem com raiva? Antes que Luis Filipe responda, seu amigo intervém: "Ah, ele fica triste".

É interessante como essas pessoas vangloriam a tristeza. Há uma identificação mútua por parte desses adolescentes que seguem o jeito emo de ser, seja através das canções das bandas prediletas ou a maneira de se vestir.
Um outro entrevistado da revista diz que para ser emo mesmo, tem apenas que curtir o som. "A música é tudo. Isso não é um estilo de vida, mas um estilo musical", comenta Kleber Jorge, o entrevistado citado. Mas será que é apenas isso? Não.
O fato é que a tristeza sempre vendeu bem. Vide os sertanejos. Dez entre dez músicas compostas pelas duplas falam de amores errados, homens traidos, dor de cotovelo e outras melosidades capazes de transformar o tímpano em um ser que precisa de Prozac para continuar a sua função: a de captar os sons. Por traz existe toda uma indústria que utiliza da carência para continuar a sobrevida. Depois disso, tudo vira descartável e apartamentos em regiões valorizadas, carros com design invejável, mulheres bonitas e demais bens materias. Mas não para a galera de faixa etária entre 15 e 19 anos. O dinheiro encontra-se nos bolsos de outros executivos. E eles sabem trabalhar muito bem. Detectam um desejo de um certo público, esboçam as necessidades e criam produtos. Coisa de marketing. Ou então, citando a personagem Elaine Miller, interpretada por Frances McDormand no filme de Cameron Crowe, "Quase Famosos": "a adolescência foi inventada como uma estratégia da publicidade". Ponto.
Tristeza boa ainda, em música, é a manjada referência chamada Radiohead. Os motivos são quase inexistentes, porém, a banda consegue atingir a cerne da melancolia com doses de criatividade que extravasam a lágrima mais adjacente. O terceiro álbum do grupo, "Ok Computer", é uma ode à auto-destruição em massa, sobretudo pelo conteúdo de letras depressivas que dilaceram o sentimento. "Mate-me Sarah, mate-me de novo, com amor", é um dos exemplos de frases que escorrem pelo disco, da música "Lucky", uma das mais tristes composições do Radiohead.
Contudo, existem tantas outras que completariam esse texto. Pavement, The Delgados, Belle and Sebastian, Mogwai, Grandaddy, Elliott Smith, Jesus and Mary Chain, Travis e etc., etc. e etc. Mas essas não atingem os adolescentes. Só depois que eles crescem.