Meu nome é Leonardo Silveira Handa. Jornalista. Perdido. Achado. Amante. Radialista.

sexta-feira, junho 01, 2007

Capítulo 2 de um livro que ainda está sendo escrito

Batia um frio na entranha. Ela estava jogada no canto da sala de estar que, na atual situação, não estava ali. Sua boca macia deixava escorrer uma linha densa de saliva. Ao seu lado, no chão, uma seringa aberta denunciava o uso. À sua frente, um sofá era abrigo de mais duas pessoas que riam da desgraça alheia. Estavam tão chapados de haxixe que as luzes da dicróica da parede se movimentavam de maneira frenética e soltavam fumaça que, junto ao ar, formavam desenhos de bichinhos em extinção, como ursos pandas e onças negras. Os dois, um ao lado do outro, pareciam que tinham saído recentemente de um episódio do Beavis and Butt-Head.
A picada de heroína sempre lhe trazia uma paz budista. Ela adorava quando a tarde anunciava, através do último raio solar, que a noite chegara. O ritual era o mesmo. Um banho, um suco de limão, uma música, de preferência Amy Winehouse, um canto qualquer da sala de estar, uma seringa, um isqueiro, água mineira, elástico e picada. Sempre após o trabalho: um ofício como atendente de uma clínica de estética. Ela morava com mais dois rapazes. Um era um junkie legítimo, daqueles que carrega na cueca uma boa dose de erva. O outro era um menino de 18 anos que acabara de chegar à cidade, vindo do interior, pronto para degustar os prazeres assustadores do álcool e da mescalina. Ambos não trabalhavam, apenas estudavam. Arquitetura e Bacharelado em Artes Visuais. Já a garota tinha recém terminado a graduação de Economia, mas ela nem tinha calculadora científica.
Jogada no canto da sala de estar, que não estava mais ali, a viagem total reina no terreno jacundo da drogatina. "Rehab" era a canção que freqüentava e preenchia a atmosfera caótica do lugar que, por sinal, estava pedindo uma faxineira linda de olhos castanhos para desinfetar o local. A guria, caída, necessitava da heroína para achar o sono. Sua pele era branca, suas costelas eram expostas, seus olhos eram caídos, seus braços eram denunciadores. Feridas mostravam na veia o seu vício. Mas ela era linda, uma viciada nata de beleza andrógina. Às vezes ela se picava no dedão no pé quando as feridas do braços ainda não tinham cicatrizado.
Os dois rapazes continuavam a soltar risadas pesadas, quase que alcançando 80 decibéis de altura. Um deles começa a contar que, certa vez, pediu para que a sua então namorada colocasse uma bola de ping pong no cu, de tão arregaçada que era a moça. E ela conseguia atirar o objeto com a ajuda dos músculos anais. Ele continuou contando as façanhas da namorada, dizendo que certa vez ela arremessou a bolinha a uma distância de quatro metros e 30 centímetros. Praticamente um recorde mundial. O outro contribui com a conversa dizendo que já conseguiu cuspir a uma distância de um metro e 23 centímetros. Após à informação, pairou aquele silêncio quase que absoluto. Os dois se olharam e caíram na gargalhada. A moça jogada na sala de estar que, agora estava quase lá, abre os olhos e diz:
- A sua ex-namorada não é de nada. Eu já consegui cortar uma banana em fatias com a musculatura vaginal. Você não tem idéia como a arte do pompoar é incrível. E, novamente, fechou os olhos e voltou à sua pira de viciada em heroína.
Os dois acharam maravilhosa aquela informação da guria jogada na sala de estar. Um deles pergunta, assim, como quem não quer nada:
- Será que elas conseguem, tipo assim, despenetrar o caralho? O outro indaga:
- Como assim?
- Tipo assim, se eu introduzir o meu membro na xoxota dela, será que ela consegue tirá-lo apenas com a força da musculatura vaginal?
- Não sei. Mas li certa vez que a louva-deus fêmea, depois de copular, come a cabeça do macho, matando ele de prazer, literalmente!
- Nossa cara!!! Essas fêmeas são incríveis.
- Uau!