Meu nome é Leonardo Silveira Handa. Jornalista. Perdido. Achado. Amante. Radialista.

segunda-feira, novembro 12, 2007

Manga

Frases mais azuis nesse caderno cinza. O lembrar de uma época te deixou mais sensível. Impossível não perceber isso em seus olhos castanhos, em sua tez morena, em seus finos lábios. Os versos ficaram mais positivos, a morte deu um tempo. A caligrafia ficou mais legível, as poesias mais coloridas, os desenhos mais festivos. Os assuntos mudaram. A tristeza padeceu. O contento apareceu.
Como é lindo quando percebemos que o mar também tem momentos de calmaria, que o marinheiro nem sempre é só, que a maresia ainda possui perfume. Nem sempre conseguimos tudo de imediato, por mais que batalhas contenham derrotas, do contrário, vitórias não existiriam. Como é bom alcançar um objetivo, mesmo que de repente ele apareça sem que tenha passado pelo caminho das pedras. Às vezes a facilidade se resume à sorte. Pessoas já encontraram bilhetes premiados em latas de lixo.
O preto pediu licença, entrou na fila do INSS. A alegria encontrou um emprego. Tudo bem que ela trabalha aos sábados, mas apenas de manhã. A tarde toda está livre para as canções, para as leituras, para as conversas, para as cervejas e para os filmes. O último foi sobre encontros e desencontros com trilha de um compositor alternativo morto no início da década. Havia tristeza no longa-metragem, porém, a mensagem deixava um sabor de manga: doce com fiapos.
A recente poesia composta mostrava a atual situação, o viver de um tempo aberto à possibilidades. Havia o coração jorrando bons sentimentos. Havia alma, finalmente. Havia o caminhar torto se tornando feio, ficando horrível, mas terminando belo. Era bonito.
Agora é deixar o passado justamente em seu lugar, respirar a possibilidade disponível, aproveitar o sobreviver. Cada frase registrará. Espero que com palavras mais azuis.