Meu nome é Leonardo Silveira Handa. Jornalista. Perdido. Achado. Amante. Radialista.

sexta-feira, fevereiro 23, 2007

Separação


Na fraqueza o ser agoniza um último beijo. Fica ali jogado no chão molhado, esperando a ajuda da outra que apenas se faz, mas difícil não é. Ela gosta que os outros supliquem pelos seus lábios, doces, carnudos, alinhados e perfeitos. Ele rasteja como se fosse um soldado que acabara de perder a perna, solicitando ajuda, gritando de dor e chorando piedade. No olho da pessoa que continua em pé, seca, sem sorriso, sem dó, nada aparece tremular a sua sensibilidade. Nada a faz ter clemência. Ele cita versos de um livro que leu somente para agradá-la, mas o olhar continua impiedoso. Tenta outro Garcia Marquez. Em vão. A sensação que fica é de um buraco negro separando-o dela, tragando os derradeiros suspiros, soluços e poemas. A visão continua fixa na sombrancelha que demonstra através de seus sobes e desces descontrolados a frenética falta de carinho que surgiu ali, naquele beco com os paralélepipedos úmidos. E ele continua rastejando.

Um silêncio de três minutos é interrompido. Ela solta de suas cordas vocais uma frase que dilacera os tímpanos do pobre rapaz. Imediatamente as lágrimas vazam. Pior que ver um homem se humilhar, é vê-lo chorar, pensava ela. Ele levanta e tenta abraçá-la. Ela o impede. Ele insiste. Ela o chuta no lugar estratégico que causa uma dor oca acima do ventre do coitado. Ele murmura alguma coisa que ela não entende, pois a sua voz saiu tão fina quanto a do Michael Jackson. Falando nisso, o auto-intitulado rei do pop deve usar algum tipo de cueca que aperta permanentemente o seu saco, devido a sua voz quase sempre em falsete.

Ela continua a encará-lo com aqueles olhos perversos, de ódio, de satisfação, de medo, de angustia. Ele continua a olha-la com aqueles olhos de medo, de perdão, de amor, de admiração, de temor e agora, de prosseguimento de uma vida. Mas ela não quer, não deseja, desdenha, não suporta. Nem imagina a vida. As conversas entre os dois deixaram claro que ele a traiu. Puta que pariu a fraqueza de um homem perante a uma mulher que conversa mordendo os lábios e tomando martini. Sobretudo quando a sua saia deixa à mostra uma definida coxa bronzeada. Entretanto, isso não são desculpas nem argumentos a o quê ele fez. Traição é algo complicado de ser perdoar. Ainda mais agora, naquela situação, naquele beco, naquele molhado, naquele vão, naquela recém separação. Foi ali que ela cortou o seu próprio coração, dizendo a ele que estava grávida em sua primeira separação.