Meu nome é Leonardo Silveira Handa. Jornalista. Perdido. Achado. Amante. Radialista.

terça-feira, janeiro 10, 2006

"Tem que acontecer"

Risque uma paralela em toda a extensão desse encontro que de clandestinidade não pode mais viver. O agüentar já vazou tantas vezes pelos olhos vermelhos que agora querem fechar. Chega de segredos distorcidos, a saliva não suporta mais disabores. O agridoce perdeu o gosto novo dos primeiros encontros. Mas, agora, o vapor da ansiedade pede que suma da visão mais feliz.
Existe alternativa ainda, porém, a questão é dissertativa e não de múltipla escolha. E não basta parafrasear versos de T.S. Elliott, não há encantamentos que possam mudar a opinião. O momento agora é deixar escorrer tranqüilo. Muito fácil é falar devido à situação desfavorável. Como consolo, Sérgio Sampaio sussura através dos fones de ouvido. "Se vai perder, outro vai ganhar/ É assim que eu vejo a vida e ninguém vai mudar". E eu, que não sou Deus, nem sou senhor, apenas um compositor popular, daria tudo também para não te ver cansada. De qualquer forma, a nossa situação "Tem que Acontecer". Utilizo das palavras do poeta para tentar convencer.
Não há arrependimento, nunca houve, nem haverá, pelo menos da minha parte. Se há do seu lado, explícito espero que você me deixe, pois quero a clareza que nem mesmo a Clara Nunes deixou. Falando nisso, antes que seja tarde, quero dizer que quando você cantava "é água do mar, é maré cheia, oh, clareia, clareia", a beleza sua multiplicava meus ânimos. A fascinação pelo oceano você entendia e me encantava com fixos lábios que "pareciam duas almofadas de falar". Tudo era belo, mas por que clandestino? Confesso que o escondido excita em determinados momentos que de determinação se fazem concretos. A situação não mais quer esse dilema. Um outro alguém está à espera, eu sei. Então, solução perdida precisa ser encontrada. É triste. É feliz. É ambíguo. Pode ser sim, pode ser não.
Enquanto isso, deixe ainda a paralela entre o vácuo dessa relação banalizada amorosa. A balada de Josh House me traz razão, ainda mais. Para ajudar, Nick Drake aconselha em "Pink Moon" e Michael Stipe amplia em "Everybody Hurts". E se não for acontecer, eu ficarei com a Carole King.